Apenas Colegas de Apê escrita por Dreamy Girl


Capítulo 78
Nos eixos


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo está gigante, porque consegui fazer um ano praticamente se passar apenas nele. Era o planejado..
Está acabando mesmo, ai meu coração.



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Maio

Eu estava tão focada na faculdade, que estava perdendo o tempo pra viver.

Durante a semana, eu só ficava estudando, fazendo trabalhos, pesquisas, e trancada em casa. Só me comunicava pelo telefone, e pessoalmente, com a Dylan.

O Steve também estava no pique da vida profissional, trabalhando até cinco horas e indo pra faculdade à noite. A gente só se via de fim de semana..

O meu trabalho é só de sexta-feira. Eu ajudava na redação do jornal da empresa do meu pai (que é semanal, e tem no máximo cinco folhas). E mesmo sendo tão simples, é incrível o quanto eu tô aprendendo. Têm jornalistas formados lá, e eles são muito gente boa. Me ensinam coisas, falam coisas, me incentivam a continuar e dizem que levo o maior jeito.

E uma coisa vem me deixando muito feliz. Minha relação com meu pai vai de bem à melhor. Inclusive, ele e o Steve estão se dando super bem. Nós vamos pra casa dele de vez em quando, e por mais que a Angel continue uma idiota, nem faz mais diferença.. minha vida realmente entrou nos eixos.

– Rachel, o que acha? - meu pai chega por trás, me tirando dos desvaneios.

Ele me mostra a manchete do jornal da próxima semana, "Novidade: Nova linha de produtos".

A empresa é de produtos de limpeza. O nome é Cleanex. Não é SUPER conhecida, mas está ganhando destaque por causa de suas fórmulas que realmente funcionam.

– Achei meio sem graça. - falei com sinceridade. - Aprendi que o jornalista tem que ter senso de humor, ironia, mistério.. e aí não tem nada disso. Tem que ter um jeito da gente prender quem lê, de fazer a pessoa ter curiosidade e vontade de comprar os produtos.

– O que sugere, então?

– É a linha de produtos especialmente pra cozinha, que desengordura e tal..? - pergunto e ele assente. - Algo como "Suas panelas também não gostam de gordura localizada". - brinco. Ele ri.

– Achei legal. Aliás, tive uma ideia. O que acha de escrever essa matéria? - sugere.

– Eu vou adorar! - abri o maior sorriso. - E acho até que posso usá-lá como um trabalho que tenho que fazer, preciso confirmar com o meu professor, mas se não der, eu escrevo mesmo assim e faço o trabalho, sem problemas.

– Por mim, tudo bem. Você tem futuro! - me dá um beijo na testa e sai.

Aquilo me comoveu. Mesmo com a nossa proximidade nos últimos tempos, ele nunca tinha ultrapassado um limite imaginário que a gente inventou. Era a primeira vez que ele chegava tão perto.

Comecei então a trabalhar na matéria. Era a primeira vez que eu escrevia uma matéria pra ser publicada de verdade.. e eu mal podia esperar pra vê-lá estampada na primeira página.

Gordura localizada

"Não, essa não é uma matéria sobre como perder peso.

É com muito orgulho que, no jornal semanal da Cleanex, venho anunciar a nova linha da marca, especialmente feita para a cozinha.

Ninguém gosta de ficar esfregando panelas engorduradas, e foi pensando nisso a Cleanex criou a linha para acabar com isso de vez.

A linha consiste em 5 produtos diferentes, cada um melhor do que o outro. Confira na imagem a seguir.

A partir de hoje, segunda-feira, 15 de maio, a linha estará disponível para venda.

Lembre-se: Suas panelas também não gostam de gordura localizada! É só juntar o útil ao agradável, e todo mundo sai ganhando!

*Se não aprovar, a Cleanex devolve o seu dinheiro. *"

***

Junho

É o fim do primeiro semestre da faculdade. Eu estava enlouquecida com as provas, e dessa vez realmente sem comunicação.

