Melancolia escrita por White777


Capítulo 7
O Acampamento




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"Ninguém precisa saber como eu me sinto
Ninguém precisa entender
Pois eles não podem ter um espaço em nós
Isto não é um tipo qualquer de amor
Eu sei quando algo é sagrado demais pra ser tocado" I'm here, 78Violet

— Tenho uma surpresa para vocês — Kall falou animadamente, enquanto abria a porta de sua casa, e permitia que as cinco garotas entrassem, já eram quase oito horas da noite, e como previsto por Alice, Sara chegou atrasada. As garotas entraram e então se depararam com a garota, baixa, magra, com o cabelo loiro, um pouco mais escuro que o de Min, e com os olhos negros e profundos:

—Julia! — as garotas disseram em uníssono e se dirigiram até ela e a abraçaram, Julia estudava com elas, porém, teve que ir embora a um ano atrás quando seus pais decidiram se mudar.

—Você voltou? — Isa perguntou e recebeu um aceno de Julia como resposta

—Sim, e dessa vez para ficar — ela disse sorrindo — Eu senti tanta saudade de vocês — ela confessou abraçando as garotas novamente.

—Você vai acampar com a gente, não é?! — Min perguntou sorrindo e Julia confirmou

—Acho que é uma ótima oportunidade para colocarmos a conversa em dia — ela falou sorrindo e logo as sete garotas estavam indo em direção à mata onde iriam acampar.

Elas finalmente chegaram ao local, tratava-se de uma clareira que se encontrava no final da trilha que levava direto à estrada principal, eram cerca de 8 horas da noite e o céu estava coberto por estrelas que não podiam ser vistas da cidade, Isa, que era apaixonada por fotografia, tirava diversas fotos do local, Alice estava em um canto afastado, aparentemente meditando, Kall, Sara e Julia conversavam animadamente sobre como havia sido a vida de Julia na outra cidade, Debby somente ria da tentativa falha de Min em fazer uma fogueira com duas pedras.

—Eu posso falar com você? — Sara perguntou para Alice, que abriu os olhos e encarou a garota ao seu lado, balançando a cabeça em forma de concordância.

—Ok — Sara disse mais para si mesma do que para Alice, ela sentou-se ao lado de Alice — Antes eu quero que você prometa que não vai tocar no assunto da invocação — Sara pediu e Alice bufou, já imaginando que o tal assunto tinha a ver com a invocação, porém, decidiu concordar.

—Tudo bem — ela falou e então Sara se pôs a falar

—Eu tive um sonho estranho essa noite...

Sara contou tudo o que se lembrava do sonho, até seus mínimos detalhes, Alice ouvia tudo atentamente procurando entender aquela situação.

—... E então eu acordei com vocês me chamando — Sara disse e encarou Alice, como se implorasse para ela não dizer que aquilo era um dos efeitos daquele ritual.

—Talvez seja alguma lembrança de uma vida passada ou algo assim, já que você disse que parecia estar em uma época antiga — Alice sugeriu e Sara negou

—Eu tenho certeza que não foi isso, aquela garota não era eu, ela era muito diferente, eu tenho certeza de que se fosse eu em uma vida passada eu saberia — Sara falava tudo muito rápido, mexendo suas mãos em uma maneira de tentar fazer Alice entender o que ela sentia.

—Tudo bem, então isso pode ter a ver com a história da casa que havia no terreno da escola antigamente.

— Você está se referindo a aquela história da família que foi morta? — Sara perguntou e Alice afirmou

—Sim, talvez você tenha ficado com essa história na sua cabeça e à noite seu cérebro só criou uma teoria para o que aconteceu — Ela explicou

—Talvez seja isso mesmo — Sara decidiu parar por ali mesmo, as ideias sobre ela estar sendo perseguida por espíritos das pessoas mortas naquela casa, começavam a rondar sua mente e ela não queria ir em frente com aquele assunto.

—Se os sonhos continuarem acontecendo ou se acontecer mais alguma coisa, pode me contar, se não acontecer nada talvez seja só um sonho normal, mas se eles insistirem, a gente pode descobrir mais sobre isso. — Alice disse sorrindo e Sara forçou um sorriso também, muita coisa estava acontecendo, mas por enquanto era melhor nenhuma delas saber.

—Allie, você mantém isso em segredo? Tenho medo que as meninas achem que eu estou maluca — Ela pediu e Alice sorriu novamente concordando.

