Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 34
Irene Cotton


Notas iniciais do capítulo

Faleeeem, pessoal! Como vocês têm andado? C:
Demorei? Pra CARAMBA. Massss entre as justificativas de sempre(escola, bloqueios do inferno), um dos motivos que posso acrescentar é: Tia Nina está montando um RPG dessa fic!!!!! porque... eu tava com saudade de mexer com RPGMaker Q

Agora vamos recapitular um pouco os fatos do capítulo anterior:
>>> Flashback do Lys falando um pouco dos seus objetivos(em entrelinhas, claro) >> o início do evento de 30 anos do colégio, durante a noite >> Kentin solta algumas pistas a respeito de algum "plano falho" seu >> apresentação no ginásio >> Lysandre rapta Elsie para o palco, a desacorda, e a utiliza de isca para fisgar ARMIN >> Com Armin chegando Lysandre lhe conta que Elsie estava envenenada e só o daria o antídoto se ele "ganhasse" num duelo de esgrimas >> no palco, inicia-se um "falso" combate >> Geral acredita que é só brincadeira >> Kentin se infiltra nas área dos camarins e escuta Castiel discutindo com o baterista >> Lysandre finalmente arranca a lâmina das mãos de Armin...



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[Kentin]

A mão agarrada ao extintor de incêndio firmou-se ao deparar-me a fitar o corpo desbotado do baterista.

Segundos após repensar o que deveria ser feito, cheguei à conclusão de que era aquilo mesmo: correr pra cima ou morrer. Não tinha jeito. Ainda mais, dispondo da falta de conhecimento acerca das ações vindas detrás do vestiário, no palco. Provável que Armin e Lysandre afrontavam um ao outro - e logo, Castiel partiria para auxiliar seu companheiro. Precisava agir o mais rápido.

O ruivo esmigalhou o parceiro de banda com uma paulada a sangue frio, Lysandre apagou Elsie. Isso, sem avaliarmos a sequência de mortes que se estenderam desde as últimas semanas e que supostamente foram criadas por estes dois. Estávamos lidando com uma dupla de esquemas bem elaborados, e nós não passávamos de um trio impulsivo e irracional.

Estes pensamentos circundaram minha mente - como numa espiral - antes que apertasse o pomo da maçaneta - enquanto apenas nos entreolhávamos. A esfera metálica espelhando minha agonia num reflexo distorcido; Eu, de respiração densa, sobrecarregada.  

Concretizado o raciocínio, repuxei a peça numa faísca, grunhindo um palavrão sem receber resposta ao fisgá-la para trás. A porta estava trancada.  

É claro.

Castiel não seria imbecil o suficiente para deixar a abertura destravada, quando sua vítima murchava dentro da sala. Ele poderia ser desagradável e rude, mas burro não era.  

[-x-]

O espetáculo encerrara-se com o deslize trágico da esgrima entre as mãos de Armin.

As cortinas foram decompondo-se aos poucos. Armin permanecia estático; tentava manter o equilíbrio mental conforme o cortinado milimetricamente nivelava-se, pensando no intervalo que teria ainda para salvar a donzela desacordada e em como poderia agora obter o medicamento.

Os oponentes fitavam-se atentos; o suor escorria pelas têmporas e sob as vestimentas. Detrás do pano, o aglomerado de palmas e o rebuliço da saída dos espectadores era imperceptível para a audição de ambos.

— E… o que você quer que eu te entregue? - Armin ousou perguntar. - Já que eu não consegui "derrotá-lo", te ofereço o que estiver ao meu alcance em troca desse tal… “antídoto”.  

Após o gêmeo proferir seu último questionamento, a cortina escarlate repousara ao solo, junto a um folheto de mesmo tom, na qual Lysandre aguardou o momento certo para disseminá-lo - comprovando sua presença nos assassínios de Charlotte e Eduarda.

O albino arqueou os lábios em contentamento:

— Estes olhos cor de cobalto. - o heterocromático exibia uma carga sublime de insanidade em sua expressão. - Eles são... maravilhosamente idênticos aos de Clara!  

