O reflexo da Princesa escrita por Lola


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! ^-^



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“Hank: Há muitas coisas que não entendemos nesse mundo. Mas não significa que não existam.” (Grimm)

“Senhorita Bianca, acorde!”

Abro os olhos com dificuldade. A primeira coisa que percebo é que não estou mais usando calças, minha farda foi substituída por um vestido azul longo e apertado na cintura.

Olho ao meu redor, estou em um escritório sentada em uma carteira de madeira, um senhor de meia-idade está na frente de um quadro negro cheio de números, letras e símbolos estranhos, chamando minha atenção. Sua face está vermelha de raiva e tento me segurar para não rir do seu bigode engraçado.

“Como você pretende entender de economia se não presta atenção à aula de matemática? Por isso que eu digo que você precisa de um marido para te ajudar a governar!”

Ok. Eu não sei onde estou, nem quem é esse filho da puta na minha frente, mas de jeito nenhum vou escutar um comentário machista e não fazer nada.

“Como ousa falar desse jeito comigo?” levanto da cadeira com um salto e saio pisando forte, ignorando os protestos dele. Paro na porta e viro. “Ah! E a propósito o resultado dessa expressão é 46 e não 60!”

Digo me referindo à expressão que está no quadro, saio sem esperar uma resposta dele. Continuo caminhando sem saber ao certo para onde ir, impressionada demais com a arquitetura do local. Parece um castelo, o pé direito é altíssimo, as paredes são cheias de quadros e por todo canto podemos encontrar esculturas e detalhes em ouro.

Chego ao final do corredor e viro à direita, me deparo com um corredor cheio de guardas. Por um momento penso que eles vão me prender. Antes eles tivessem feito isso, com certeza seria menos estranho do que ter dez guardas fazendo uma reverência quando você passa. Sorrio para eles e continuo caminhando. Sinto um cheiro inconfundível de bolo de chocolate, percebo que o cheiro vem de trás de uma porta grande no final do corredor. Dois guardas que estão parados em frente à porta abrem a para eu passar. Deparo-me com uma cozinha gigante cheia de funcionários e bem no meio da cozinha, em cima de uma bancada de mármore, está um bolo de chocolate recém-saído do forno.

“BOLO!”

Vou correndo em direção ao bolo e todos os funcionários da cozinha me encarram surpresos. Alguns começam a sussurrar coisas como “a princesa” ou “o que a princesa está fazendo aqui?”. De que princesa eles estão falando? Olho ao redor e não acho ninguém.

O bolo na minha frente é de dar água na boca. Mas esse deve ser um daqueles sonhos onde a gente vê uma comida muito gostosa e quando vai comer, bate os dentes e acorda. Mesmo assim, peço um prato a uma senhora com cabelos grisalhos. Ela me entrega o prato e eu sirvo uma fatia generosa. Lambo os beiços e levo um pedaço aos lábios.

“Alteza! Eu estava procurando você por toda parte! Você vai ser atrasar para o jantar com o Conde!”

Escuto uma voz doce e suave falar atrás de mim. Viro e me deparo com uma mulher de meia-idade que usa um uniforme cinza muito feio.

“Desculpe, mas você está falando comigo?”

“Perdoe-me se isso soar grosseiro, Princesa, mas com quem mais eu poderia estar falando? Agora, acompanhe-me até seus aposentos para que eu possa te arrumar.”

Toda a doçura e suavidade da voz dela foram embora e ela soou tão autoritária que eu nem ouso desobedecer. Sigo ela por corredores e mais corredores, subo um lance de escada e finalmente chego ao meu quarto, arfando e quase morta, mas chego. E... UAU. Esse quarto é maior que minha casa. Ele é todo rosinha e branco. E em uma parede, tem uma janela enorme e na frente dela um sofá muito convidativo. A vista da janela é o jardim mais lindo que já vi na vida.

Ok, subconsciente. Esse foi um sonho legal. Esse lance de atravessar espelho, ser uma princesa, um bolo de chocolate delicioso e esse quarto lindo, foi bem criativo. Agora será que eu posso acordar?

“Princesa Bianca, vou preparar seu banho.”

“Espere, não precisa. Isso tudo é um sonho e não precisamos tomar banho em sonhos, certo? Além do mais, eu já quero acordar mesmo.”

“Princesa, não sei do que você está falando. O Conde e sua família vão chegar daqui a poucas horas e você precisa estar linda.”

“Olha, moça. Não sei onde estou, nem quem você é. Só sei que isso é um sonho e vou acordar agora mesmo!”

Belisco-me com força, assim como fazem as pessoas nos filmes quando querem acordar de um sonho, porém em vez de acordar, eu sinto uma dor muito forte no lugar do beliscão e dou um grito.