O meu pai me liberou essa semana do trabalho, para que eu pudesse estudar bastante.

Desde que a minha pequena matéria foi publicada, ele já tinha me dado outras duas para escrever, e as três foram muito elogiadas pelos jornalistas de lá. Eles disseram que eu tinha muita pinta de jornalista, e que meu jeito leve de escrever era envolvente. Fiquei radiante de tão feliz.

O Steve tem se saído um ótimo namorado, e deveria ganhar um prêmio de paciência. Eu estava tão ausente da vida, sem dar muita atenção pra ninguém.. mas eu jurei pra ele que nas férias a gente viajaria.

E, nossa, pensa numa pessoa empolgada? Mês que vem, vamos, só nos dois, pra Nova York. A gente nunca viajou pra nenhum lugar que não seja praia.

Eu já fui pra Nova York duas vezes, uma quando eu tinha 10 anos, e outra com 14. Tínhamos pensado na Disney, mas optamos por um lugar mais "tranquilo" - aí escolhemos NYC, quer lugar mais calminho?

Nós estávamos na minha casa, assistindo filme. Ele, do nada, me beija. Eu retribuo, lógico.

– Tá doido?

– Deu vontade.

Balanço a cabeça, rindo, e ele me beija de novo.

– Eu tava pensando em uma coisa..

– Em que? - pergunto.

– Nada não, deixa pra lá.

– Fala logo, seu trouxa. - bato nele.

– Não, deixa quieto.

Reviro os olhos. Oh mania desse povo de me deixar curiosa.

***

Julho

O avião estava pousando.

Foram poucas horas de viagem, mas tempo suficiente para rir muito com o Steve. Ele estava com crise de idiotice, durante todo o vôo ele veio fazendo gracinha.

A aeromoça, por exemplo, nesse momento está pensando que nós somos espanhóis, pois ele só falou com ela em espanhol. Por que? Porque ele é otário, apenas isso.

Todo mundo se levantou para pegar as malas, e fizemos o mesmo.

– Hasta la vista. - ele disse enquanto passamos pela aeromoça.

– Não importa quanto tempo a gente fique junto, nunca vou me acostumar com o quanto você é besta, amor. Sério, como você pode ser tão..

– Lindo, gostoso, maravilhoso? - me interrompe. - Não sei, papai caprichou. - ele fala, andando.

Eu dou risada. Foi por esse Steve que eu me apaixonei. Pelo Steve convencido, que acha que amor próprio é tudo na vida, que se ama e se permite amar, que não liga pro que pensam dele e fala o que der na lata, agrade ou não a quem ouvir. E é por ele que me apaixono cada dia mais, por mais que eu pense que não possa caber mais amor no meu peito.

Pegamos um táxi e vamos para o hotel.

– Nós vamos no Central Park? - pergunto, colocando a mala ao lado da cama.

– Depois. - ele fala, jogando a mochila na cama e me puxando pela cintura. Coloca uma das mãos no meu pescoço e a outra me segura firme. Ele morde meu lábio inferior e eu o puxo mais pra perto. Ele então, me dá um selinho e interrompe o beijo. - Seus beijos sempre serão os melhores, lembre-se disso. - me dá mais um rápido selinho e, num gesto mais rápido ainda, tira a camiseta e entra no banheiro.

Sorrio sozinha, pensando em como a lista das concorrentes deve ser enorme, mas mesmo assim ele considera os meus beijos os melhores.

Caramba, eu amo esse cara.

Vou até minha mala pra escolher a roupa.

Como pra mim Nova York tem uma infinita ligação com a moda, resolvi fazer um look bem bonitinho. Escolhi uma saia preta, meia calça fininha preta, moletom cinza com "LIVE, LAUGH, LOVE" escrito em preto e coturno preto. Eu não costumava usar muito preto, mas não sei, no frio eu gosto de usar preto, cinza, vinho...

