A Dama da Névoa escrita por Karina Saori


Capítulo 5
"A Hora Morta"


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pelo mega atraso, estava sem ânimo pra escrever D:

Espero que gostem, boa leitura c:



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Terceira noite

“Tudo estava tão escuro... Não conseguia nem saber se eu estava de olho fechado ou aberto. Quando, de repente, um clarão forte e quente incomodou meus olhos. Fechei-os como proteção e lentamente os abri, descobrindo um local no qual eu não conhecia... Mas era tão familiar...
A casa estava em chamas. Eu não me queimava, mas sentia o calor e o pavor que o ambiente continha. Até que ouvi um murmúrio... Um choro de criança vindo do andar de cima. Subi as escadas e acompanhei o som até um quarto rosa, cheio de brinquedos espalhados pelo chão. Meu Deus, quanta fumaça...
O choro ia se intensificando a cada passo que eu dava para o interior do cômodo, até que acabei pisando em um bicho de pelúcia... Um coelho branco, que fez barulho. Nesse mesmo instante, o choro parou, dando lugar à uma risada abafada e feminina. Tudo se apagou novamente, imergindo meus olhos na escuridão. Senti-me como se estivesse deitada, como daquela vez. Eu sabia o que estava por vir, mas não poderia fazer nada. Como pressenti, uma mão gelada deslizou sobre meu braço, o agarrando com força na altura do cotovelo. Respirei fundo e tentei não me desesperar até que mais um braço segurou em meu tornozelo e começou a me puxar. Meu autocontrole se dissipou e tentei, desesperadamente, gritar ou ao menos me mexer, mas tudo fora inútil. Meu braço direito estava livre, mas eu não conseguia mexer nada além da minha mão. Tentei desesperadamente mexer este braço, enquanto meu corpo estava sendo puxado vagarosamente pelo pé. Já chorando ao desespero, consegui finalmente movê-lo, como se a tranca que estava no meu braço tivesse quebrado. Minhas pernas ainda não se mexiam; a única coisa que me restava fazer era afastar o que estava segurando meu outro braço. Mesmo que eu tentasse bater, minha mão não alcançava nada, apesar de ainda estar sendo imobilizada. Repentinamente, apalpei algo. Um rosto.
Encolhi a mão no mesmo instante. O silêncio foi preenchido pelos batimentos desesperados do meu coração até que ouvi novamente aquela risada. Segundos depois, o meu único braço livre foi segurado pelo pulso, puxando-o até minha mão encostar mais uma vez em seu rosto sem olhos e, de repente, senti dentes afiados cravando em meus dedos.”

— Lina?! Minha filha, você está bem?! — mais uma vez, minha tia entrou em meu quarto quase que arrombando a porta depois de ouvir um grito desesperado provocado pelas minhas cordas vocais.

Eu estava ensopada de suor, com a garganta ardendo e o coração acelerado.

— Estou. Não sei o que aconteceu, mas estou bem. Obrigada, tia, pode voltar a dormir... Desculpa se te assustei de novo.

Ela fechou a porta com a dobradiça barulhenta e voltou ao seu quarto depois de me olhar com extrema preocupação. Procurei o relógio e o vi marcando 3:06. De novo.

Deitei novamente e senti meus dedos ardendo. Quando eu os olhei, estavam com marcas pequenas em todos os dedos... Marcas de dentes pontiagudos.

.

— E essas olheiras gigantes, Lina? — mal cheguei na escola e Rafael já veio me encher o saco.

— Tive um pesadelo ontem. Só peguei no sono às quatro da madrugada, então não me enche o saco, estou de mau humor.

— Pesadelo? Sobre... — trocou o sorriso zombador por um expressão séria e preocupada.

— Não sei se tem alguma relação com “aquilo”, mas foi parecido com o primeiro sonho que tive... Eu te contei...

— Sim, eu lembro... Conseguiu pegar alguma mensagem, sei lá?

— Daquela vez, foram os meus pais. Dessa, foi o choro de uma criança e uma casa em chamas... Não sei o que significa.

Tentei de tudo esconder a minha mão para que ele não percebesse o machucado, mas não deu muito certo.

— Ei... O que é isso na sua mão? Como se machucou?

Eu não queria envolvê-lo nessa história toda... Mas eu já o envolvi, então não posso mentir agora.

— Além de me sentir presa, como da outra vez, eu senti um rosto. Que me mordeu.

Olhei para minha mão, analisando as feridas superficiais. Rafael não falou nada; olhei para ele quando percebi a expressão séria em seu rosto.

— Lina... Isso não está passando dos limites? Não é melhor você procurar algum especialista?