“A senhorita está bem?”

“Já sei! Vou voltar do mesmo jeito que vim! Onde tem um espelho?”

“No banheiro, Alteza.”

Vou até o banheiro e vejo um espelho que cobre toda a parede. Corro e me jogo contra ele. Sinto uma dor fortíssima na cabeça e escuto o barulho de vidro sendo quebrado, o mundo começa a girar e caio no chão. Tudo parece ficar em câmera lenta, minha visão fica embaçada, tento levantar, mas tudo o que consigo é furar as mão com cacos do espelho. Posso sentir várias partes do meu corpo arderem, provavelmente por causa dos cortes.

Vejo as silhuetas de três mulheres vindo em minha direção, elas me levantam e me carregam através do quarto. Quando chegamos ao corredor, um guarda me coloca no colo e é tudo o que vejo antes de apagar.

(...)

Três dias. Fiquei em coma por três dias. Pelo menos foi isso que o médico que acabou de sair do meu leito disse. A pancada contra o espelho foi mais forte do que eu imaginava que ia ser. Pelo menos agora eu sei que isso não é um sonho e que eu realmente atravessei um espelho e vim parar em um reino onde eu sou a princesa. Isso é muito bizarro.

Nunca fui fã de contos de fadas e sempre achei que eles não faziam sentidos. Por exemplo, nunca me conformei com o fato de não ter ninguém no reino com o pé do tamanho da Cinderela! E o da Aurora é pior ainda! Por que em vez de os reis esconderem as máquinas de costura da criatura, eles não ensinaram a ela que não pode meter a porra do dedo em uma roca de fiar?! Enfim, eu sou a pessoa menos apropriada para ler um conto de fadas, muito menos viver um. Bem, se isso pode ser chamado de conto de fada.

O rei Guilherme entra no meu leito acompanhado da rainha Anna. Digo, meu pai entra no quarto acompanhado da minha mãe. Isso é muito estranho. Eu achava que meus pais tinham morrido em um acidente de carro quando eu era criança e por isso passei a morar na casa do meu tio Antônio e da minha tia Juliana. Mas TANRAM! Eles estão vivos e bem aqui na minha frente.

“Filha você está bem?”

A Rainha pergunta. Digo, minha mãe pergunta. Ah! Vocês entenderam!

“Não. E não me chame de filha. Passei minha infância achando que vocês dois tinham morrido, quando na verdade vocês estavam governando um estúpido reino dentro de um espelho!”

“Do que você está falando? Você passou a infância toda ao nosso lado, aprendendo a ser princesa.”

O Rei/ meu pai interfere.

“Eu estou falando do espelho que eu atravessei quando fui ao banheiro durante a aula de matemática e me fez vim parar aqui. E agora eu preciso voltar!”

Tento me levantar da cama, porém meus pais me seguram.

“Voltar para onde?”

“Para o meu mundo! Eu preciso atravessar o espelho!”

Minha voz se eleva e eu começo a gritar. Uma enfermeira vem e injeta um líquido azul em mim com uma seringa. Eu apago na hora.

(...)

Depois de tentar pela terceira vez convencer as pessoas que de que precisava voltar para o meu mundo e levar três injeções daquele líquido azul, eu desisti. Fingi estar recuperada e os médicos atribuíram a culpa dos meus “ataques” à pancada forte que levei na cabeça. Mas eu não desistiria tão fácil de voltar para casa.

No quarto dia, os médicos me deram alta. O que era estranho já que o “hospital” era no próprio castelo. Agora eu podia ficar no meu quarto, sob os cuidados de uma enfermeira e das minhas três criadas – as mesmas que me socorreram no dia do acidente.

Apesar de detestar ficar em repouso, até que dessa vez não estava sendo tão mal. Minha cama é tão confortável que eu não tenho vontade de sair dela e o tempo que tenho livre (sem professores vindo ao meu quarto para me dar aulas e sem médicos cuidando de mim) eu uso para estudar um mapa do castelo para não me perder aqui dentro. São tantos corredores, tantas portas e escadas. Estou doida para explorar cada canto daquele lugar, depois eu me preocupo em como voltar para casa.

(...)

Uma semana (que pareceu mais uma eternidade) depois, o médico me examina e diz que eu estou “liberada”, fico tão feliz que levanto com um salto da cama e começo a dançar, minha mãe dança comigo. Sinceramente, não sei quem está mais feliz.

“Ótimo! Agora podemos remarcar o jantar com o Conde! Vai ser hoje mesmo! Vou organizar as coisas.”

Ela deposita um beijo na minha testa e sai.

