Após sair do beco, onde havia derrotado Ran pela décima primeira vez, Raven seguiu para casa. Ofegante e cansado, sentindo seu rosto arder pelo arranhão que deixara uma cicatriz, e o braço esquerdo pulsando, tentava acalmar-se. Diferente de Ran, ele não sangrava, apenas estava repleto de suor. A ereção aos poucos se desfazia, o que o lembrava da irritante provocação do rival albino.

– Aposto que ele queria dar uma boa chupada. Falou tanto do meu pau, aquele cretino... – resmungava Raven nas ruas.

Acabou por passar sem perceber por uma rua conhecida, onde seus amigos moravam. Talvez tenha ido lá por instinto, eram eles quem cuidavam de seus ferimentos após cada luta contra Ran, e geralmente dormia lá. Não pretendia incomodá-los naquela tarde, mas não poderia contar com seus pais naquele instante. Estavam trabalhando.

O moreno bateu na porta da grande casa, se segurando para não socá-la.

– Lu! Ciel! Estão aí? Sou eu, Raven!

Não demorou para que fosse atendido. Um rapaz alto de cabelos brancos logo abriu a porta e sorriu ao ver o amigo.

– E aí, campeão? Vamos entrando. Pelo visto, você teve mais uma briga daquelas com o Ran.

– Obrigado, Ciel. – agradeceu, entrando e tirando seus sapatos. – Desculpe por incomodar vocês a essa hora, mas não tem ninguém em casa agora.

– Não se preocupe com isso. – o rapaz logo gritou na direção da escada. – Lu, vem logo, o Raven tá aqui!

– Tô indo, tô indo! Acabei de sair do banho, Ciel, me deixa ter privacidade!

Os dois dirigiram-se para a cozinha. Raven sentou-se cansado na cadeira, apoiando a cabeça na mesa sem se importar. Era bem recebido na residência de Lu e Ciel, sabia que podia ficar à vontade. Ciel começou a retirar várias coisas dos pequenos armários da cozinha, iria começar a fazer o jantar.

– Assim que a Lu descer, você pode tomar um banho, Raven. Dá pra sentir o seu cheiro daqui.

– Obrigado. Eu te ajudo com a janta depois que eu tomar um banho.

– Mas é claro. – o albino sorriu. – Quer aprender um prato novo hoje? Farei sushi frito.

– Quero sim! Suas aulas de culinária estão me sendo muito úteis, eu geralmente faço a comida nos meus encontros com a Elesis e ela acha isso super romântico.

– Mulheres adoram homens prendados, meu amigo.

– Assim, nem parece que você é Dreadlord, o grandioso lutador de rua. Um cozinheiro...

– Não apenas cozinheiro! – levantou o indicador. – Também sei fazer faxina e sou médico caseiro nas horas vagas. Entendo de ervas medicinais.

O moreno riu. Ciel se orgulhava muito de ser prendado daquela forma.

– E tem um quarto cheio de bichinhos de pelúcia que eu sei.

– A-Aquele bichinhos de pelúcia são da Lu, eu já disse pra você! – exclamou, corado.

– Meus? São todos seus, Ciel, nem pense em usar o meu tamanho pra esconder essa sua adoração!

Lu acabara de chegar na cozinha, já usando um pijama. A pequena menina penteava seus cabelos albinos com os dedos, enquanto os secava com a toalha nos ombros. Sentou-se à mesa junto com Raven, acenando para ele.

– E aí, Raven? Como foi a luta com o Ran?

– Lu, a jovem e poderosa Chiliarch. – sorriu ele. – Eu venci dessa vez. Mas ganhei uma cicatriz no rosto de presente.

– Ai, ainda dá pra ver o sangue fresquinho nessa cicatriz. – comentou ela, se debruçando na mesa para enxergar a cicatriz.

– Vá tomar um banho, Raven. Eu espero você para começarmos a preparar o jantar.

– Certo, Ciel. Que toalha eu posso usar?

– Aqui! – exclamou a pequena, que tinha corrido para a varanda pegar uma toalha seca e limpa. – Está limpinha, Raven, pode usar!

– Obrigado, Lu. Eu volto logo.

Raven subiu as escadas da grande residência e foi banhar-se no chuveiro de seus amigos. A água era quentinha, melhor que a de sua casa, ele pensava. Seu braço esquerdo não pulsava mais, a água o acalmava. Sentia-se melhor depois de um longo e quente banho. Enfim secou-se e só de toalha, gritou da escada:

– Ciel! Eu posso pegar uma das suas roupas para usar enquanto eu estiver aqui? Vou colocar as minhas roupas sujas na máquina!

– Claro, Raven, sinta-se à vontade! Acho melhor você dormir aqui hoje, aí amanhã podemos ir pra escola juntos!

