Unfinished Business escrita por Laís


Capítulo 17
Unfinished Business


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Calma, vamos por parte. Eu adoraria que vocês lessem essas notinhas porque elas serão muito importantes para mim. Antes de tudo, retiro tudo que disse sobre a JLH, assisti a décima e ela ta maravilhosa (apesar das escolhas anteriores de carreira terem sido uma bosta, ela finalmente acertou e ta sambando lindamente). Agora... Os agradecimentos, aliás, esse é o último capítulo da Agnes.
Primeiro de tudo, gostaria de dizer que essa fanfic nunca teria saído do primeiro capítulo se não fosse pela Beatriz Zamperlini. Ela que segurou minha mão e organizou minhas ideias quando eu já tinha perdido o fio da meada e muitas das coisas vistas aqui foram sugeridas por ela. Bia, essa fanfic é tanto sua como minha! E eu espero continuar sendo sua guru de vida.
Em seguida, queria agradecer Amy Holmes, que deixou reviews maravilhosamente gigantes em todos os capítulos, recomendou a história e me fez acabar a fanfic com uma amiga a mais.
Todas vocês que deixaram um ou vários reviews, favoritaram ou não, todas, absolutamente todas, eu gostaria de agradecer imensamente. Eu sabia que a categoria de CM não era muito fácil de conseguir leitores, mas acabei tendo um ataque cardíaco por todas as coisas lindas que vocês me disseram. Não me importo com números, somente com o fato de vocês terem gostado ou não de passar esse tempinho com a agente mais às avessas do mundo. Gente, sério, nem sei como agradecer. Falar com vocês foi a coisa mais maravilhosa dessa fanfic. Muito obrigada mesmo! Queria poder dar um abraço apertado em cada uma :3
Então... Aí vai o último capítulo!
Vejo vocês lá embaixo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/510048/chapter/17

Eu posso não ter ido para onde eu pretendia ir, mas eu acho que acabei terminando onde eu deveria estar.

Douglas Adams

"E você tem 5 minutos antes do fim de todas as coisas. Decida-se ou..."

A ligação foi encerrada naquele preciso instante. Aquele homem, que eu nem ao menos sabia o nome, era um sádico que estava se deliciando com o controle.

Antes que eu pudesse começar a pensar, recebi uma mensagem de texto.

"Lembra-se delas? Claro que não, você nunca ao menos as conheceu. E ainda assim, elas estão mortas por sua causa."

E, em anexo, a foto de uma mulher com seus 35 anos, no máximo, segurando um bebê nos braços. A criança vestia-se de rosa claro dos pés à cabeça e possuía os enormes olhos azuis do pai, que também estava na foto, um pouco atrás de ambas, com uma das mãos no ombro da mulher, envolvendo-a, e a outra segurando a mãozinha do bebê.

Sim, aquele homem era um sádico, contudo nem sempre fora daquela forma. Eu o criara. Fiz com que seus sentimentos mais primitivos viessem à superfície. Dizem por aí, que nós criamos nossos inimigos e eles se tornam nossa imagem e semelhança. E eu não podia dizer que não adorava ter o poder em mãos. Sempre fui o clássico exemplo do soldado insolente no campo de guerra, querendo estar a um passo a frente e nunca aceitando um tom imperativo. Minha arrogância acelerou meu crescimento, me cegou e, em seguida, me fez tombar. E a queda foi mais brusca do que eu previra porque não quis cair sozinha, me agarrei ao que encontrei no caminho, cavando mais de uma sepultura.

Um inimigo sem nada a perder é um inimigo de extrema periculosidade, pois você nunca saberá como atingi-lo. Considerava-me uma dessas pessoas, aliás, quão mais baixo eu poderia cair? Já tinha perdido tudo, porém estava prestes a perder mais um pouco.

Um dia ruim é só o que separa um homem bom da loucura. Só um dia ruim.

Todos nós possuímos dias ruins. Iremos, um por um, sucumbir?

Eu estava chorando copiosamente, berrando sem me importar com nada além do meu próprio sofrimento. Egoísmo, sim, contudo quando estamos no chão de um banheiro sujo, ao lado do próprio vômito, com o chão repleto de garrafas, seringas e pílulas, percebemos a nossa extrema insignificância e aquela clássica pergunta sempre volta para nos assombrar. Quando foi que as coisas deram tão errado assim?

Estava avistando a linha de cruzada do meu limite e decidida a não viver muito tempo a mais que minhas últimas vítimas.

