Mutações escrita por Elisabeth Dias


Capítulo 3
A verdade vem à tona


Notas iniciais do capítulo

Primeiro aviso: Muuuito diálogo!( desculpem- me, era necessário);
Boa leitura



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– Ah meu Deus, o que é isso agora?!- grita Anna completamente confusa com a situação.

Ela, seu irmão e Will estavam paralisados, sem saber o que fazer, enquanto os homens se aproximavam e Mate corria em direção ao trem gritando para pularem. Anna e Greg encaravam aquilo como loucura, mas Will estava quase considerando a ideia. Essa confusão durou até o momento em que um tiro foi disparado em direção ao braço de Anna.

Will imediatamente pulou em uma das laterais da sacada, sem pensar em como cairia, se quebraria alguma coisa ou se seria atingido antes pelos tiros, afinal, eles não pareciam hesitar em querer mata-los. Anna se jogou no chão pela dor repentina em seu braço e Greg tentou ajudá-la, mas logo foi capturado por dois homens.

Um dos homens apontava uma arma em direção ao corpo no chão e, sua expressão, no começo vazia, ia sendo substituída pelo desprezo. Greg consegue se soltar, empurra alguns homens, inclusive o que apontava a arma para sua irmã, a carrega e impulsiona-os para fora do trem. Seu lado esquerdo do corpo vai de encontro aos trilhos frios e duros e dor, seguido de dormência, começam a se alastrar pelo local.

Mate corre de encontro até os irmãos, suas pernas clamando por um descanso e, quando chega, se ajoelha diante deles de costas para o trem. Mal pôde ver o estado dos dois e ouve aquele som horrível, dor explode em seu ombro imediatamente. Havia sido baleado.

– Vão para o inferno, miseráveis. - Pragueja em um sussurro. Ao tocar o ferimento, sangue preenche sua mão, encharca sua manga e a dor lhe causa arrepios pela espinha. Ele sabia que buscar três seria perigoso, mas não previu uma situação como essas.

Will, que agora se encontrava a poucos metros, acelera os passos enquanto Greg, que já se encontrava de pé, ajuda sua irmã a levantar. Will vai de encontro a Mate e ,quando o vê ferido, toma um cuidado maior na hora de ajudar o rapaz a se levantar.

– Merda! E agora, o que fazemos?- pergunta Will, ofegante.

–Prosseguimos a pé até essa coisa achar sinal. - ele diz, indicando um diferente relógio de pulso digital. - Preciso informar Cipriani do imprevisto e que demoraremos mais do que o esperado para chegar. O lado bom é que já passamos da metade do caminho. - ele diz adentrando a floresta de coníferas ao lado dos trilhos e o restante o segue.

– A Mutações fica próxima ao litoral, certo?- deduz Will.- Minha dedução é que se encontra perto do esconderijo dos rebeldes. Me lembro desse lugar.

Mate apenas afirma com a cabeça e Greg finalmente é notado por todos quando pergunta:

– É um rebelde?

– Não, apenas visitava o local. Há aproximadamente um ano, meu pai expulsou minha mãe de casa depois de uma briga, e ela, fugiu da cidade. A partir daquele dia, uma vez por mês apareço disfarçado no esconderijo rebelde para vê-la. De uns tempos pra cá, tem sido difícil sair sem que meu pai ou meus irmãos me perguntem aonde vou. Estou achando que começaram a desconfiar.

– Mas não é proibido ficar indo e vindo da cidade ao esconderijo rebelde?- pergunta Greg.

– Ninguém nunca proibiu esse tipo de coisa, apenas incentivam as pessoas a continuarem na cidade. Mas muitas vezes, não dá muito certo, algumas pessoas querem mudar de lado pra ver se algo muda.- ele lança de leve um olhar para Anna, assegurando que ela entendeu a indireta.

– Eu não teria problema em morar com eles. Os rebeldes, aparentemente, são mais felizes e gentis que os cidadãos. O local é organizado, limpo, amplo e mais saudável. Só continuo na cidade por conta da minha família. - ele é interrompido por gritos de dor de Anna. Todos os olhares assustados e preocupados se dirigiram imediatamente para ela. Um pedaço de ganho havia batido no local onde ela havia levado o tiro e o sangue voltava a jorrar pelo ferimento.

– Precisamos de água e algo que sirva como gaze. – Mate diz.- Vou ficar com ela.

