Ayla

— Valar, você está bem? - Lindus arregala os olhos surpreso.

— Ai, sim querido, tô ótima - resmungo irônicamente erguendo o rosto do piso - Só quebrei minha cara no chão mas tô bem. E acho, só acho, que meus peitos afundaram uns bons centímetros (?)- levanto mais um pouquinho o rosto e me ergo, ficando de joelhos para observar o local. 

O escritório é gigante. Três grandes mesas de madeira ornamentada, sendo a do meio a do Thranduil, se encontram no centro da sala. Varias cômodas estão encostadas a parede formando uma fileira, e com incontáveis pilhas de papel por cima. Em prateleiras os livros estão organizados e pende do teto um lustre de cristal /maiscaroqueminhavida. Na verdade só a almofadinha de apoiar o braço da poltrona do Thranduil já deve valer mais que eu, aff.

— Pra ter caído assim devia estar escorada na porta. Sabe, escutar conversa alheia não vai aumentar seus pontos com meu pai - Lindus sussurra ao me levantar pelos cotovelos, me impedindo de admirar o resto do escritório 

— Obrigada - falo, batendo as mãos no vestido para ajeitar - E eu não estava escutando nada, tá? Olha o respeito para com a minha pessoa

— Mas é claro que estava escutando - Thranduil diz de seu lugar na mesa. Maldita audição elfica - E é engraçado justamente VOCÊ falar de respeito, acaba de se intrometer em coisas que claramente não são da sua conta

— Thranduil não comece, temos trabalho a fazer - um elfo de cabelos escuros e feições extremamente sérias na mesa ao lado da do Thranduil diz. Imagino ser o Thoronthur pelo que escutei atrás da porta hehe - Talvez a menina tenha apenas tropeçado - ele olha pra mim 

— Eh...sim, eu...senti do corredor o desdém do Thranduil e acabei caindo, sabe como é né (?) Acontece 

— Guarde seus comentários pra você, ou eu posso decidir que você fica melhor sem emprego - Thranduil diz sem nem ao menos olhar pra mim e assina algo numa folha - Agora deixe a comida e saia - aponta para a porta 

— Ata, seu grosso! Eu... 

— Senhorita! - Thoronthur fala - Apenas se cale, não piore as coisas - ele indica com a cabeça na direção do carrinho de comida - Traga pra cá e vá fazer o resto do seu serviço 

— Tá - resmungo contrariada, mas não insisto. Por algum motivo acho que esse elfo me salvou de uma morte dolorosa, apesar de também achar que ele colaboraria com minha tortura caso eu insistisse mais. Fica aí a dúvida.

Volto pro corredor e pego o carrinho com a comida. Empurro para dentro do escritório e o deixo em frente à mesa que imagino ser a do Lindus, só pra não ter que me aproximar muito do Thranduil. Sei lá, sinto que ele é contagioso (?)

— Tá aqui - indico os bolos e as frutas - Essa quantidade de comida pode acabar com a fome em Rohan hein

— Ayla... - Lindus aperta meu braço

— Ok Ok - reviro os olhos e rumo até a porta, com Lindus ao meu encalço - Beijos da Ayla pra vocês dois - faço um joinha pra Thoronthur e Thranduil e saio do escritório.

Olha, até que o dia começou bem! Desconsiderando uns fatos aqui e ali, eu nesses meus primeiros cinco minutos de trabalho não cometi nenhum homicídio e/ou suicídio (?) Mas mantenham itens potencialmente perigosos longe de mim que vai ficar tudo bem (?)

 - Mas assim, qual seria o resto do meu serviço? - pergunto ao ver Lindus fechar a porta atrás de si 

— Isso você tem que ver com sua superior, a elfa responsável por você 

— Aquela covarde que me jogou para os leões e deu no pé? Não sei de quero olhar na cara dela pelos próximos minutos não - falo, gesticulando com as mãos - Sim, minutos, eventualmente posso precisar dela pra alguma coisa e...não, não sou aproveitadora! Calado. - não que ele tenha dito algo - Enfim, apesar de poder ser considerado método de tortura ela sabe fazer umas tranças maravilhosas e... - olho pra Lindus. Ele está olhando pra mim com uma cara de ponto de interrogação - Falei demais? Acho que falei. Credo, pareci a Bela então 

— Só tenho do que rir - Lindus sorri culpado - Mas não culpo a elfa a qual esta se referindo, ada e Thoronthur são bem... intimidadores mesmo. A maioria, ou todos, não gostam sequer de encara-los