Surpreso, Armin pôde apenas recuar o passo. Se tornaria parte daquele retalho de corpos?! Sem chances. Se só o fato de imaginar tamanha crueldade envinagrava-o.

O poeta desistira de seus armamentos materiais; lançou a esgrima para o chão e preparou os punhos. Aproximava-se faminto. Armin apavorou-se ao imaginar a si mesmo - suas escleras sendo fatiadas do restante de sua face.

Armin caiu em descrença, mergulhou em transe - seu corpo entorpeceu.   

— Seria uma grande desgraça se eu acabasse com você na frente de todos. - as botas negras de Lysandre batiam duras no assoalho conforme seu caminhar. - Além de difamar meu disfarce, o sangue pelo palco arruinaria o espetáculo.

Com a plateia esvaída, o silêncio estabelecido se rompia com os batimentos violentos no peito do moreno, pesados de angústia - feito um cronômetro, alertando-o sobre os efeitos do suposto veneno ingerido por Elsie.

Armin travou o corpo no palanque. Num impasse entre o que fazer ou não, suas pernas tremiam. A realidade a qual sempre se esquivou atazanava-o mais uma vez.

Com a robustez de um soldado espartano, e dez centímetros mais alto que seu oponente, Lysandre cravou seu último passo fronte e rente a Armin, acariciando seu sadismo ao pressentir o hálito inquieto do gêmeo, próximo de si.  

— Mas.. uma performance com certeza foi a melhor alternativa para encurralar-te sem que outros gerassem palpites... - sussurrou-lhe ao ouvido. - Com tantos visitantes perambulando pelo colégio, abafando o som do ginásio, acha que irão suspeitar de algo? Talvez não… Além do que, você provavelmente não cederia da mesma forma que aquelas garotas estúpidas. - referiu-se às suas vítimas; todas raparigas de intenções amorosas - Então eu pensei…

Suas bochechas se contraíram num sorriso perverso:

“Por que não utilizar seu bem mais precioso como isca?”.

Armin não teve tempo para cogitar sobre o quão miserável e asqueroso soava tudo aquilo: de súbito, Lysandre apanhara um de seus ombros, - apertando-lhe - e formou um pequeno impulso com o punho a qual bruscamente afundara em seu estômago. Armin vergou o corpo para frente; os pulmões ambicionavam por fôlego e a pancada no abdômen fê-lo engasgar de ânsia.

Lysandre sorriu, e aproveitando da postura do outro, meteu-lhe o cotovelo na parte detrás do crânio. O gêmeo caiu, sustentou-se de bruços no chão - mal ergueu a cabeça, para fitar os coturnos prestes a chocarem-se contra seu nariz.   

Já era tarde - duas gotas carmesim polvilharam o plano abaixo de si. E ao mirá-las, antes, tão intensas, e agora, por segundos, tornando-se secas e opacas na madeira, Armin não pôde reter breves lembranças de Alexy; quem tomou o mesmo destino. A imagem de seu irmão adormecido, aos poucos, transfigurou-se para as feições de Elsie.

Armin ainda não poderia desistir ali.

Desta vez Lysandre apenas o observou com um riso interno. Quanto mais abatido, mais flexível seria de imobilizá-lo.    

Com a cabeça baixa, o moreno fungou o sangue - tinha o orgulho ferido.  Observando-o, Lysandre mentalmente debochava-lhe por encontrar-se tão consumido; até que não conteve o riso:

— Seu tempo está acabando. - provocou, dedilhando um relógio invisível no pulso. - O veneno logo se dissipará pelos neurônios da sua parceira. Ela começará a suar frio, febril. - Lysandre divertia-se com aquilo. - Engasgará de sufoco, e logo.. padecerá.  

