Eu estava correndo contra meu tempo, literalmente.

–Alexia vamos ! -Gritava Rosie enquanto eu descia as escadas da casa de Brandon como louca.

–Onde está ele? -Olhei para os lados mas só conseguia ver quatro pessoas.

–O John levou ele pro hospital. Mas temos que sair logo. -Noah respondeu com isso olhei para o lado e ví uma senhora morena tremendo .

–Vai ficar tudo bem. -Disse tentando acalmar a mãe de Brandon enquanto ia para o carro reserva, o de Noah.

Dirigindo numa alta velocidade, Noah não parava de olhar para a pista nem para “respirar”.

–Isso nunca aconteceu com ele? -Rosie perguntou para a mãe de Brandon que estava ao meu lado no banco traseiro.

–Nunca, ele pratico esportes e ai Deus o que ele tem !? -Rosie se virou para frente e abaixou a cabeça, eu nunca tinha visto ela tão abatida assim.

–Algum problema Rosie? -Como lendo meus pensamentos, Noah perguntou.

–Não. -Respondeu ela num tom frio, muito incomum, ele ignorou e voltou a focar na pista, e em poucos minutos depois, a faixa branca da entrada do hospital apareceu em nossa frente.

☽ ☾● ◯

–John ! Outro não vai dar ! -Uma loira disse sentada na recepção.

–Ele é meu vizinho, ok, nada de laços mas eu preciso ajudar ele...A mãe dele, a família já está vindo ! -John quase gritava, se segurava por pouco.

–Já tenho que limpar sua barra toda vez que sua prima surta ou sei lá desmaia ! Ok, é lindo da sua parte ter estudado a vida toda pra salvar ela e conseguir, mas isso é ilegal ! -A moça sussurrava.

–Camilly.. -John estava prestes a se ajoelhar mas se lembrou que estava com um garoto de quase setenta quilos nos braços.

–John eu não posso permitir.. John?? -A mulher gritou ao ver ele ignorar ela e sair em direção a porta de emergência normalmente, ignorando tudo o que ela havia dito antes. -Ah.. Se ele não fosse tão doido eu até que casava... -Ela riu e voltou -se para o computador, começando assim a abrir a ficha do garoto até os familiares chegarem.

☽ ☾● ◯

–Onde está meu filho? -A mãe de Brandon gritou ao chegar na recepção.

–Qual o nome? É o garoto que o John trouxe? -Eu assenti entregando a mãe de Brandon para se sentar num banco enquanto eu e Noah resolvemos o resto.

–Onde estão os documentos? -Noah perguntou ao meu lado e Rosie na hora se levantou e entregou tudo a mim, passando para a recepcionista.

–Ok, tudo certo. -A loira disse e Noah agradeceu, quando eu já ia me virando, ela disse: -Você é a menina que o John salvou não é?

–Hm, Sim. -Ela sorriu e assentiu.

–Ele fez um bom trabalho. -Sorri de volta e peguei na mãe de Noah, indo em direção a duas cadeiras vazias no fim do corredor. Após me sentar, olhei para Noah e perguntei:

–O que será que ele tem? -Noah fez um gesto como se tentasse descobrir o que é mas em vão.

–Não sei Le, foi do nada. -Parecia que Noah estava se dando bem com Brandon já, isso me deixou mais relaxada. Coloquei minha cabeça em seu ombro e fiquei esperando John aparecer e dizer o que ia acontecer.

☽ ☾● ◯

Eu já estava a mais de uma hora olhando para o mesmo quadro de paisagem morta da parede, tudo alí era branco e me lembrava a casa de Noah, as vezes eu me pegava sorrindo ao lembrar do show de luzes pelas paredes. Mas na maioria do tempo, hospital me lembrava coisas ruins, parecia que tinha algo nele que eu não me lembrava..

–Noah? -Chamei ele que também estava perdido em seus pensamentos.

–Sim. -Olhei para ele e sorri.

–Sonhei com umas coisas estranhas ontem. -Contei, ele decidiu focar seu olhar bem em mimo que me deixou meio envergonhada no momento, parecia sempre que seus olhos conseguiam enxergar o que nem eu via.

–Lembrou de algo? -O jeito que ele sorriu me desapontou.

–Não, perdão. -Ele passou a mão no meu braço.

–Não importa o passado. -Suspirei me arrependendo de ter começado o assunto sem querer.

