Juntos pelo acaso. escrita por Hermione Granger


Capítulo 1
Maré de azar




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/509856/chapter/1

(narrado por hermione)

Era um belo parque. Comum, na realidade, com alguns bancos típicos, dois ou três brinquedos e um gramado extenso, mas muito bonito.

Varias mães conversavam entre si enquanto seus filhos brincavam em balanços e escorregas. Havia pessoas se exercitando, senhoras alimentando pombos com farelos de pipoca, casais se aninhando sob a sombra das árvores. E eu. Sem filhos, sem pombos e sem namorado. Recem chegada de Bath e pessimamente instalada em um quarto fedorento nos fundos da casa da velha senhora Figg no subúrbio londrino. Saí de casa quando consegui uma bolsa de estudos na capital. Universidade de Londres, medicina. No momento em que recebi a carta de aceitação da universidade, achei que tudo dali por diante daria certo para mim. Eu sairia daquela cidade pequena e sem oportunidades para ser bem sucedida na capital britânica. Mas não foi bem assim.

O pequeno quarto fedorento no quintal da senhora Figg, que mais se parecia com um banheiro publico, era o único que eu poderia pagar considerando que eu não tinha um emprego e contava apenas com um pequeno auxilio financeiro que minha mãe podia oferecer. Não reclamei. Dormir ali era melhor do que na rua e a senhora Figg nem era tão ruim assim. Já se passara mais de duas semanas sem que eu conseguisse um emprego. Já estava me oferecendo até mesmo para varrer as ruas, tudo que pudesse me dar condições para dormir em um lugar melhor. Finalmente eu tinha encontrado algo. Ou pensei que tinha. O dia já começa ruim quando acordo atrasada para a entrevista de emprego. Tomo um banho de gato no banheiro que a senhora Figg gentilmente cedeu para mim e saio sem ter tempo ou dinheiro para comer coisa alguma. Vou até a estação de metro mentalizando o endereço do lugar para onde vou, pois na pressa acabei esquecendo o papel onde o anotei e preciso repeti-lo em minha cabeça para não me esquecer. Me ocupei tanto em não me esquecer do endereço que acabei por não prestar atenção as estações que se passavam e passei do ponto. Perdi quinze minutos do tempo que eu não dispunha em descer e pegar um trem e voltar para a estação correta. O prédio da empresa ficava a cerca de três quadras da estação e considerando o fato de eu já estar a cinco minutos atrasada, eu tive que correr. Cheguei à recepção tão descabelada que a recepcionista deve ter pensado que nunca fui apresentada a um pente. A entrevista não foi um desastre diferente. Uma bronca pelo atraso, uma mulher carrancuda me fazendo milhares de perguntas que me pareciam impossíveis de serem respondidas, concluindo a conversa com a clássica pergunta: “Então me diga, quem realmente é Hermione Granger?”. Por que parece tão dificil falar sobre nós mesmos? Não preciso dizer que não consegui o emprego. A vida em Londres era mais dificil do que parecia.

Agora cá estou eu, me recusando a voltar para casa nesse dia desastroso, tentando capturar alguma coisa boa no ar puro do parque quando tenho tempo para avistar um pequeno garotinho de uns quatro ou cinco anos, com cabelos tão laranja que chego a estreitar os olhos até que eles se acostumem a cor, agachando-se para arrumar o cadarço de seu tênis, ou pelo menos tentar. Até começo a sorrir com a cena do pequeno garotinho sendo vencido pelo cadarço quando vejo se aproximar dele um ciclista, com os fones no ouvidos e os olhos focados em uma jovem esbelta em justa roupa de ginastica que se exercitava ali perto. Totalmente distraído. Eu apenas tenho tempo de olhar de um para o outro na esperança de que algum dos dois perceba o que está prestes a acontecer, antes de me atirar contra o garotinho para tira-lo do caminho. O ciclista pareceu perceber e desviou de nós dois, tombando a bicicleta e o corpo no gramado oposto a nós.

– Você está legal? – pergunto ao garoto assim que me levando o e o coloco de pé. Ele assentiu sem dizer nada enquanto limpa a roupa suja de terra. Eu olho para os lados e depois volto a encara-lo. – Onde estão seus pais?

