O resto dos dias n'A Toca foi melhor do que Hermione imaginava. Antes de contar a todos sobre seu relacionamento com Ron, ambos se apegavam aos breves encontros que tinha nos corredores da casa, nada mais do que isso, considerando que em cada piso d'A Toca havia alguma pessoa pronta para flagrar qualquer beijo ou cena comprometedora dos dois. Agora estavam livres. Livres para trocarem olhares à mesa durante as refeições, livres para se sentarem juntos no sofá e permitir que suas pernas e braços se tocassem sem fingir constrangimento, livres para se cumprimentarem com um beijo simples que fosse.

— Ainda me pergunto por que demoramos tanto pra dizer. — Ron estava deitado em um daqueles bancos de praça que havia n'A Toca em sua ultima tarde em Devonshire. Sua cabeça jazia sobre as pernas de Hermione, enquanto ela acariciava de maneira suave seus fios de cabelo laranja. — Podia ter ganhado carinhos esse tempo todo.

— Devemos isso a sua avó. — disse Hermione. — Ela me disse que não deveríamos perder tempo nos escondendo.

— Sabia que apresentar você a vovó seria uma ótima ideia. — Hermione deixou escapar um riso. Ron matinha os olhos fechados enquanto sentia as mãos leves dela em sua cabeça. — Mas confesso que pela primeira vez estou ansioso pra chegar em casa.

— Não deixe sua mãe ouvir isso. — aconselhou Hermione.

— Mamãe está acostumada a me ter sempre por aqui, mas ela gosta de você. Tenho certeza que ela entende. — Ron abre os olhos e se levanta mais rápido do que deveria. Ele chega a apoiar o braço no encosto do banco para esperar que a tontura causada pelo movimento repentino passasse. — Quero voltar pra casa e ficar com você.

Hermione sorriu, passando a mão pelo rosto de Ron. Ela sempre pensara que detestava romances ou caras atenciosos demais. Vitor era atencioso demais. Não havia nada que Hermione quisesse que Vitor não fizesse e, talvez para uma garota normal, isso fosse algo espetacularmente apaixonante e incrível. Para Hermione isso era tedioso e desgastante. Mas Ron também era atencioso como Vitor, até mais e, no entanto, isso parecia fazer com que ela se sentisse cada vez mais apaixonada por ele. E de fato estava. Agora ela aprendera que a culpa de seu relacionamento com Vitor ser um fracasso era apenas dela. Nada adiantava ficar buscando defeito em Vitor se o único motivo de não ter dado certo era o fato dela nunca ter desenvolvido sentimentos por ele. Ela nunca amou Vitor, não como ama Ron. Ela estava apenas acomodada.

— Você não continua com aquela ideia absurda de que isso — Ron apontou para ele e ela para indicar ao que se referia. — é errado né? Quer dizer, você não vai embora não é?

Hermione inclinou a cabeça na direção de Ron e o beijou. Seus lábios eram a única parte quente de sue corpo frio.

— Outra vez com esse assunto, Ron?

— Não é algo que me agrada, mas você é louca. Preciso me certificar.

Hermione abraçou Ron pelo pescoço e o trouxe para mais perto, esmagando sua bochecha contra a dele e fazendo Ron ficar vermelho com o sufocamento.

— Preciso aprender a dizer não pra você

— O que? Você precisa aprender a dizer “sim” para mim. Você me diz não o tempo todo.

— Não digo só não. — Hermione cruzou o braço mostrando-se emburrada com o que Ron dissera.

— Disse agora. E ainda não respondeu o que perguntei.

— Não vou deixa-los. Não conseguiria. — a cara emburrada de Hermione não combinava com a doçura de suas palavras e Ron não pode evitar rir dela, o que a deixou ainda mais nervosa. Ele a agarrou pela cintura e lhe deu beijos no rosto até que o bico de Hermione se transformasse em risadas.

Se antes Ron e Hermione brigavam, hoje a relação deles ia de boa para melhor ainda. Ron tinha certeza de que tinha Hermione de um jeito que outro cara jamais teria e isso o deixava seguro. Por mais que eles tivessem pequenas discussões com assuntos banais, Ron sempre interrompia os sermões de Hermione a puxando para um beijo ou fazendo-a rir contra vontade. Ela não conseguia mais manter a pose de durona por mais de meia hora que fosse.

Quando janeiro chegou e os pais de Hermione voltaram para Bath, ela mudou suas coisas para o quarto de Ron como ele havia sugerido. Aquela era uma sensação estranha, como se dividir o armário com Ron fizesse sua ficha cair. A coisa entre eles era mais séria do que ela pensava, mas aquilo a deixava feliz. Ron a tirava do eixo. Ron a tornou impulsiva e ela gostava disso. Enquanto dobrava suas roupas e guardava no espaço do guarda-roupa que Ron reservou para ela, ela pensava que, se fosse com outro cara em outros tempos, a hipótese de morar junto não passaria por sua cabeça tão cedo, ainda que fosse de forma profissional como acontecera. Com Ron, a hipótese de morar em qualquer lugar que não fosse com ele lhe parecia errada.

— Vai ficar o dia todo ai? — perguntou Ron abraçando-a pelas costas. — Já dobrou e desdobrou essas roupas umas trezentas vezes. Precisa de ajuda? Ou está pensando em desistir?

— Só não queria tirar tanto seu espaço. — Hermione virou-se de frente para Ron e lhe deu um beijo.