Ele saiu do banho.

– Oh, Steve, espero que faça jus à sua namorada e se vista de acordo, tá? - brinco. Ele faz uma careta e eu entro no banheiro.

Tomo banho quente por causa do frio de - 50°C que estava fazendo, saio e me troco.

O Steve até que me ouviu, e colocou calça jeans, camisa social preta (viu, não sou a única) sapatênis e jaqueta de couro, também preta (...).

Fiz uma pele bem bonita, com contorno, e tal, fiz um delineado de gatinho (peguei prática, é até melhor que o da Dyl), e passei rímel e batom vermelho matte.

– Ah, desse jeito nem vai dar pra eu te beijar. - Steve brinca.

– É matte, amor. - respondo, pegando na mão dele pra sair. Pego minha bolsinha com o celular dentro e saímos.

Pegamos mais um táxi e vamos para o Central Park.

Com certeza, é um dos meus lugares preferidos do mundo. Não visitei muitos lugares na vida, mas do mesmo jeito.. eu amo esse lugar.

As folhas secas estavam cobrindo o chão, e as árvores também, colorindo o cenário de cinema de marrom claro. Estava fazendo um sol fraco, que iluminava um pouco a tarde, mas por causa do vento gelado, não tornava o clima mais quente.

Começamos a caminhar pelo parque de mãos dadas. Estava vazio, não tinha mais do que dez pessoas, contando comigo e com Steve.

– Quero que essa viagem seja inesquecível. - comento, mais baixo que o intencional.

– Prometo que vou fazer o possível pra ser. - ele responde, no mesmo tom que eu. Me viro pra ele e chego perto devagarinho, selando nossos lábios num delicado beijo.

E nesse momento, eu tive certeza que seria, só pelo fato de ele estar ali.

***

Agosto

Depois de um mês inteiro em Nova York, não foi fácil voltar à rotina e ao clima da Califórnia.

As mesmas pessoas apressadas, os mesmos rostos preocupados de todo os Estados Unidos.. mas eu é que me acostumei a não fazer nada o dia todo.

Eu e Steve aproveitamos ao máximo esse mês juntinhos, já que já sabíamos que quando tudo voltasse ao normal, nosso tempo seria muito mais curto. Ficamos namorando no hotel, fazendo piada na rua, comendo porcaria (engordei quase dois quilos) e, com uma semana, já tô morta de saudades..

Não nos vimos desde então, mas a correria de faculdade-trabalho, voltou.

O professor estava passando um trabalho, em que teríamos que fazer uma série de entrevistas, conclusão sobre elas, e montar em um jornal. O tema seria escolhido por nós, mas deveria ter a ver com a carreira que queríamos seguir.

Eu, que estava em dúvida entre cinema, literatura, música e moda, já estava confusa e pensando em qual escolher.

– Não complique as coisas, Rachel. - a Tracy, uma colega da sala, diz. - Pensa em um jeito de juntar tudo em uma só. Tipo, a maioria das coisas que tu gosta, têm a ver com cultura. É só dar um jeito de colocar tudo de uma vez. - sugere. Ela, que queria seguir carreira em turismo, nem tinha dúvidas, e até eu já imaginava perguntas pra entrevista dela..

A Gabi faria sobre moda, claro. É a cara dela, eu até disse pra ela trancar jornalismo e fazer moda, porque eu posso vê-lá facilmente como consultora.

Me despedi das duas e fui para o meu carro. Liam buscaria a namorada barrigudinha, então eu voltaria sozinha pra casa.

Faltavam apenas dois meses para a chegada do pequeno Willian (carinhosamente apelidado de "Baby Gabiam" por mim e Dyl) e todos nós estávamos na expectativa. Mal podia esperar pra ver o rostinho do meu afilhado.