Antes que ele pudesse me responder, uma mulher com cabelos tão laranjas quanto os seus se aproxima as pressas de nós dois, as mãos sobre o peito como quem tenta se recuperar de um grande susto, tentando recuperar o ar.

– Oh, santo Deus. Esse garoto um dia irá me matar. Obrigado, muito obrigado. – dizia ela apressadamente enquanto se decidia se abraçava a mim ou ao garoto primeiro. – Oh Hugo, não se afaste tanto assim de mim, querido. Me desculpe pelo trabalho. – continuou ela agora olhando para mim.

– Não, tudo bem não se preocupe. Ele é seu...

– Oh não, não, não. – disse a mulher chacoalhando a cabeça repetidamente. – É o meu sobrinho. Mas esse aqui é meu. – disse em um tom divertido apontando para a barriga consideravelmente grande que até então, devido ao susto talvez, eu não havia percebido. – Esse aqui é Hugo, filho do meu irmão. Ele trabalha o dia todo, então eu estou ajudando ele cuidando do Hugo, já que estou de licença maternidade. Mas com uma barriga dessas fica um pouco mais dificil correr atrás de uma criança. A proposito, meu nome é Gina.

– Prazer Gina, sou Hermione. – disse estendendo o braço para apertar a mão que ela me oferecia. Gina fala tudo muito rápido como se sempre estivesse com pressa, mas parecia ser uma ótima pessoa.

Gina me convidou a passar o resto de tarde com ela e Hugo no parque. Nos duas nos sentamos no banco enquanto Hugo brincava com outras crianças a nossa frente. Gina era tão simpática, divertida e engraçada quanto sua primeira impressão nos passa. Me contou que trabalhava como enfermeira em um hospital chamado Saint Mungus, no centro da cidade e ficou muito feliz ao saber que eu cursaria medicina. Entrara em seu nono mês de gravidez. Seu primeiro filho, a quem ela batizou como James, o segundo nome de seu marido Harry e nome do seu já falecido sogro.

– E você, é casada? – perguntou ela

– Não. Nem ao menos tenho um namorado. – respondi. – Bom, na verdade tinha um cara em Bath, mas nada muito sério.

– Então você vive sozinha?

– Sim. Moro nos fundos da casa de uma velha solteirona com cheiro de xixi de gato. – Era para ser uma desgraça na verdade, mas Gina riu e eu também. – É o que eu consigo pagar. A vida aqui é bem mais dificil do que a televisão nos mostra.

– Você logo se acostuma.

– Assim espero. Não vejo a hora de conseguir um emprego que me livre daquele gatil.

Gina ficou quieta por uns instantes. Olhava fixamente para as crianças que brincavam ali, mas ao mesmo tempo seu olhar parecia estar longe dali. Não sei dizer quanto tempo ela ficou em silencio. Subitamente ela se virou para mim com um sorriso no rosto, saindo de seu transe e parecendo retomar a conversa como se nem ao menos tivéssemos feito uma pausa.

– Acho que tenho a solução pros seus problemas. – disse ela com entusiasmo. Não entendi de imediato. – Não será o emprego dos sonhos a principio, mas ao menos você poderá ter um lugar melhor pra ficar enquanto estuda. Uniremos o útil ao agradável.

– E que tipo de emprego seria?

Um bip-bip interrompeu nossa conversa. Gina tirou do bolso o aparelho celular apertando o botão que fazia o barulho cessar.

– Despertador. Mulheres no meu estado as vezes ficam tão esquecidas que precisam sempre ser lembrada de que horas são. – disse apontando para o aparelho. – Meu irmão ira buscar Hugo e precisamos voltar. – Ela já estava se levantando quando se lembrou de que ainda não havíamos concluído nossa conversa. – Ah, já ia me esquecendo. Bom, fique com esse cartão. Vá a esse endereço amanhã se puder e eu prometo que tentarei lhe dar um emprego. Mas repito, pode não ser o melhor do mundo, mas ira lhe ajudar por um tempo. Hugo querido despeça-se de Hermione e vamos.

Hugo me deu um beijo de despedida assim como Gina e ambos se afastaram enquanto eu seguia para o caminho oposto, de volta para casa.

– Hugo. Filho acorda, por favor. – pedia Ron sacudindo levemente o corpo do menino que custava abrir os olhos. – Anda, ajuda o papai. Acorda! Você vai se atrasar para a escola e vai me atrasar para o trabalho.

