A Bruxa de Ferro escrita por Miranda Uchiha


Capítulo 4
Diário de Miranda Clarck




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A Bruxa de Ferro

Por Miranda Uchiha

Diário de Miranda Clarck

OoO

Sempre que penso no “incidente” no Ironbridge High School - aquele que todos lembram, mas fingem que não - tenho uma horrível sensação que afeta meu estômago. É como nervosismo, mas um pouco pior. Mais doloroso. Envergonho-me do meu comportamento, mas estava me defendendo, o que não pode ser considerado algo completamente ruim. Certo?

Só queria que as pessoas esquecessem de verdade - como se tivessem a memória varrida num passe de mágica, ou algo assim - em vez de ter de fingir que nada aconteceu. Eventos que não podem ser explicados de maneira racional não devem ser questionados. Mas pessoas como Melanie Swan não esquecem com facilidade quando alguém as faz parecer estúpidas diante dos amigos.

Tudo que eu queria - tudo que sempre quis - era viver tranquilamente meus dias na escola. Já era suficientemente ruim ser diferente por usar luvas o tempo todo; destacar-se desse jeito já é o bastante para causar desconforto. Alguns alunos acreditavam que eu queria "lançar moda" e faziam comentários maldosos quando pensavam que eu não estava ouvindo. Mas Melanie não se incomodava se eu estava ouvindo ou não. Às vezes ela me perguntava diretamente: "Qual é o problema com suas mãos, Clarck? Está tentando parar de roer unhas?" Ou "Como consegue segurar a caneta com essas coisas?" E eu corava e me odiava por isso, virando-me e me escondendo atrás de Harry. Eu tentava ignorá-la - e me saí muito bem por quase dois anos.

Mas quando as pessoas deduziram que as luvas não eram só um acessório - que eu obtivera permissão especial para usá-las por causa de alguma coisa que havia acontecido comigo - Melanie não conseguira mais dominar a curiosidade. Para ser justa, ela não havia sido a única, mas há sempre um da gangue nesse tipo de situação. Eu era dispensada de algumas atividades esportivas e isso era algo que ela odiava (provavelmente nascera com pompons presos às mãos). Ela simplesmente não suportava o fato de eu ser tratada de maneira diferente.

Naquele dia, por alguma razão, Harry não estava na escola, e eu visava meu armário tentando encontrar um livro que tinha certeza de ter deixado lá no dia anterior. Melanie apareceu atrás de mim e me empurrou, tropecei e bati a cabeça no armário.

Eu ainda tentava tirar a cabeça do meu armário quando senti dois pares de mãos me agarrando dos lados, me segurando naquela posição e me impedindo de sair; de me levantar. E depois alguém agarrou minha mão direita e começou a puxar minha luva.

Ainda me lembro da descarga de adrenalina me inundando. Foi como a onda de calor que começava no meu coração disparado, se espalhava por todo meu corpo, e fazia minha cabeça zunir com uma energia contida. Queria tirar aquelas mãos longe de mim. Não queria que ninguém visse minhas mãos e meus braços.

Ouvi a voz de Melanie - "Veja, tem alguma coisa aqui!" E foi isso. Simplesmente perdi a cabeça. Soltei minha mão direita com um puxão violento, sem me importar por um momento com o fato de ficar sem a luva, e agarrei extremidades do armário com as duas mãos. Empurrei com toda força dos dedos e das mãos - levantando o corpo com tanta vitalidade que joguei longe as pessoas que me seguravam.

E então me vi frente a frente com Melanie Swan, e com ela havia um grupo bem grande de amigos e curiosos espectadores. Alguém disse, "Olhem o armário" com voz fascinada, e eu me virei para olhar com todos os outros.

A porta estava aberta, mas onde eu a segurara, nas laterais, era possível as marcas que minhas mãos deixaram no metal. Era como se eu houvesse amassado um papel, dobrado um tecido qualquer.

– Que tipo de esquisita é você, Clarck? - Melanie perguntou olhando para mim. Seus olhos azuis e perfeitos transbordavam desdém e - notei com atenção - medo. - Sempre soube que havia algo de estranho com você.

– Deixe-me em paz. - Não consegui pensar em mais nada para dizer. Minhas mãos tremiam muito, mas eu fechei a porta do armário amassado, sabendo que não havia nenhuma possibilidade de trancá-la adequadamente, e não me importando nem um pouco com isso. Só queria uma desculpa para não ter de ver aqueles rostos, todas aquelas expressões. A porta estava torta, meio pendurada por uma dobradiça, e parecia abandonada e bêbada no meio da fileira de portas perfeitas.

Mas Melanie ainda não se cansara de me atormentar. Olhei em volta com desespero, esperando por um milagre na forma de um professor passando por ali, mas aquele não parecia ser meu dia de sorte.

Ela pousou a mão pálida e de unhas perfeitas no centro do meu peito e me empurrou contra a porta do armário. As unhas dela combinavam com minhas luvas vermelhas.

– Fique fora do meu caminho, esquisita.

Não sei se foi por ela me chamar de "esquisita" outra vez, ou se foi o jeito lento e exagerado como ela me empurrou. Não sei se ainda estava encharcada de adrenalina. Não sei o que foi, mas alguma coisa explodiu dentro de mim.

Eu me aproximei dela tanto quanto pude sem pisar em seus pés delicados. - Acho que está cometendo um engano. É você quem vai ficar longe de mim.

Virei-me para o armário, levantei o punho cerrado, e esmurrei a porta com toda força que tinha.

Com um barulho ensurdecedor do metal, a porta inteira desmoronou para o lado de dentro, arruinada além de qualquer possibilidade de reparo. Houve uma exclamação coletiva dos espectadores, e eu me senti gratificada ao ver Melanie recuar alguns passos, os olhos muito abertos e assustados.

Dei alguns passos na direção dela.

– É isso que vai acontecer com você se me incomodar novamente.

Depois girei sobre os calcanhares e me afastei com as pernas tremendo, sem me incomodar por ver as pessoas se afastarem e abrirem caminho para mim como se fossem o Mar Vermelho.

Sem me importar por ver que todas estavam chocadas e amedrontadas.

Naquele momento, tudo que importava era estar saindo vitoriosa daquela situação.


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