Juntos pelo acaso. escrita por Hermione Granger


Capítulo 4
E a babá, vira amiga.




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(narrado por Hermione)

A primeira semana com Hugo não foi exatamente como eu esperava. Não foi de todo ruim, mas o garoto parecia não estar muito a fim de facilitar para o meu lado. Natural, pensei, está acostumado com a convivência diária da tia e demoraria a se acostumar comigo, já que eu era uma completa estranha.

Nos primeiros dias me senti de mãos atadas. Hugo não se comunicava comigo. Nenhuma palavra ou ao menos mimica. Olhava para mim com um olhar inexpressível sempre que eu lhe perguntava algo. Pensei ser algo pessoal e logo soube por Ronald que Hugo nunca fora muito de falar e então me dei conta de que desde que o conheci nunca se quer ouvi sua voz. Aquilo não era normal pra mim, embora Ronald parecesse achar.

– Que tal irmos ao mercado? – perguntei a ele no quarto dia. – Podemos comprar algo pra fazer no jantar, o que acha?

Ele continuava a brincar com seus jogos de montar como se eu estivesse falando com outra pessoa que não ele. Dei um longo suspiro e caminhei até ele, me agachando pra ficar a sua altura.

– Eu preciso da sua ajuda, querido. – disse em um tom de quase suplica, ele levantou os olhos para mim. – Por que não tentamos de outra forma? Você não precisa falar se não quiser ok? Façamos assim, sempre que eu lhe perguntar algo que a resposta seja ‘’sim’’, coloque o seu dedo na ponta do nariz ta legal? – ele não se moveu, apenas continuou a me olhar e eu me senti uma completa idiota. Não desisti porem. Precisava encontrar um meio de comunicação entre nós. – O que acha de irmos ao mercado e fazer uma surpresa no jantar para o papai?

Silencio. Por uns instantes achei que ele voltaria a atenção para os brinquedos e me ignoraria, mas um minuto depois o vi levar o pequeno dedo indicador até a ponta do seu nariz. Sorri orgulhosa. Dele e de mim mesma. Tinhas feito um progresso, ainda que pequeno.

O caminho até o mercado foi silencioso como esperado, hora ou outra nos comunicávamos como havíamos combinado e Hugo até soltava algumas risadas com algum comentário que eu fazia.
Quando chegamos ao mercado, eu não fazia ideia do que comprar. Tinha ido até lá, apenas para ter um motivo para me relacionar com Hugo e já que estava dando resultado, teria continuar. A principio apenas busquei entre as prateleiras, algo que eu soubesse cozinhar, que fosse rápido e não me desse muito trabalho. Peguei um pacote de macarrão, queijos, azeitonas e durante todo o tempo, Hugo apenas me acompanhava calado. Eu precisava interagir com ele.

– Que tal uma sobremesa para o papai? O que você acha? Você o conhece melhor do que eu, você pode me ajudar? – Hugo faz que sim com a cabeça e me guia até o corredor de guloseimas. Ele para diante das prateleiras pensando em como me fazer entende-lo. Ele respira fundo e eu tento encoraja-lo. – Tortas?

Ele balança a cabeça freneticamente e quando por fim não encontra o que procura, parece se render.

– Pudim. – ele diz. Tento não encara-lo com surpresa para que isso não o assuste.

– Pudim. – repito olhando para a prateleira da mesma forma que ele – Adoro pudim. Está de acordo?

Ele apenas sorri e eu ganho isso como um sim.

xxx

Na volta para casa, consigo arrancar mais algumas palavras de Hugo e me sinto incrivelmente feliz com isso. Peço-lhe para me ajudar com o pudim ao chegarmos e isso parece agrada-lo. Passamos o resto do fim de tarde na cozinha e ao chegar da noite, eu o banho alguns minutos antes de Ronald chegar e não esperamos muito para isso.

– Hey, filhão! Senti sua falta. – diz Ronald segurando o filho em seu colo assim que abre a porta da entrada. Ele se aproxima para me cumprimentar. – Como foi o seu dia?

– Ótimo. – respondo com entusiasmo. – Fizemos o seu jantar.