Há dois anos, essa vinha sendo a rotina de Ronald. Desde a perda da mãe de Hugo, agora com cinco anos, sua mãe e irmã mais nova eram as únicas figuras femininas em que ele confiava seu filho. “Você precisa de alguém. Hugo precisa de alguém...” era o que sua mãe sempre teimava em lhe dizer. Até poderia ser verdade, mas só se passara dois anos desde a perda da mãe de Hugo. Não seria correto com o garoto... nem com ela.

Ron escutou um barulho vindo do andar de baixo , o sons dos passos indicavam que a pessoa se dirigia ao andar de cima. Ele não se surpreendia mais, ela tinha a chave da casa.

– Onde está o meu sobrinho lindo? – disse Gina entrando pela porta e pulando sobre a cama do garoto fazendo-lhe cocegas. – Anda Huguinho, a titia vai te levar para a escola.

– Oh, obrigado Ginny. – disse Ron depositando um beijo na bochecha da irmã.

– é um prazer ajudar com esse pentelho. – dizia ela enquanto beijava o rosto do menino que ia despertando contra sua vontade. Gina deu tapinhas de leve nas costas do garoto.

Hugo se levantou depois de muito ser perturbado, e caminhou para fora do quarto em direção ao banheiro. Gina que olhava os passos do sobrinho, deu um suspirou e voltou a encarar o irmão que agora ajeitava sem muita vontade a cama do filho.

– Você precisa de alguém Ron...

– Não começa. – Ron bufou interrompendo-a.

– Não estou dizendo que você deve se casar, Ronald. Mas você precise de alguém que te ajude... além de mamãe e eu. Você sabe que eu amo o Hugo e cuido dele com o maior prazer, só que não estou com a mesma disposição de antes meu irmão e a chegada de James exigira ainda mais de mim. E a mamãe esta longe.

– Ah eu sei. Me desculpe Ginny. – Ela estava certa, ele sabia que estava. Assim como sua mãe também tinha razão quando o dizia. Mas Ron não tinha disposição e muito menos tempo pra encontrar alguém que o ajudasse.

– Não precisa se desculpar.

– Ando sendo um pouco egoísta. Você me ajuda mais do que deve. Tem sua própria família e deve se dedicar a ela.

Gina caminhou até o irmão, dando-lhe um breve abraço.

– Oh não diga assim, faz eu me sentir culpada. Mas você precise de alguém com mais disponibilidade. Alguem com que você possa deixar Hugo sem se preocupar.

– Sei disso, mas não conheço ninguém assim além de você e a mamãe.

– Eu.. conheci uma garota no parque ontem. Ela seria ótima para o cargo. – disse ela dobrando algumas roupas que Hugo havia jogado no chão na noite anterior.

– Eu não sei Ginny...

– Ah Ron, qual é? – disse ela já quase se irritando com tamanha resistência da parte do irmão. Nunca entendia porque Ron relutava tanto a aceitar ajuda. – Ao menos por um tempo. Ela é uma ótima pessoa e precisa muito de um emprego. Pense nisso como uma troca de favores.

Ron parou um tempo pra pensar. Olhou com expressão de indiferença para irmã e lhe depositou um beijo na bochecha já se despedindo.

– Tudo bem. – disse ele vencido pelo cansaço. – Eu estou atrasado. Traga-a depois para que eu a conheça Okay?

Gina deixou escapar um meio sorriso travesso, como os de uma criança quando sabe que fez algo que não devia e acaba de ser descoberta.

– Ham. Bom, é que eu já pedi para que ela fosse ao seu escritório hoje.

Ron a encarou serio por uns intantes.

– Você nunca vai parar de decidir a minha vida antes de me consultar?

– Eu já sabia que você toparia.

– E se eu não topasse? – perguntou ele.

– Já topou, é isso que importa. É apenas uma conversa, se não gostar dela eu juro que não me meto mais. – Ela cruzou um dedo indicado sobre o outro formando um "xis" e o levou aos lábios em sinal de juramento.

– Você sempre diz isso e logo volta a se intrometer.

– Eu sei, foi só mais uma promessa da boca pra fora. – Ela deu um beijo de despedida na bochecha de irmão e ele se foi.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Juntos pelo acaso." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.