76° Edição dos Jogos Vorazes escrita por Mad


Capítulo 20
Dá Pra Viver Assim


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo pessoal.
Gostaria de agradecer profundamente a todos os leitores, todas as pessoas que acompanharam os 20 capítulos dessa história, que toleraram meus erros ortográficos e continuaram seguindo a trama.



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Rain estava ocupada demais afogando-se nas próprias lembranças.
De repente o presente não existia mais; Somente aquele momento, a fumaça sendo inalada queimando em seu peito, aos seu braços Josh, morto, parado, imóvel.
Lágrimas ameaçavam cair a qualquer momento, e fora apenas naquele momento que a garota percebera como fazia tempo e como ela nunca parara para pensar, como ela nunca permitira-se sentir a dor.
Mas ela se interrompe ao levantar os olhos.
Não eram crianças, tinham em torno de 12 anos, ou seja, já conheciam muito bem a realidade em que viviam. Haviam insistido tanto para ela contar, por tanto tempo, que ela finalmente cedeu.
Contara toda a sua história, deixando as palavras fluirem por sua boca, enquanto eles a encaravam, em um misto de tristeza e admiração.
Uma mão pequena e delicada se ergue do meio da sala de aula. Rain tosse e se recompõe.
– Sim, Melissa? - Ela dá permissão.
Melissa, uma garotinha pequena e delicada, se levanta, encarando a professora.
– Isso quer dizer que se... Se não fosse Josh... Você não estaria aqui?
Todos os outros alunos concordam com a cabeça.
Rain permite-se sorrir.
– Pode-se dizer que sim.
Outro garoto, Max, se levanta, novamente sem pedir permissão. Mas Rain já estava acostumada com o jeito do menino.
– Professora eu... Eu respeito muito a senhorita. Tudo o que você passou, tudo o que viu, perder Josh, ter que continuar o Tour mesmo assim, sozinha, eu.... Você tem meu respeito.
O resto das crianças repetem:
– Você tem meu respeito.
– Professora? - Melissa repete.
– Sim? - Rain diz, limpando as lágrimas que escorreram furtivamente por seu rosto.
– Onde estão Carly? E Lion?
Rain sorri.
– Na verdade, após a aula terminar, irei encontrá-los.
–----

Enquanto caminhava pela trilha de areia, o solo aos seus pés transformava-se aos poucos em barro, a cada pingo de chuva que caia do céu.
Rain caminhava em direção a Aldeia dos Vitoriosos, coisa que já virara rotina em sua vida. Agora, era basicamente isso: Dar aula, ir para casa. Dar aula, ir para casa.
Claro, as vezes entrava na floresta com Winter, o lobo que saltitava a sua dianteira - Ele sempre estava a porta da escola, para acompanhá-la para casa - para caçar, ou simplesmente para sair da rotina entendiante.
Rain doava praticamente 80% de sua comida, agasalhos, praticamente de tudo o que recebia de Snow, para o povo do distrito 9. Afinal, para que guardar mais do que o necessário quando você já tem o suficiente?
Mas aquele dia, enquanto corria para casa, seu coração batia descontroladamente dentro do peito.
Eles estariam lá. Sua família.
Ela acelera o passo, Winter começa a correr junto com ela, até que ambos atravessam o portão da Aldeia.
Ninguém. Nada.
Confusa, Rain encara em volta.
Eles não haviam vindo.

Sentindo a decepção consumi-la, Rain se senta na grama molhada. Estava com 25 anos, professora, Vencedora da 76° Edição dos Jogos Vorazes.
O que adiantava tudo aquilo, se sua única fonte de alegria vinha das lembranças de uma pessoa morta e da expectativa de rever amigos que não via a 9 anos?
Claro, já tinha visto Carly e Lion outras vezes na TV, mas não eram eles.
Era quem Snow queria que fossem.
Agora, após tantos anos, havia recebido uma carta.
Nela, com a caligrafia inconfundivelmente perfeita de Carly, informava que iriam visitá-la.
Mas não vieram.
Winter se aproxima da dona e a lambe o rosto. Acariciando seu pelo, Rain consegue a motivação suficiente para se levantar e entrar em casa, a primeira casa da Aldeia.

