Sete Vidas escrita por Clarice Reis


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e por favor comentem.



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Sete vidas.


Dizem que quando se está morrendo, toda a sua vida passa diante dos seus olhos. E quer saber? Isso é bobagem. Eu já morri, na verdade morri mais de uma vez e garanto que não vi nada.

Eu fui diagnosticada com leucemia aos 12 anos de idade e desde então minha vida vem sendo um inferno. Tentei todo o tipo de tratamento, fiz quimioterapia por um tempo e tomava milhões de remédios por dia, mas tudo isso foi em vão. Eu não posso mudar o fato de que vou morrer, na verdade, eu já até comecei a aceitar isso, o problema é que eu já passei por esse processo de morte pelo menos umas quatro vezes. Eu sei que isso deve ser confuso, mas vou tentar explicar.

Estou em um estágio complicado da doença, tenho várias crises e a maioria delas são bastante graves então sempre acabo vindo parar no hospital. Já foram exatamente quatro vezes que eu, meus pais e meus amigos pensamos era o fim. Eu era internada na UTI, passava horas lá desacordada e uma vez meu coração até parou, mas conseguiram me reanimar e isso foi o que meus pais chamaram de "o milagre". De qualquer forma, já não tenho mais esperanças, não acredito que meu tempo restante seja longo e tudo que eu quero, é passar os dias que ainda tenho com a minha família.

– Rose, você prometeu que iria jogar comigo. - Meu irmão sentou emburrado no sofá.
– Me desculpe Hugo, mas eu estou lendo agora. - Respondi sem tirar os olhos do livro.
– Você não faz nada além de ler e dormir. - Reclamou.
– Me deixa. - Falei tentando encerrar o assunto.
– Será que vocês dois não conseguem passar um minuto sem brigar? - Minha mãe questionou entrando na sala.
– A culpa não é minha se a Rose é chata. - Hugo falou cruzando os braços.
– Sim, filha, Alvo e Lily vão vir passar a tarde aqui.
– Hoje? - Perguntei desanimada.
– Sim, por quê?
– Nada. - Respondi meio a contra gosto.

Não me leve a mal, eu amo meus primos, mas desde que as coisas começaram a piorar eu procuro manter certa distância deles. Alvo é meu melhor amigo desde os cinco anos, ele esteve do meu lado durante todos os momentos ruins e sempre me faz sorrir, mas eu sei que quando eu estou no hospital ele sofre e eu tenho que começar a prepara-lo para o fato de que logo não estarei mais aqui.

– Eles irão trazer um amigo, tudo bem?
– Tanto faz. - Respondi indiferente.
– Não sei mais o que eu faço, Rose. - Minha mãe disse em um tom frustrado. - Nada consegue te deixar feliz, você só quer passar o dia inteiro trancada no quarto.

Ver minha mãe magoada era a última coisa que eu queria, me esforçava de todas as maneiras possíveis para deixá-la feliz, mas ela deveria entender que, como uma das minhas personagens favoritas diz, " a depressão é um efeito colateral de se estar morrendo". Eu não sinto vontade de sair, tudo que quero é ficar aqui vendo televisão ou lendo um livro, mas sei que minha mãe não quer isso, ela quer que eu saia, que vá ao cinema e até vá para festas com meus amigos e apesar da vontade mínima, eu as vezes acabo cedendo apenas para satisfazer seus desejos.

– Me desculpa mãe, eu sei que parece que eu estou mal, mas acredite, estou feliz assim. - Disse dando um pequeno sorriso.
– Prometa que vai marcar de sair com seus primos, vai te fazer bem, filha.
– Tudo bem, eu prometo.

Me levantei e subi até o meu quarto para tomar um banho, enquanto tirava a roupa, olhei no espelho e me arrependi disso. Eu costumava ser uma garota bastante vaidosa, gostava de usar maquiagem e de cuidar do meu cabelo, hoje em dia isso não faz tanta diferença então acabei ficando relaxada. Eu tinha exatamente a aparência que uma pessoa doente deveria ter, olheiras, pele muito pálida e cabelo seco e sem brilho (apesar de ter feito quimioterapia por um tempo, como não estava adiantando de muita coisa, resolvi parar então meu cabelo cresceu de novo).

