My Only Hope escrita por SophieMiss98


Capítulo 2
Capítulo 2 - Emoções


Notas iniciais do capítulo

Afinal sempre consegui postar o segundo capítulo ainda hoje. Desta vez tentei dar um final mais dramático e espero que tenha sido sucedida.

Boa leitura :)



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Emoções

Três dias mais tarde, estou novamente num pesadelo. Estou num buraco profundo, e todos aqueles que matei, ou que morreram por minha culpa, raspam a pá e atiram-me cinzas. Começo a sufocar, a gritar para que parem. Mas eles não me ouvem. Nem mesmo a Prim. É o fim. O raspar da pá permanece constante e ritmado e parece que não vai parar.

Os meus olhos abrem-se repentinamente com puro terror. O raspar da pá continua. Eles vêm atrás de mim! Começo a correr, saio da casa e quando dou a volta a esta, vejo-o. Está sujo e coberto de suor, mas está com bom aspeto. Melhor do que eu de facto. Um pouco magro, mas ainda assim mantém a mesma estrutura entroncada e forte. Apesar de algumas queimaduras, a pele está com uma cor rosada saudável.

– Voltaste. – Digo, ainda estupefacta. Ele levanta o rosto e limpa o suor da testa com o braço. Quando vejo o seu olhar de novo em mim, sinto um arrepio percorrer-me a espinha. Os seus olhos de um azul inconfundível já não estão transtornados nem doidos.

– Deixaram-me sair ontem do Capitólio. – Informa e retira uma planta qualquer e enterra-a na terra, depois informa-me que tenho que atender as chamadas do Dr. Aurelius.

Um pouco na defensiva, pergunto-lhe: Que estás a fazer?

– Pensei em plantar estes arbustos, tu sabes, por ela…-Depois esconde o rosto com o cabelo que lhe cai sobre a testa. Tímido. Observo melhor as plantas. São-me familiares…E depois lembro-me: são Prímulas, a flor que deu o nome à minha irmã.

Aceno e volto a correr. Tranco-me em casa, com os seus fantasmas como companhia. Um pouco mais tarde, o Ranúnculo volta. Mas desta vez anda ali às voltas e não me deixa. Depois percebo que ele procura a Prim.

– Ela morreu gato estúpido. – Berro, e as lágrimas brotam dos meus olhos sem que eu me dê conta delas chegarem. O gato olha-me e depois começa também a chorar. Ao fim de algum tempo, acabo por desmaiar e volto a chorar com ele. Não sei como, mas conseguimos arranjar uma maneira de nos reconfortar um ao outro. Com o passar do tempo, temos uma relação quase amigável.

Ao lembrar-me da Prim, lembro-me da minha mãe e apercebo-me que ainda não falei com ela. Levanto-me e com a carta da minha mãe que o Haymitch me entregou, digito o número no telefone do escritório. Quando a minha mãe atende, pergunto-lhe como é que está, como é que é no 4. Ela diz que está tudo bem. No final, acabamos as duas a chorar a morte da Prim. Ela promete que tentará ligar-me e certificar-se que eu estou bem. Mas tento não criar mais ilusões.

Após mais uma noite de insónias, sigo a sugestão da Greasy Sae e vou caçar. É um pouco estranho aventurar-me tanto sozinha. Sinto que este já não é o lugar que outrora conheci. É impossível esquecer que os sobreviventes do 12 viram a sua casa ser destruída neste local. Volto para casa sem qualquer tipo de caça. Encho-me de coragem e vou até ao quarto. Abro as janelas e deito a rosa que o Snow lá deixou para as chamas da lareira da sala. Vou para debaixo do chuveiro e fico lá até perder a noção do tempo e até sentir a água tornar-se fria. Depois visto umas calças e uma camisa de algodão. Penteio o meu cabelo e tranço-o. Levo qualquer coisa para comer para a sala, mas nem chego a comê-la e acabo por adormecer

Passou-se uma semana desde que o Peeta voltou. Ele vem a minha casa todos os dias trazer-me algum pão, com o qual a Greasy Sae prepara o meu pequeno-almoço e algumas das minhas refeições. Ele vem sempre à sala onde me encontro sentada no sofá a olhar o nada. Pergunta-me se estou bem e eu aceno com a cabeça. Às vezes faz mais algumas perguntas e tenta animar-me, mas a maior parte das vezes deixa um suspiro pesado sair e depois sai com os seus passos pesados. Sei que estou a ser estúpida, mas ultimamente tenho sentido uma falta enorme da Prim e é como se a toda a minha energia me fosse sugada. O pior de tudo, é que sempre que a porta bate e o Peeta sai, eu penso em chama-lo. Eu quero que ele me ajude, que me faça voltar de uma vez por todas à vida que perdi ou que nunca cheguei a ter. Mas eu sou uma cobarde e nunca chego a faze-lo.

