Tudo foi um erro. A angústia que ele sentia era indescritível, a pior coisa que seu corpo pode enfrentar é a falta de oxigênio em seus pulmões que se desesperavam pela falta do composto. Desabou de costas no chão, a queda em nada o afetou, seu corpo tinha necessidades maiores para se alarmar. Sentia-se tonto, o que antes ele enxergava como um deserto com o chão amarelo-alaranjado e céu cinza, logo tornou-se um misto de borrões escuros.

A agonia de estar sem ar era tão ruim quanto ele foi alertado que seria, nunca havia dado atenção a este fato, nunca achou que enfrentaria algo assim, um erro descomunal como este estava fora de qualquer cogitação. Sentia-se um tolo por ter acreditado que tudo daria certo tão facilmente.

Tudo foi um erro. Ele esperou aflitamente para ver sua vida passar diante de seus olhos, sua infância alegre, sua adolescência brilhante e vida adulta feliz, queria ver de novo tudo aquilo que ele desprezava que, neste momento, daria tudo para ter de volta, mas não viu nada, apenas a escuridão. Não havia fim glorioso, apenas fim. Preferia morrer numa cama de hospital com sua família ao seu lado, mas seu egoísmo lhe deu outro destino, morreria sem ar naquele planeta amaldiçoado pela não-vida.

Sentiu o corpo relaxar e a escuridão dominar sua visão, ele abandonou tudo que tinha e agora a vida que o abandonara, era o fim. Havia algo errado, ou certo, ele voltou a sentir, era sua respiração estabilizando seu ser. Não era a melhor respiração de sua vida, mas era um alivio imenso.

Tudo foi um erro. As consequências dos erros de toda sua vida só foram notadas quando alguém teve de revertê-las por ele. Com a consciência pré-restabelecida, ele sentiu medo, medo do desconhecido. Sua visão voltou, mas não viu o ambiente hostil como antes, havia uma espécie de bolha incolor brilhando a sua volta, o que viu do lado de fora dela o chocou, três seres de pé diante dele, é difícil lembrar com exatidão, usavam roupas de aparência metálica, não pôde ver um rosto, logo sentiu a cabeça pesar e sua vista escureceu novamente.

Ás vezes, a única coisa necessária na vida é acordar. Ele acordou devagar, sentia o corpo latejar, pôs a mente para trabalhar em busca de informações sobre os últimos ocorridos, levantou num pulo ao recordar da desgraça que havia enfrentado e da memória dos seres em roupa metálica. Ao notar onde estava uma mistura de emoções inundou seu coração, estava em um tipo de fazenda, com pessoas á frente! Havia retornado a Terra.

Os dias seguintes foram difíceis, mas proveitosos, sua volta ao planeta de origem causou espanto em todos que viram o desastre na busca pelo planeta perfeito, meses atrás. A verdade, que ele fez questão de contar, era que o planeta perfeito não fica lá, fica exatamente aqui, onde todos estão. Desde então, ele olha as estrelas distantes, ainda se maravilha com elas, mas se maravilha muito mais com sua vida, tudo era como antes e ele aproveitava cada momento.

Nem tudo foi um erro. Erros são tão consequêntes dos atos humanos quanto os acertos, um não existe sem o outro. Ele sabe disso agora, nada mais importa. Tudo que deseja agora é que os outros compartilhem de sua alegria por estar aqui, com uma nova perspectiva, uma nova oportunidade, uma nova vida.