O tal do Conde e sua família ficaram esse tempo todo esperando que eu melhorasse para que pudessem fazer esse bendito jantar. Os “coitados” passaram um semana usufruindo o que tem de mais luxuoso no castelo.

Repito: “coitadinhos”.

Não quis perguntar o motivo do jantar, para não parecer mais louca do que estou parecendo.

(...)

As criadas fizeram um ótimo trabalho com o meu vestido. Ele é azul claro, justo em cima e solto em baixo. Simples e lindo. Do jeito que eu gosto. Elas terminam de prender meu cabelo em um coque bagunçado e retocam meu batom.

“Muito obrigada! Vocês me fizeram ficar linda!”

Elas sorriem com o elogio e me acompanham até a sala de jantar. Cornetas tocam quando eu entro no cômodo, tenho vontade de rir porque acho isso muito tosco e desnecessário. Concentro-me em chegar à mesa sem tropeçar com os saltos agulhas que estou usando.

Todos na mesa levantam e vêm me cumprimentar. O primeiro é o Conde, o homem aparenta ter uns sessenta anos, ele é baixo e tem cabelos grisalhos. Ele beija minha mão. Em seguida vem sua mulher, ela me cumprimenta com dois beijinhos. Logo após o filho mais velho – Eduardo – faz a mesma coisa que o pai. Ele é bonito, tem olhos castanhos e cabelos loiros como os da mãe.

Por último, vem Felipe, o filho mais novo do Conde, que deixa o irmão no chinelo. Ele deve ter mais ou menos minha idade. Seus cabelos são negros e estão bagunçados, diferente dos do irmão, perfeitamente colocados para trás com gel. Seus olhos são azuis como os da mãe, porém tem um brilho sapeca e estão cravados nos meus como se ele pudesse ler minha alma. Qualquer pessoa teria desviado o olhar, mesmo eu. Eu domino a arte de encarar as pessoas, poderia fazer isso o dia todo. Ele me olha confuso, como se não estivesse entendendo alguma coisa.

Ele deposita um leve beijo em minha mão e sinto a região onde os lábios dele toca formigar.

“Alteza.”

Ele me cumprimenta, mas ao contrário das outras pessoas, a forma como ele usa a palavra ‘alteza’ parece um insulto.

Depois de despertar do transe e conseguir parar de olhar para aqueles olhos azuis hipnotizantes, vou falar com o Rei e a Rainha. A Rainha, ou seja, minha mãe (ainda não me acostumei com isso) está linda como sempre. Eu pareço com ela, mas ela é bem mais bonita. Seus cabelos vermelhos fazem os meus parecerem um laranja desbotado e suas generosas curvas fazem meu corpo parecer uma tábua de passar roupa. A única coisa que herdei do meu pai foram os olhos, levemente azuis. Isso me deixa muito confusa, se pelo menos eu não fosse parecida com eles, poderia dizer que fui parar nesse mundo por engano e que não sou filha deles, porém sou a cópia (mal feita) da minha “mãe” e meus olhos são iguais aos do meu “pai”.

Sento-me entre Eduardo e minha mãe, em frente a Felipe (que não para de me olhar) na cadeira que foi reservada para mim. Meu pai está na ponta da mesa e o Conde na outra, apesar da distância, eles conversam animadamente.

A entrada é servida e logo depois o prato principal e Felipe continua me encarando...

“Dá pra parar?”

Minha intenção era fazer Felipe parar, não chamar a atenção de todos para mim. Meu rosto cora e vejo Felipe se segurar para não rir.

“Desculpe, Alteza. Não queria te incomodar é só que você é tão... estranha.”

“Felipe!”

A mãe dele o encara horrorizada.

“Obrigada pela parte que me toca.”

Ironizo e dessa vez é minha mãe que me repreende pela minha grosseria.

“É só que eu não consigo ver suas emoções...”

“E você deveria conseguir?!”

“Meu irmão é um mago e ele consegue ver as emoções das pessoas.”

Eduardo explica. Oi?? Magos??? Que história é essa??

Apesar da minha curiosidade, não pergunto nada e volto a comer, pois pelo que parece, é super normal uma pessoa ser um mago e conseguir ver o que as pessoas então sentindo.

Espere... Se ele é um mago, será que ele saberia como me fazer voltar para casa?!

“Então, já decidiram qual vai ser a data do casamento?”

A esposa do Conde pergunta, para ninguém especificamente.

“Ainda estamos decidindo.”

Minha mãe responde.

“Que casamento?”

Pergunto confusa e todos me olham como se aquilo fosse óbvio. Eduardo segura minha mão e me encara.

“O nosso, claro!”


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Notas finais do capítulo

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