Mas quem seriam elas?

Tentei ser racional, mas mal havia começado a formular uma linha de pensamento e meu celular tocara mais uma vez. O tempo se esgotara.

–Dois minutos, Agnes. Você já tem uma resposta para me dar?

–Por favor...

–A hora para barganhar já passou há muito tempo.

–Eu não posso - minha voz era um fio lépido e quase inexistente. - Você conseguiu. Você me quebrou completamente, não resta mais nada. Isso não é o suficiente?

Eu soava patética devido aos soluços ininterruptos, contudo aquela não era a hora onde os heróis desafiavam seus captores e eu não era uma heroína.

–Nunca mais terei minha família de volta! Você me arruinou completamente, sua conduta inconsequente... Você, Agnes, que brincou tanto de ser um deus. Você simplesmente jogou com a vida das pessoas! - ele berrava do outro lado da linha e eu quase podia sentir sua fúria.

–Eu sei, eu sei. Sinto muito, mais do que eu possa explicar. Eu sinto muito e a culpa é toda minha, mas, por favor...

–Não, a culpa não é toda sua. Nada disso teria acontecido se aquele seu chefe tivesse colocado uma coleira no seu pescocinho. Você não é a única a ter negócios inacabados comigo.

Recebi uma mensagem com outra foto anexada no exato instante em que ele fizera aquela declaração.

E meu coração parou por alguns instante.

Jack, filho de Aaron Hotchner, adormecido com mãos e pés amarrados, em um canto sujo e escuro.

–Não... Por favor... Não.

–60 segundos, agente.

–Não machuque o Jack, ele é só uma criança - supliquei.

–Minha filha também era.

E naquele momento eu soube. Se eu escolhesse a BAU a ser explodida, tudo acabaria ali, entretanto, se escolhesse que a bomba a ser detonada seria a do terreno baldio próximo a uma das áreas mais movimentadas da cidade, de todas as formas, a BAU também explodiria. A vingança daquele pai sem filha não foi preparada somente para mim. E Jack...

Rezei para que minha equipe não estivesse na sede que iria pelos ares. Eles deveriam ter tempo para o luto, mas uma parte de mim sabia que Hotch com certeza estaria lá. E Jack, se sobrevivesse, seria órfão de pai e mãe.

Será possível que você simplesmente morra de tanta tristeza e desespero? Que seu coração meramente pare de funcionar mediante situações extremas? Como eu estava viva, não podia dizer. Todo o torpor que a bebida ou as drogas pudessem ter causado, fora varrido do meu sistema com toda aquela carga extra de adrenalina e eu nunca estive tão desperta em toda minha vida.

Não importa o que acontecesse, precisava salvar o filho de Aaron Hotchner.

–5 segundos, agente Weston. 4, 3...

–BAU - com os olhos cerrados e a mão pressionando a fronte, gritei.

2...

1.

–x-

Aaron Hotchner estava reunido com toda a equipe de inteligência disponível em Quântico e o esquadrão anti-bomba - que haviam entrado no local sem o equipamento, disfarçados de agentes normais.

Um grande pessoal também fora enviado para o local da segunda bomba logo após o descobrirem, bem antes que a ligação anônima fosse feita. Era de se esperar que o unsub estivesse vigiando somente a sede da BAU, já que o terreno baldio era sua carta coringa.

Eles monitoravam toda a conversa entre Agnes Weston e Peter Harker.

Como o que fora ditado por Aaron, Penelope Garcia cumprira seu dever e, no momento em que a BAU deveria ter ido pelos ares, nada aconteceu.

Muitos momentos de tensão antecederam aquele alívio. Logo no início, eles não conseguiam encontrar nenhuma das bombas, porém desarmá-las não fora tão difícil para o treinado esquadrão.

Todos no recinto comemoraram e abraçaram aqueles ao seu redor. Penelope, que estava completamente diferente após a morte de Derek Morgan, sorrira com o desafogo, mas não parecia capaz de ficar inteiramente feliz. Aquilo ainda demoraria muito para acontecer.

Aaron fitava Penelope pelo canto dos olhos e notou quando sua expressão assumiu um grito de horror mudo. Sem entender, olhou para uma das telas que exibia todo o conteúdo compartilhado entre Weston e Harker.
Ele parou de respirar tal qual seu coração parara de bater por alguns segundos. Raiva, medo, angústia, desespero... Todos aqueles sentimentos lhe acertaram como um soco no estômago.

Jack.

