Não sei o que houve comigo, que naquela quinta cheguei atrasada na sala do coral. O professor com o cabelo de miojo nem brigou comigo, apenas me olhou e disse

–Vá se sentar Santana.

Quando me sentei no meu lugar de sempre e tentei fazer com que minha respiração voltasse ao normal, eu estava tão concentrada em minha respiração que nem percebi que alguém me olhava, olhei para minha esquerda, na primeira fileira.

Ela olhava para mim, os olhos azuis intensos, olhando em meus olhos, ela não sorriu ao me encarar. Parecia brava.

O que eu fiz?

Fiquei olhando para ela toda hora, ela não parecia nada feliz, sua boca estava franzida, e o quatro olhos falava com ela, mas ela não falava nada. Estava como eu, estatua.

Foi quando ela me viu olhando para ela, e eu nem consegui disfarças, seus olhos azuis, me prenderam. Ela cruzou os braços como uma criança brava e encarou o professor. Fiquei sem entender...

Além de beber toda minha água, ainda me olhava brava? Qual era dessa menina?

Cruzei os braços, pensando o que eu tinha feito para ela, pensei, se pisei em seu pé no corredor, se esbarrei no armário sem querer, se a empurrei em algum momento durante a correria do corredor, mas nada. Não tinha feito nada disso, pois eu não faria nada disso, não com ela. Eu tinha o direito de ficar brava com ela, mas não. Senti um vazio em meu peito, ela não havia sorrido, nenhuma vez desde que entrei naquela sala. Eu dei um suspiro. E quis que aquela aula acabasse logo.

Perdida em meus pensamentos, comecei a pensar

Era quinta feira....e desde que a semana começou, ela sorriu apenas 2x...apenas...2x

Sim, eu estava contando.