Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 9
Meu nome é Esther Middtown, e eu sou consumista


Notas iniciais do capítulo

Olá garotas lindas do meu coração. Como estão? Como perceberam, estou postando mais rápido para acompanhar as postagens no SS. Queria dedicar esse capítulo pra Luna_Hunter, que me acompanha lá e aqui. A gatinha faz faculdade, está sempre ocupada e ainda arruma tempo entre as aulas pra ler SPW, obrigada, linda!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/508774/chapter/9

Chutei os lençóis me sentando na cama, meus ouvidos zumbindo no silêncio.
Um cheiro de névoa pairava no ar, minha pele quente entrando em contato com o vento da noite. Arrastei as mãos pelo rosto tentando acalmar meu coração que dava pulos de desespero. Antes que eu sequer pudesse pensar no pesadelo Dean entrou afoito pela porta do quarto, meus olhos protestaram quando ele acendeu a luz.
– Foi um pesadelo – falei, tentando abrir uma pálpebra dolorida.
– Você gritou – ele me olhou seriamente, talvez medindo as possibilidades de eu ter distúrbios psicológicos. Mas de fato, eu não me lembrava de ter gritado.
– E porque abriu a janela? Esse quarto tá uma geladeira!
– Eu não abri – murmurei enquanto o loiro marchava pelo quarto para fechar a janela.
– Você está bem? – perguntou.
– Sim – falei passando a mão pelos cabelos, colocando-os pra trás.
– Tem certeza?
– Tenho, eu acho que vou pegar um leite morno, estou ficando um pouco resfriada – funguei para enfatizar minha decisão. Depois de me avaliar, Dean assentiu e saiu do quarto, encostando a porta e deixando a luz acesa. Ao invés de leite, eu optei por um café bem quente, e misturado com o medo de pregar os olhos e ver aquelas cenas terríveis novamente, tão reais e tão tristes, eu sabia que não iria dormir mais aquela noite.

Desci as escadas e encontrei Dean e Bobby sentados, feito duas estátuas no sofá. Notei que a casa estava uma bagunça, e havia vários objetos espalhados pelo chão, como se tivesse havido uma luta recentemente. Encarei Dean com uma pergunta explícita no rosto, mas foi Bobby quem falou primeiro.
– Ele conseguiu recuperar a alma do Sam – revelou. Eu pisquei rapidamente.
– Isso é ótimo! Como?
– Fez um acordo com Morte, o cavaleiro – falou o velho Singer novamente. Eu encarei Dean de boca aberta, ele suspirou.
– Eu não tinha escolha...
– Não precisa se justificar – eu o interrompi, dando um passo a frente – Apenas queria ter visto isso. Mas como você conseguiu isso de Morte? – perguntei imaginando por um momento uma caveirinha vestida de preto com uma foice, como nos desenhos.
– Quando nós colocamos Lúcifer e Miguel na jaula, fizemos isso com os quatro anéis dos quatro cavaleiros do apocalipse, lembra dessa parte da história?
Assenti veemente com a cabeça.
– Eu tinha o anel de Morte, e então pensei em barganhar com ele, o que não deu certo. Foi aí que ele me fez uma proposta: Se eu usasse o anel e fosse ele por 24hrs, ele traria a alma do Sam de volta.
– Mas o Dean não ficou nem três horas com o anel – falou Bobby, fazendo uma careta.
– Eu não consegui – o loiro suspirou – Eu tocava as pessoas e elas morriam. Eu tive que matar uma garotinha de treze anos e não consegui, então desencadeei acidentes com outras pessoas e acabou indo tudo pro brejo.
– E então?
– Morte sabia que eu não conseguiria, mas mesmo assim ele buscou a alma do Sam.
– Mas tem um porém – interrompeu Bobby novamente.
– Ele colocou um muro – Dean me encarou. Um muro? – As memórias do inferno podem acabar com ele, como o Cass disse, então um muro é o único jeito dele não se lembrar de nada do que aconteceu lá. Mas o negócio é instável, pode não aguentar muito tempo.
– Ou seja, Sam está com um muro que pode ou não cair, e ele pode ou não se lembrar do inferno e pode ou não cair no chão e ficar babando? – raciocinei. Ficar sem alma não era bom, mas as memórias do inferno podem ferrar a cabeça dele de vez.
– Exato.
– E em que parte isso é melhor do que antes? – arqueei uma sobrancelha. O Winchester me olhou, meio contrariado.
– Ele estava sem alma – protestou elevando a voz.
– Ele tentou me matar – falou Bobby apontando pra si mesmo. – Pra impedir que a alma voltasse pro corpo. Fiquei mais boquiaberta ainda. Uma revolução aconteceu aqui enquanto eu estava desmaiada lá em cima.
– Mas agora ele tá bem? Onde ele está? – perguntei olhando pros lados novamente e constatando que Sam não estava caído em nenhuma parte da casa.
– Dormindo. Não sabemos quanto tempo vai demorar pra ele acordar – Dean suspirou novamente – Mas e você, o que houve? Eu cheguei em casa e meu irmão estava tentando sacrificar Bobby como um porco no dia de ação de graças, você desmaiada na cama e o Cass andando de um lado pro outro no quarto quase fazendo um buraco no chão.
– Castiel tentou sentir – fiz aspas com os dedos - a minha alma e eu acabei desmaiando. Quanto tempo eu dormi? – o loiro bufou de frustração.
– Mais de dois dias – disse Bobby.