—É claro Sara, mas, por favor, pare de me esconder as coisas, eu não vou te julgar, e eu sei que tem algo errado com você, quando estiver pronta me conte, eu posso te ajudar — Sara balançou a cabeça positivamente e então saiu dali, odiava aquele “sexto sentido” de Alice.

*******

—...E então a Allie ficou maluca e paranoica e começou a gritar com todo mundo dizendo que a Sara estava possuída — Elas estavam em volta da fogueira, Kall contava para Julia, o dia em que a invocação foi feita, porém colocando uma dose de humor e aumentando a história

—Pode parar por aí, não foi isso o que aconteceu — Alice se defendeu e fingiu estar brava — Exceto a parte da Sara, ela ‘tava tão bizarra que realmente parecia estar possuída — Alice disse e as garotas riram, porém, novamente Sara parecia estar em outro lugar, perdida em pensamentos.

—Sara, você ouviu o que a Alice disse? Se fosse comigo eu não deixava — Min brincou e Sara levantou dali

— Talvez ela tenha razão — Sara foi em direção à sua barraca, ela parecia estar brava.

—O que aconteceu com ela? — Julia perguntou preocupada

—Ela anda esquisita ultimamente — Debby respondeu

—Será que foi algo que nós fizemos? — Min perguntou — É realmente difícil ela ficar brava e agora... Olha como ela está

—Allie, ela comentou alguma coisa com você? Eu vi vocês duas conversando, ela te contou alguma coisa? — Isa perguntou

—Não, nada demais, ela só está assustada por conta do que aconteceu aquele dia no banheiro da tua casa — Allie mentiu, porém, as meninas acreditaram.

—Deveríamos fazer alguma coisa para melhorar o humor dela — Julia sugeriu e as meninas concordaram, exceto Alice

—Tudo o que podemos fazer é deixar de lado essa conversa sobre aquele dia, não tocarmos no assunto, talvez isso faça a Sara melhorar — Ela disse e as meninas concordaram.

—Eu vou ir dormir — Alice se pronunciou, levantando e em seguida todas fizeram o mesmo, indo para suas respectivas barracas.

YasMin deitou e ficou encarando o nada, ela estava sem sono, porém, só havia ido para sua barraca porque senão ficaria sozinha lá fora, a fogueira ainda estava acesa, o que permitia que o interior recebesse um pouco de iluminação, e aquilo aliviava Min, pelo menos ela não estava no breu total, ela tentava ignorar os pensamentos que começavam a encher sua cabeça, como as histórias de terror contadas por Allie e Kall, ou as experiências que Julia havia contado, aparentemente o namorado que ela teve quando estava na outra cidade, era espírita e a levava para algumas seções, o que a deixava cheia de histórias para contar, é claro que aumentara um pouco a história, o passatempo preferido daquelas garotas era amedrontar Min, e elas haviam obtido sucesso naquela noite.

A garota analisava o teto da cabana onde observava a sombra dos galhos que balançavam-se de acordo com o vento frio que se fazia, e devido a temperatura baixa que começava a se estabelecer, Min cobriu-se e abraçou a si mesma numa tentativa de aquecer-se, ela fechou os olhos, porém, abriu-os assim que ouviu o barulho de um galho sendo quebrado,

—Meninas! — ela gritou, pensando - e mentalmente torcendo - para que quem estivesse lá fora fosse uma das seis amigas, porém, ela não recebeu resposta alguma, assim como não ouviu mais nenhum som, os passos que ela pensou ouvir, haviam cessado, no entanto, isso só fez com que o medo de Min aumentasse, ela pensou em sair da barraca para verificar o que era, mas o medo não deixou que ela o fizesse, por isso, tudo o que Min fez foi cobrir a cabeça e tentar dormir, mas os barulhos voltaram, assim como o medo da garota.

Yasmin descobriu o rosto e sentou-se , olhou para os lados, na esperança de ver quem estava ali, tudo que ela sentia era medo, e isso ficava evidente tanto pelas mãos trêmulas, quando pelo olhar assustado. A garota ouviu o mesmo barulho novamente, eram passos que cada vez mais se intensificavam e se aproximavam, as mãos dela percorreram o espaço em torno de si em busca do celular que deveria estar ali em algum lugar em meio aos cobertores, ela precisava dele para iluminar a barraca, pois, a fogueira estava apagando e a escuridão pouco a pouco começava a predominar, a busca de Min parou repentinamente, quando ela viu uma sombra passar pelo lado esquerdo da barraca, ela não viu com clareza o que era, ou a quem pertencia aquela silhueta, mas torcia para que tudo fosse somente fruto de sua imaginação.

