Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 79
Reencontro


Notas iniciais do capítulo

oiii, querid@sssss! novamente demorei mais um tico pra postar porque agora pra ajudar a tia aqui está concursada e estudando em duas faculdades então tá f0da kkkkkkkkkkkkkkk mas é isso

obrigada pelos que estão aqui, mais um capítulo, acompanhando :)
beijinhos e boa leitura !!



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[-x-] 

Na sala de transmissão onde Shermansky observava a tudo e a todos por meio das dezenas de monitores, a tela que fazia o canal de comunicação com Elsie tinha sido subitamente desligada com o tiro no keypass, impossibilitando qualquer outro contato.  

— Mas que garota mal-educada — disse Peggy, suspirando e cruzando os braços. Elevou o olhar para sua tia, esperando alguma reação. 

Observou Shermansky de costas: estava imóvel. Ficou assim por alguns segundos, inerte, até de repente cair num riso histérico. Gargalhava alto e remexia-se tortamente em sua cadeira almofadada em puro êxtase. Peggy franziu as sobrancelhas com incômodo:

— Não vai fazer nada sobre isso? 

Shermansky se virou para trás em sua cadeira, tirando os óculos e limpando os olhos cheios de lágrimas de riso: 

— Confesso que estou levemente decepcionada — disse risonha, sorrindo, recolocando os óculos na face — Mas acho que foi o suficiente pra sacudir a mente da minha pequena Cotton. Basta agora ver como as coisas vão se desenrolar.  

— Nossos espectadores tinham apostas altas nela. Não acha que isso vai deixar eles um pouco descontentes?  

— Não é assim que funciona — disse Jade, que estava sentado sobre a poltrona ao seu lado, em tom sério —  Você não simplesmente entrega o que os espectadores querem. Uma quebra de expectativa é importante pra manter a audiência. Alguém que cuidava do jornal da escola deveria saber disso mais que ninguém.  

Peggy olhou-o assustada, como se tivesse tido sua capacidade contestada. Jade apenas se ergueu do sofá e fitou a diretora friamente:

— Eleonora Shermansky, você me prometeu. Prometeu que eu poderia ter a minha vingança no momento certo. 

Shermansky rotacionou sua cadeira para o lado oposto do cômodo, onde estava o seu pequeno cãozinho acovardado, recolhido sobre seu assento:

— O que acha disso, Faraize? 

Faraize sentiu suas pernas tremerem. A diretora não costumava colocar decisões daquela relevância nas suas mãos. Ele mesmo sabia que tinha parado ali não exatamente por uma vontade sua, mas porque de repente se viu amordaçado no meio daquela sujeira e não tinha para onde correr, continuando apenas a seguir o que lhe era dito. 

Era muito mais fácil, não? Se abster e esperar que a culpa não recaísse sobre seus ombros. Sim. Foi assim durante toda a sua vida. Foi assim depois que Agatha desapareceu no final do Ensino Médio. E agora tinha sido Jackelino. Jackelino foi morto. Aquele que considerava um irmão no passado. Morto pela sua omissão; pela sua covardia. 

Faraize estava cansado, exausto. Sentia medo. A diretora detinha um poder incontestável. Tinha criado todo aquele jogo e a sua rede, tinha dinheiro… 

Mas Faraize ainda tinha uma vantagem. O status de “o criador do keypass” e de tantas outras tecnologias implementadas no campus o tornava um grande conhecedor, tanto quanto Shermansky, daquele internato. E agora, para sua surpresa, Shermansky parecia disposta a repartir um pouco do seu poder de decisão com ele.    

— Hein? — repetiu Shermansky —  O que acha, Faraize? 

Faraize piscou bruscamente, retornando à realidade. 

Essa era sua última chance. 

Pigarrou e ajeitou a postura. Uma seriedade sólida se fez em sua voz e olhos:

Acho que…     

 

   

 

[Armin] 

Talvez fosse pelo cansaço que o corpo já não conseguia mais suportar, pela fome que já voltava a doer no estômago, o estresse emocional que Elsie tinha sido exposta há poucas horas atrás e o esforço mental que eu também tive que desprender pra conseguir contornar a situação... Tudo conspirava pra que minha mente desse voltas e voltas procurando uma solução. 