Os dois garotos foram correndo sem questionar.

– Precisa contar para ele. - O peso de seus olhos verdes novamente caiu sobre ela e essa era a coisa que ela mais tinha odiado nele. Ela sabia que era verdade, que Greg precisava saber sobre o real motivo de sua fuga, mas o receio de que ele não olhasse mais para sua face era sufocante. Era melhor que ele soubesse por ela do que começasse a questionar quando Mate o contasse sobre a Mutações e ele percebesse que ele e sua irmã nem se conheciam antes do trem.- Antes de chegarmos.

– Tudo bem, eu conto. – a garota logo para de falar e pensa em outra coisa. - Ele não poderia pensar que somos namorados?- e ele move sua cabeça negativamente com um semblante sério no rosto, diferente da expressão eufórica que ele tinha no trem. Ela não se segurou e acabou soltando um sorriso, aquela ideia era absurda demais para ser verdade. – Desculpa, isso foi ridículo. - vergonha tomou conta de si.

– Desculpe-me também. - Ela logo ergue a cabeça, surpresa com aquilo. Era a última coisa que ela imaginava que ele poderia falar e, vendo a confusão nos seus olhos cinzentos, ele acrescenta. - Por invadir sua casa, eu apenas obedeço a ordens... e também, por não falar para vocês que talvez estivéssemos sendo seguidos, não havia muito tempo.

– Desculpado. – Pensamentos de como explicar tudo a seu irmão de repente invadiram sua mente. Seria difícil. -Meu irmão deve estar cheio de perguntas. - Mate, vendo que ela ainda tinha o pensamento do irmão em mente, para desviar seu foco, lhe pega o braço e enfia os dedos na ferida, tentando remover a bala.

– Ai! O que foi is...- ela imediatamente para de falar quando vê a bala em seus dedos. Ele a larga no chão e começa a tirar o sobretudo de lã. Por baixo, se encontrava apenas uma simples camisa cinza com um bordado de um circulo no canto com, no meio dele, um rato. Um brasão com um rato... um pouco incomum.

– Com licença. – Mate diz se virando de costas para ela e começa a tirar a camisa. Ela tinha desviado o olhar, mas, pelo canto de sua visão via que ele estava com dificuldades em remover a bala.

– Ajuda?- a menina pergunta e por um momento ele parece hesitar, até que concorda com ela. Ele estava quente, mesmo com aquele horrível clima úmido e frio e isso contrastou drasticamente com as mãos geladas da garota. Sua pele tinha um tom bronzeado, mesmo vindo de uma cidade fria e era dura por conta de seus músculos. Ela tomou o maior cuidado possível para não machuca-lo.

Essa era uma das coisas que ela nunca se imaginaria fazendo, definitivamente. Era simplesmente estranho e nojento enfiar os dedos em uma ferida a procura de um pedaço de metal e, a cada gemido baixo que o garoto dava, ela ficava mais receosa e temia estar fazendo errado, sentindo a dor dele em cada um. Quando finalmente achou a bala, limpou suas mãos em seu jeans e encostou sua cabeça no tronco de uma árvore. Ele, assim que terminou de se vestir, fez o mesmo.

Depois de alguns minutos em absoluto silencio, é possível ver de longe os dois garotos se aproximando com uma grande e larga folha, e nela, água. Will entrega a eles, que limpavam as feridas e usavam pedaços do sobretudo de Mate para tapar o local. Eles prosseguem a caminhada por pelo menos uma hora até que a vegetação vai sumindo, dando lugar a uma paisagem diferente. Uma fazenda abandonada.

Tudo que havia agora era uma vegetação rasteira coberta pela geada e a paisagem desfocada pela neblina. Ali, a diferença de temperatura para a floresta era drástica, tendo em vista que o fino vento de inverno tinha sido substituído por algo que se aproximava de um freezer: não ventava e a temperatura fria era constante. Todos de repente param e olham para Mate, que adentrava a fazenda.

– Antes da guerra, rebeldes moravam em lugares como esse. - Mate diz enquanto se aproximava da casa. - Eles provavelmente devem ter algum transporte.

– Eu acho que não. - retruca Will. - Eles pegaram todos para se dirigir até a cidade em busca de armamento nos tempos de guerra.