Apesar de terem tido muito tempo para rastrear as ligações de Peter Harker, ele soubera muito bem como burlar o sistema e sua localização mudava constantemente, confundindo os computadores. Ninguém poderia dizer em que lugar da cidade ele estava.

Sua própria equipe olhou imediatamente em sua direção e ele simplesmente não conseguiu dizer uma só palavra. Seu plano de ação fora completamente comprometido, ele estava desarmado no escuro.

David Rossi tomou as rédeas da situação e todo o time começou a trabalhar freneticamente.

–Reid, nós queremos um perfil geográfico agora. Pela foto, ele deve estar em algum lugar abandonado, sabemos que não está em casa ou na casa de nenhum conhecido... Garcia, passe os registros de qualquer construção abandonada para Reid. J.J, nós vamos até o apartamento de Hotch para ver o que encontramos. Assim que ele perceber que seu plano falhou, ele vai parar de contatar Weston e querer falar diretamente com você, Aaron. Fique aqui e espere - ditou e, em seguida, abrandou o tom de ordem, aproximando-se de Hotchner e colocando a mão em seu ombro - Nós vamos encontrá-lo, meu amigo, prometo isso a você. Seu garoto estará em casa para o jantar e eu mesmo meterei uma bala na testa desse desgraçado.

–x-

Eu morava relativamente longe da sede da BAU e não esperava ouvir ou sentir algo quando a explosão acontecesse. Fechei os olhos com toda a força e cerrei o punho. Chorei, mas, verdade seja dita, eu ainda não parara de chorar em momento algum.

Mortos. Todos mortos.

Mas Jack ainda estava vivo e eu precisava ir em sua ajuda. Devia isso ao pai dele.

Aaron, me perdoe, por favor, nada disso deveria ter acontecido.

Tentei levantar, mas meu corpo parecia pesar mais que o normal. Agarrei-me em tudo que encontrava ao meu redor para conseguir me reerguer, até que, por fim, estava sobre meus pés mais uma vez. Não quis olhar para o espelho, sabendo que meu estado nunca estivera pior. Parte das minhas roupas estavam cobertas de vômito, mas eu não ligava. Tudo que existia naquele momento era Jack, somente aquela criança.

Pensei onde aquele desgraçado poderia estar e não consegui encontrar nenhuma pista em minha mente. Esperei que ele me ligasse mais uma vez para tripudiar, porém nada aconteceu.

Eu andava de um lado para o outro tentando calcular o próximo passo, contudo toda aquela angústia cegava minha razão.

Até que, finalmente, descobri onde meu algoz se encontrava.

–x-

J.J e Rossi encontraram o apartamento de Hotchner completamente como deveria estar. A irmã de sua falecida esposa, Jessica Brooks, estava desacordada, caída em frente a porta do quarto de Jack. Possuía um ferimento na testa, mas seus sinais vitais eram estáveis e ela ficaria bem. Revistaram todo o apartamento sem encontrar nada que os levassem até o unsub.

Enquanto isso, na sede da BAU, Aaron Hotchner vivia os piores momentos de sua vida. Imagens de Peter Harker eram transmitidas em quase todos os aparelhos do lugar.

"Olá, agente Hotchner."

–Vou dar uma única chance a você de voltar atrás com essa loucura. Se acontecer alguma coisa ao meu filho, você vai desejar estar morto muito antes que eu acabe.

Aaron recuperara toda a compostura e seu tom era gélido, mortal.

"Não, por favor. Ameaças ainda não. Você foi um pouco mais esperto que eu e, de alguma forma, conseguiu se livrar das minhas duas bombas. Ponto para você. Mas acho que vamos concordar que eu tenho algo de muito mais valor em minha posse. Talvez você não entenda o porquê de isso estar acontecendo e irei resumir em um único nome: Agnes Weston.

Sim, agente, ela era sua responsabilidade e todas as coisas que ela fez, todo o sangue que derramou, também está em suas mãos. Da mesma forma que eu vi todo meu mundo acabar diante dos meus olhos, você assistirá o seu desabar para nunca mais se reerguer."

–Isso é muito maior do que imagina. Está mexendo com a família de um agente. Acha que alguém aqui nessa sala hesitaria em entregar você para mim? Isso vai acabar muito pior para você.

Penelope Garcia tentava usar aquele interlúdio para descobrir a localização de Peter Harker, porém suas tentativas eram frustradas.

