Mutações escrita por Elisabeth Dias


Capítulo 4
Mutações


Notas iniciais do capítulo

Bem, vocês notarão que mudei o foco para outros personagens agora (se acostumem, eu costumo fazer isso mesmo, gosto de outros pontos de vista).
Lembrete: Naves são totalmente comuns em 2063!

Boa Leitura



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Ele foi o primeiro a deixar o trator e seguir em direção à nave que se encontrava bloqueando o caminho. Anna imediatamente achou que ele tinha enlouquecido, pois, mesmo entendendo pouco de naves, aquela era obviamente cidadã. E afinal, o que ele iria fazer? Pedir para que se retirassem do caminho?

Ele olha novamente para todos, indicando para segui-lo, mas os garotos continuaram onde estavam. Apenas Anna foi até ele; queria saber o garoto estava fazendo. Ela nem mesmo precisou perguntar para ele começar a se explicar:

– Está vendo isso?- ele indicou para um símbolo pequeno abaixo de uma das asas, um círculo com um rato no meio, igual ao que ela tinha visto em sua camiseta. - Símbolo da Mutações...agora, explique para eles, antes que achem que eu sou um suicida.

– Isso não é tecnologia cidadã?- Sua expressão perplexa era visível em seu semblante. Piora quando ele afirma com um sorriso e ela imediatamente supôs que era tecnologia roubada.

Ela seguiu até o trator e explicou tudo aos garotos e eles, mesmo com vontade de questionar, apenas foram junto a ela até a nave. Ele bateu na lataria como se batesse na porta de uma casa qualquer e a porta de aço se abriu instantaneamente. Algumas pessoas saíram da nave e foram de encontro a eles, os guiando até os cômodos e socorrendo Anna e Mate.

Os dois foram parar em uma ampla sala com paredes em tom gelo. Lá, haviam diversas camas e, ao lado de cada uma, um criado mudo com kit primeiros socorros e ferramentas médicas. Ambos deitaram, esperando por médicos, assim como uma mulher que estava junto a eles mandou.

Ao lado de fora da sala, Greg e Will, que mesmo tendo pulado de um trem em movimento, não possuíam ferimentos muito graves e estavam sendo auxiliados por enfermeiros. O local em que se encontravam era uma sala de espera; bem decorada, com sofás confortáveis e TV presa à parede.

Will se sentia culpado por ter falado tudo para Greg, nunca vira alguém tão desapontado. O garoto se encontrava mais silencioso depois que revelou a irmã sobre o que sabia e, o único barulho no cômodo era o que os enfermeiros faziam quando mexiam em uma maleta a procura de curativos. O silêncio estava o enlouquecendo e isso acabou fazendo com que ele começasse a pensar sobre as coisas, o que não era muito bom.

Ele começou a pensar nas idas e vindas do esconderijo rebelde. Nas ultimas três vezes, um homem de cabelos grisalhos ficou observando sua saída do esconderijo, como se já soubesse para onde estava indo. Na ultima vez, se dirigia em sua direção, como se quisesse conversar, até que um rapaz de uns 20 anos o interrompeu, falando alguma coisa que fez o homem dar meia volta e esquecê-lo.

Ontem a noite ele iria novamente, torcendo para não se encontrar com o homem, se Mate não tivesse aparecido e o convencido a mudar a trajetória. Ele apenas aceitou porque realmente desconfiava de algo errado com ele, com seus reflexos. Quando novo, ele não os tinha tão aguçados e, com o passar dos anos, iam melhorando. Pelo menos era isso que ele acreditava até o garoto contar a história das mutações.

Greg dá um tapa em seu braço e se dirige para fora do cômodo, foi quando ele percebeu que estava dormindo acordado. A sala onde Anna e Mate estavam se encontrava com a porta aberta e vazia, aparentemente. Ele seguiu o garoto, não entendendo muito bem o que aconteceu enquanto ele estava tendo um devaneio.