O fato de estarmos praticamente na ratoeira de Shermansky, naqueles porões de Sweet Amoris, prontos para morrer, só dava mais urgência e me fazia roer as unhas já em carne viva enquanto coçava a têmpora, como se os gestos conseguissem me manter acordado à realidade e atento à minha tarefa de encontrar uma saída. 

Uma saída, uma única saída… Era o que eu pensava enquanto alternava a visão entre as paredes, o chão, o teto e as arestas daquele confim escuro e úmido. Rodeava o lugar com os olhos. O teto… o teto? E roía mais unha (já estava quase mordiscando o sabugo). As paredes? Não tinha sequer um buraco naquele concreto grotesco e mal acabado. E se abríssemos um buraco no chão? Mas já não estávamos nos submundos de Sweet Amoris? Era impossível ir mais pra baixo. A porta… Bom. Se arrombássemos a porta, seria um desastre. Tínhamos ainda uma pistola com quatro balas, mas -- a não ser que tivéssemos a pontaria de um Revolver Ocelot —- ela seria inútil contra Castiel e os capangas da velha que provavelmente estavam do lado de fora, só nos esperando escapar por ali pra nos pegarem e nos amassarem que nem vermes. Roía mais unha -- sentia o gosto de sangue na boca, agora.  

Continuei a minha inspeção visual no centro da sala, pensando (e tentando não parar de pensar), enquanto Elsie tateava as paredes mantendo o ouvido apoiado sobre elas na tentativa de identificar alguma ventilação pelo qual pudéssemos ter acesso. Por um momento desviei da minha tarefa para observá-la: Tentava não pensar muito naquele detalhe pra que isso não me fizesse entrar em pânico, mas era impossível olhar para Elsie -- mais especificamente, para o seu pulso -- e não suar frio com a contagem do seu cronômetro exibindo quarenta e nove horas.  

Foi quando Elsie deu um suspiro de espanto e eu recobrei minha atenção da realidade. 

Talvez pudesse até ser um pouco óbvio para alguém que está pensando sob condições normais (o que estava longe de ser o nosso caso naquele momento), mas, aqueles confins subterrâneos de Sweet Amoris, além de terem lá seus mais de quarenta anos, aparentemente nunca tinham passado por qualquer tipo de reforma. Junto a isso, a umidade natural daquele lugar debaixo da terra era um fator decisivo para o que Elsie tinha acabado de criar enquanto inspecionava as paredes e dava pequenos golpes nela… Um buraco

Um buraco próximo ao chão, parecido com uma toca de coruja, de uns dez centímetros de diâmetro. Aquela massa antiga e podre se desprendeu com uma facilidade assustadora, se esfarelando que nem areia e mostrando agora para nós, finalmente, uma luz no fim do túnel. 

Bem… quase literalmente… Afinal, uma luz de fato existia ali, do lado de fora; o que nos deixou bastante intrigados…

Enfiei minha cabeça no buraco para verificar o outro lado da parede. A iluminação era fraca, um pouco alaranjada. Uma porcaria. Mas ainda dava pra ver alguma coisa do outro lado. E, como explicar… aquilo? Um pequeno cômodo, pequeno mesmo. Totalmente ilógico. Devia ter uns dois metros quadrados, o suficiente para caber três adultos magros… Tinha uma porta; uma única porta azul com uma placa verde contendo a imagem de uma escada e uma seta branca apontando para cima. Era um espaço completamente inútil e disfuncional. Talvez em algum momento da vida útil de Sweet Amoris tivesse servido pra algum propósito que fizesse sentido.  

De toda forma, aquela placa significava -- isto é, se não estávamos sendo vítimas de mais uma pegadinha de Shermansky -- que aquela porta era uma porta de subida. O que significava algo ainda maior: tínhamos encontrado a nossa saída. 