Então o moreno entrou no quarto de seus amigos, pegando um pijama qualquer do Dreadlord e o vestindo. Segurando as vestes sujas nas mãos, ele desceu de volta para a cozinha, indo direto para máquina e jogando as roupas lá dentro. Ciel sorriu e o chamou para ajudá-lo com a janta.

– Você tem que fritar desse jeito, entende, Raven?

– Ah, entendi! A Elesis uma vez disse que esse tipo de sushi é muito bom. Será que ela vai gostar se eu fizer pra ela?

– Raven, meu filho. – riu Lu, ainda sentada à mesa. – Quando uma garota disser pra você que alguma comida é muito boa, geralmente ela está pedindo para você fazer para ela!

– Ah, é, Lu?

– Sim! Se bem que isso só se aplica à garotas que são afim de você. Então a Elesis provavelmente está pedindo pra você cozinhar esse sushi frito pra ela.

Depois de terminarem de fazer o jantar, Ciel e Raven sentaram-se com Lu e passaram a comer. Ele riu da pequena Chiliarch pedindo para o Dreadlord dar comida em sua boca, como uma criança.

– Espero não ter atrapalhado vocês esta noite.

– Não se preocupe, Raven, não estávamos planejando nada para hoje. – sorriu Ciel, que alimentava a pequena na boca.

– Na verdade, estávamos sim. – disse Lu, sorrindo malicioso. – O Ciel comprou uma fantasia de policial e...

– Lu, eu usei essa fantasia ontem! – ele exclamou, corado. – E pare de ser tarada na frente do Raven, ele não precisa saber dos nossos fetiches!

– Ah, mas ele é nosso melhor amigo e eu sei que ele e a Elesis estão querendo se catar! Faz assim, Raven, já que vai ser a primeira vez de vocês, procure ser o mais romântico possível, viu? Nenhuma mulher gosta de violência logo na primeira vez. Seja bonzinho, deixe a Elesis se acostumar com o seu tamanho e só comece a se mexer quando ela disser que pode, tá bom?

– Lu!! – gritou, enfiando um sushi na boca da menor. – Me desculpe pela perversão da minha pequena namorada, Raven. Sabe como ela é.

Raven estava quase se engasgando com a cena de seus amigos. Lu e Ciel eram um casal bem engraçado. Pequena daquele jeito, mesmo com seus dezessete anos, a Chiliarch não se importava muito em falar de coisas como sexo para seus amigos mais próximos. O Dreadlord por outro lado, parecendo um homem de vinte e quatro com seus dezoito anos, preocupava-se até demais, e ficava envergonhado facilmente. O moreno adorava os dois. Eram seus melhores amigos.

– Acalmem-se. – ele tentou pedir em meio aos risos. – É difícil pra mim ficar sozinho com a Elesis, mesmo com os nossos pais ausentes. Quando for a hora de acontecer, eu estarei pronto.

– E uma dica. – disse a menor. – Nada de camisinha com sabor na hora de transar, tá bom? Camisinha com sabor é só pra oral. Se usar na hora de transar, você só vai deixar a Elesis com as intimidades ardendo e pinicando. Use uma camisinha normal nessa hora.

– Lu!!! – gritou o albino novamente. – Pare de usar nossas experiências para dar dicas!!

– Quer que eu dê dicas como então, Ciel?! Se eu não tivesse experiência, eu nem poderia estar falando disso pro Raven! Ele é virgem, só quero que ele tenha uma primeira vez agradável! Até porque a Elesis é uma gata, ele precisa saber como se faz as coisas!

Raven já estava gargalhando àquela altura, as discussões de Lu e Ciel eram engraçadas demais para ele assistir calado. O Dreadlord enfiava sushis na boca da Chiliarch. Ela mastigava com vontade e lhe roubava beijos de língua demorados depois de comer, e ele reclamava do bafo de peixe com o qual ela ficava. O Veteran Commander chegava a chorar com a cena, parecia uma comédia romântica.

Após terminarem de comer, receberam uma ligação dos pais de Raven, informando que o moreno passaria a noite ali mesmo e que não precisavam se preocupar. Lu correu para o segundo andar e voltou rapidamente com vários livros nas mãos. Mesmo sendo pequena, os carregava sem problemas e ainda matinha sua postura.

– Vai estudar a essa hora da noite, Lu? – perguntou Raven. – As provas já acabaram.

– Ah, é que o Ciel não foi bem na prova de matemática que teve hoje. Ele vai acabar ficando pra recuperação, então vou ajudar ele a estudar para a recuperação que vai ter.

– Quieta que você ficou de recuperação em biologia! Tanto que você trouxe os livros de biologia pra eu te ajudar!

– Desculpa se eu não sou uma gênia da biologia, senhor das ervas! – mostrou a língua para ele.

– Acho que não posso ajudar vocês, estou indo pro primeiro colegial. – riu Raven, sentando-se com eles no chão da sala. – Vocês já estão no segundo colegial, então eu poderia aprender algumas coisas com vocês.