Se depara novamente com as portas de metal, agora abertas em outro lugar desconhecido e seu palpite era que ele fosse subterrâneo. Eles se viram em frente a uma sala com paredes de metal e várias outras naves com designers diversos, alguns ele nunca tinha visto na vida, outros, eram obviamente cidadãos. Do outro lado da sala, perto de uma abertura, um grupo de pessoas vestidos formalmente esperavam algo, ou alguém.

– Greg, onde estamos?- ele fala, totalmente confuso com a situação. Eram apenas eles dois, sem enfermeiros, sem Anna e Mate e, de repente, sendo observados pelo grupo.

– Você não presta atenção em nada, né?!- ele diz, rolando os olhos e indo em direção ao grupo. - Siga- me. - fala sem olhar para trás.

Ele não se lembrava de alguém ter dito alguma coisa a eles e não fazia a mínima ideia do que o garoto mais novo estava fazendo, apenas o seguiu como mandado. Greg chamou alguém em meio ao grupo com o nome Talles e uma garota, que se encontrava em meio ao grupo, falando algo, logo os observa e fala:

– Ele está um pouco ocupado no momento. - Mas ficará bem. Vocês devem ser William Eing e Gregório Muniz, certo?

Eles acenam a cabeça e Will nota o olhar entristecido da menina. Embora não se comovesse por pouco, o olhar que ela os lança lhe causa um sentimento de pena, enquanto Greg prossegue encarando-a, nem um pouco comovido.

– Venham comigo. - Ela passa pelo grupo e eles a seguem, sem olhar para os olhares preocupados vindos das pessoas, apenas observando o movimento dos fios de cabelo da garota; longos, lisos e sem volume algum.

A garota, pelo jeito de andar e falar, era obviamente uma rebelde. Will conhecia bem o padrão, que no começo achava um pouco estranho. A garota falava sem cautela alguma, seu olhar selvagem era realçado com uma franja repicada sem corte e, suas roupas, juntas, não faziam o menor sentido no quesito de estilo e cor. Só notou que ela era como Mate por conta da camisa com o bordado de rato, pois, mesmo Mate dizendo que já foi um rebelde, ele se vestia melhor que um.

Eles passaram pela abertura com forma de arco e atravessaram um longo corredor, cada uma das portas nas laterais dava para uma sala de pesquisa específica. No final do corredor, havia três caminhos e eles foram ao do meio. Tudo naquele lugar era revestido de metal cinzento.

– Afinal, quem é você e onde está nos levando? E antes que pergunte, isso importa sim. - Greg pergunta e o foco de Will passa da construção para os dois. Greg havia notado que ela não era muito de compartilhar informações; assim como sua irmã, ele era perceptivo. Não se surpreendeu muito com a resposta da garota.

– Eu não ia perguntar isso. - ela vira um pouco seu rosto e é possível ver que ela estava sem expressão diante do comentário. – Sou uma amiga de Talles e estou levando- os para seus aposentos. Devem estar cansados.

– O que houve com Talles?- pergunta Will, curioso com o que ela disse para o grupo.

– Desculpa, mas eu não gostaria de falar sobre isso. - E com isso a garota continua a guia-los pelo corredor. À medida que se aproximavam do fim, uma forte luz branca intensificava-se.

Ao fim do corredor, eles se deparam com um amplo hall de teto alto, aproximadamente 10 metros. Na parte central, mesas e cadeiras de madeira, como aquelas que usamos em parques para lanchar; na lateral direita, um refeitório e, em frente, um palanque de madeira escura como a do chão, dando um contraste diferente com as mesas e bancos. No local encontravam-se apenas pessoas vestidas formalmente com malas, assim como as que eles encontraram perto das naves.

Na lateral esquerda, havia mais algumas aberturas com forma de arco e, em cada parede, havia um elevador que levava para aberturas em outros andares. Ao todo, eram cinco andares contando com o que se encontravam.

Eles se dirigem para uma abertura no penúltimo andar e se deparam novamente com um corredor largo, cinzento e cheio de portas nas laterais, porém ali a iluminação era melhor.