Depois de um banho quente, fui até o armário enrolada na toalha procurar alguma roupa e acabei pegando uma camiseta branca e um short. Deitei-me na cama e liguei meu i pod na pequena caixa de som que estava na cabeceira. Começou a tocar All of the stars e eu automaticamente lembrei do meu livro favorito. A culpa é das estrelas tem de fato uma das visões mais corretas sobre o que é ter câncer, o autor conseguiu retratar perfeitamente a realidade de alguém que tem essa doença e sabe, apesar de eu não acreditar que uma pessoa em estado terminal vai simplesmente esbarrar com o amor de sua vida e eles vão viver uma linda história de amor, não custa sonhar e fugir um pouco da realidade.

Passei um bom tempo deitada ouvindo música até que escutei uma buzina e fui até a janela. O jipe de Alvo parou em frente a casa e minha mãe e meu irmão foram recebê-los. Lily tinha em mãos uma pequena sacola que eu deduzi que fosse um presente para mim, Alvo estava sorrindo como sempre e ao seu lado estava um menino loiro muito bonito.

Resolvi descer e esperá-los na sala, quando entraram Lily pulou com tudo em cima de mim.

– Rose, que saudade. – Disse me abraçando com força de modo que eu estava quase sem respirar.
– É muito bom te ver também, Lily.
– Eu comprei uma coisa para você, espero que goste. – Ela me entregou a sacola que eu tinha visto pela janela.

Assim que abri dei um pequeno sorriso, uma pulseira com um pingente de coração.

– É linda, eu realmente gostei. – Falei sendo bastante sincera.
– Ela só escolheu, fui eu que comprei. – Alvo comentou e veio até onde eu estava. – Senti muito a sua falta.
– Eu também.

Nos abraçamos e eu percebi o quanto estava com saudade das minhas conversas e brincadeiras com Alvo.

– Ah, Rose, esse é meu amigo, Scorpius Malfoy. –Disse apontando para o loiro que estava encostado na parede da sala em silêncio.
– É um prazer conhecê-lo. – Falei indo até onde ele estava.
– Igualmente, ruiva. – Ele deu um sorriso de canto.
– Bom, acho que já podemos ir, não é? – Lily questionou e Alvo assentiu.
– Mas vocês acabaram de chegar. – Hugo comentou.
– Na verdade, viemos buscar a Rose para dormir lá em casa hoje. – Lily disse e eu automaticamente comecei a pensar em uma desculpa.
– Nem tente. – Alvo falou como se tivesse lendo minha mente. – Já falamos com a tia Hermione e ela disse que tudo bem. Quer ajuda para arrumar suas coisas?
– Não precisa. – Respondi e subi para o meu quarto.

Quando entrei minha mãe estava lá dobrando um vestido.

– Eu podia ter arrumado a bolsa sozinha. – Comentei.
– Eu sei que você não quer ir, mas vai te fazer bem, Rose. Seus primos gostam muito de você e sentem sua falta.

– Sei disso, mas e se acontecer alguma coisa? – Perguntei encarando o chão.
– Vai ficar tudo bem, meu amor. – Ela disse me abraçando. – Tente se divertir, ok?
Eu assenti e peguei a bolsa, voltei para a sala e encontrei Alvo e Scorpius rindo de Lily que parecia estar furiosa.

– Vocês são muito idiotas. – Ela gritou.
– Pare de perturbá-la, Alvo. – Falei me aproximando.
– A gente só estava brincando, não é, Scorpius?

O loiro assentiu e logo depois voltou o olhar na minha direção.

– Precisa de ajuda? – Perguntou de forma gentil.
– Não é necessário. – Falei sem encara-lo.
– Bom, acho que já podemos ir. – Alvo falou. – Obrigada por deixá-la dormir lá em casa,tia Mione.
– Não foi nada, querido. E Rose, se divirta.

Eu assenti e fomos todos em direção ao carro de Alvo. Sentei no banco de trás com Scorpius que pediu para Alvo ligar o rádio, estava tocando Dark Horse e o resultado disso é que todos no carro começaram a cantar e dançar e eu comecei a rir da dancinha estranha que meu primo estava fazendo. É talvez aquele dia acabasse sendo realmente divertido.


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