– Pode aprender, sim, Raven! Eu e o Ciel não podemos decair agora, estamos indo pro terceiro colegial! Por isso eu vou ensinar matemática pra ele se dar bem na recuperação!

– E eu vou ensinar biologia pra você se dar bem na recuperação, sua tampinha.

– Ora, seu!

Lu acabou batendo na cabeça de seu namorado com um dos livros, e as discussões começaram novamente. Levou dez minutos até que Raven conseguisse parar de rir dos dois e pedisse para eles se concentrarem na retomada de conteúdo. Aproveitou para aprender alguns conteúdos do colegial, e achou fácil de se estudar. Sentia que estava preparado para o colegial.

Depois de um longo tempo de estudo, a Chiliarch acabou por cochilar no colo do albino, que a levou para a cama e também foi dormir, mas não antes sem se despedir de Raven e oferecer o quarto de hóspedes a ele. Enfim o moreno também foi deitar. Seu corpo pedia por descanso depois do dia agitado e da luta com Ran.

Na manhã seguinte, os três aprontaram-se para ir ao colégio, e por sorte, as roupas de Raven já estavam secas. Ciel não demorou para passar o uniforme dele, orgulhando-se novamente por ser prendado. Enfim, os três saíram e foram juntos para o colégio. Na entrada, puderam ver Ran a conversar com uma loira. Ele acenou para todos, mais precisamente para Raven, querendo relembrá-lo que naquele dia teriam revanche. Lu e Ciel foram entrando na frente porque tinham recuperação na primeira aula, enquanto o moreno havia parado para cumprimentar seu rival e a loira que estava com ele.

– Bom dia, Ran.

– E aí, Reckless Fist.

– Veteran Commander. – corrigiu, irritando-se um pouco. – Posso até ser Reckless Fist nas ruas, mas no colégio, eu sou Veteran Commander, Ran.

– Ah, claro, perdão. – apontou para a loira ao seu lado. – Gostaria que conhecesse minha amiga, a Rena. Ela se mudou para a cidade a pouco tempo.

– Olá. Você deve ser o Raven, certo? – sorriu Rena.

– Sim, sou eu mesmo. Prazer, Rena.

– Ran me contou que você também é lutador de rua. Eu sou conhecida como Wind Sneaker pelos lutadores.

– Oh, então você também luta? Incrível, Rena!

– Eu irei começar a estudar aqui a partir do ano que vem. Estou indo para o último ano do ginasial.

– Então provavelmente você vai estudar com a minha namorada, a Elesis. Seja bem vinda ao nosso colégio, Rena.

– Muito obrigada, Raven! Espero que possamos ser bons amigos.

Os dois trocaram um aperto de mão, até que o sinal enfim tocou e eles tiveram que se apressar para ir para a sala. Raven já deveria estar dentro da sala de aula, não era de se atrasar. Rena foi para a diretoria já que seus pais estavam a conversar sobre sua matrícula lá.

Já na sala, Ran, que sentava ao lado do moreno, estava a provocá-lo com especulações da luta daquela tarde. Raven sussurrava que não queria, mas ele sabia que seu rival não o deixaria em paz até estarem com o número igual de vitórias no placar. Até considerou em deixar Ran vencer naquela tarde só para se livrar dele, mas seu orgulho como lutador não o permitia se entregar de bandeja para a derrota. Ran teria que vencê-lo na raça, como sempre.

Na saída do colégio, Raven encontrou-se com Elesis, que parecia preocupada.

– Onde você estava, Raven? Eu te esperei na sua casa, mas você não veio, então eu vim sozinha para o colégio.

– Desculpe, meu amor. O Ran me pegou de surpresa ontem na rua e me obrigou a lutar com ele. Acabei indo passar a noite na casa da Lu e do Ciel.

– Ele te machucou muito? – perguntou, procurando ferimentos pelo corpo do amado.

– Só essa cicatriz aqui no rosto. – apontou. – Mas nada muito grave, amor.

– Ainda bem. Você me acompanha até em casa, querido?

– Mas é claro! Vamos lá, que hoje, eu vou ter que lutar com o Ran de novo.

– De novo? – perguntou a ruiva enquanto caminhavam. – Você venceu ontem, né?

– Sim. Então, o Ran não vai me deixar em paz até conseguir me vencer e empatar o placar.

– Dê uma surra nele, cabeludo! Você é o melhor lutador do colégio, sei que consegue vencer ele de novo!

– Hehe, obrigado, minha linda. Eu não vou me entregar de badeja só porque ele quer vencer. Vai ter que me vencer na raça!

Raven então deixou sua pequena em casa, despedindo-se com um beijo demorado, e então partiu para o beco onde geralmente lutava com Ran. Provavelmente voltaria roxo para casa, mas não iria incomodar Lu e Ciel por dois dias seguidos. O albino já estava à sua espera, estalando os dedos e arrumando a jaqueta.

– Prepare-se para a surra, Reckless Fist.