Um vapor quente ocupou às entranhas de Armin, desamparando-o por completo. Pouco importava viver para si - a realidade lhe era um fardo e ele não daria relevância em cedê-la para alguém de maior coragem. Mas, mesmo que quisesse se sacrificar pelo bem de Elsie, Alexy ainda precisava de seu irmão. Alexy com certeza despertaria algum dia, e Armin precisava presenciar isto.

Um paradoxo fez-se no pensamento. Seu peito doía de ansiedade e a adrenalina fervia no estômago.

Armin estourou.

Para espanto do albino, o rapaz pulou para seu colarinho, agarrando e puxando o pano com força o suficiente para romper a costura:

— Me dá logo esse antídoto! - trovejou Armin. -  ME ENTREGA!

Seus olhos, afiados e cortantes, nutridos de ódio, atormentaram Lysandre - que pôde ver sua amada Clara a fitar-lhe da mesma forma naquelas íris tom de mar.

Antes que um nó de punhos e pauladas estende-se novamente, longe de Armin, de uma abertura originária da área dos camarins, saiu Castiel, migrando para o palco e locomovendo-se na direção de Elsie. O moreno, deparando-se com o ato, apressou-se em empurrar Lysandre - que teve o equilíbrio rompido -, e correu para impedir que o ruivo intrometido se tornasse mais um empecilho em sua luta.

Castiel ajeitara a adormecida em seu colo. E antes que fosse nocauteado por Armin, Lysandre impediu, aplicando um golpe na lateral do rosto do moreno e fazendo com que desmoronasse para o lado - o queixo esfolado no chão.

— Estamos apenas os quatro? - questionou firme, o albino.   

— O esquentadinho já era. - Castiel referia-se ao baterista, amostrando suas feições indócis rotineiras. - Também tranquei a porta do ginásio. Então... podemos dizer que sim.

— Ótimo. - esta palavra simbolizava o quão pouco restava para que ambos chegassem à reta final de seus objetivos.

Castiel logo abriu um sorriso, regressando pelo aro da porta para o corredor dos vestiários.  

Armin custou em entreabrir os olhos enquanto estirado no palanque - seu corpo estava exausto, completamente cedido à madeira. Sua visão duplicada fê-lo enxergar Elsie partir noutros braços. “Como poderia ser fraca o suficiente para deixar que a carregassem sem intervir? Que segurassem sua mão? Tão fraca!”, Armin e seu ódio pensavam.       

***

Durante o trajeto do gargalo, Elsie pôs-se lentamente a abrir as pálpebras; o ambiente externo parecia remexer-se. Desentrelaçando os cílios, avistou seu par de pernas dobradas, aboiadas no ar - seu corpo estava a ser carregado.    

— A-Armin… - ainda pouco adormecida, erguera a cabeça para cima, na expectativa de encontrar o proprietário dos braços que a conduziam. Tendo em resposta, uma terrível desilusão.  

— Quanto tempo.. - Castiel exibiu seu típico sorriso, atulhado de sarcasmo. - Até que esse corte não te caiu nada mal.

Elsie prendeu o ar, suas pupilas se espremeram. As mãos que um dia se atreveram a tocá-la com maldade, eram as mesmas que a carregavam naquele momento. Em nervoso, a saliva enferveceu na faringe, oscilando entre ir para fora ou reprimir para o estômago. O susto converteu-se em histeria - Elsie agitou-se no colo do rapaz junta de um brado rouco, debatendo braços e pernas.

A movimentação fora mais que suficiente para que Kentin, já dado por vencido com a testa apoiada sobre a porta do vestiário, recebesse uma descarga de realidade:

— Elsie, é você?! - ralhou para o outro lado, rente à madeira, dando-lhe golpes.

Em autodefesa, Castiel lançou a rapariga para o chão e recuou para trás:

— Ficou louca, garota?!

O corpo permaneceu arremessado por alguns segundos.

Castiel desenvolveu uma série de sugestões acerca do que deveria fazer, no entanto, antes que optasse por qualquer uma de suas ideias, Elsie sofrera um espasmo.

Aos poucos se ergueu.