Voltei meus pensamentos para o trabalho. Eu poderia fazer uma pergunta sobre cultura. A pergunta inicial seria a mesma para todos os entrevistados (pensei em uns cinco), algo como "Entre música, literatura e cinema, qual você prefere?", e as seguintes surgiriam de acordo com os gostos pessoais de cada um.

Pensei em fazer sete perguntas. O meu professor preferido, Mr.Kile, já nos disse que temos que ter um equilíbrio nas entrevistas. Não devemos entupir as pessoas de perguntas, mas também não devemos causar uma reação de "Mas já acabou?" nelas. Ele sempre diz também, que o jornalista deve ser curioso, sensível, e tal.. e foi pensando nessas coisas que comecei a escrever assim que cheguei em casa.

Cumprimentei rapidamente a Dylan e fui direto para a mesinha onde faço todos os trabalhos.

PERGUNTAS:

– Entre música, literatura e cinema, qual você prefere?

Música

1- Qual seu estilo musical preferido?

2- Você curte dançar, cantar ou ouvir músicas?

3- Um cantor ou banda que goste muito?

4- Existe alguma música que marcou algum momento da sua vida?

5- Seguiria uma carreira musical, seja para cantar, compôr ou tocar?

6- Já foi a algum show? Qual?

7- Se sua vida fosse um filme, quais músicas escolheria para a trilha sonora?

Literatura

1- Qual tipo de livro gosta de ler?

2- Você prefere livros enigmáticos e misteriosos ou aqueles que não escondem as coisas por muito tempo?

3- Um autor que goste muito?

4- Existe algum livro que marcou sua vida?

5- Seguiria uma carreira literária?

6- Você só lê ou também escreve?

7- Se sua vida fosse um livro, escolheria ser a (o) protagonista de qual?

Cinema

1- Qual seu estilo preferido de filme?

2- Gosta de assistir filmes em casa ou no cinema?

3- Um ator ou atriz que goste muito?

4- Existe algum filme que marcou sua vida?

5- Seguiria carreira cinematográfica, seja atuando, criando roteiros ou dirigindo?

6- Qual tipo de estréia não perde?

7- Se sua vida fosse um filme, escolheria ser a (o) protagonista de qual?

***

Setembro

Tudo está correndo perfeitamente bem.

Meu pai adora o meu trabalho, me destaco na faculdade, eu e Steve continuamos juntos e bem, meu afilhadinho nasce no próximo mês, Dylan e Peter decidiram (também) morar juntos, agora o apartamento é só meu (tá, disso eu não gostei taaanto, mas enfim..).

Eu estava carregando uma enorme caixa em pleno sábado, subindo de elevador para o andar 5 do novo apartamento do meu irmão.

Luke está do meu lado, tentando escolher entre ter os braços presos ao corpo, ou não deixar a caixa com vários livros cair. A faculdade de medicina faz isso..

Eu estava me segurando pra não rir dele, mas eu também estava no maior sufoco, então fiquei na minha.

A porta do elevador abre e ele sai na minha frente.

Luke já tem quase 17 anos, e eu mal consigo acreditar. Fora que eu estou quase fazendo vinte..

Entramos no duplex (Peter dando uma de riquinho. Não que eu tenha moral, porque o Steve também mora em um) e logo largamos as caixas no chão.

– Caramba, vocês colocaram o que nessa caixa? Tijolos? - meu irmãozinho pergunta, alongando os braços.

Dylan aparece de macacão jeans e bandana vermelha na cabeça, rindo.

– Como você é exagerado, cunhadinho.

– Não importa quantos anos ele faça, ele sempre vai ter o drama de uma criancinha. Por mais que já seja esse marmanjo dez metros maior que eu. - ele ri. Realmente não sei porque só eu dessa família fiquei sem altura.

Peter, Liam e Steve descem, sujos de tinta rosa (do closet da Dylan). O Steve vem até mim e coloca a mão na minha cintura.

– Nossa, amor, você tá parecendo a Barbie. - brinco. - Essa cabeça loira, o olho azul e essa roupa rosa..

