Fazer o caminho do conservatório até em casa era sempre mais divertido quando se tinha a companhia de Augustus e Rony, mas naquele dia quem realmente estava animada era Hermione. A morena não parava de falar um minuto sequer. Contava piadas, falava sobre finalmente poder tocar em casa, e sobre talvez entrar para a orquestra e se tornar uma grande pianista. Estava extremamente feliz com o presente que havia ganhado, e completamente ansiosa por ver a reação da amiga quando ganhasse o violino. Tinha que se segurar para não acabar soltando a surpresa

Assim que chegaram, a morena largou a bolsa em cima do sofá e foi correndo atrás dos pais. Somente seu pai estava em casa. Sua mãe tinha ido dar aula para as crianças.

– Queria que a mamãe estivesse aqui pra dar a notícia pra Hazel - ela disse praticamente em um sussurro para o pai.

– Minha filha, sua mãe nos deixou essa tarefa. - Hermione abriu um largo sorriso para o pai, e com ele voltou para a sala.

Hazel estava fascinada com a beleza e delicadeza do instrumento. Era de fato um lindo piano, e poder ouvir Hermione tocá-lo era sempre um presente aos seus ouvidos. A amiga tinha uma enorme facilidade em tocar, e seus dedos pareciam brincar pelo teclado. É claro que estava ainda longe de se tornar uma pianista conhecida, mas Hazel sabia que esse dia chegaria.

– Hermione é lindo! - ela disse, e a morena assentiu. Só de olhar para o instrumento, a morena já ficava com os olhos marejados. Ainda não acreditava que um de seus sonhos havia sido realizado.

Augustus e Rony somente presenciavam a cena que acontecia na sala dos Granger. Rony parecia nem piscar enquanto via a felicidade estampada no rosto da jovem, e Augustus com seu jeito brincalhão cutucava-lhe as costelas para tirar sua atenção.

– Da pra parar de babar na Hermione. Daqui a pouco até o pai dela vai perceber!

– Não enche, Gus!

– Você já estreou? - Hazel perguntou animada?

– Na verdade não. Eu queria te mostrar uma outra coisa antes. - Hermione respondeu, com aquele olhar cúmplice que só Hazel conhecia. Ela olhou para o pai que estava recostado na vão entre a cozinha e a sala do mesmo jeito que estava quando deu a notícia do piano.

– Sabe Hazel...- ele começou a falar, e a atenção de todos se voltou ao Sr Granger. - quando você e seus pais vieram morar aqui em Londres, nós nos tornamos grandes amigos. Somos até hoje, mas minha esposa e eu sabemos que seus pais não são muito a favor do que você escolheu para sua vida...

– Na verdade eles não aceitam absolutamente nada. - ela disse, e ele concordou.

– Sim, e com o passar dos tempos, Hermione e você se tornaram irmãs, e para nós, você é como uma segunda filha. Felizmente minha esposa e eu conseguimos realizar um dos sonhos de uma de nossas filhas, mas não seríamos bons pais se não fizesse o mesmo pelas duas, certo? - Hazel o olhou sem entender, e Hermione foi até o lugar onde havia um embrulho, pegou-o, trouxe até onde todos estavam, e entregou a amiga.

– O que é isso? - ela perguntou, mas intimamente imaginou o que era. Seu coração batia aceleradamente, e suas mãos tremiam.

– Isso, é a realização de um dos seus sonhos. - disse Hermione.

– Espero que goste, Hazel. Foi comprado com o mesmo carinho em que compramos o de Hermione.

A jovem estava tão nervosa que não conseguiu abrir o embrulho, e precisou da ajuda de Hermione para desfazer o laço.

Ao abrir, seus olhos estavam totalmente divididos entre felicidade e lágrimas. Hazel mal conseguia falar. Abraçou a amiga, e enterrou o rosto em seus cabelos castanhos e chorou como uma criança. Hazel sempre fora mais emotiva que Hermione, e sempre que estava feliz demais, ou triste demais chorava.

Depois de alguns minutos tentando se recuperar da surpresa, foi até o Sr Granger e o abraçou com tanta força que quase o deixou sem ar.

– Obrigada, obrigada, obrigada - ela repetia como se fosse um mantra. - eu não sei o que dizer.

– Não precisa dizer nada. Jean e eu acreditamos no talento de vocês duas.

– Que tal um dueto para estrear os instrumentos? - Augustus se pronunciou de forma divertida.

– Desculpe, mas eu não estou em condições. Olha como estão as minhas mãos. - ela disse, mostrando o quanto ainda estava tremendo.

– Então Hermione poderia nos brindar com alguma coisa! - foi a vez do Sr Granger. A morena foi até o piano, sentou-se no banquinho, e começou a folhear entre as partituras da coleção de clássicos de cinema.

Não demorou muito até achar uma que lhe agradasse.

– Vou tocar uma para acalmar a Hazel, para que depois ela toque uma comigo! - ela disse, dando uma piscadinha para a amiga.

Aos pouquinhos a melodia ia invadindo o ambiente. A música era calma, e era tocada de uma forma tão suave que todos se derreteram ao ouvi-la.

Hazel que ainda chorava, sentou-se no chão da sala junto com Augustus e Rony para ver a amiga tocando. O Sr Granger era só sorrisos ao ver que a filha dominava perfeitamente a arte de tocar.

Ao final da música todos a aplaudiram, e a morena se mostrou totalmente envergonhada.

– Não precisa ficar vermelha, Mione. Você toca muito bem. - disse Augustus.

– Obrigada, Gus.

– Muito bem? É a melhor pianista do mundo inteiro! - disse Hazel, e Rony concordou.

– Ta gente, menos um pouquinho hein.

– Eles têm razão, filha. Você foi magnífica tocando, e eu tenho certeza que vai conseguir entrar para a orquestra. As duas vão! - o Sr Granger falou, olhando ambas as moças com ternura.

– Acho que eu já consigo tocar alguma coisa. Me acompanha em um dueto srta Granger?

– É claro que sim, srta Lancaster! - Hermione lhe entregou as partituras para violino e ambas começaram a procurar por uma música que não fosse tão difícil. Optaram por um medley do filme "O Fantasma da Ópera". Hazel afinou o instrumento e fez uma espécie de reconhecimento do som antes de tentar começar a música.

Augustus se espantou com a concentração em que ela mexia com as cordas e a velocidade de seus dedos. Desde que conhecera ambas as moças, ele ou Rony nunca haviam visto nenhuma delas tocar seus instrumentos de estudo. Nas aulas práticas, eles nunca estavam presentes, e foi realmente uma surpresa ver como elas se saíam.

Hermione era mais delicada, e Hazel parecia devorar as cordas. Era uma combinação perfeita.

A primeira performance de ambas foi feita de forma maestral, o que arrancou ainda mais sorrisos dos três homens que ali estavam.

Passaram a tarde inteira tocando, e mal puderam lembrar que os rapazes estavam presentes. A euforia era tanta, que o mundo lá fora poderia explodir que as duas continuariam tocando.