Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 37
Convite :: 11:20


Notas iniciais do capítulo

Oláaaa pessoinhas!
Tudo bem?
Fiquei mais velha ontem(21/02). Na verdade, é bem engraçado de imaginar que comecei escrevendo isso com 14 anos e agora tô beirando a idade dos personagens ~que?~
Postar esse capítulo é meu auto-presente. Ele já tá uns tempos pegando poeira no meu drive, mas senti que era hora de postá-lo.

Boa leitura!



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[Elsie] 

“Não consigo prestar atenção, não dá!”, pensei, bufando, analisando Faraize e sua aula.

Faraize era uma pessoa de grande coração, de verdade. Mas talvez fosse sua gagueira momentânea, ou talvez seus métodos de leitura massante - eles tornavam suas aulas insuportavelmente chatas!

Seria um momento perfeito pra dar um cutucão no ombro de Armin e questionar sobre algum tema aleatório. No entanto, meus nervos se contraíram em inquietação ao fitar sua carteira frente a minha, vazia.

Kentin sentava duas à frente. Seu dorso largo, contudo, foi o único panorama presente durante os tortuosos cinquenta minutos de explicação sobre Guerra Fria.

No tédio, minha visão peregrinou por cada canto da sala. Melody, Kim, Violette... me dava aflição a quantidade de cadeiras solitárias as quais pareciam se multiplicar ao decorrer do ano letivo.

Fitei uma cuja memória captava uma breve lembrança, como se ali antes estivesse  inserido um corpo, a qual misteriosamente não ocupava mais lá.

Quem seria?

Lysandre? Jade? Não. O albino sentava próximo à porta. Jade não pertencia à sala.

Então de quem seria aquele lugar? Rente à janela, próximo ao famigerado fundo.

Bati no coco, parecia impossível de se lembrar. Pensei, repensei. Fiz uma listagem mental dos alunos.

Até que houve o Insight: o lourinho de suéter roxo, Burniel. Como pude me esquecer dele?

Fazia um bom tempo que Burniel não brotava para se enturmar nas conversas da panelinha entre os rapazes e eu. A última vez em que nos falamos foi durante a hospedaria.

Lembro que Nathaniel parecia realmente preocupado em deixá-lo sozinho durante as férias de Natal. Me intriga, afinal, o representante não parecia depositar muita confiança em Burniel a primeiro momento. Ou talvez, ele só tenha mudado de ideia; se afeiçoado com o tempo. É possível. Afinal, mesmo que a princípio Burniel tenha agido de forma irracional ao cooperar com os delinquentes da trupe de Castiel, depois de acertarmos nossos perdões, também passei a tê-lo com grande consideração.

E até que me faz falta sua companhia, quando penso.

Será que… algo aconteceu com ele?

— S-senhorita Elsie?

Com o susto, abruptamente dei uma remexida de cabeça meio bruta e sinistra. Lerdamente recobrei a consciência para a aula: Grande parte da sala agora olhava para mim por cima de seus ombros, enquanto Faraize, estagnado frente a lousa, encarava-me em espanto.

— Oi? - escancarei um sorriso torto, meio sem graça.

— A senhorita está bem? - e redirecionou a linha de visão para minha mesa.

Confusa, acompanhei o alvo, sobressaltando-me ao fitar o caderno lotado em rabiscos pesados de grafite. Talvez aqueles pensamentos tivessem me desencadeado uma crise de ansiedade?  

Depois da rápida intervenção, Faraize prosseguiu com a matéria naturalmente, sendo, perante a graça de algum ser divino, abafado pelo tilintar da campainha de intervalo. Todos estavam esgotados com o desgaste da aula; saíram molengas e bufantes para o corredor principal.

Pra variar, perdurei mais alguns poucos segundos para recolher todo o material, e vi Kentin se levantar, sem cumprimentos, apressado, prestes a sair. Apertei o passo em sua direção, com os caderno envolta um dos braços, tendo tempo suficiente para impedi-lo de prosseguir assim que ultrapassamos o aro da porta:

— Kentin! - apertei-lhe um dos ombros por trás.

O garoto do leito sete olhou por cima da própria espalda, pálido e alarmado:

— O-oi, Elsie. - e deu um sorriso, voltando-se de frente para mim.