–Oi.. -John apareceu no corredor então eu corri da minha cadeira ao encontro dele, Noah fez o mesmo mas bem mais afastado.

–O que ele tem? -A mãe de Brandon quase chorava novamente.

–Calma ! É só síncope -John dizia tão calmamente que eu me assustava, então Rosie se pronunciou no grupo.

–Só? O menino tem uma falha cerebral que faz desmaiar e é só? -Quando ouvi o “falha cerebral”, comecei a surtar.

–Noah ele vai morrer. -Sussurrei para ele que estava do meu lado, mas ele riu.

–Não, isso não mata ! -Eu não conseguia rir daquilo, não mesmo..

–O que vão fazer agora? -Perguntei para John que explicava o estado dele para a mãe.

–Ele acordou, e está em observação por três dias. Mas depois ele tem que ter uns cuidados, eu vou passar umas coisas para ele tomar que evita que toda vez que ele tiver algum alteração de humor ou surpresa, apague. -Assenti me afastando deles.

–Ei, você esta bem? -Noah perguntou e eu assenti de leve, ele se sentou ao meu lado por uns minutos até que a mãe de Brandon se aproximou.

–Lexie, você poderia ficar lá com o Brad enquanto eu pego algo pra comer? -Sem pensar duas vezes, aceitei e fui em direção a entrada onde John me esperava.

–Já volto. -Disse para Noah que disse um ok.

Os corredores eram vazios, parecia que ninguém estava doente naquela ala, percebi então que era a ala de internações graves.

–Porque ele teve isso? -Perguntei seguindo John.

–Ah, isso não sabemos, ele sempre teve, as pessoas nascem com esta falha, mas a dele somente se manifestou agora. -John parou na frente duma porta e disse: -Pode entrar, ele não pode falar muito. -Assenti e entrei percebendo que John não ficaria comigo no quarto.

–Oi? -Perguntei ao entrar, era como se eu pudesse ver agora o que todos enxergavam quando era eu, alí, numa maca cheia de canos e tubos nos braços.

–Oi. -Brandon respondeu meio sem voz e tentando sorrir, dei mais uns passos e puxei a cadeira.

–O que você fez? -Perguntei e ele sorriu.

–Não sei. -Era a primeira vez que eu via Brandon responder tudo com no máimo quatro palavras, ele que sempre falava um texto de explicação, dessa vez só dizia “ não sei “.

–Sua mãe ficou morta de medo. -Ele sorriu novamente.

–Ela tem medo até. -Ele parou e um dos aparelhos apitou me assustando. -Se eu espirro.

–Não é bem assim né, coitada. -Ele estava quase dormindo, me lembrei que aqueles barulhos era do remédio sendo colocado no soro. -Não me assusta mais.

–Pode deixar. -Ele sorriu e fechou os olhos pegando no sono, fiquei alí olhando para Brandon, que já tinha passado por tantas coisas para me ajudar, tinha feito tanto por mim...

–Dorme bem. -Disse dando um beijo em sua testa e saindo do quarto.

☽ ☾● ◯

–Mãe? -Perguntei ao vê-la no hospital. Minha mãe tinh preferido ficar em casa para avisar se alguém perguntasse onde estavam os vizinhos.

–Oi querida, como está o Brandon? -Percebi que ela segurava uma sacola com o que pareciam ser roupas minhas.

–Lexie, o Brandon já dormiu? -A mãe de Brandon perguntou.

–Sim, ele recebeu a dose de remédios e já pegou no sono. -Ela sorriu bem mais aliviada.

–Posso te pedir uma coisa? -Olhei para ela estranhando o rumo do assunto mas assenti. -Bem, alguém precisa ficar aqui com o Brad e eu não posso, eu volto das férias do trabalho hoje , até faltei.. O Brandon não tem amigos nem ninguém, você poderia ficar com ele esses dois dias? -Olhei para minha mãe que aprovava e respondi:

–Claro que sim senhora, eu fico. -Ela me abraçou com força e me deu um beijo na bochecha.

–Ela é um amor Anne. Muito obrigada mesmo. -Minha mãe me chamou num canto mas antes dela poder me entregar a sacola de roupas, Noah apareceu atrás de mim e me puxou pelo braço.

–Mãe, vou tomar uma água. -Disse tentando disfarçar e me soltei dele.

–Tudo bem querida. -Fui em direção a qualquer lugar longe deles para poder conversar com Noah.