Eu o fitei e em seguida catei o celular, eram 04h27min agora. Eu dormi por dois dias inteiros? Isso não estava certo. E onde estava aquele anjo imprestável que se dizia meu guardião? Muito bonito, ele me faz desmaiar depois de enfiar o braço na minha alma e some. Eu me sentia como uma garota que sai com uma cara e no outro dia ele não liga. Balancei a cabeça, afastando o pensamento estúpido.
– Alguém quer alguma coisa? – ofereci, me levantando e decidindo não ficar fritando meus miolos.
– Cerveja – pediu Bobby.
– Torta – disse Dean.

Depois de tomar um café, ver o Winchester se lambuzar como uma criança de quatro anos que ganha torta, e Bobby virar cerveja garganta abaixo como se fosse água, eu decidi tomar um banho. Embaixo do chuveiro eu pensei sobre o pesadelo que tive. Tão real, e tão triste. Quem era a garota afinal? Parecia estar fugindo, mas pelo que se seguiu eu acho que ela caiu do precipício. Ou foi jogada. O pensamento veio involuntário, me fazendo estremecer.

E se talvez aquela garota fosse Elisabeth Bathory? Ela era muito parecida com a foto do colar que estava no túmulo, e se ao menos eu ainda o tivesse, poderia comparar. Mas o mais assustador era que ela era parecida comigo. E se o que Daniel sugeriu estivesse de fato certo? E se eu realmente fosse a reencarnação de Elisabeth Bathory, a Condessa de sangue?

Enrolei-me na toalha e vesti uma camiseta de Dean. Eu precisava dar um jeito de arrumar roupas pra mim. Penteei os cabelos molhados e voltei para sala. Bobby estava sentado em sua mesa de pesquisas como sempre, e Dean estava deitado no sofá, dormindo. O fitei por um momento, ele parecia tão inocente.
– É a primeira vez que ele dorme em dois dias. Ficou acordado subindo e descendo escadas enquanto cuidava de você e do Sam – comentou Bobby, um ar de tristeza na voz. Suspirei baixinho, pegando um cobertor xadrez que estava numa poltrona e cobrindo o loiro. Ele murmurou alguma coisa com meu nome que eu não entendi, e então sorriu.