Os meninos riem e ele bate na minha cabeça.

– Zoada. - xinga e me beija em seguida.

– Vocês e essa relação de amor e ódio. - Liam fala.

– Sempre foi e sempre será. - Steve responde.

***

Outubro

Eu estava correndo pra maternidade, com a Gabi atrás numa louca guerra entre o choro e a risada.

– Ai, meu filho vai nascer, amiga!

– Eu sei, Gabi! Respira aí, se acalma que a gente já tá chegando, calma! - falo, sorrindo, discando o número do meu melhor amigo. Ele diz "alô" na maior tranquilidade. - E aí, papai? Corre pro hospital que seu filhinho tá nascendo! - depois disso ele começou a gritar do outro lado.

Eu certamente perderia minha audição depois de hoje, um grita de um lado, a outra do outro..

Estaciono o carro e os enfermeiros já estavam lá, esperando com uma cadeira de rodas. Eu havia ligado há pouco, pra avisar que a Gabriela Swan estava prestes a dar à luz.

Ela foi rapidamente colocada na cadeira e eles foram a levando, enquanto eu mandava mensagem no grupo de nós seis. E o pior é que o nome era esse mesmo.. "Nós seis".

Ray ❤: Baby Gabiam vai nascer daqui a pouquinho. Já tô na maternidade com a mamãe.

Dyl 😍💝: AI MEU DEUS, TÔ CORRENDO!!!!!

Liam 👍: Eu já tô chegando, Rach.

Steve ✌✌: AÍ, Liam, agora quero ver!

Peter 👏: Tô saindo daqui, o mascotinho vai nascer.

E então, o Steve mudou o nome pra "#BabyGabiam". Povo idiota, meu Deus.

Subi correndo e pedi informações na recepção. A moça me disse que ela já tinha entrado na sala de parto, me passou o número e eu corri pra lá. Fiquei sentada na frente da sala, mandei mensagem com o número, e pouco depois, todos eles chegaram.

O Liam estava inquieto, agoniado e eufórico. Todos nós estávamos muito felizes por eles e mal conseguíamos parar quietos.

Agradeci mentalmente por eles, essa amizade é tão forte e especial que nem sei.

Depois de quase uma hora de agonia, o médico sai.

– O bebê nasceu. Parabéns! - diz, sorrindo e nós começamos a gritar.

Ele logo pediu pra fazermos silêncio e perguntou quem gostaria de vê-la. Todos nós levantamos e ele disse que mais tarde podíamos entrar juntos, mas por enquanto só um. Liam foi.

Enquanto ele ia ver a Gabi, eu, Dyl, Steve e Peter, fomos para o berçário. Perguntamos para uma menina onde o neném estava, e ela nos mostrou o pequeno Will.

Ele tinha o cabelo num tom muito próximo ao do Liam, e tinha os olhos castanhos da Gabi. Nós quatro ficamos babando nele até o Liam chegar, e olhar o filho, emocionado.

– Não chora, melhor. Assim vou chorar também. - e ao dizer isso, nós dois começamos a chorar.

– Olha como ele é lindo, Ray. Ele é meu, cara, meu filho.

– Eu sei.. ele é sua cara. - falo, apoiando o queixo em seu ombro e olhando para o Will. Ele olha na direção do pai e abre um sorrisinho, fazendo meu melhor amigo chorar ainda mais.

***

Novembro

– Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida.. - canto, baixinho, segurando um bolo trufado e entrando no quarto, pra acordá-lo.

Ele abre o olho com dificuldade e coloca as mãos no rosto, mas consigo ver um sorriso.

– Parabéns, vida. - digo, deixando o bolo no criado e subindo na cama para dar um abraço nele.

– Obrigado, meu amor.