–O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? -Noah perguntou num tom alterado.

–O que? Porque é que você está gritando comigo? -Noah se encostou na parede.

–VOCÊ VAI FICAR CUIDANDO DO BRANDON? -Quando ouvi isso dele, entendi tudo.

–Noah, ele é meu amigo. -Tentei não brigar, mas não era isso que Noah queria...

–EU SÓ QUERIA VIAJAR ! -Comecei a rir.

–E você acha que vou deixar de viajar com você porque vou passar dois dias cuidando do meu único amigo? -Respondi sendo fria como ele estava sendo comigo.

–ELE SEMPRE ESTRAGA TUDO ! -Fiquei espantada com aquilo e então percebi que estávamos perto da capela do hospital.

–Sai daqui. -Disse para Noah, me virei e segui andando.

–PORQUE VOCÊ NUNCA FICA COMIGO? -Me virei com raiva e tive vontade de dar um tapa em Noah, mas invés disso, derrapei no chão e caí. -Le?

–ME DEIXA EM PAZ NOAH, VAI CUIDAR DA SUA FAMÍLIA PORQUE QUANDO VOCÊ TAVA LÁ EU ESTAVA AQUI ATRÁS DE ACHAR UM JEITO DE ACHAR VOCÊ PORQUE, CARA EU AMO VOCÊ MAS, PORQUE VOCÊ NÃO PODE ME DEIXAR FAZER UMA COISA SEM RECLAMAR? -Percebi que eu gritava, sorte que não havia ninguém na capela.

–Lexie.. -Ví que ele tentava se aproximar para me ajudar a levantar.

–SAIA DAQUI ! VOCÊ NÃO ME ENTENDE, VOCÊ NÃO CONFIA EM MIM, SAI DAQUI ! -Percebi que isso o tinha magoado somente quando ele saiu correndo em direção ao estacionamento. Me encostei num dos bancos da pequena capela e fechei os olhos, esperando que o turbilhão de emoções e raiva passasse, e que as lágrimas tomassem conta de tudo.

☽ ☾● ◯

–Onde está a Alexia? -Rosie perguntava a sua tia que já estava ficando preocupada, quando o telefone de Rosie tocou, ela correu para um corredor vazio e o atendeu mesmo sem reconhecer o número.

–Alô? -Perguntou e uma voz que ela conhecia respondeu:

–Oi gatinha. -Evan disse tentando não rir do outro lado da linha.

–E-Evan? O que houve? -Rosie sorriu.

–Nada gata, só quero meu carro. -O sorriso de Rosie se fechou completamente.

–Vai se ferrar ! -Ele riu.

–Querida, preciso do carro para dar uns rolés com minha nova panicat. -Rosie estava boquiaberta.

–Cala boca, você não vai ter o carro.ouviu? -O garoto ria estranhamente do outro lado da linha.

–Ou você me entrega por bem, ou eu e minha nova namorada vamos pegar. Cara , ela é muito mais gostosa que você e ela faz o que quero. -Rosie desligou na cara dele antes que pudesse continuar a ouvir.

–Idiota, idiota... -Rosie resmungava ao se sentar num banco e colocando as mãos no rosto como se este gesto fosse amenizar sua dor.

☽ ☾● ◯

Já haviam se passado quase uma hora, e eu ainda estava alí, parada, olhando para o nada a espera que alguém me salvasse do pesadelo.

–Le? -Ouvi a voz de Noah se aproximando mas não me virei, não mostrei nenhuma reação a aquilo, provavelmente ele voltou para brigar novamente comigo não é mesmo..

–O que eu fiz agora? -Perguntei e vi que ele se sentou no meu lado.

–Desculpa. -Não disse nada, eu não queria dizer nada, eu ainda estava com raiva. -Eu só não quero te perder para ele.

–Hm. -Disse ainda o ignorando, francamente o que ele achava que Brandon iria fazer comigo.

–Queria te mostrar o mundo, e fazer você feliz mas não sou capaz. -Suspirei mas ele não se deu por vencido. -Me perdoa?

–Não é tão fácil. -Eu não queria olhar para ele, pois sabia que me deixaria ser levada por qualquer coisa se olhasse em seus olhos.

–Sei que errei, eu não gosto da proximidade de vocês. -Noah assumiu e eu ri. -Não posso prometer que não vou nunca mais ter ciúme mas, eu tento.