— É que.. - desviei o olhar timidamente, mansamente retornando a mão posta em seu ombro e pondo-a para alisar o cotovelo oposto. - Você vai lá almoçar comigo? Hoje tem moqueca com curry. Imagina só... Beem apimentado. - lambi os beiços teatralmente só de imaginar.

Kentin, por sua vez, apenas sorriu frouxo:

— Desculpa, Elsie... Talvez eu só vá pra sobremesa. Tenho treino de musculação agora.

Aquilo fez meu peito afundar até o estômago. Primeiro Armin e sua ausência, essas perguntas indecifráveis consumindo toda minha energia, e agora, Kentin parecendo me ignorar. Foda-se a comida apimentada, tinha perdido a fome.

— Aah… Tá bom… - bailou-me um sorriso na cara. Daqueles trêmulos, de quando você se sente prestes a chorar por algo entalado na garganta.

— Não desanima não. - sua expressão pareceu ganhar mais autenticidade. - Armin logo logo fica melhor. E quanto às suas memórias, nós vamos dar um jeito nisso. - e deu-me dois cascudinhos de leve na testa.

Pude me sentir um pouquinho melhor com aquilo. Mas não eliminou o fato de que o mundo parecia estar me testando ultimamente .

— Bem, - Kentin fitou o relógio do keypass. - Eu tô um pouco atrasado. Vê se não exagera na pimenta. - rira.

— Tá… - ri em resposta, ainda um pouco desanimada.

O rapazinho que há pouco menos de seis anos não podia sair de seu leito, deu uma corridinha esportiva para acelerar os passos para longe - voou para alguma ramificação do colégio. E assim, como cada um já havia tomado seus rumos distintos, decidi tomar o meu também.

— Elsie Cottooon!

Já indo na direção do pátio, voltei-me rapidamente para trás, donde vinha o chamado. De onde Kentin partira, agora vinha Jennifer Knight, ou Jennifer, ou…Jay, minha ausente companheira de quarto.

Chegou com seu característico sorriso branco, cheio de personalidade e simpatia. Completamente incompreensível tamanha energia após uma aula do Faraize.

— Ah, olá, Jay. - dobrei os lábios num riso amarelado, profundamente insegura em como prosseguir com o diálogo.

— E aííí? Mal te vi chegando no dormitório esses dias. Acho que tenho ido dormir muito cedo.

Jennifer Knight, no entanto, parecia ágil com suas palavras:

— Bom.. vejo que Armin não veio pra aula. Você me parece sozinha.

Também era absurdamente sincera.

Sozinha? - soltei uma breve baforada sarcástica, sentindo o orgulho ferido pulsar. - Às vezes é preciso aproveitar um pouco da própria companhia, não?

— Até posso concordar com você, Cotton. - balançou a cabeça com um riso divertido. - Mas também não faz mal querer escapar um pouco desse ar azedo do colégio pra sair com alguém.    

E exibira dois tickets amarelos entre os dedos da mão.

— O que é isso...?

— São vale-descontos de uma lanchonete daqui perto. - respondera. - Você vem comigo? Não tava muito afim de ir sozinha.

Tive um breve estranhamento, sentindo-me até que… honrada. Aquela era a primeira vez em dezessete anos que me chamavam para comer junto fora.

Meu estômago grunhiu silenciosamente com a ideia, mas me contive:

— A-ah.. Por que não chama outra pessoa? Alguém como o Burniel, por exemplo. - soltei o primeiro nome que me veio à mente. - V-vocês até que se dão bem.

— Burniel? Eu raramente me deparo com aquele baixinho. Além do que, eu gostaria que você fosse comigo. Você sabe... Fico triste de pensar que estamos na mesma suíte e nunca jogamos uma conversa fora.

Toda aquele papo tava me inflando o ego - ego a qual minutos antes tinha sido pisoteado com a fuga de Kentin.

E se Jennifer Knight fosse como eu? Se ela fosse um killer, nas palavras certas.

Fosse ou não, não haveria como agir numa situação como aquela. Mortes eram apenas contabilizadas caso executadas dentro dos limites de terra da instituição e atendessem a requisitos gerais. Também vinha trazendo alguns materiais de autodefesa no moletom.

Então, para todos os efeitos, parecia uma situação agradavelmente segura.






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Notas finais do capítulo

Cês já ouviram My Chemical Romance? Sempre ouvi por influências paternas.
Esses dias encontrei uma música meio desconhecida: "The world is ugly".
Essa música me destruiu. Leitores de coração fraco, não ouçam.