– Que hoje e sempre você ganhe toda a felicidade que merece. Aprendi com você que parte dela depende de mim, então fique sabendo que farei o possível, o que estiver ao meu alcance, pra te fazer muito feliz. E, se for impossível, eu posso tentar. Você foi, sem dúvidas, a melhor coisa que me aconteceu, minha vida deu um giro de 180° depois que você entrou e tudo virou uma confusão, mas eu te amo mesmo assim. E espero que permaneça até onde Deus permitir.

– Eu te amo muito, tá? Obrigado por tudo. - pisca, para acabar com as lágrimas formadas nos olhos.

Dou um beijo nele.

– Vamos comer esse bolo? - pedi.

Ele riu e se levantou para pegar pratinhos, colheres e uma faca pra cortar.

Nós dois, então, comemos um pedaço de bolo cada um, na cama, fazendo sujeira.

À noite, fomos para a casa do meu pai com o pessoal e fizemos uma baguncinha lá, com música, filmes, e comida.

Em certo momento, meu pai apareceu lá e chamou o Steve. Estranhei. Eles se falam, mas não têm essa intimadade pra conversarem sozinhos.

Poucos minutos depois, ele aparece animado, pra caramba, com uma chave na mão.

– Não, você tá brincando, né? - Steve pergunta.

– Não, garoto, pode ir lá na garagem.

Automaticamente, me empolguei também. Eu mesma saio e corro pra garagem, encontrando um Volvo preto, com um laço enorme vermelho por cima, e entendi tudo.

Os outros chegaram e Steve abraça meu pai, depois vai para dentro do novo carro.

Eu nunca na vida tinha o visto tão feliz. E isso serve pros dois.

Corri e dei o maior abraço no meu pai. Ele ficou resistente no primeiro instante, mas em seguida, me abraça também.

– Obrigada, pai. Você tem sido incrível. - digo, baixinho, pra que apenas ele escute.

– Vale tentar compensar em alguns meses o que deixei de fazer sua vida inteira?

– Você não tem só alguns meses. Tem o resto da vida. - falo, me soltando dele e olhando em seus olhos.

Esse era um motivo pra me deixar imensamente feliz. Há um ano atrás, pensava que nunca mais seria capaz de chamá-lo de pai, de abraçá-lo.. mas hoje, fico feliz em ver que a vida mais uma vez me surpreendeu.

E as surpresas que tenho recebido são maravilhosas, cada uma melhor que a outra.

Saí de perto dele e fui até a janela do carro, onde o Steve e os meninos estavam enlouquecidos.

– E aí?

– Cara, é incrível! Seu pai parece outra pessoa! - ele me olha.

– Eu sei. E isso é muito bom.

– É maravilhoso. E esse aniversário não está sendo incrível por causa do carro, e sim porque o que vale pra mim é esse sorriso aí. - fala, colocando o indicador nos meus lábios. Dei um beijinho no dedo dele e fui até a Gabi e o Willian.

– Deixa eu pegar ele? - peço.

Ela me entrega e eu começo a ficar hipnotizada com aquele anjinho em meus braços. Eu criei um amor por esse bebê que é como se ele tivesse saído de mim. E foi isso que falei pra Gabi.

– Não, Rach, você não tem noção da intensidade desse amor. Você não imagina como é ter algo que se formou dentro de você. Você não imagina como é ser responsável por essa vidinha.. - fala, com um sorriso doce. - Um dia você vai saber.

– Nesse dia, o Will já vai ter uns cinco anos.

– O coitadinho nem vai ter nenhuma criança pra brincar com ele.- ela o pega de volta.

– Se não fizer minha filha de boneca, por mim tá ótimo. - falo, colocando minha jaqueta por causa do frio.

– Tá louca? Meu filho é macho, querida, vai brincar de jiu jitsu.

Eu dou risada.

– Não sendo com o meu filho, tá ótimo também.

***

Dezembro

Mais um ano já se passou.

Esse ano foi um dos melhores. Minha vida nunca esteve tão sossegada.

Eu aprendi que a gente não tem que reclamar da vida e nem nada, temos que esperar.