Hoje é domingo e toda a gente no distrito deve estar a ter a sua folga dos trabalhos para reerguer o 12. A Greasy Sae ainda não apareceu hoje e por isso a única coisa que comi foi um pão que o Peeta deixou cá em casa no dia anterior. Já não tomo um banho á uns três dias e apesar de antigamente só poder tomar um banho uma vez por semana, talvez duas vezes com alguma sorte, sinto-me imunda, como se tivesse voltado à arena. E isso é umas das recordações a pôr de lado. Por isso subo e tomo um banho, esfregando bem o cabelo e a pele. Depois, calço umas calças confortáveis, uma camisola sem mangas e para ficar mais quente, visto um casaco de malha trabalhada que o Cinna fez para mim. Não me apetece trançar o cabelo, por isso apenas o penteio e deixo-o solto. Ainda me admiro com o meu reflexo no espelho. Os cabelos negros voltaram a fortalecer-se e cresceram, mas ainda fico admirada com a imagem de um ser pequeno com uma cortina de cabelo ondulado a bater-lhe um pouco acima do peito.

Desço quando ouço barulhos pensando que se trata da Greasy Sae que me veio trazer o jantar. Quando chego à cozinha, vejo um Peeta atarefado e coberto de farinha. Por momentos, deixo-me ficar encostada à ombreira da porta a observá-lo. Tento imaginá-lo na padaria e de como cozinhar funciona como uma terapia para ele, tal como a pintura. O rosto corado e concentrado enquanto as mãos moldam um pão. Movimentos tão naturais que penso que os podia fazer de olhos fechados e mesmo assim tudo sairia com perfeição. O seu cabelo loiro cai-lhe sobre a testa, e quando ele o afasta com a mão decido falar.

– Que estás a fazer?

Ele olha-me um pouco assustado – Encontrei a Greasy Sae na praça e ela disse-me que hoje não poderia vir fazer-te o jantar. Uma das netas dela apanhou varicela. Eu disse-lhe que para não se preocupar, afinal não tenho mais nada para fazer.

Espero um bocado antes de responder – Está bem. – Ele parece que fica aliviado. – Que estás a fazer?

– Os pãezinhos que tanto gostas. – E depois olha-me, com aqueles olhos tão quentes e doces, mas volta a baixa-los e leva os pães ao forno. Quando o faz, lembro-me de todas aquelas alturas na escola em que os nossos olhares se cruzavam, mas ele, tímido, baixava-os logo que se apercebia que eu também lhe olhava. Sinto como se surgisse uma pequena faísca de felicidade no meu peito. – Ainda me lembro do que gostas. Embora ainda esteja tudo um pouco confuso na minha cabeça.

– Não faz mal. O importante é que te lembras de alguma coisa, certo? – Tento sorrir embora o máximo que consiga fazer é retorcer os lábios. Sorrir é tão estranho agora que parece que me esqueci de o fazer.

– Certo. – Sorri-me. E lá está outra vez, o tal arrepio que percorre o meu corpo com a velocidade de um raio. Ele sorri de forma tão genuína e tão cheio de vida, que desta vez, consigo de facto sorrir. E é incrível o efeito que ele tem sobre mim. Tento aproximar-me dele, mas acabo sempre por hesitar, com medo de lhe provocar mais um dos seus ataques.

– Podes aproximar-te, não te vou fazer nenhum mal. – Franzo um bocado o sobrolho por constatar que ele reparou.

– Não tenho medo que me faças mal. É mais o contrário. – Confesso.

Ele ri-se, como se o que eu acabei de dizer fosse algum gênero de piada – Se pensas mesmo isso, andas muito enganada, Katniss.

– O quê? Porquê? – A confusão preenche-me a mente. Encurto a nossa distância com alguns passos.

Ele para o que está a fazer e vira-se para mim, encarando-me. – Tu nunca me farias mal.

– Como é que tens tanta certeza disso? Afinal, toda aquela tortura que tiveste de passar foi culpa minha. – Reviver isto não ajuda na minha recuperação e muito menos na dele, apesar disso penso que é preferível deixar as palavras saírem. E do que me vale mentir? Especialmente ao Peeta, que por vezes parece conhecer-me melhor que eu mesma.

– Era essa a intenção do Snow. O objetivo dele era carregar-te com a culpa. Acho que é bastante óbvio que tu foste apenas mais uma das suas vítimas. – E depois olha para mim como se fosse dizer algo realmente importante. – O Snow foi sempre o único culpado, tens de te mentalizar disso, se não vais passar a vida toda a culpar-te. Nós fomos apenas os peões do seu jogo perverso.

Absorvo as palavras como uma esponja e deixo que elas tenham um efeito calmante sobre mim. É impressionante como o Peeta consegue sempre convencer-me. Por vezes é difícil esquecer que quem começou tudo foi o Snow com o seu jogo de poder e não eu. É também impossível não fazer a ligação aos nossos primeiros jogos, na sua véspera, quando na varanda o Peeta disse-me que não queria ser apenas ser mais um peão nos seus jogos e como isso passou a fazer um enorme sentido para mim. Após um momento de silêncio em que ficamos apenas a olhar um para o outro, decido por fim falar.