— Olha, depende do ângulo (?) Encarar o seu pai pode ser a coisa mais maravilhosa que tem, aqueles olhos de matador parecem duas safiras iluminadas pela lua e...e... - Já tava com as mãos juntinhas olhando pro além, ai. Que isso Ayla, se dê valor - Digo, em outros ângulos você sente que tá levando um tiro

— Tenho certeza de que você quis dizer isso mesmo - ele pisca um olho e eu concordo com a cabeça - Enfim, sugiro que procure a elfa agora mesmo e se comporte. Mas principalmente tente controlar a língua, aqui claramente você está lidando com pessoas muito diferentes do que está acostumada

— Eu...

 - Ada só não te jogou numa cela ainda junto com seus amigos por causa do acordo de vocês. Mas não se engane, ele está procurando uma brecha

— Eu não volto pra masmorra nem morta! Já viu a comida que servem lá? Parece que alguém vômitou, pisou bem pisadinho e pensou que seria uma boa ideia colocar a substância pastosa num prato e servir como se fosse algo comivel! Não espero nenhum bife, mas né

— Leve sua sugestão pro cozinheiro está bem? - Lindus suspira - É meu último aviso, se comporte. Não quero que acabe tendo que roubar as moedas da fonte pra viver. Agora tenho que ir, até mais...huum, Ayla - ele aperta meu ombro e volta pro escritório 

Não sei se fico feliz por ele ter lembrado meu nome ou se choro por ele precisar se esforçar pra saber /aff

Mas sabe, até que não é uma má ideia a do Lindus...prefiro discutir com o cozinheiro do que ter que lavar o chão! Sinto que se for limpar qualquer coisa, tipo o chão, o Thrnaduil vai descobrir e ir lá só pra sapatear. Intuição meus caros.

Bela

— Ai minhas costas, ai minha coluna, ai meus ossos - resmungo me agachando para pegar a flecha de número... perdi a conta no 103 - Odeio meu trabalho - a coloco no baú 

— Mas já? Esse foi só seu primeiro dia - Legolas se aproxima com algumas flechas na mão e para na minha frente. 

Isso! Fica bem aí tampando o sol e me fazendo essa sombrinha gostosa. 

— Meu primeiro e meu último. Já posso me aposentar por invalidez (?) Onde é que eu assino?

— Foram apenas as primeiras duas horas do seu primeiro dia  - Legolas franze o cenho e joga as flechas no baú - Não seja tão dramática 

— Sabia que ia dar merda olhar as horas pelo sol outra vez (?) - dou um soquinho no ar, revoltada - Caramba eu sou muito inútil 

— Vai é ser muito útil se voltar ao trabalho - ele revira os olhos mas ri - O campo tem que estar limpo para o treinamento com espadas, você tem 10 minutos - Legolas se vira, fazendo o sol voltar a me torturar cruelmente, e vai na direção de alguns elfos.

 - Tudo bem Bela, você sobrevive - olho pra cima - Pense na quantidade de tanquinhos a sua volta nesse exato momento e no quanto esses elfos vão precisar se hidratar por você estar secando, e muito, eles (?) Vale a pena, é quase como trabalhar numa boate de stripper, só que com agressividade e armas (?)

— Senhorita eu gostaria de... - uma voz surge do nada ao meu lado

— MAS VAI PRA FRUTA QUE SE PARTIU - berro pulando longe devido ao susto - Mas que mania que vocês elfos tem de aparecer do nada! - olho indignada na direção do elfo, que por um acaso eu nem sei quem é mas... - Oi gato, onde estão suas asas? Porque você parece um anjo que caiu do céu bb 

Realmente, que cria dos céus maravilhosa. 

Pra terem uma pequena noção...ele parece uma versão elfica do Tom Hiddleston. Deixo no ar.

— Desculpe senhorita - o elfo diz coçando a cabeça e ignorando minha cantada maravilhosa  - Não estou acostumado a lidar com humanos e esqueço como vocês tem uma audição ruim e...

— E um coração que pode parar. Falando nisso, confere aqui pra mim se ele ainda tá batendo, por favor (?)

— Oi?

— Nada não, que que vossa senhoria quer comigo? - digo empurrando o pé dele pra pegar mais uma flecha

— Estou aqui em nome de Lorde Glorfindel, ele me mandou pois queria conversar com você mas está ocupado - ele olha para os lados - Qual é mesmo o seu nome? Poderia vir comigo?