Três dias depois.
Entrei pela porta, depois de ouvir um bocado de músicas dentro do Impala, pra sair um pouco do tédio. Sam ainda estava em coma no quarto do pânico.
– Ei – disse ao ver Dean caminhando em direção à mesa de Bobby. – Como ele está?
– Segundo o Cass, a alma dele parecia uma bola de fiapos ensanguentados – o loiro bufou e sentou-se em frente ao velho, eu o acompanhei e sentei na outra cadeira. Ele estava com uma cara péssima. Bobby serviu dois copos de uísque.
– Como meu pai sempre dizia, só porque ataca o fígado não deixa de ser um remédio. Sam continua dormindo?
– Sim.
– Ele vai acordar – incentivou o velho.
– É, sei.
– Dean, ele já passou por muitas coisas. De algum modo ele sempre supera.
– Ele nunca passou por isso – disse o irmão mais velho, encarando Bobby. Em seguida desviou os olhos para um jornal que estava em cima da mesa. – Trabalho?
– Pode ser.
– Posso ajudar? Me manda pra biblioteca, qualquer coisa.
Bobby lançou o jornal para Dean.
– Casal decola num jatinho. Destroços foram encontrados na floresta – disse tomando um gole do uísque.
– Acidente de avião. Não parece em nada com notícias sinistras – falou o Winchester, dando de ombros.
– O piloto foi achado a 27 km de distância. Flambado. A garota sumiu. Sem corpo, sem nada.
– Certo, eu não estou mudando de canal ainda... – o loiro passou a mão no rosto, fechando os olhos por um segundo.
Dean – me virei alarmada e surpresa ao ouvir a voz de Sam vindo da porta. Ele estava com a expressão assustada. Dean se levantou num pulo, encarando o irmão perplexo.
– Sammy? – o moreno caminhou em passos largos até o irmão mais velho e o abraçou apertado – Sam... Você está...
O caçula olhou pra Bobby e o abraçou também. O homem ficou sem reação por um momento, em seguida deu alguns tapinhas nas costas do moreno.
– É bom ver você também.
– Espera! – ele encarou o velho – Eu vi você. Digo, eu senti Lúcifer quebrar o seu pescoço.
– Ora, o Castiel meio que...
– Castiel está vivo?! – indagou Sam rapidamente. Dean e Bobby se entreolharam por um momento.
– É, Cass está a salvo – falou o loiro – Sam, você...
– E você – ele se virou pra mim, confuso – Quem é você?
– Esther – falei, olhando pra Dean que me fitava com os olhos arregalados suplicando para que eu não dissesse nada a mais no momento.
– Sam, você está bem? – perguntou o irmão mais velho.
– Na verdade, estou faminto.

Na cozinha, Sam estava devorando o terceiro sanduíche de presunto com peito de peru. Bobby estava recostado na pia com os braços cruzados, Dean estava sentado ao lado do irmão com uma cerveja, e eu do outro lado.
– Qual a última coisa que você se lembra? – perguntou o loiro, depois de um momento.
– O campo, e então eu caí. – respondeu, encolhendo os ombros.
– Certo, e depois?
– Eu acordei no quarto do pânico.
– Só isso? – perguntou Bobby – Você realmente não se lembra? Digo...
– Vamos ficar felizes então – interrompeu Dean, encarando o velho Singer – Quem quer se lembrar daquele inferno?
– Quanto tempo eu estive fora? – perguntou Sam, tomando o último gole da cerveja e me olhando com o canto do olho.
– Mais ou menos um ano e meio.
– O que?! – disparou o moreno – Eu estava lá embaixo... E eu não lembro de nada – ele fez uma pausa parecendo tentar buscar alguma memória – Então como eu voltei? Foi o Cass?
– Não exatamente – respondeu Dean, olhando a mesa com um sorriso de canto.
– Dean, o que você fez?
– Bom, eu e Morte...
– MORTE? – exclamou o caçula, se sobressaltando na cadeira – O cavaleiro?
– Eu tive uma vantagem – tranquilizou gesticulando com as mãos – Está feito.
– Tem certeza?
– Acabou. Está tudo resolvido.
– É. Está tudo certo e arrumado – disse Bobby, revirando os olhos. Dean fez uma cara feia que só eu e ele percebemos.
– Tem mais alguma coisa que eu deva saber? – perguntou Sam.
– Não – falou balançando a cabeça e apontando com a garrafa pra ele – Outra cerveja?
– Claro.

Não que eu estivesse sendo pessimista, mas esse lance de ficar mentindo para o Sam não ia dar certo. Eu pude ver nos olhos dele que ele não estava engolindo muito bem as mentiras. Dean me fez jurar de pés juntos que eu não falaria nada, assim como Bobby. Claro que eu concordei, embora não achasse correto. Pelo menos se eu precisasse saber de alguma coisa, eu preferiria que meu irmão me contasse a descobrir sozinho, ou pelos outros.

Sam estava sentado com o notebook no colo, Dean enfim havia conseguido dormir, e Bobby estava na cozinha preparando algo pra comer.
– E então... Esther? – ele se dirigiu pra mim quando eu estava descendo as escadas, fechando o computador.
– Sim? – parei para fitá-lo. Ele parecia curioso ao meu respeito, como qualquer pessoa ficaria curiosa quando acorda sem memória e vê alguém estranho morando na sua casa.
– Como você e Dean se conheceram? – perguntou.
– Bom, foi um lance de anjos e demônios, sabe. Eles meio que estão me caçando – disse. Sam assoviou e se ajeitou na cadeira, interessado.
– Como assim?