"Eu estava lá, sabia? Pedi informações e você, sim, você mesmo me empurrou para trás dizendo que tudo estava sob controle. Parece que você mentiu para mim, não? E então eu vi quando tudo foi pelos ares. Acompanhei cada momento, cada passo de Agnes Weston e pensei que ela era a mais corajosa de todos vocês. Agnes enfrentaria aquilo sozinha e traria minha família em segurança para mim. Agnes..."

Naquele instante, um vulto pálido tornou-se visível atrás da tela. O unsub pareceu não notar, porém a atenção de todos na sala estava fixa naquela pessoa com uma arma empunhada.

Agnes Weston.

A mulher no vídeo andou calma e seguramente até o canto onde Jack ainda se encontrava desacordado, ficando na frente dele e, somente quando o tinha protegido com seu próprio corpo, se fez notar.

"Eu sinto muito."

Peter Harker virou-se com um sobressalto e encarou atônito aquela presença fantasmagórica.

"-É tudo minha culpa, você está certo em me querer morta, mas eu não posso deixar que você machuque mais ninguém em meu nome. Quando tudo deu tão errado assim? Eu destruí sua vida e a minha também. Nós somos dois condenados. Está na hora de sairmos de cena, não acha?

–Minha família ainda não foi vingada!

–Nem a minha. Eu mesma destruí a única família que tinha e nem a minha morte seria o suficiente para vingar meus erros. Eu quebrei você e você retribuiu o favor. Vou lhe oferecer uma saída. Nós dois nos entregamos. Eu assumo publicamente a culpa pelo que aconteceu naquele dia e você...

–Eu o que? Apodreço na cadeia?

–Não, você não chegou a matar ninguém e eu não vou falar sobre o que fez comigo. Seu advogado consegue um bom acordo, essa história nunca vai à público."

Peter pareceu hesitar.

Ninguém na sala respirava. Todos tinham os olhos pregados na tela, nenhum ruído era audível naquele momento.

Peter Harker conseguiu apanhar sua arma sem que Agnes visse, porém para quem assistia a transmissão podia observar tudo já que ele estava de costas para a câmera. Contra todas as expectativas, ele apontou a arma para a própria cabeça.

"-Eu disse que não iria para cadeira. Eu disse! - sua voz revelava que ele estava em prantos.

–Não, não faça isso. Você puxa esse gatilho e se torna um assassino, não muito diferente de mim. Você acha que eu me importo que você atire em mim? Estou fazendo isso por você. Você puxa esse gatilho e eu venço e, por tudo que é mais sagrado para você, eu não quero a vitória.

–Agnes Weston, acho que nos vemos no inferno, não? Agnes... Agnes... Agnes..."

E o gatilho foi puxado.

Mas não por Peter.

Agnes Weston concedera sua última cortesia o matando antes que fizesse isso.

A arma disparou três vezes e a tela da webcam que transmitia as imagens estava completamente coberta de sangue. Agnes andara trôpega até a câmera.

"O alçapão embaixo do meu prédio."

Era lá que eles estavam.

Em seguida, a transmissão foi encerrada.

–x-

Lembrei da noite em que aquele sujeito dos olhos azuis entrara no meu apartamento. Ele tinha todo um material de tortura preparado e nenhuma mochila no meu apartamento. Com aquilo nas mãos ele não poderia ter andando e, subitamente, tudo fez sentido para mim.

Agora eu tinha Jack bem apertado junto a meu peito e esperava que ele não acordasse para ver a macabra cena ao seu redor.

–Seu pai já vai estar aqui... Tudo vai ficar bem, eu prometo.

A BAU não explodira e eu nem me importava em saber como aquilo fora possível. No instante em que vi aquela familiar sala pela transmissão, o alívio foi algo tão intenso que senti minhas mãos fraquejarem.

De repente, o peso de tudo abateu-se sobre meus ombros. Ryan, a explosão, os anos de dependência, minha carreira despencando em queda livre, a tortura das gotas que relutava em me deixar em paz, Morgan e, finalmente, aquilo.

Bum. Bum. Bum.

Os tambores retornaram.

Me senti fraca e perdi a consciência.

Não sei quanto tempo se passou até que eu acordasse no hospital. Pisquei repetidas vezes tentando adaptar os olhos naquela claridade excessiva e só então notei a presença de Jennifer Jareau ao meu lado.

–J.J...

–Não, não faça esforço agora. Você ainda está muito fraca e é um milagre estar viva.

Eu me sentia enjoada e todo meu corpo doía.