Claro, não nos libertaria ainda dos muros de Sweet Amoris, mas seria a nossa escapatória daquela ratoeira patética que tínhamos ido parar; daquele inferno subterrâneo que mais parecia um encanamento mal feito e podre da cozinha de uma velha solteirona que esqueceu de chamar o detetizador pra dar um jeito nas baratas que saíam pelo ralo… E se não ficou claro… Elsie e eu éramos as baratas! Sim! Estávamos prestes a vazar daquela merda de uma vez por todas! Shermansky errou em não nos matar quando teve sua chance. Agora as baratas estavam prestes a sair aos montes pelo ralo da pia da cozinha e fazer a sua revolta. Ela que tivesse contratado um detetizador… 

Dei pontapés ao redor do rombo que Elsie tinha criado, esfarelando mais da parede podre e ampliando o buraco. Agora havia espaço suficiente para passarmos para o outro lado se nos arrastássemos no chão feito lesmas. 

E foi o que fizemos, um de cada vez. Estava louco para voltar para a superfície. Não sabia o que nos aguardava -- e sequer tinha refletido muito sobre isso -- mas só a ideia de sair das garras da velha já me fazia até respirar melhor tamanho alívio que sentia.

Nossa fuga se deu sem grandes rodeios -- saímos da sala escura para a pequena área ilógica num raio. 

Abri a porta de subida. Degraus se estendiam acima de nós como as escadas para o Paraíso. A fileira de luzes brancas no teto chegava a ofuscar. Fui na frente. Corremos disparado. Já no topo, a escadaria reta se quebrava para o lado continuamente, feito uma espiral. Constatamos: oficialmente estávamos nas escadas-caracóis da saída de emergência. A agitação e a adrenalina tomavam conta de nós. Corríamos os lances sem nem olhar por cima dos ombros, deixando a escuridão e o ar de morte para trás; corríamos como se fugíssemos dos nossos piores pesadelos de infância.

Minha respiração tremia. Conseguia ouvir meu peito batendo violentamente dentro de mim. Escutei também… a chuva. O som da chuva vinha do lado externo às paredes de onde estávamos. O que só podia significar uma coisa: tínhamos chegado à superfície. 

Não podíamos perder um segundo sequer. Uma única vacilada era decisiva. Por isso corríamos desesperados, em pânico, aflitos e esperançosos. Sim, o que não nos faltava -- e não podia faltar -- era a esperança. Sem ela não teríamos forças nem para abrir os olhos naquelas condições. Era muito mais fácil se entregar à morte naquele lugar. Mas éramos baratas birrentas… Decidiram nos matar, nos esmagar… e nós decidimos não morrer. 

Subíamos a infinita espiral de degraus, prestes a chegar ao terraço naquele ritmo frenético quando, antes de virarmos uma quebra da escada, cessei meus passos bruscamente e estendi o braço para interromper Elsie. Fiz sinal de silêncio com o indicador em frente a boca. Ouvi vozes e murmúrios além de nós.  

Não me pareciam muito nítidas a princípio, embora familiares. 

A chuva parece que tá parando… 

Uma das vozes de repente me pareceu clara e familiar o suficiente. Não consegui controlar o impulso. Me esquivei do nosso esconderijo.

Era ele. Definitivamente era ele!

Kentin! — gritou Elsie às minhas costas, eufórica, antes que eu pudesse fazer o mesmo.

Kentin se virou para nós dois num susto. Demorou pra reagir, mas quando pareceu ciente de que éramos reais, abriu um sorriso de ponta a ponta: 

— Elsie! Armin! 

Corremos os três de encontro um do outro. Aquele momento parecia até um delírio, como aquelas miragens de fonte de água no meio do deserto, sabe? O abraço que selamos ali, nós três, renovava todas as minhas energias.  

Tentei não fazer um papelão, mas foi inevitável. Não existia masculinidade que segurasse o olho marejado e o sorriso de ponta a ponta naquele instante. Era muita felicidade e alívio de uma vez só… Kentin também nos segurava firme pelos ombros e alternava o olhar entre eu e Elsie, com a mesma emoção. Talvez eu tenha deixado escapar umas duas lágrimas. Talvez…   


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Notas finais do capítulo

finalmente o reencontro e agora essa tchurminha vai aumentar !!



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