– “Fizemos”? – questiona ele.

– A ajuda de Hugo foi primordial. – digo acarinhando os cabelos ruivos do menino, ainda agarrado ao pescoço do pai. – Eu não saberia o que fazer se ele não tivesse me dito.

Coloco ênfase no “dito” e Ronald parece me entender, mas talvez, seguindo os mesmo princípios e cuidados que eu, tentou não se alarmar para não inibir Hugo.

– Estou ansioso para experimentar. – disse colocando Hugo no chão e nos guiando até a cozinha.

Ronald me ajudou a colocar a mesa para jantarmos. Conversamos sobre seu dia na empresa e o meu dia com Hugo enquanto comemos. Ele pareceu tão contente quanto eu ao ver que Hugo e eu estamos progredindo e apesar de não ser o emprego dos meus sonhos, deixa-los não é mais uma opção para mim.

A sobremesa foi a melhor parte do jantar para Ronald. Hugo estava certo, ele adora pudim. Por alguns poucos segundos eu paro apenas para admirar pai e filho, sorridentes enquanto compartilham fatias de doce de tamanhos idênticos um com o outro. Pensando no quanto já sofreram até poderem sorrir assim.

Levo o Hugo até o banheiro após o jantar para que ele escove seus dentes enquanto ajeito sua cama para dormir.

Ao deita-lo, faço com ele o mesmo que meu pai fazia comigo. Coloco o cobertor quente sobre ele e o empacoto com o cobertor como se ele fosse o recheio de uma gigantesca panqueca. Pode até parecer estranho, mas em uma noite fria aquilo era extremamente confortável.

– Assim está bom? Está gostoso? – perguntou Hermione.

– Sim. – respondeu sorridente.

– Então boa noite, querido.

Dou um beijo em sua testa antes de começar a levantar para me afastar, mas Hugo me impede.

– Você vai ser a minha mãe? – eu fico estática ante a pergunta. Olho para os lados como se procurasse a pessoa para quem ele fizera a pergunta. Não ninguém além de nós dois ali e eu fico parada, olhando para Hugo tentando processar a melhor forma de lhe responder.

– Hum, não querido. – É só o que consigo dizer.

– O que você será?

– Sua babá. Eu irei cuidar de você.

– E o papai?

– O que tem o seu pai? – pergunto sem entender.

– Tia Gina sempre diz que o papai não sabe se cuidar sozinho. – eu não consigo segurar o riso apesar de saber o tipo de cuidado que Gina se refere.

– É, digamos que ele é um pouco desajeitado com algumas coisas.

– Você vai cuidar dele também?

Não sei o que responder então apenas beijo sua testa novamente para me despedir enquanto sussurro “boa noite”.

– Demorou a dormir? – Me pergunta Ronaldo quando entro novamente na cozinha.

Ele ainda estava lá, ajeitando as coisas no lugar e lavando a louça que sujamos. Eu me aproximo com um pano de pratos para ajuda-lo.

– Um pouco. Ficou me fazendo algumas... perguntas.

Ronald se vira para me olhar com um olhar surpreso, mas sorridente.

– Acho que estamos indo bem. – ele me diz.

– Tenho certeza de que estamos.

– Eu me sinto feliz por isso. – Diz. Ele coloca o pano de pratos úmido que usava sobre o ombro esquerdo e se vira de costas para a pia, para ficar de frente para mim. – Fiquei assustado por uns dias.

– Assustado? – pergunto.

– Com a possibilidade de você nos deixar. – Ele fica mais sério ao dizer isso, mas eu sorrio para conforta-lo.

– Não seja bobo, Ronald.

– Ron. – ele me interrompe. – Só Ron, por favor.

– Ron. – eu corrijo. – Eu não vou deixar vocês.

Ele sorri aliviado por isso.

– Deixe que eu cuide disso. – digo cortando o silencio que se seguiu.

Aproximo-me da pia para terminar de lavar o que Ron havia começado.

– Você já fez muito por hoje. – Ele diz tentando me afastar.

– Juntos então, assim acabamos mais rápido. Eu ensaboo e você enxagua.

– Certo. – concordou ele.