–Jack...?

–Ele está bem, está com o pai - fez uma pausa - Você teve uma overdose, Agnes - seu tom era brando, não continha nenhum julgamento e eu me convenci de que a preocupação que via em seu rosto era real.

–Digamos que as coisas não têm estado bem fáceis ultimamente - falei, evasiva. - Mais alguém sabe?

–Eu imaginei que você não iria querer que a equipe soubesse, então pedi para os médicos não contarem a mais ninguém.

–E como você soube?

–Fiquei com você o tempo inteiro. Eu e Rossi estávamos mais perto do seu prédio e chegamos primeiro. David pegou Jack e...

–Você me segurou e me acompanhou na ambulância.

Pequenos relances de memória começaram a aparecer em minha mente.

–Eu tinha uma dívida com você. Querendo ou não, salvou minha vida uma vez.

–Você não me deve nada, Jennifer. Nada. Eu devo tudo. Morgan...

–Sim, Morgan - não nos falávamos desde o dia em que eu partira para Nova York - Ele não vai voltar, Agnes. Mas você ainda está aqui. Faça um favor e ponha um fim em seus negócios inacabados. Vá para reabilitação, fique lá tempo suficiente para ficar recuperada fisicamente. Faça terapia. Siga sua vida.

Lhe concedi um riso sem humor.

–Algumas pessoas estão quebradas demais para serem consertadas, Jennifer.

–Não. Sempre há uma alternativa. Eu já dei entrada com todos os papéis, você pode ir para a reabilitação, se quiser. Levo você assim que tiver alta. A escolha é sua.

–O que a fez mudar de opinião sobre mim? - perguntei evitando ter que decidir qualquer coisa instantaneamente.

–Digamos que alguém me lembrou que as segundas chances são para aqueles que acham que não as merecem.

Ela já estava saindo do quarto quando a chamei.

–Sim?

–Você vai me visitar? Talvez levar Henry também?

Eu não tinha ninguém para se preocupar comigo e Jennifer sempre fora uma das mulheres que eu mais admirava no mundo. A ideia de tê-la como amiga novamente parecia o suficiente para me impulsionar por enquanto.

–Podemos combinar algo assim.

Ela sorriu e foi embora.

David, Penelope e Spencer também vieram me ver. Nenhum deles falou muito e talvez não houvesse nada a ser dito.

–Lembra da história da xícara, Agnes? - Reid perguntou depois de termos passados alguns minutos em um silêncio opressivo. Limitei-me a assentir. -Acho que agora já não resta mais nenhum fragmento, não?

–Acho que o que restava dessa xícara já foi até mesmo varrido do chão, Spence - nós dois sorrimos e não encontramos mais nada a dizer um ao outro.
–Vou visitá-la o máximo que puder.

Claro que ele sabia. Como poderia não saber? Talvez todos soubessem.

–Não, Spence, não quero que você vá.

–Não é uma escolha sua - objetou com firmeza.

–Eu só vou lhe atrasar. Meu rosto e até mesmo a mera menção do meu nome vai lhe trazer lembranças horríveis. Enterre o passado, coloque areia na minha memória.

–Se você prefere assim...

–Eu não prefiro. Mas é assim que tem que ser.

Ele estava bem próximo à minha maca e eu estiquei minha mão para pegar a sua. Ele a apertou e inclinou-se um pouco para ali depositar um beijo suave.

–Adeus, Agnes.

–Adeus, Spence.

Aaron foi quem por último me visitou, Jack vinha em seu encalço.

–Nunca poderei lhe agradecer o suficiente.

–Você não me deve nada, Hotch. Uma boa ação não anula uma vida de erros. Não lhe fiz nenhum favor, aquela era simplesmente a única coisa que eu tinha a fazer - retruquei peremptoriamente.

Ele assentiu, decidindo não prolongar aquele assunto.

Jack me abraçou e agradeceu. Provavelmente fazia aquilo porque o pai mandara. Felizmente, ele não se recordava de muita coisa.

–Qualquer coisa que você precisar... - Aaron começou a falar.

–Obrigada, Aaron. Muito obrigada.

–Cuide-se, ok? Nenhuma causa é tão perdida que não valha o esforço.

E, quando ele saiu, fiz um esforço para acreditar que aquilo poderia ser verdade.

Não consegui.

Meses depois

Cinco meses se passaram desde o dia em que J.J me levara até o lugar onde eu faria minha reabilitação. Ela me abraçou e disse que voltaria na semana que vem.