—Quem está aí? — Ela perguntou com a voz trêmula, no entanto, ninguém respondeu, Yasmin respirou aliviada, porém, voltou a prender sua respiração ao ver a mesma sombra passar pelo lado direito.

—Quem é você? — A garota gritou — Pare com isso, por favor — A voz suplicante dela foi interrompida por passos pesados ao redor da barraca, a sombra voltou a aparecer, dessa vez de uma forma constante, ela andava em círculos em torno da barraca, Min não aguentou aquilo e então fechou os olhos, rezando para que aquilo fosse somente um pesadelo, porém, os barulhos lá fora eram claros, seja lá o que estivesse ao lado de fora, caminhava de forma raivosa, Yasmin não suportou, então abriu os olhos e só havia escuridão, a fogueira havia apagado por completo e o breu tinha tomado conta da barraca. A garota vasculhou os cobertores e então encontrou seu celular, ela pensou diversas vezes antes de ligá-lo e iluminar o lugar, ela não tinha certeza se queria ver o que realmente estava acontecendo, o que era aquela coisa que estava a cercando, porém, em um impulso de coragem, ela ligou o celular e tudo o que viu foi a mesma sombra projetada à sua frente, seja lá o que fosse, estava lá, do lado de fora da barraca observando e planejando o que viria a seguir. Yasmin pensou em gritar, pedir ajuda, mas nenhuma frase conseguia ser proferida, o zíper que mantinha a entrada fechada começou a ser aberto vagarosamente pelo lado exterior, Min encolheu-se em um canto e abraçou os próprios joelhos, finalmente permitindo que as lágrimas começassem a correr por seu rosto, as mãos trêmulas da menina, começavam a transpirar cada vez mais, enquanto seu corpo congelava, o medo do que estava do outro lado crescia cada vez mais, até que a barraca foi aberta por completo.

...

Alice estava sentada sobre um tronco de árvore que estava caído ali perto, com uma caneca de café na mão e envolta em um pequeno cobertor, Isa estava ao seu lado, com a cabeça apoiada em seu ombro, ambas com fones de ouvido, somente observando a paisagem daquela manhã fria. Sara continuava conferindo se havia guardado tudo o que levara na noite anterior, ao terminar de conferir, sentou ao lado de Kall, que lia algumas mensagens no celular, logo as duas estavam conversando animadamente sobre a nova temporada do seriado que assistiam, não demorou muito para Debby sair da barraca, sendo seguida por Julia.

—E a Min? — Debby perguntou — Já são quase dez horas, ela já deveria ter acordado — Ela afirmou preocupada

—Vocês sabem como ela entra em coma quando dorme — Alice ironizou — Mas, acho que alguém deveria ir chamá-la, nós falamos para nossos pais que iríamos almoçar em casa

—Você tem razão, vou ir chamar ela — Debby disse, indo em direção à barraca de Min, minutos depois ela voltou, sua expressão preocupou as outras garotas, era um misto de preocupação, horror e surpresa

—Debby, o que aconteceu? — Julia perguntou preocupada

—Debby? — Kall chamou

—Débora! — Sara gritou, impaciente e após respirar fundo Debby respondeu:

— A Min... ela... ela não está na barraca — A garota explicou e então sentou no chão, ela estava ficando cada vez mais pálida.

O que aconteceu a seguir foi muito rápido, as garotas ligaram para o celular de Min, porém, o mesmo tocou dentro da barraca em que garota estava na noite passada, elas ligaram para os pais da garota, perguntando se ela estava em casa, no entanto, eles negaram, elas ligaram para os outros amigos dela, os parentes, porém, ninguém sabia o que havia acontecido com Min, e foi aí que o desespero se estabeleceu. A polícia, os depoimentos, as hipóteses, aquilo tudo parecia tão surreal, elas só queriam que aquilo fosse um pesadelo, ou que se tratasse de uma brincadeira de Yasmin. A chuva começou a cair sobre os diversos carros da polícia, imprensa, sobre os amigos, familiares e curiosos que já haviam chegado à clareira, as seis garotas se abraçaram e permaneceram ali, sentindo a chuva cair sobre suas peles frias, elas queriam que a chuva lavasse suas almas, levasse embora a dor, ou que simplesmente desaparecesse com aquela realidade. Todas inconscientemente sabiam que aquele era o primeiro passo do que mudaria suas vidas para sempre.


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