Me aproximei, sentando a sua frente. Nós conversamos durante mais ou menos duas horas sobre a minha fatídica vida até agora, claro que eu omiti os detalhes que o envolviam. Ele estava perplexo, e com uma expressão de compaixão nos olhos.
– Nós vamos sair dessa – disse, colocando a mão sobre a minha. Realmente ele estava muito diferente do Sam frio e distante que eu conheci. Então esse era o verdadeiro Sam Winchester? Gentil e preocupado? Agora eu entendo porque Dean fez de tudo para trazê-lo de volta, alguém assim não pode ser substituído por algo sem sentimentos.
– Vejo que estão se conhecendo – falou o loiro, descendo as escadas com um sorriso. Ele estava feliz por ter o irmão de volta.
– É, estamos – Sam sorriu pra mim.
– Ah, eu estava pensando – ele se dirigiu pra mim – Você não pode viver usando as minhas roupas – Dean apontou para a camiseta extremamente grande que eu estava usando – Porque não vai ao shopping comprar roupas que sejam do seu tamanho?
Arqueei a sobrancelha. Não era uma má ideia, mas eu não tinha nem cinco centavos.
– É uma ótima ideia – disparou o moreno empolgado – eu estava mesmo querendo sair e respirar um pouco. Posso ir com você. Que tal?
– Ei, acalmem-se. – falei balançando as mãos em frente ao corpo – Eu não tenho dinheiro, e não vou aceitar o dinheiro de vocês, antes que sugiram isso.
Dean deu uma risada divertida.
– Não é meu dinheiro. E eu espero que você não seja contra pequenos desvios.
Meu queixo caiu – Vocês estão roubando pessoas?
– Não chamo isso de roubar, chamo isso de “salário de caçador” – o Winchester se dirigiu pra cozinha – A gente mata os monstros deles, e pega uma comissão por isso.
– Isso é errado – repreendi. O loiro deu uma risada e em seguida arremessou as chaves do Impala para Sam.
– Vocês têm duas horas, não quero meu bebê na rua muito tempo – avisou enciumado por causa do carro. O moreno abriu uma das gavetas da mesa, pegando vários cartões e espalhou-os na minha frente.
– Escolha um.
– Pelo pouco que conheço vocês, acho que esses cartões estão no nome de pessoas bem estranhas. Como... – peguei um e li – Sheeva Roggs? – fiz uma careta ao pronunciar. Sam arqueou uma sobrancelha pra mim, uma expressão engraçada.

Procurei entre os cartões algum nome que combinasse mais com a minha cara, e não parecesse ser alguma criminosa usando ilegalmente o dinheiro de alguma velhinha Asiática. Achei um no nome Maddie Joddison, bem comum.

Sai pela porta, juntamente com Sam. Rodamos por cerca de uns vinte minutos, até pararmos de frente para o shopping, um prédio alto e espelhado. Alguns adolescentes estavam parados na entrada, tomando bebida alcoólica. Me pergunto onde estariam os pais dessas crianças, não que eu realmente me importasse, mas eu tinha dezessete anos e nunca havia ingerido uma gota de álcool. E me orgulhava disso.

Entramos no shopping, subindo a escada rolante para o segundo andar. Prometi a mim mesma que eu não iria comprar nada além do necessário, o que foi pro brejo quando eu me deparei com várias roupas maravilhosas. Fazer o que se eu sou uma garota? E garotas e compras andam de mãos dadas.

Ao total eu acabei comprando: Três calças jeans; uma calça de couro; dez camisetas de tonalidades preta, azul marinho, branca, vermelha e azul; uma jaqueta de couro; dois moletons com estampas do capitão América e Homem aranha; várias roupas íntimas (incluindo uma camisola preta com cinta liga que a atendente tecnicamente me obrigou a levar); duas saias; três pares de all star; dois pares de botas; dois pares de salto alto; cinco vestidos e dois conjuntos de terno social (que Sam sugeriu, caso algum dia eu precisasse me disfarçar de agente do FBI, possibilidade quase nula, mas enfim). Resultando no gasto de quatro cartões estourados. É, pois é. Acho que exagerei um pouquinho.