Com as madeixas curtas alastradas por seu rosto, a menina aderiu a um riso farto e histérico - fora de si. Por hábito, o guitarrista riria numa situação como aquela; todavia, a moçoila a sua frente parecia agora vinculada a um demônio, exercendo um timbre bizarramente convincente em sua fala e uma expressão desequilibrada. Castiel franziu a testa.

— A quem chama de “louca”, hein, vermelhinho? - Elsie sorrira com divertimento.

Indo em direção ao rapaz, manquejava feito uma marionete abobalhada - as pernas movendo-se freneticamente.

— Como tem a cara de pau de se referir à mim desse jeito? Você, por acaso, sabe quem eu sou?!

De súbito, ela pulou para o ruivo - a palma da mão aberta e os dedos agrupados em fileira compuseram o formado de uma lâmina, na qual rumava num ponto específico da garganta do rapaz. Porém, antes que a ponta de sua unha pressionasse a derme do inimigo, o mesmo instintivamente defendeu com o antebraço. Elsie rapidamente recuou o pulso e tratou de ejetar o fêmur sobre o rosto do rapaz; que fisgou-lhe a canela.

— Você realmente não tá batendo muito bem. - debochou o rapaz. - De onde tirou toda essa força? - e riu, reunindo esforços para rotacionar o próprio corpo, num impulso para arremessá-la.

Elsie esmigalhou as costas e crânio contra a parede, latejando; mas por pouco se equilibrou, franzindo os olhos.

Castiel reavivava seu ar. Há tempos não fazia esforços físicos em situações semelhantes, o que nutriu sua perspectiva a respeito da Cotton.

Elsie retornou à meia lucidez; abrindo as pálpebras para deparar-se com o punho de Castiel partindo na direção de seu rosto. A garota impulsivamente despencou o corpo, o ruivo moeu os dedos no tijolo, urrou de dor. Frente o abdômen do rapaz, Elsie ejetou os braços e corpo para frente, finalmente empurrando-o para o chão.   

***

Lysandre caminhou sem pressa até o moreno - este com o queixo e barriga ainda colados ao palco. Armin gemeu num esforço para respirar - molenga com a queda, mantinha-se impossibilitado de exercer defesa.

— Isso… - Lysandre cerrou o punho ao redor dos pulsos de Armin, erguendo-os para trás das costas do mesmo. Apertou-lhe um dos pés contra as costas, e o outro, posto alguns passos atrás, usou de sustento para o próprio equilíbrio. - … é para você aprender a nunca mais utilizar os olhos de Clara para criar uma expressão tão vulgar!

A medida que o rapaz discursava, trazia os membros de Armin para trás, beirando os limites articuláveis de um ser humano.   

Não demorou muito para que um estalo fizesse sobre os ossos de Armin. Sua expressão contorceu-se em horror e dor, a garganta penicou de agonia. Seus ombros.. escorregadios feito um sabão numa superfície lisa.

Lysandre estava empolgado. Ele abruptamente largou o rapaz para o chão e virou o corpo para cima. Os tendões de Armin latejavam; cada movimento lhe provocava um choque pulsante; o fazia urrar de aflição e franzir a testa em desespero - o que o impedia de defender a si próprio.

Com o propósito de imobilizá-lo por completo, Lysandre assentou-se sobre o abdômen do gêmeo. Fixou o olhar nas íris azuladas - estas clamando por misericórdia com suas pupilas miúdas -, e sorriu brandamente, de forma que ocultasse quaisquer um de seus pensamentos doentios.

Quanto tempo aguardara para reencontrar sua Clara... Com a última peça do recipiente, ela logo poderia retornar para ele. E desta vez, só para ele!

Agora, introduzindo Armin num estado de pânico, Lysandre aprofundou as pontas dos dedos ao redor das órbitas de uma de suas belíssimas safiras oculares.

Ele e Clara poderiam contar coelhinhos agora - vários deles. Sentariam-se próximos da nascente outra vez, para jogarem conversa fora, relatassem os dissabores e aventuras que viveram, enquanto distantes um do outro.