— Caramba, bem achava que eu era memorável  (?) É Isabela. Mas desculpa, agora não dá, eu tô em horário de trabalho e o príncipe não quer me aposentar por invalidez, sabe?

— Nós marcamos uma outra hora e...

 - Pera... o que em nome de Sauron você e Glorfindel querem comigo? Você se situa porque eu não fiz nada de errado ainda não, viu?! Não vou ser condenada pelos crimes de outro! Mas...qualquer coisa foi a Ayla! Do trio a sanguinária e que tem pensamentos não muito legais perante a lei é ela!

— Não é nada disso

— Não?

— Na verdade... o que eu quero dizer, mais especificamente, é sobre aquela sua amiga - ele diz - Queria que você me falasse sobre ela

— Vocês estão interessados nela é? - pergunto e ele nega com a cabeça - Então querem informação pra uma futura delação premiada pro Thranduil? (?) Se for pode ir tirando o cavalinho da chuva porque aqui é amiga parceira - ele nega novamente - É sexo? Olha, eu sei que espalhei por aí que ela faz de graça mas...

— Valar não é nada disso! - ele me interrompe exasperado - Será que eu posso falar? Esclarecer as coisas?

— Já era pra ter falado vacilão - bufo, e ele me olha muito mais estranho do que deveria

Manere Isabela, você não tá na sua época pra ficar falando merda assim aos montes ~le vozinha no fundo da mente

— Quer dizer...pois digas o que desejas de minha humilde casca a qual habita minha alma, vacilon - reformulo meu palavreado (????????????) Agora tá chique, tá bom.

— Vemos isso depois - ele ri, só que de nervoso, e vai andando lentamente para trás 

— NÃO! VOLTA AQUI! Quer dizer...SENHOR! VOLTES ACÁ! - (????????)

— Eu... - ele se vira e sai andando rapidamente 

Bufo indignada e cruzo os braços. Eu não posso ser esquisita ao ponto de alguém fugir de mim!

— EU SOU UMA GRACINHA TÁ - berro erguendo o punho e fazendo todos os olhares se voltarem para mim - VOCÊ QUE É UM BUNDÃO! E vocês bando de marmanjos tão olhando o que?! Tem flecha no chão, vão catar eu hein!

Reformulação da famosa frase "tem louça na pia". Mas enfim, parece que não é hoje que vou ficar sabendo o que aquele elfo veio dizer...

Tay

— Nossa senhora da bicicletinha - resmungo ao lavar a milésima taça - Como é possível ter tanta coisa assim?! Nesse ritmo minhas unhas vão cair (?) CAIR! 

Observo a cozinha a minha volta, os elfos e elfas correndo pra lá e pra cá. 

O local é  enorme, tipo maior que minha casa. Pias são distribuidas em fileiras pelas paredes leste e oeste, duas grandes mesas retangulares estão dispostas no centro, estantes e armários com talheres e afins na parede norte e prateleiras e mais prateleiras de condimentos na sul. 

Será que se eu fizer umas macumbas loucas resolve alguma coisa? Eu acho que vi uma galinha preta correndo por aqui e...ah não, foi sonho/ Sonhei com a Bela vestida de galinha preta, sentada dentro de uma caixa colorida, se auto usando de oferenda pra que aparecesse mais um irmão do Legolas (???)

Mas velas, velas aqui tem! E as do candelabro do salão de refeições são grandes o suficiente pra durar uns dez anos e...

— Eu sabia que humanos eram dramáticos, mas você se supera! - Nerwen revira os olhos - O sabão não vai fazer com que suas unhas caiam e muito menos fazer sua mão derreter!

— Se você não tem senso de drama não tente desdramatizar meu drama dramático (?) - filosófo jogando espuma nela. Nerwen praticamente rosna pra mim e se limpa com um pano de prato. - Espuma também não queima queridinha - mando um beijinho - Lispector, Tay

— Volte a lavar a louça! - ela ergue as mãos, apontando loucamente para os pratos - Já!

— Mas é muita coisa - choramingo empurrando discretamente um copo pra pia da elfa vizinha que conversa animadamente com uma outra elfa

— Pare de reclamar, está recebendo para fazer isso!

— E você faz o que aqui? Recebe pra encher meu saco? 

— Estou aqui pra te vigiar, você claramente representa um risco se ficar sozinho a solta por aí!