Ron sorriu para ela quando ela se virou novamente para o guarda-roupa. Hermione admirou novamente o seu trabalho com as roupas e deu-se por vencida. Fechou a porta do guarda-roupa para evitar a tentação de arrumar tudo outra vez.

— Está com fome? — perguntou para Ron.

— Estou com saudade. Poderíamos aproveitar que Hugo vai passar mais alguns dias n’A Toca. — Ron beijava o pescoço de Hermione fazendo-a rir.

— Então teremos muito tempo para matar essa saudade.

— Eu estava pensando. — começou Ron parando de beija-la. Hermione virou-se para ele sem entender. — Quero ter um encontro. Com você, é claro. Como um casal normal.

— Um encontro? — ela questionou ainda sem entender. — Já estamos juntos há alguns meses, Ron. Por quê um encontro agora?

— Você não quer? Nunca tivemos um e nunca ficamos juntos ou saímos só você e eu. É sempre Você, eu, Hugo, seus pais, meus pais... Eu quero você e eu agora.

— Uau. Claro que eu quero Ron. — Ela tinha os braços envolvendo o pescoço de Ron e sorria.

— Ótimo. Te busco sexta as 19h.

— Me busca aonde? — Hermione arqueou uma das sobrancelhas. Ron riu.

— Os homens dos filmes sempre dizem isso. Quis dizer também.

***

Na sexta, ainda de tarde, Hermione se sentia ansiosa e indecisa sobre o que deveria vestir. Ron não disse para onde iriam e ela tentou todas as possibilidades, do casual e descolado ao formal. Nada. Nada parecia bom o bastante para seu primeiro encontro com Ron. E o que mais a intrigava é que Ron já conhecera todas as suas roupas, ela não tinha nada que pudesse surpreende-lo.

No fim da tarde, após o banho, ela ainda olhava para sua parte do guarda-roupa escancarado como se esperasse que alguma roupa maravilhosa saltasse de lá e grudasse nela.

Ela tinha apenas uma toalha envolta do corpo e uma outra enrolando os cabelos molhados quando ouviu o barulho da maçaneta se virando e correu para impedir Ron de entrar.

— O que houve? — perguntou ele tentando passar a cabeça por entre a porta entreaberta. Hermione segurava a porta para impedi-lo de passar algo mais além da própria cabeça.

— Ainda não me arrumei. — alegou ela.

— Está sem roupa? — perguntou ele tentando virar a cabeça para olhar Hermione que parecia se esconder atrás da porta.

— Ron! — exclamou.

— O que é? Já te vi sem roupa, Mione. Qual é o motivo da vergonha?

— Não estou com vergonha. É que você não deve ver o que vou vestir.

— Por que? É um encontro, Mione, não um casamento.

— É que eu queria que ficasse surpreso. — ela abaixou a cabeça como se seu fracasso com as roupas a tivesse chateado e ela afrouxou as mãos que seguravam a porta, permitindo que Ron pudesse entrar.

— Eu me surpreendo todas as vezes que vejo você. — Ele ergue o queixo dela e lhe dá um beijo.

— Você é bom demais pra mim, sabia?

— Não diga loucuras. Vou pegar minha roupa e me vestir em outro lugar está bem?

Ron não esperou que ela respondesse, apenas caminhou até a sua parte do guarda-roupa e, com mais facilidade do que Hermione, escolheu a roupa que vestiria.

— Não, Ron. O quarto é seu.

— É nosso. — ele deu um beijo na testa dela e cruzou a porta, virando-se para ela antes de sair. — Você só tem uma hora.

***

Ron já esperava Hermione 30 minutos antes do que havia combinado, mas ela foi pontual. Ele foi até o pé da escada quando a ouviu começar a descer e ele, como todas as vezes, se surpreendera mais uma vez ao vê-la.

Ela se vestia de forma simples e isso era o que ele mais gostava nela. Hermione nunca precisava se enfeitar para estar linda.

— Eu queria me arrumar mais. — disse ela olhando para si mesmo ao notar que Ron a olhava. Ela vestia um vestido cinza claro e curto que valorizava muito as belas pernas de Hermione. O vestido era simples, sem estampas ou decote. Era apenas adornado por um fino cinto preto na altura das costelas. Ela calçava um sapato de salto alto preto e vestia por cima do vestido, um Trench Coat bege com rebites dourados nas mangas para se proteger do frio. — Não tenho muitas roupas legais. Só casacos.

— Qualquer roupa fica incrível na minha garota.

— Minha garota. — repetiu Hermione. — Em outros tempos eu talvez detestasse que um cara me chamasse assim, como se eu fosse uma posse.

— Desculpa...

— Isso não se encaixa a você. — continuou ela ignorando as desculpas desnecessárias de Ron. — Gosto que me chame assim. Gosto de pertencer a você.

Ron sorriu e a pegou pela cintura, erguendo-a e fazendo-a descer o último degrau que faltava.

***

— E então? — perguntou Hermione.

— E então... — repetiu Ron para que ela prosseguisse com a pergunta.

— Não me disse para onde vamos.

Ron se mexeu desconfortável no banco do motorista.

— Eu não sabia exatamente onde deveria te levar. — começou a se explicar. — Pensei em um daqueles chiques com luzes baixas, garçons particulares, comida de fresco e vinhos. Seria romântico, mas eu queria que nos divertíssemos, sabe? Algo além de “só jantar.” Está decepcionada?

— Claro que não. Eu não ficaria confortável se não nos divertíssemos. Além do mais, o que importa é a companhia.

— Então vou ter que me esforçar para ser a melhor companhia.

— Você já é, Ron.