Parei ao seu lado pegando a esponja sobre a pia e comecei a ensaboar a louça que ainda estava dentro da pia, colocando-as já ensaboadas de um lado limpo para que ele pudesse enxaguá-las.

– Desculpe se tem sido difícil. Hugo sempre foi quieto, mas ainda assim se comunicava. Sempre foi cercado pela família, eu não sabia como ele iria lidar com algum de fora.

– Ele só precisava se sentir seguro.

– Estou gostando de ter você por perto. Sabe, me sinto mais tranquilo. – Eu sorrio em agradecimento. – O que vai fazer amanha? Sei que é o seu dia de folga, mas...

– Precisa de alguma coisa?

– Não, não. É que vamos almoçar com minha família na casa dos meus pais amanha. Pensei que talvez gostasse de conhecê-los, caso não tenha planos é claro.

– Oh, eu não sei...

– Anda, vamos. Sem isso de lado profissional.

– Bom, está bem. – concordei.

– Ótimo. – ele sorriu, dando-se a liberdade de me dar um beijo na bochecha.

(narrado por Ron)

O domingo acordou convidativo para um passeio. Hermione aceitou meu convite para um almoço com os Weasley. Acredito que a entrosando com a minha família irá facilitar sua relação com Hugo. Eu havia me levantado cedo naquele domingo e me surpreendi ao ver que Hermione já estava de pé. Preparava o café da manhã na cozinha mesmo no seu dia de folga, mas fiquei silenciosamente agradecido por isso, eu não sabia nem ao menos ferver a água para o café.

Parei à porta da cozinha, mas ela não notou minha presença. Lavava a louça que havia sujado no preparo do café que acabará de preparar. O aroma delicioso invadira minhas narinas e eu fechei os olhos por um instante como se aquilo ajudasse a intensificar ainda mais o cheiro.

– Achei que havia dito que hoje era seu dia de folga. – disse fazendo-a sobressaltar surpresa e virar-se para me olhar. – Bom dia.

– O que não quer dizer que eu não possa ajudar. – disse ela secando as mãos em um pano de prato. – Bom dia para você também.

– Você já ajuda mais do que talvez eu mereça. Mas tenho que lhe dar meus agradecimentos pelo café, ou teria que chegar mais cedo na casa dos meus pais se não quisesse morrer de fome.

– Isso e vergonhoso Ronald. – ela riu.

– É Ron. – eu a corrigi pela trigésima vez. – Meus talentos culinários são um tanto escassos.


(narrador)

Embora tivesse tomado um café reforçado, não demoraram a ir para a casa dos Weasley. Desde que se mudara da casa de seus pais, Ron tentava passar o máximo de horas n’A Toca que seu dia o permitia.

Ansiosidade, nervosismo, medo. Hermione não conseguia definir o que sentia. Olhava pela janela do banco do passageiro como se a paisagem as estivesse agradando, mas ela nem ao menos prestava atenção ao que lhe passava pelos olhos. A não ser Ron e Hugo, só conhecia Gina e Harry e pedia silenciosamente para que eles já estivessem lá. Lembrou-se da primeira vez em que fora procurar Ron a procura de emprego e descobrira que além dele e Gina, haviam mais uma quantidade assustadora de Weasley dos quais ela não conseguira nem ao menos gravar os nomes.

– Eles não vão devorar você. – Disse Ron tirando os olhos da estrada para encara-la, mas logo voltando o foco novamente. – São ótimos, você verá.

Ela apenas sorriu timidamente, mas nada disse durante todo o percurso.

A Toca era uma casa simples, mas fora do comum. Parecia uma espécie de mini fazenda com porquinhos, um extenso gramado com gnomos de enfeite espalhados. A casa tinha de três a quatro andares, mas de tão torta, dava a estranha sensação de que tombaria para o lado a qualquer instante.

– Bom, aqui estamos. – Disse Ron. – É simples, mas é o melhor lugar do mundo. Vamos entrar.

Hermione assentiu. Hugo nem ao menos os esperou e correu para dentro da casa em busca de alguém para brincar.

Hermione acompanhou os passos de Ron e juntos entraram n’A Toca.


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