Ignorei-o — O mais estranho... Nesses três dias desde que vi aquela mulher, apenas em dois eu tive pesadelos, já que em uma noite eu dormi no quarto da minha tia. Por isso quis dormir no meu quarto, apenas pra comprovar... Era o que eu mais temia, mas eu estava certa...

— Hã? Certa sobre o quê?

— Só tenho pesadelos quando estou no meu quarto.

Antes que Rafael pudesse reagir, Olivia nos interrompeu.

— Lina, Rafael! Bom dia!

— Bom di-

— Nossa, Lina, você está bem? O que há com essas olheiras?

Suspirei. Era impossível conversar com a Olivia quando não estou de bom humor — Estou... Só que acabei acordando de madrugada, então só peguei no sono de novo às quatro horas.

— Hum, quatro horas? E que horas você acordou? — colocou a mão no queixo.

— Às três e pouco... Por quê?

Ela permaneceu com a mão no queixo, pensativa. Logo depois, sorriu medonhamente para mim, como se quisesse me assustar, e começou a falar com tom de mistério.

— Você sabia que... três horas da madrugada é chamada de “Hora morta”?

— Hã? Pra quê isso?

— Hihi... Dizem que às três horas da madrugada há demônios que continuam atuando e só vão embora lá pelas quatro horas, quando começa o processo do amanhecer. Por isso que, quando uma pessoa acorda esse horário, ela só consegue pegar no sono de novo uma hora depois. — ela continuou com aquele sorriso, tentando me assustar

— Não seja besta. Eu nunca acreditaria nessa história.

— Você pode não acreditar, mas parece que o mocinho atrás de você, sim...

Rafael estava com uma expressão assustada, enquanto mordia o lábio inferior para dissipar o nervosismo; uma mania que ele tinha.

— Rafael, não vai me dizer que você acreditou nisso...

— Eu não acreditaria, Lina. Mas... não faz sentido?

“Não faz sentido?”? Do que ele está falando? De repente, me dei conta do que ele queria dizer.

— Ei, do que vocês estão falando?

— O sinal já tocou, melhor entrarmos logo.

Rafael passou a mão no meu ombro, ainda com a mesma expressão. Inclinou-se um pouco para meu lado e cochichou, com medo de que alguém pudesse ouvir.

— Lina, estou começando a ficar preocupado... Você já contou pra sua tia?

— Não vi necessidade...

Rafael segurou meu braço e me arrastou para um canto mais isolado. Seu olhar era desesperador...

— Estou falando sério, Lina! E se alguma coisa acontecer com você?! — no mesmo instante, me abraçou. — Isso não é brincadeira pra você tratar com tanta insignificância... sua idiota...

Acariciei os cabelos encaracolados e o apertei em meus braços — Não há provas do que a Olivia disse. Isso é só uma lenda, está tudo bem. Desculpe te preocupar... Eu vou falar com a minha tia, tá? Vou pedir pra ela procurar ajuda de fora.

— Promete?

— Sim, eu prometo. Agora pare de ser meloso, vamos nos atrasar — dei risada, acariciando seu rosto. Segurei a sua mão e fomos correndo para a sala.

.

As aulas acabaram e voltei imediatamente para casa.

— Mas por que você está vindo comigo? — Rafael insistiu em me acompanhar até em casa.

— Para ter certeza que você contará para sua tia.

— Mas ela já sabe de tudo!

— Sabe do sonho que você teve na noite passada? — não respondi, só desviei o olhar — Sabia! Conte tudo pra ela. Conte o que a Olivia disse hoje, também. Mesmo se for uma lenda, coincide com o seu caso e isso já é o bastante pra você acreditar.

Só concordei, suspirando.

Cheguei em casa e minha tia estava sentada no sofá, tomando o seu chá de sempre enquanto assistia um programa na televisão.

— Lina! Bem vind- Ah, Rafael! Que bom lhe ver!

— Boa tarde, dona Dirce — sorriu.

— Tia, preciso falar com a senhora — ela me olhou atentamente, abrindo espaço para eu falar quando abaixou o volume da televisão — Comentei com Olivia que acordei às três horas da manhã e só consegui dormir às quatro... E ela me contou a lenda da-

— ...da “Hora Morta” — ela completou minha frase, ficando de pé com uma expressão incrédula, largando a xícara na mesa.

— Não vai me dizer que a senhora conhece...

— Lina, precisamos buscar ajuda.


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Notas finais do capítulo

Eu vi sobre a "Lenda da 'Hora Morta" na page "Curiosos" do facebook.

Obrigada por ler *3*