–Isso magoou. -Assumi e ele colocou uma das mãos no rosto.

–Por que eu não sei me segurar, meu Deus... -Olhei para ele que estava encolhido mais do que eu no chão. Eu percebi naquele dia que ele era explosivo mas, pior do que ver ele brigando descontrolado, era ver ele arrependido como naquele momento, o cabelo dele estava todo bagunçado e sua roupa amassada, parecia ter saído de um buraco. Não queria nem imaginar o que ele havia feito para que a raiva fosse embora de si.

–Vem cá... -Puxei uma das mãos dele do rosto, ele não sorriu a me ver, não disse nada, somente me abraçou.

–Sou péssimo em viver. -Soltei ele e ri.

–Que coisa boba Noah. -Ele não tinha olhado para mim ainda. -Ei, o que houve?

–Não quero que você fique no hospital com ele. -Me segurei pra não começar uma nova discussão.

–Ok, vou falar para a mãe do Brandon que não vou ficar. -Dessa vez, Noah me encarou.

–Não, você vai ficar com ele. -Não entendi e fiz uma careta, mas Noah sorriu. -Vou ficar contigo.

–Ah Noah... -Quando ia me aproximando dele, o celular tocou.

–Mãe? -Noah disse ao atender, me levantei e tentei me distanciar, mas Noah segurou meu pulso. -O que houve? Ok, em três horas estou aí. -Estranhei o que Noah disse então ele se levantou de qualquer jeito e me olhou.

–Sua mãe? O que ela queria? -Perguntei vendo a expressão dele.

–A Zoe.. Ela sofreu um acidente. -Mesmo depois de tudo, Zoe ainda era irmã de Noah então, entendi a sua preocupação. -Meu pai precisa de mim...

–Tudo bem, você vai hoje? -Perguntei tentando não parecer tão desanimada com a ideia de ficar longe de Noah novamente.

–Vou agora se possível. -Noah pareceu não gostar muito também da ideia então eu ri.

–AI ELA SÓ ATRAPALHA TUDO ! -Disse fazendo ele rir também e me abraçar, até que olhei de um lado uma senhorinha, sentada no último banco da capela, ela sorria para nós. -Vamos embora. -Disse me sentindo corar.

☽ ☾● ◯

–Mãe, fica com o Brandon até as 10 horas hoje? Por favor eu preciso fazer uma coisa. -Disse me aproximando da minha mãe.

–ALEXIA, ONDE VOCÊ ESTAVA? -Minha mãe, sempre preocupada...

–Mãe, fica com o Brandon ok? -Disse já dando meia volta e saindo da recepção.

–Ela sempre é assim? -A recepcionista perguntou rindo para minha mãe, peguei na mão de Noah e saí em direção ao estacionamento para pegar o carro.

–Mas e elas? -Perguntei para Noah me referindo a volta de carro para casa de Rosie, minha mãe e a de Brandon.

–Elas vão com o John. -Entrei no carro e Noah deu a partida.

–Onde vamos? -Perguntei vendo que ele não seguia o caminho da minha casa.

–Somente passar numas lojas para eu trocar de roupa e ir para o aeroporto.. Ops. -Noah bateu a mão no volante.

–O que foi? -Ele olhou para a frente e respondeu:

–Não tem como você voltar do aeroporto até aqui a pé ! -Eu ri.

–A Rosie me busca, vamos? -Ele olhou para mim como se não entendesse o porque que eu fazia tanto por ele.

–Vamos. -Ele estacionou o carro numa loja e entrou na mesma, fiquei no carro vendo somente a silhueta dele procurando uma camisa nova.

☽ ☾● ◯

–Você vai ficar bem? -Noah me perguntou enquanto os números do embarque para o Tenessee iam sendo ditos, logo seria o seu...

–Vou sim, liga quando puder? -Noah assentiu e me beijou, como se fosse naquele dia no chuveiro, o tempo parou.

–Eu te amo. -Disse quando ele soltou minha mão.

–Eu também. -E seguiu até o embarque, indo em uma linha reta num corredor estreito, fiquei olhando ele pela janela de vidro, percebi que ele olhou para trás umas três vezes e eu sorri, esperando que ele pudesse me ver enquanto subia os degraus em direção ao interior do avião, quando ele sumiu dentro do mesmo, tirei meu telefone do bolso e fui até a foto de Rosie. -Ro? Me busca aqui no aeroporto. Rápido?