– Mas tu ensinaste-me a não jogar pelas suas regras. Disseste-me que não querias ser mais um peão nos seus jogos. – Depois uso o jogo da verdade ou mentira para me ajudar – Verdade ou mentira?

O Peeta não responde. Fica calado, com um olhar intrigado e uma ruga entre a testa como se estivesse a lembrar-se. Tenho medo que ele volte a ter um dos seus ataques horríveis. – Verdade ou mentira, Peeta? – Volto a insistir. Preciso de uma resposta.

– Verdade. Mas no final ele conseguiu o que queria. – Limito-me apenas a olhar para ele. Parece que o torpor que senti quando descobri que o objetivo do Snow era usar o Peeta para me magoar ainda contínua vivo. Mas numa questão de segundos desaparece e observo-o a cozinhar É algo simples, ele mistura numa “omelete”, que segundo ele assim chamam no Capitólio, alguns pedaços de carne e de queijo e depois faz uma salada com vários tipos de legumes.

– Onde é que aprendeste a fazer isso? – Pergunto-lhe, curiosa.

– Pedi que me ensinassem. Parte do tratamento era arranjar uma distração e como só sei pintar e decorar bolos, aprendi a cozinhar o que eles lá chamam de “básico”. – Ele está de momento um pouco atarefado a fazer tudo ao mesmo tempo.

– Precisas de ajuda? – O Peeta levanta o rosto, surpreendido. Porém, não recusa a minha ajuda.

– Podes ir preparando a salada, por favor? – Anuo e faço o que me pede.

Entre nós, surge um silêncio um tanto constrangedor. Sinto-me tão estranha, é a primeira vez que o Peeta não encontra algo para me contar, para me animar, simplesmente para falar comigo. Esse fator leva-me a ficar um pouco desiludida e repreendo-me em seguida porque estou sempre a tentar cobrar mais dele. Quando acabo de preparar a salada, ponho a mesa ainda em silêncio. Depois o Peeta dispõe a comida na mesa e nós sentamo-nos frente a frente.

Estou a meter a primeira garfada à boca quando ele fala. – Falei com o Haymitch.

Por dentro surpreendo-me, mas para não mostrar isso, encolho os ombros. – E?

– Ele disse-me que te encontrou na padaria e que discutiu contigo. – Baixo os talhares e olho-o. A preocupação é evidente no seu rosto.

– Quando é que ele te contou isso?

– Hoje, quando passei na casa dele. – Ele responde-me, atento às minhas expressões – Porque é que discutiste com ele, Katniss? Não achas que já sofreram os dois o suficiente?

As suas perguntas fazem-me sentir culpada. – Ele veio fazer-te queixinhas, foi isso? – Levanto o rosto zangada.

– Não é nada disso, Katniss! – O Peeta exalta-se, percebo isso quando o que costuma ser o seu tom normal e calmo se eleva.

– Então o que é, Peeta? – Digo no mesmo tom, não controlando o rumo das minhas emoções.

– Eu quero saber por que razão foste discutir com ele. Não achas que ele já sofreu o suficiente? Que já sofreram os dois o suficiente?

– Nada disto teria acontecido se ele não nos tivesse mentido no Quarteirão! Foi por causa dele que tu foste sequestrado, Peeta! Se ele nos tivesse avisado, podíamos estar os dois juntos no momento em que a aeronave me levou e tu não terias de ter passado por nada daquilo! E eu não estaria desesperada para tentar arranjar uma maneira de te tirar de lá! Por causa dele…- e depois calo-me, porque apercebo-me que o Peeta está calado á demasiado tempo.

Quando o olho, os seus olhos parecem buracos negros. Ele fecha-os, ficando com uma expressão de completo sofrimento. Depois olho as suas mãos cerradas. Porra! Não devia ter dito nada! Abro a boca e só saem asneiras! Agarro-lhe as mãos nas minhas por cima da mesa, tentando abri-las para poder lá por as minhas. Quando consigo, agarro-me a elas com força, como se a minha vida dependesse disso.

– Peeta! Peeta! Está tudo bem. Estás a salvo, eles não podem magoar-te. - Por mais que tente evitar, a minha voz começa a tremer tal como todo o meu corpo. – Olha para mim, Peeta! Por favor! – Agarro-me às suas mãos com força, começando a sentir as lágrimas formarem-se. Só me consigo lembrar de quando ele ia enlouquecer após a morte do Finnick e como só consegui arranjar uma maneira de ele voltar. Neste momento, é a única opção que me resta. Se já funcionou uma vez, pode funcionar uma segunda. E repeti aquelas palavras na esperança de ouvir aquela tão importante de volta – Fica comigo, Peeta. Fica comigo!

Após uns segundos, sinto as suas mãos retribuírem ao meu aperto com força, mas ainda gentis. – Sempre.


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Notas finais do capítulo

E bom people, é isto! Espero que tenham gostado e não se esqueçam de deixar comentário (mesmo que possivelmente já haja capítulo seguinte). Gostava de poder saber as vossa opiniões.
Devo publicar o terceiro amanhã ou domingo :)

Até uma próxima!



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