– Bem, chegamos. - durante todo o caminho, os dois estavam silenciosos, maravilhados com a construção em que facilmente poderiam se perder e, quando a menina pronuncia algo, é como se ela estivesse acordado- os de um tranze. - Vocês irão dormir até as seis e se encontrarão lá em baixo até às seis e meia. Caso queiram ver a programação semanal de vocês, há vários papéis em cima do criado mudo. Se por acaso se perderem, podem pedir informação para seus vizinhos, os moradores nos quartos desse corredor. - ela diz, se retirando, até que se lembra de algo e para. - Dividirão o quarto com Talles.

Mas quem é Talles?, Will perguntava- se mentalmente, imaginando que Greg pensava a mesma coisa, mas o garoto apenas entrou e sentou se na parte de baixo de um dos beliches. A garota se retirou apressadamente.

O quarto era grande, simples e branco, todos os móveis dele eram de madeira rústica. Os dois beliches, o criado mudo e um baú em um canto da sala eram um conjunto simples, sem grandes detalhes, enquanto o armário largo com desenhos lembrava o de Nárnia. Ao lado, um banheiro com espelho oval e azulejos em um tom gelo. Simples.

Descendo as escadas e entrando em uma das aberturas no primeiro andar, Noelle não escondia mais seu nervosismo. Tentou guiar os garotos o mais rápido possível para poder ver o estado de Mate. Quando disseram que o garoto tinha levado um tiro, algo se alarmou dentro de si.

Na frente da enfermaria se encontravam dois garotos que ela havia visto nos treinamentos, Jeff e Santiago. Por um momento, ela ficou surpresa, até perceber que Cipriani os mandou ali para que nenhum amigo de Mate ou Talles pudesse entrar. Mas ela não podia mais esperar, tinha que vê-lo.

– Nem pense senhorita Straub. - Falou o garoto que tinha quase dois metros de altura, Jeff. Ela estava se segurando para não esmurrar a cara deles e sair correndo em direção as portas. Claro que isso não daria muito certo.

– Por favor. - ela se ajoelha no chão e junta as mãos, tentando dramatizar um pouco, sendo pouco convincente. - Eu preciso vê-lo, já faz algumas semanas que eu...

– Esqueça, isso não vai acontecer, foram ordens do Cipriani. - ele a interrompe e rubor espalha-se pela face da garota.

– Onde ele está?

– Lá dentro. – Dessa vez, quem responde é Santiago, o garoto com a lateral da cabeça raspada indicava a porta no final do corredor.

Raiva explodiu dentro de si, saiu batendo os pés como uma criança birrenta. Diante dessas circunstâncias, ela teria que pôr o plano b em ação.

Ela seguiu em direção a outro corredor, um vazio, e tirou a tampa do buraco que dava ao duto de ventilação. Subiu e seguiu em direção à enfermaria, onde via Cipriani e Mate conversando, Talles do lado esquerdo deles em uma cama e ao lado direito, uma menina magrela em uma poltrona. Se inclinou para tentar ouvir melhor o que ambos falavam e acabou forçando a válvula de fechamento da tampa de metal, que imediatamente se abriu.

Acabou caindo no chão e fazendo barulho bastante para acordar a menina e Talles. Anna deu um pulo em sua poltrona enquanto o restante agiu como se já esperasse esse tipo de coisa de Noelle, sem surpresa alguma expressa no rosto. Desajeitada, ela logo se levantou e olhou para Cipriani e Mate, o segundo com um sorriso de pura felicidade.

– Desculpe- me, mas eu precisava fazer isso, Cipriani. Você sabe disso. - Ela disse apressadamente antes de ele lhe dar uma bronca, porém, seu olhar não estava nele, mas sim em Mate. Cipriani, vendo isso, se apressou em suas palavras.

– Eu já ia te chamar, preciso de um favor seu. - pela primeira vez, seu olhar, agora surpreso, se dirige para o homem alto e robusto. - Convoque os líderes, precisamos fazer uma reunião.- Mate deve ter dito algo bastante incomum para ele marcar uma reunião, faz meses que não fazemos uma, ela pensou.- Logo após, quero falar com os novatos.- diz, se retirando da sala e deixando Mate e Noelle com Talles e a garota magrela.


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