Armin suplicava por ajuda aos berros e prantos, contorcendo-se sob o peso do albino. Seus tendões doíam, doíam feito o diabo - o suficiente para que seu psicológico trassasse a ilusão ansiosa de que a ligação entre suas órbes e nervos estava prestes a romper.

As fantasias de Lysandre o tornava frenético. Tão ansioso! Transbordando em êxtase como não há anos.

Que se dane o jogo. Que se dane Shermansky e seu grupo de assassinos. Lysandre não suportaria mais um segundo naquele inferno. Fugiria daquelas redondezas, evaporaria! Ninguém mais o atormentaria. Ninguém mais atormentaria Clara. Ninguém nunca mais ousaria tocá-la...

Lysandre teve uma parada súbita em seus movimentos. Largara o moreno.

Uma das mãos apertou o forro rente o peito, próximo ao ombro. Ardia, fisgava. O estômago ferveu. Quando focou a visão na área dolorida, desesperou-se ao notar uma lâmina a atravessar-lhe.

Subitamente engasgou-se. Sangue borbulhou para fora de sua boca - escorreu sobre a face horrorizada de Armin.

Trincando dentes e arregalando olhos, Lysandre contorceu o pescoço por cima do ombro, onde empalideceu ao mirar Elsie às suas costas, de pé, fitando-o com o semblante obscurecido. A esgrima teve a ponta esférica arrebentada, tendo penetrado o tecido corpóreo do albino.  

— De costas para seu inimigo... - gracejou a garota. - Excesso de confiança pode te matar, sabia?

— Elsie…? - Armin sussurrou enrouquecido, o seio arfando em profundo alívio.  

Lysandre fitava-a em estado de choque. Não estava desacordada? Onde estava Castiel, neste caso? Traçaram que, após o término súbito da música, o ruivo cuidaria do baterista. Quando Lysandre encurralasse Armin, Castiel cuidaria para que não houvessem testemunhas no ginásio, e em seguida, retornaria para apanhar sua presa. Tudo fora cuidadosamente estudado, planejado dias antes do evento.

Elsie sorriu; aprofundou a lâmina - Lysandre então grunhiu, desabando o corpo sobre o de Armin. Este último, por sua vez, não conseguia locomover um músculo.

— D-droga - Lysandre sentia-se desvanecer, drenado por angústia.

Elsie recuou dois passos - contemplava sua agonia com admiração.

O albino se deitou para o chão do palco, pondo-se a rastejar sem rumo com o abdômen voltado para o chão enquanto a murmurar sua decepções poéticas - a lâmina aterrada às suas costas:

— Clara.. eu preciso dela. Eu preciso… tanto.. dela...

Armin, mesmo que controlando o ritmo da respiração para que a contração do diafragma não doesse nos membros deslocados, permanecia de olhos semiabertos, atento para o que poderia acontecer.

— Eu só queria.. tê-la para mim.

Para o albino, seus últimos pensamentos fluíram velozes feito pólvora: Dos tempos em que apenas admirava Clara ao longe, até o momento em que traçaram a promessa sagrada.

Nunca soubera de fato o porquê do desejo impulsivo pela garota. A princípio, na pequenez, não possuía grau nem tempo o suficiente para pensar sobre - aparentando como que apenas um pirralho em busca de companhia. Todos em seu convívio, no entanto, não precisavam de muito para notar que as atitudes do rapazinho não eram normais – nos tempos que Clara ia para o campo, por exemplo, viam-no apoiar os membros no muro; permanecendo estático, admirando-a no rancho vizinho quase que por horas.

“Clarinha não vai mais poder vir pra cá”, Lysandre recordava-se destas palavras, ditas num domingo sombrio, “Mas não fica triste. Ela se mudou pra um lugar melhor, meu menino”, disse-lhe sua velha mãe. Lysandre não era tolo, porém – ele ouviu uma conversa entre seus pais e outros adultos da região.