– Não estou falando de carros. - Se aproximando, era possível notar que era uma casa simples, feita de madeira podre e esburacada e sem aquecimento interno, diferente das casas mais simples na cidade. Ao seu lado, havia uma garagem com teto alto e portas de aço de correr. Mate as abre e eles se deparam com um veículo enorme e rústico.

– Um trator? Você não esta falando sério, certo?- pergunta Anna, em descrença.

– Prefere ir andando a pé até o litoral ou tem uma ideia melhor?- Ele diz rispidamente não esperando resposta. - Se não, trator é a nossa única opção.

– Na verdade, tenho sim. Seu relógio. – Ele havia se esquecido do objeto desde que adentraram a floresta e, assim que ouviu aquilo, correu os olhos pelo pulso; pouco sinal, mesmo distante da vegetação. Embora percebesse que Anna fosse uma pessoa perceptiva, a última coisa que ele esperava era que ela reparasse em algo tão pequeno como um relógio. Nesse aspecto, ela lembrou-lhe Noelle, a garota que não saía de sua cabeça há semanas.

– Seria uma ótima ideia se a frequência do sinal fosse mais forte, mas posso considerar sua proposta quando estivermos longe. – Responde, já subindo no trator.

Will se voluntariou a dirigir, afinal, ele era o único que sabia dirigir e que não tinha levado um tiro. Mate se encontrava a seu lado e os irmãos Muniz, sobre a proteção nas rodas. Anna não fazia ideia de como falar sobre aquilo com seu irmão, que por sinal, se encontrava silencioso desde o momento em que saiu com Will em busca de água, Mate apontava seu pulso para cima com expectativa de conseguir sinal e Will mexia cautelosamente naquela estranha máquina que o painel pouco parecia com o de carros comuns, que tinham a tecnologia anos luz mais avançada do que aquilo. Depois de alguns quilômetros, finalmente alguém disse algo.

– O sinal está bem melhor por aqui, vou falar sobre nossa situação atual a Cipriani. - avisou para ninguém em especial.

– É verdade que os rebeldes ainda falam torpedo ao invés de mensagem?- pergunta Greg a Mate.

– Sim, é verdade. O que isso tem a ver?- e Anna nota o falso tom de despreocupação na voz de Mate.

– Fiquei sabendo que você era um rebelde. - Mate rapidamente olha para Will, pois ele era o único que poderia ter dito. O seu receito não estava no que Will poderia ter falado, mas como ele havia passado a informação para o garoto - Ah, eu também sei sobre você, Anna.- ele prossegue.- Sei que você e Mate nem se conheciam e que você iria se juntar aos rebeldes. - ela, ao mesmo tempo em que temia o que seu irmão dissesse, estava curiosa para saber o que ele sabia, por isso não o interrompeu. - Por que não me disse?

– Você não me ajudaria a fugir, nem deixaria que eu fizesse isso.

– Pelo contrário, eu fugiria com você, mesmo não querendo ser um rebelde. Eu odeio aqueles velhos e você é a minha única família, por isso não ficaria. Não poderia deixá-la ir sozinha, eles iriam me culpar para sempre por te ajudar a fugir. - ele muda para um tom de voz mais duro para dizer a última frase. - Traidora, pare de pensar apenas em si.

Anna pensava em mil coisas, mas não pronunciou nenhuma delas, apenas se calou. Will não tinha culpa se contou tudo que tinha conhecimento para seu irmão porque ele deveria tê-lo instigado ou por não saber que Greg não sabia sobre a Mutações e sobre o rumo do trem. Mate também não, se não contou mais coisas no trem por conta do nervosismo e receio de que estavam sendo seguidos. Mas ela tinha, ela poderia ter pensado mais em seus atos, poderia ter pensado nas consequências da sua fuga para outras pessoas. Poderia ter pensado em seu irmão.

Ficou divagando em meio a essas ideias por mais alguns minutos, se sentindo suja, traidora, até que algo a faz parar. Greg quase cai de seu lugar com a freada súbita que Will deu no trator. Os outros, assim como ele, encaravam o que se encontrava em meio ao caminho com diversas expressões: receio, susto, medo e alívio. Essa última era a de Mate.


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Notas finais do capítulo

Obs¹.: Noelle provavelmente aparecerá no próximo capítulo ou no que virá depois desse (tá, na verdade, isso é um spoiler disfarçado de observação '-')



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