Naquele dia, eu só sabia...

Eu sabia brincar no parque com meu primo.

Eu sabia jogar basquete com meu irmão.

Eu sabia que papai brigaria por ter ido ao parque com o vestido novo.

Eu sabia que mamãe me defenderia quando ele apenas ganhasse de mim no jogo e eu ficasse emburrado.

Eu sabia que você não quis me machucar quando jogou a bola em minha direção.

Eu sabia que você não tinha ficado brava, mas seu primo quis me matar.

Eu sabia que você me visitaria mais vezes após seu irmão ter te obrigado a me acompanhar e pedir desculpas ao meu responsável. Como eu sabia?

Eu sabia que você tinha me enfeitiçado com aqueles olhos gentis. Como eu sabia?

Naqueles anos, eu pretendia...

Gritar por finalmente poder estudar no mesmo colégio que o meu amigo de infância.

Te abraçar por ter conseguido a proeza de sair daquele colégio para garotas.

Comemorar, como a pré-adolescente que era, por termos caído na mesma sala.

Disfarçar a intimidade que realmente tínhamos.

Te socar por estar me tratando tão cordialmente.

Sorrir, porque uma cara fechada não combinava com você.

Brigar com todos os meus hormônios, que insistiam em dizer que você podia sentarmais perto; talvez na mesma cadeira, pra que tanto espaço?

Te perguntar porque estava corando tanto, logo comigo.

Correr a cada meio sorriso que você me dava.

Começar a entender porque as coisas tinham mudado.

Na formatura, eu não pedia...

Um vestido.

Um carro.

Uma festa.

Um engradado.

Mimos.

Mas eu gostaria...

De um convite seu.

De uma iniciativa sua.

Rasgar o vestido dela; aquela vadia

Quebrar a cara dele; aquele loiro idiota.

Uma música lenta.

Um momento a sós.

Você...

Você!

Naquele reencontro, eu sentia...

Que tínhamos perdido tempo demais.

Vontade de te agarrar.

Que não podíamos mais nos ignorar.

Seus lábios nos meus.

A surpresa que não deveria existir.

Sua face quente e corada.

Seu sorriso convencido sobre meus lábios.

Seu olhar apaixonado sobre mim.

Naquele momento, eu só queria...

Queria pensar sobre os seus olhos, mas só conseguia olhar para a sua boca.

Queria dizer que te amo, mas minha boca só exclamava palavras mal terminadas.

Queria agarrar seus cabelos, mas minhas mãos só apertavam os lençóis.

Queria que gritasse meu nome, mas você só sabia suspirar sofregamente.

Queria que suas unhas arranhassem todo o meu corpo, mas elas só podiam deslizar cada parte de uma vez.

Queria que pudéssemos ter nossa primeira vez todos os dias, mas momentos são únicos.

Queria que Hyuuga fosse a única palavra que eu tivera a chance de conhecer, mas meu vocabulário não me permitia só emitir esse som... Hyuuga; minha.

Queria que Uchiha fosse o meu sobrenome de uma vez, mas ainda éramos muito novos para tanto... Uchiha; meu.

E hoje em dia?

Falar que você é o melhor pai que eu podia arranjar para os meus filhos soa muito egoísta e interesseiro.

Dizer que você fica linda com mais um barrigão soa muito falso para uma grávida cheia de crises existenciais.

Quero falar, então, que você é o melhor amigo, melhor marido, melhor amante, melhor pai, melhor pessoa, melhor tudo, melhor meu.

Quero dizer, então, que você me cega com tanta beleza, sensualidade, sinceridade, bondade, pureza; só espero que enxergue isso nos meus olhos, já que palavras não são o meu forte.

E foi você, meu Uchiha, que colocou sorrisos em meu rosto, fazendo de mim a mulher que eu sou hoje.

E foi você, - antiga - Hyuuga eternamente minha, que fez de mim tudo aquilo que merece.

Você!

Você...