Sam puxou o celular e apontou pra minha cara.
– Ei, tá me filmando?
– Estou. Quero que você diga para mim e para todos nossos telespectadores o quão grave é sua doença.
– Para com isso, Sam – abaixei o celular com a mão, mas ele se esquivou e continuou me filmando.
– Diga.
– Se eu disser você vai tirar essa coisa da minha cara? – perguntei, bufando.
– Aham – afirmou ele.
– Tudo bem – olhei pro aparelho – Meu nome é Esther Middtown e eu sou uma consumista.
– Aceitação é o primeiro passo para a cura – brincou.
– Cala a boca – eu dei uma risada.

Sam era um cavalheiro, ele não me deixou carregar nenhuma sacola, dizendo que era exatamente para isso que os homens serviam quando as mulheres iam as compras, também falou que havia feito isso várias vezes com Jéssica, sua namorada na faculdade. Nós passávamos pelos corredores e as garotas ficavam olhando e apontando discretamente, Sam era um homem muito bonito e atraente, e o fato dele ser um cavalheiro só o tornava mais disputado no mercado. Ri da ideia de eu estar sendo invejada por um namorado que eu não tinha.
– Olha! – ele apontou para o pôster enorme do filme “Lua Nova” que estava na frente dos cinemas. – O que você acha da gente assistir?
Senti o celular no meu bolso vibrar, olhei o visor e estava escrito “Dean Delícia”, revirei os olhos, ele deve ter mudado o nome na agenda.
– Alô?
– CADÊ O MEU BEBÊ? – berrou ele do outro lado da linha, me fazendo tirar o celular do ouvido. Encarei Sam, que fez uma cara de tristeza ao perceber que teríamos que deixar o filme pra outra hora.
– A gente tá preso no trânsito – menti, piscando pro moreno.
– Vocês têm uma hora! – chiou Dean, e então desligou. Eu fiz uma careta pro aparelho e então começamos a rir. Em seguida nos olhamos, olhamos pro cartaz do filme, e nos olhamos de novo, dando um sorriso conspiratório.

É claro que eu não consegui assistir ao Lua nova. Um, porque o Winchester comentou o filme todo, e eu percebi que ele só queria assistir para comentar. Esse deveria ser o filme mais “dramático” da quadrilogia Crepúsculo, mas por algum motivo Sam o achava engraçado. E dois, porque eu ria com os comentários dele (embora tivesse lido os quatro livros, e bem, eu adorei os livros). Saímos na metade da sessão, quando uma grande quantidade de fãs começaram a ficar nervosos, xingar, gritar, e ameaçar com suas presas falsas.

Do cinema, resolvemos fazer um lanche na praça de alimentação, e eu achei que Sam fosse acabar com o estoque do McDonalds.
– Meu Deus do céu! – exclamei ao vê-lo devorar o décimo hambúrguer triplo de picanha com cheddar – Pra onde vai tudo isso? Como você não explodiu?
– Eu não sei, eu me sinto faminto – falou com a boca cheia – Parece que eu fiquei um ano sem comer, o que realmente aconteceu.

Lembrei que durante todo esse tempo eu não havia visto Sam comer nada decente, a não ser café ou algum sanduíche de vez em quando. Apertei os olhos para o moreno, sentindo um estranho sentimento de pena que eu logo tratei de afastar.

Caminhamos mais um pouco pelo shopping, observando as pessoas.
– Tá vendo aquele casal ali? – Sam sibilou para um garoto sentado ouvindo fones de ouvido; e uma garota e um garoto aos amassos ao lado dele. – O garoto com fones de ouvido.
– O que tem ele? – perguntei tentando fitar discretamente.
– Ele gosta daquela garota, mas ele sabe que ela gosta do outro, por isso ama em silêncio. Embora o outro garoto não ame aquela menina.
– Você percebeu isso só de olhar para eles?
– Veja bem – começou o moreno. Eu analisei melhor a cena - enquanto a menina loira fala entusiasmada o garoto que está com o braço em volta dela, assente automaticamente a cada frase. Sempre desviando o olhar para outras garotas discretamente, batendo o pé no chão, um gesto que demonstra certo desinteresse.
Sam me olhou pra ver se eu estava prestando atenção e então continuou.
– Ele olha de canto para o celular a cada três segundos, como se não visse a hora de ir embora. – o aparelho começou a emitir luz e tocar – Viu só?