Não existe nada que aconteça por acaso, tudo tem um motivo. E, na hora, não conseguimos entender, mas quando olhamos pra trás, sabemos perfeitamente o que aconteceu que resultou nisso.

Nada é em vão.

Toda ação tem uma reação.

Toda atitude tem uma consequência.

E hoje eu sei isso.

Cada vírgula que acontece nos ajuda a construir a nossa história, e temos as opções de escolher o nosso destino.

Tem gente que acredita que nossa vida já está escrita, mas eu acredito que a escrevemos dia após dia. Deus sabe de todas as coisas, e disso eu tenho absoluta certeza. Mas, acredito que nossas escolhas, nossas decisões, fazem o nosso futuro.

Nós somos os únicos capazes de interferir nele, e os únicos responsáveis por ele.

E o que escolhi, e escolho todos os dias, é ser feliz.

O que eu decidi, e decido todos os dias, é que nada será capaz de atrapalhar minha vida.

Vou passar por cima de quem quer meu mal, dos meus medos, das minhas inseguranças, e mostrar que a minha vontade de vencer é maior que tudo.

E não importa o tamanho do meu infinito, mas eu tenho o sonho de morrer com sentimento de dever cumprido. Quero morrer orgulhosa de mim, feliz pelo que vivi, e com a sensação de que, o que eu tinha que fazer, eu fiz.

E não, eu não morreria feliz hoje.

Já realizei várias coisas,mas tenho mais mil pra realizar.

Isso que se passava na minha cabeça enquanto o céu de Verona se iluminava com os fogos.

Meu irmão, minha melhor amiga e o amor da minha vida estavam ao meu lado, cada um perdido em seus próprios pensamentos.

Peter passa o braço pelo meu ombro, encosta a cabeça na minha e eu pego na mão dele.

– Pensando na vida? - ele pergunta.

– Ano novo serve pra isso, não é mesmo?

– Com certeza.

Sorrimos.

– Feliz ano novo. - desejo. - Você é o melhor irmão do mundo.

– E você a melhor irmã.

– Será que eu posso interromper e roubar essa baixinha um minuto? - Steve chega.

– Poder não pode, né, mas toma ela. - meu irmão brinca. Steve pega na minha mão e se afasta um pouquinho deles.

Primeiro ele me abraça e fica assim por um tempo. Eu me afasto.

– Ei, o que foi? - pergunto.

– Eu.. tenho uma coisa pra te falar.

– Fala, amor. Sabe que não precisa fazer todo esse suspense comigo.

Ele respira fundo.

– Eu queria ter feito esse convite há mais tempo, mas esperei completar um ano da nossa volta.- começa - A verdade é que nesse ano eu percebi que se eu te perder de novo, é porque eu sou muito idiota. Você é tudo o que eu preciso, mais do que eu mereço, e o que eu mais quero. Eu nunca imaginei, antes de te conhecer, que seria capaz de sentir isso, mas hoje em dia é como se esse sentimento tivesse nascido comigo. Hoje eu sei que ele sempre esteve aqui, só esperando você aparecer pra tudo fazer sentido. E pode ser meio idiota isso que tô fazendo, mas.. - ele ajoelha. O frio na barriga de antes, nesse momento virou uma nevasca. - Volta pro Apê? Vem morar comigo? Eu não tô aguentando mais essa distância, eu preciso acordar e dormir do seu lado, todos os dias. Prometo me esforçar pra ser o namorado perfeito, e se um dia o amor acabar, vou me lembrar de todos os motivos que me fizeram te amar, e te peço o mesmo. Dá essa nova chance pra gente?

Ele tira uma caixinha do bolso e abre, dentro tinha uma chave. Eu comecei a rir e chorar ao mesmo tempo.

– Eu ainda te mato por todas as vezes que me fez chorar. - falo, o levantando para abraçá-lo. - Conta comigo no Apê.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo 😘



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