— Risco? Sim. Sou muito perigoso - sorrio de canto - na cama

— Dá pra parar de falar e voltar ao trabalho? - Nerwen revira os olhos 

— Alguém já disse que se você tiver alma ela é totalmente desprovida de brilho? Já tô pra fazer um círculo de sal grosso e entrar nele, medin dessa sua chatice ser contagiosa! 

*************

Bela

— Pensando bem...acho que não vou não - observo as profundezas da passagem - Isso vai contra meus princípios! Prefiro morrer de morte morrida, não ser morta cruelmente por um ser maligno saca (?)

— Essa passagem me dá mais que cagaço, me dá diarréia (?) - Tay diz se afastando de fininho

— Deixem de coisa  - Ayla revira os olhos, amarrando a ponta do fio de lã do novelo que ela está segurando em um objeto pesado que está sobre a cômoda  - Deve ter no máximo baratas, e desde que não voem vai ficar tudo bem

— Ayla meu anjo... isso é literalmente caminhar pra um filme de terror, você vê a merda e mesmo assim caminha pra ela! É tipo ver alguém matando uma pessoa, chegar perto e perguntar " ei, tá jogando detetive?"! - reviro os olhos e balanço a cabeça em negativo pela burrice de Ayla

— Eu tô com a Bela - Tay cruza os braços - Eu já posso até escutar os sussurros de morte vindos dali!

— Mas não eram vocês que estavam super empolgados com a merda dessa passagem? - Ayla revira os olhos abrindo bem a porta da passagem e colocando um peso na frente pra garantir que não vai fechar 

— Estávamos, do verbo não estamos mais! E se a gente se perder? Se morrermos ninguém vai achar nossos corpos! Eu quero um enterro digno, sabe? Com fogos de artifício e tudo mais

— Por Odin - Ayla respira fundo - A lã é justamente pra garantir que não vamos nos perder! Eu amarrei a ponta, nós podemos andar a vontade até os rolos que estou levando acabarem, depois é só seguir a linha de volta e pronto! AGORA SERÁ QUE PODEMOS IR?

— Você não pode simplesmente entrar em Mordor, quer dizer, aí!

— Entra logo Isabela - ela pega um candelabro da cômoda 

— Não, eu tenho rinite e a poeira aí ja deve ser tatatatatataravó (?) - cruzo os braços atrás das costas - Uma pena, vamos deixar pra outro dia. Quem sabe daqui uns 10 anos e...AAAAAAAH - foi tarde demais, só percebi o chão quando caí de cara nele 

— Já que você já entrou podemos ir - Ayla diz toda alegrinha - Você primeiro Tay, ou quer que eu te conduza também?

— Ayla Lowell...escute bem o que vou dizer agora - Tay olha fixamente pra loira  - Se eu morrer ali eu volto pra...

— Pra me matar? É, já ouvi essa

—...pra contar pra todo mundo onde você esconde seu garfo!

Me levanto resmungando e vou na direção dos dois idiotas prestes a se esmurrar (não tô nem brincando, Tay tava até fazendo aquela pose do Karate Kid)

— Ok crianças já deu - fico entre os dois - Tay para com isso que tá parecendo uma galinha tentando levantar vôo. E deixem pra se esmurrarem fora daqui porque não quero que sujem meu tapete de sangue 

— É comovente sua preocupação com os amigos - Ayla sorri falsa

— Verdade - o ruivo concorda

— Eu pelo menos não empurro eles pra escuridão sinistra e nem ofereço de comida pra uma aranha gigante!

A discussão demorou uma boa meia hora e depois dos ânimos serem acalmados Ayla nos subornou com balinhas para que entrássemos na passagem e ficou resmungando sobre como somos facilmente influenciados.

****

Uma escadaria sinistra se estende diante de nós, Ayla ergue seu candelabro para iluminar e tentar ver onde ela acaba.

— Não dá pra ver nada - ela diz - Nos resta descer 

— O que me garante que se descermos aí não vamos dar de cara com uma masmorra antiga onde monstros torturados estão vigiando uma pedra filosofal 2.0? Não sou boba não, sou menina precavida que gosta de viver - também tento iluminar o caminho com o meu candelabro 

— Mas que aceitou entrar aqui por duas balas

— O melhor é evitar o problema antes de sequer de ter um problema - Tay se aproxima da beirada e dá uma espiada - e ali com certeza tem um problema 

— Vamos só ir tá legal? - Ayla respira fundo e adentra a escuridão 

— Coragem, tem que ter coragem