O cheiro de cookies infesta suas narinas. Todas as luzes estavam ligadas, o fogo da lareira crepitava, deixando um ar confortável fluindo pela casa.
Primeiramente, Rain sente o corpo todo enrijecer.
Snow.
Só poderia ser ele.
Segurando o par de botas encharcadas na mão, Rain pisa devagar no assoalho, engolindo em seco cada vez que as tábuas do chão rangiam ao seu peso.
A porta de correr de abre lentamente, e o cheiro de cookies fica mais intenso.
E atrás dela, com os cabelos presos sobre um lenço vermelho, usando um macacão verde sujo de tinta e tênis sujos, estava Carly.
Rain fica completamente sem reação.
Carly encara a garota parecendo que ia desmaiar a qualquer momento.
– Mamãe? Quem é essa? - A voz infantil diz, atrás de Carly.
Carly sorri enquanto as lágrimas escorrem de seu rosto.
– Essa é sua... Sua tia, filho.
O dono da voz aparece, saindo de trás do corpo da mãe e caminhando lentamente até Rain.
Tinha cabelos e olhos castanhos, um olhar curioso e a expressão travessa.
– Você é minha tia?
Rain encara Carly.
– Esse é seu sobrinho, Rain. Josh.
Rain sente os joelhos cederem e os soluços escaparem de sua garganta. Abraça a criança com força, fazendo-o se debater em seus braços.
Cary solta uma risada, e atrás dela, Lion põe a mão em seu ombro.
O menino, Josh, consegue se livrar do aperto de Rain.
– Nossa, eu sei que você nunca me viu, mas já quer me matar?
Carly desiste; Ela corre na direção de Rain e ambas se abraçam, despejando naquele ato toda a saudade e angústia de 9 anos distantes.
– Uhul, abraço feminino! - Lion diz, rindo, pondo a mão no ombro do filho,
As duas garotas de fitam.
Carly não havia mudado nada, segundo Rain. Os mesmos olhos azuis delicados, o mesmo sorriso gracioso.
Rain parecia a mesma garota de 9 anos atrás, pensara Carly. Absolutamente nada havia mudado. Mesmo tendo cortado o cabelo bem curto, era a mesma Rain de sempre.
–----

Josh corria com Winter a frente de todos, enquanto Lion, Carly e Rain andavam lado a lado, apenas com o silêncio reconfortante de suas presenças naquele momento.
A chuva começa a ficar mais intensa, e Josh, com toda a sua graça, chuta uma poça de água suja na direção de Rain.
Carly e Lion jogam água no rosto um do outro, logo após Lion segura seu pulso, puxando-a para um beijo.
O garoto Josh faz um barulho de ânsia de vômito atrás de Rain.
– E então tia, vai ficar olhando o romance alheio ou vai brincar de guerra de água?
Rain encara-o, admirada.
– Quantos anos você tem?
– Muito mais do que você imagina. - Ele ri.

Josh uma vez havia dito para Rain que a vida é baseada em momentos.
Bons, ruins, tristes e felizes.
E que, sem eles, uma pessoa jamais conseguiria viver.
Rain percebera que sua vida era constituída apenas de momentos ruins.
Ah, quantas vezes a garota pensara em tirar e própria vida, em acabar de vez com seu sofrimento, com sua solidão.
Mas, naquele momento, tudo foi recompensando.
Enquanto Winter uivava, Josh jogava água, Lion e Carly beijavam-se apaixonadamente, Rain se permite aceitar que todos aqueles anos, toda aquela dor, valeram a pena.
Ela joga água em Josh, que engasga de susto, pois fora pego desprevenido.
Uma pequena guerra começa entre eles, abaixo da chuva e do céu cinza, entre as árvores verdes da trilha que levava-os para a Aldeia dos Vitoriosos, encharcados, rindo.
Rain percebe que aquele era seu momento. O momento que selaria sua vida, passando por cima de todos os outros.
"Dá pra viver assim", Rain pensa.
E ela estava certa.
Dava para viver assim.


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Notas finais do capítulo

Pretendo postar outra história.
Para os amantes de A Culpa é Das Estrelas, uma futura fanfic, em parceria com uma amiga, já está sendo produzida.
Espero vocês por lá.



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