Você pode sentir? escrita por Willa


Capítulo 1
Amoras, café e menta.


Notas iniciais do capítulo

A história é um pouco confusa, então requer um pouco mais de atenção e um entendimento das entrelinhas. De qualquer forma, espero que goste(m).



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Veja bem.

Não fale.

Não escute.

Mantenha a respiração calma.

Você pode sentir?

As sensações que encontram a sua pele e invadem as suas narinas.

O gosto de amora, café e menta.

Cigarros.

Você não deve escutar. Você não deve falar.

Continue a ver porque o obrigam.

Não é nada agradável. E você sabe.

Inicialmente não tinha gosto de amora, café e menta.

Apenas dor lancinante, gosto metálico e cheiro pútrido.

Quando tais coisas se tornaram tão deleitáveis?

As marcas em seus pulsos o denunciam. A bagunça em seu cabelo não nega.

Seus olhos opacos captam todo e qualquer movimento. Cada mínimo detalhe.

Não esqueça. Você tem medo de esquecer.

Não se deixe esquecer.

Não feche os olhos. Não vacile. Não perca.

Está tudo em suas mãos.

Você pode se lembrar da última vez que se sentiu tão plácido?

Talvez no primário, quando Anne, a garota de cabelos tortos que vinha todo dia até a sua sala e te dava uma pirulito que foi substituído por um beijo.

Ela era chata. Mas seus lábios tinham gosto bom.

É só isso que pode lembrar?

Cave. Procure. Não ouse esquecer do que se seguiu.

Você lembra.

Você viu.

Você ouviu.

Você falou.

Talvez tenha sido a última vez. Não posso me lembrar também. Perdoo-te.

Mas agora, não o ouse fazer novamente.

Segure esta lâmina com destreza.

Você não precisa se preocupar com o barulho das chamas crepitando.

Nem com o cheiro pútrido que parece amora.

Lembre-se do café, da menta e do cigarro.

Deixe que o líquido pegajoso escorra em suas mãos.

Deixe que uma Anne grite mais uma vez.

Permita-se sentir o último batimento de uma vida.

Não perca o dilatar de uma pupila.

Perceba o último suspiro.

Só se desligue da dor. Do sentir que o faz pensar mais que o normal.

Veja bem.

Não foi apenas sua escolha.

A vida te levou a isso.

Talvez a culpa tenha sido de Anne. Ou do jogador que deixara o bastão de baseball por perto.

Você se lembra dos gritos dos adultos? Não.

Você não lembra.

E eu o apoio.

Porque eu sei que você lembra da visão de surpresa que tinham ao te olhar.

E isso o agradava.

Agradava tanto que o líquido escarlate em seu rosto parecia as mais límpidas gotas de chuvas.

E quem sabe a chuva não fosse sangue sem cor?

Suicídio nunca foi uma opção.

Você nunca quis parar.

Você não quer parar.

Que tipo de ser horrível no mundo, gostaria de parar aquilo que transforma a podridão em bons aromas?

Veja bem.

Você se lembra.

De cada pequeno detalhe.

De cada vida tomada.

De cada cheiro.

Do gosto.

Da primeira vez que um coração deixara de o fazer vomitar para fazê-lo apreciar o sabor.

Você não é um monstro.

Elas merecem isso, não merecem?

Você sabe que sim.

Você sabe que tudo está bem.

Sabe que eles não vão te pegar.

Você não sente medo.

Você não sente nada mais do que se pode tirar da morte de outro ser humano.

Você

não

pode

ser

parado.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! :)