O garoto trocou algumas palavras ao telefone e se levantou, despedindo-se da garota com um beijo apressado. Ela ficou assistindo ele ir embora, com expressão desolada. O menino ao seu lado tirou os fones, e afastou o cabelo do rosto dela, falando algo. Logo eles estavam rindo, ele a abraçou e beijou sua cabeça.
Não era tão difícil assim de perceber, depois de observar um pouco.
– Parabéns, você é bom em ler pessoas – parabenizei-o. – Ela ama quem a faz sofrer e faz sofrer quem a ama. E ele se cala porque quer que ela seja feliz, mesmo que custe a sua própria felicidade.
– E você é boa em entender sentimentos – Sam balançou a cabeça com aprovação.
– É. E então, porque você falou tudo isso afinal? Acho que não foi um teste pra ver se é capaz de fazer um bico como Mãe Dinah? – brinquei. O moreno sorriu e então abaixou a cabeça, suspirando.
– É pra mostrar a você que eu não sou burro, Esther. Mesmo que eu ainda não saiba o quê, eu sei que vocês estão escondendo alguma coisa.
Eu olhei para os lados, pega de surpresa.
– Eu não sei de nada, Sam – disse, encarnando todo o talento de atriz que eu não tinha.
– Certo. Não precisa me contar, se eu bem conheço Dean ele deve ter te pedido isso. Eu não quero que traia a confiança dele, mas eu vou acabar descobrindo.

No caminho de volta, viemos em silêncio. Chegamos à oficina Singer às oito horas da noite. Dean estava na soleira da porta com os braços cruzados e uma expressão maléfica.
– Que parte de “Eu não quero meu bebê fora muito tempo” vocês não entenderam? – perguntou com uma carranca. Ajudei Sam a retirar todas as sacolas do porta-malas e do banco de trás. O loiro assoviou ao ver o volume de compras. – Você vai fazer um estoque pro fim do mundo?
– Engraçadinho – disse irônica. Entramos na casa e Bobby fez a mesma cara de espanto que Dean ao ver as sacolas. – Não, eu não estou fazendo um estoque pro fim do mundo – falei ao ver sua boca abrir pra dizer algo.

Eles me ajudaram a subir com as compras, colocando-as em cima da cama. Agradeci pela ajuda e disse que ia arrumar tudo e depois dormir. Os irmãos me deram boa noite e logo saíram pela porta. Ajeitei meu novo guarda-roupas rapidamente, tendo que praticamente socar as peças pra dentro, por falta de espaço. Escovei os dentes e coloquei uma camiseta surrada, minha preferida pra dormir. Me atirei na cama e encarei o teto por vários minutos. Notei o amuleto no meu pescoço, cintilando no escuro, e então eu senti medo.

Se fosse verdade todo esse lance de reencarnação, eu obviamente estava sendo amaldiçoada, pelas pessoas que torturei e matei em minha outra vida. Eu não conseguia me imaginar esmagando uma formiga, muito menos espancando uma pessoa até a morte e me banhando no sangue dela. Isso era cruel demais, triste demais, nojento demais. Se fosse verdade que eu realmente fui Elisabeth Bathory, eu não saberia lidar com isso, e interiormente eu começava a me culpar por atos que eu não sabia se havia cometido.

Encarei o amuleto, sentindo o medo crescer no meu peito, então eu o tirei e coloquei no chão ao lado da cama. Instantaneamente me senti mais leve e relaxada. Essa era a prova que eu precisava para saber que o objeto estava diretamente ligado ao bloqueio da "absorção de traumas fantasmagóricos". E era imprescindível que eu continuasse usando-o, mas não agora, eu precisava esvaziar minha mente.

Senti um formigamento na nuca, como se algo ou alguém estivesse me observando. Me virei e encarei o escuro. Não havia ninguém, porém a sensação persistia. Apertei os olhos deixando um sorriso silencioso escapar pelos lábios.
– Castiel? - arrisquei, sentando-me na cama. Pelo que eu sabia ele podia ficar invisível. - Se você está aqui, saiba que é feio ficar bisbilhotando enquanto uma garota dorme.
Esperei, me sentindo meio idiota por estar falando sozinha. Com um suspiro, me acomodei novamente na cama. Eu posso até estar ficando paranoica, mas algo me dizia que eu não estava errada.
– Boa noite pra você também, anjo bisbilhoteiro– murmurei, fechando os olhos e percebendo meus sentidos se acalmarem até finalmente eu pegar no sono.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Separate Ways - Requiem" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.