Sempre a admirando, ambicionando contato; tentando decifrar os pensamentos que circundavam aquele sorriso dourado. Com a notícia, por pouco não se descontrolou. Tentara então presumir o que se passava na cabeça de Clara naquele momento, onde quer que estivesse. E frustrou-se ao assimilar que ela não teria mais porque ou como pensar.

Lysandre reconheceu o peso da morte. A angústia tornou-se um tormento, que logo se transfigurou num sedativo – uma armadura que ampara qualquer sentimento comum, qualquer sentimento verdadeiramente humano.

O poeta nunca ousara esquecer-se do dia em que Clara esteve à sua frente pela primeira vez, quando pôde desfrutar um pouco de seu amor platônico, antes de perdê-la para o mundo.  

Com a respiração baixa e sufocada - presa na garganta -, o rapaz repousou a testa no assoalho do palco. Os olhos – um esmeralda, outro ambâr - lentamente se fechavam.

Desde que o pensamento de remontar Clara cravou sobre suas ideias, Lysandre apressou-se em recorrer a todos os meios para conseguir o que desejava. Não queria plástico; nem o mais macio dos polímeros – lhe confeccionaria à carne. A partir da pré-adolescência, então, dedicou-se de alma em seu trabalho: estudou de anatomia e preservação de corpos, não poupou gastos, provocou raparigas, teve insônias, pesadelos, rabiscou estrofes, murmurou sozinho, viciou em quetiapina.

E agora, depois de tudo, quando o último retalho estava sob sua posse, Lysandre não dispunha mais de forças. Poderia congelar no tempo em remorso, mas, por algum motivo, sobre os únicos momentos que teve Clara para si - aqueles tempos nunca pareceram tão próximos.   

Um silêncio frio tomou conta do ginásio. Os assentos vazios, o véu da cortina tapando o palco. A farra proveniente do lado externo gerava um ruído pesado e asfixiante - as sombras dos pedestres, vindas das janelas altas do aposento, a refletir nas paredes.

Elsie permanecia ainda erguida, imóvel feito pedra. E embora os olhos pregados sobre a vítima, a jovem carregava algo de peculiar em suas feições: Não mostrava-se contente com o resultado - nem o contrário, no entanto. Possuía o olhar fosco, feito uma noite violácea de brilho fraco, sem estrelas.  

— Elsie… - Armin ansiava ajudá-la, porém, estava prestes a desmaiar de dor naquele momento.  

A rapariga abruptamente pressionou a mão na testa - os nervos da cabeça a latejar. Ela abaixou o rosto e franziu o cenho na expectativa de amenizar a dor.

— Merda! – ambas as concorrentes pareciam disputar por um espaço.

A Cotton viu tudo distorcer, sua aura enfraqueceu. Por um milésimo, recobrara a consciência - era a legítima novamente -, antes que seu corpo desabasse de costas.

Kentin surgiu aflito, vindo do corredor dos vestiários - utilizara o extintor te incêndio para quebrar a maçaneta e correr para fora. Chegando ao palco, avistou Armin e Elsie, desacordados. Lysandre de lado - o rastro de seu sangue arrastado pela madeira.  

— O que… - o rapaz recolheu fôlego, admirado com o que presenciava. - … o que aconteceu aqui…?







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Notas finais do capítulo

Dava pra ser melhor? Dava! Mas.. eu não aguentava mais ficar com minhas bixisses de perfeccionismo e queria postá-lo o quanto antes. Enfim, qualquer erro, me desculpem. Ç

Opiniões? Teorias?
Vocês não sabem a felicidade de finalmente estar postando isso aqui fhduifgfh AI ♥


Observação básica: Eu sei que narrei praticamente tudo em terceira pessoa ([-x-]), mas é porque esse capítulo ficaria CHEIO de POV's, e isso me dá um arrepio só de pensar. Não gosto muito dessa ideia de trocar de narrador, mas foi exatamente por capítulos como este que aderi a outro tipo de narração. ~~

ENFIM
Kissus da tia Nina, e até - eu espero - a próxima! ♥