Demorou um pouco até que eu me acostumasse com todo aquele silêncio. Eu não estava pronta para interagir com outras pessoas e aquela calmaria fazia com que os barulhos voltassem.

Nos primeiros dias, quase não levantei da cama. Passei muito tempo sendo atormentada por náuseas e o psicólogo da instituição reconheceu todos os sintomas de estresse pós-traumático e depressão em mim. Não apresentei relutância quanto ao tratamento. Conversava com o médico a cada três dias e não ocultei nada que acontecera comigo. Tomei remédios controlados para ajudar com o incessante ruído em minha mente e, com o tempo, ele foi se desvanecendo.

Tentei manter uma convivência saudável com todos que ali estavam e passei a adorar ouvir suas histórias, mesmo que elas não tivessem um final feliz, tal qual a minha. Contudo, todos ali já haviam fechado aquele livro de horrores e estavam escrevendo um novo. Éramos mais duros na queda do que imaginávamos.

Alguns dias foram mais difíceis que outros, mas com um pé na frente do outro, cada um se ajudava mutuamente.

J.J me visitava quase toda a semana e levava Henry com ela na maioria dos encontros. Me contava sobre tudo que acontecia com a equipe e até mesmo relatou sobre suas experiências no ano anterior. Ela também era assombrada por fantasmas e seu martírio se chamava Tivon Askari. Contou-me sobre Kate Callahan, novo membro da equipe e que uma vaga continuava remanescente. Ninguém ainda substituíra Morgan e ninguém nunca o faria.

Eu havia completado um mês internada quando Spencer apareceu pela primeira vez.

–Disse que você não deveria vir - queixei-me.

–Você não é a única que não liga muito para as regras.

Suas visitas tornaram-se frequentes também, porém nunca coincidiam com as de Jennifer.

–J.J sabe que você vem me ver?

–Ela que me deu as coordenadas.

Seu cabelo bagunçado caía-lhe pela testa e suas roupas o deixavam mais ainda parecido com um cientista louco do século XX. A voz perdurava naquele tom rouco e baixo que lhe era tão particular.

–Não imagino por que ela faria isso.

–J.J me disse que eu a fiz lembrar que todos nós merecemos uma segunda chance. E que, algumas pessoas, estão muito no fundo para conseguirem voltar à superfície sozinhas. E também que não importa o quanto a causa parece perdida, isso não é razão para simplesmente passarmos por cima.

Precisei de um tempo para processar aquilo e senti a urgência de controlar as lágrimas que tentavam vir à tona. Eu não sabia lidar com gentileza e perdão, tudo seria muito mais fácil se todos me tratassem como eu realmente era: algo que nunca teria conclusão, algo inacabado.

–Então, Agnes - Spencer prosseguiu, mas eu o interrompi bruscamente.

–Não. Não faça isso.

–Você nem sabe o que eu ia falar.

–Eu sei sim. Nós não temos futuro nenhum, Reid. É simplesmente impossível.

–Eu só estou te chamando para tomar um café quando você sair daqui. Não é um pedido de casamento, fica tranquila.

E eu sorri genuinamente depois de sei lá quanto tempo.

Talvez Aaron estivesse certo.

Talvez eu não fosse um causa tão perdida assim, afinal de contas.

Talvez houvesse um ponto final naquele livro e um novo prólogo adiante.

Talvez.


Maybe you could forget what I said
And just hold me instead


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Música do finalzinho: Maybe - Lily Kershaw
Eu tenho um certo problema com finais e nunca acho bons o suficiente, mas juro que tentei fazer o melhor possível. Aliás, hoje é aniversário de 8 meses da UB *u*
Espero de verdade que vocês tenham gostado de ler a UB porque eu simplesmente amei escrevê-la. Tenho ideias novas p/ fanfics de CM, porém a vida tirana vai me fazer adiar esses planos, mas se vocês me encontrarem perdida nesse site, espero que digam um olazinho. Receberei cada uma com uma festa.
Eu queria poder continuar falando com cada uma aqui, então não esqueçam: minha MP ta sempre ~sempre~ aberta.
Foi um prazer imenso ter vocês aqui e, mais uma vez, muito, muito, MUITO obrigada por tudo! Vocês são incríveis!!
Se quiserem se despedir ou, até mesmo, dizer um "olá" agora, eu vou ficar imensamente mais feliz ainda.
Milhões de beijos e espero encontrar vocês novamente com novas histórias! :3