Os Seguidores De Anúbis 3. escrita por Nath Di Angelo


Capítulo 26
Lembranças.


Notas iniciais do capítulo

OI GENTE! CHEGUEI!
Ahhhh que saudade de vocês ♥
Queria, primeiramente, agradecer a menina incrível chamada: garota problema. que recomendou e mandou reviews lindos para a fic. OBRIGADA SUA LINDA ♥
Bem gente, cheguei aqui com um capitulo novíssimo para vocês. Espero que gostem dele!
Amei escreve-lo porque achei tão ♥ ♥ Me lembrou a primeira temporada :')
Beeeeem, sem mais delongas (acho que não tem mesmo, ou eu to esquecendo mesmo) boa leitura! Até la embaixo e desculpe os erros!



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PDV HÓRUS.

Meus olhos dançavam pelo quarto, acompanhando Kebechet de um lado para outro, repetidas vezes.

A deusa mancava, arrastando a perna ferida e vestia apenas minha camiseta, que eu, sinceramente, não sabia como havia parado em seu corpo.

Eu ainda não acreditava no que tinha feito. A uns minutos atrás eu havia acordado confuso, estranhando a boa noite de sono que eu acabará de ter. Espreguicei-me, sentindo uma tensão me atingir quando, enfim, senti o peso sobre meu corpo. Quando abaixei os olhos tudo que vi foi uma imensidão de cabelos negros e desgranhados, deitados delicadamente sobre meu tórax. Kebechet. Fiquei parado alguns segundos tentando encontrar um jeito de contornar aquela situação, mas Kebechet me tratou como sempre me tratava, estava normal, como se nada tivesse acontecido.

—Eu não posso acreditar...-Rosnou a deusa, fechando os punhos com forças.-Esses imbecis... Como podem ser tão burros?!-Eu havia acabado de contar a ela sobre a expulsão de Natália do duat, a coisa mais idiota que todos os deuses fizeram em milhares de anos, sem duvidas. Kebechet ficou irada, não por Natália e sim por ela mesma... seria mais difícil encontra-la agora que a Ramsés não estava mais no lugar de sempre.-É obvio que aquela vaca é a garota da profecia, como pode não ser?!-Indagou, a voz soando tremula. Encostei-me no travesseiro atrás de mim, olhando-a com cumplicidade.

—Talvez - dei de ombros.-ela não seja, podemos ter nos enganados, não?-Kebechet virou-se ferozmente de costa para mim, tampando o rosto com as mãos.

—Não seja burro, deus da guerra! É ela!-Rosnou.-Desistam, okay? O sonho de ver aquela garota ficar viva não passa de um sonho! Ela é a garota da profecia e eu tenho que mata-la... mas agora, ela esta sumida!

—Fique calma, iremos acha-la.-Falei, arrastando-me até estar sentado na beirada da cama. As palavras soaram estranhas saindo de minha boca... Eu estava mesmo acalmando Kebechet com a desculpa de acharmos Natália? Deixando claro que achar-la significava uma guerra e, possivelmente, sua morte. Sim... eu estava fazendo isso. E me sentia um monstro começar a não me arrepender disso. Estar do lado de Kebechet estava ficando tão natural que eu não me via mais ao lado dos outros. Eu não me arrependia por ter trocado de lado, apenas sentia uma pequena culpa, que sumia quase inteiramente quando eu lembrava do robô que Rá criou e me apresentou como a antiga Natália Ramsés.

Levantei a cabeça, percebendo que Kebechet me encarava. Arqueei as sobrancelhas.

—Oque foi?

—Quem é você?-Indagou, em um quase sussurro.

 

—Oque?-Questionei. Kebechet avaliou-me com atenção. Seus olhos estavam vermelhos, oque me fez constatar que a mesma estava chorando enquanto caminhava pelo quarto. Meu corpo ficou tenso por um momento. Ela caminhou em minha direção, colocando-se em pé entre minhas pernas. Eu não sabia oque fazer. Não até uma lágrima escorrer pela bochecha da deusa e eu, quase inconscientemente, limpa-la com o polegar. O corpo de Kebechet se contraiu em surpresa, e seus olhos se fecharam. 

—Por quê...?-Começou, mas eu não a deixei continuar, puxando-a para mim. Kebechet caiu deitada em meu peito enquanto eu voltava a deitar na cama com ela. Eu não sabia oque responder, mas pelo visto Kebechet havia entendido muito bem, pois apertou meu braço com força o suficiente para deixar as marcas de suas unhas em minha pele. -Você não pode... Ira se arrepender...

—Eu não vou.-Prometi.

—Hórus, entenda. Eu não vou parar, não vou mudar porque o mocinho resolveu gostar de mim...-Ela levantou a cabeça, encarando-me com os olhos marejados e queimando de raiva.- Eu irei matar Natália Ramsés independente do que ache. Irei faze-la pagar por todos seus pecados, irei vingar a morte de Amón à levando a loucura. Quero que ela se sinta como eu estou me sentindo neste exato momento... destruída! Quero que ela implore por sua morte...

—Kebechet...-Comecei, mas ela não parou de falar.

—Você poderá fazer isso? Poderá ver sua garotinha prodígio perecer em sua frente sem fazer nada? Poderá viver sua vida eterna sabendo que foi um dos cúmplices pela morte dela?!-Senti algo arranhar minha garganta, fechando os olhos por uma fração de segundo. Uma imagem surgiu em minha mente: Natália. Sorridente, os cabelos negros e compridos caindo pelas costas, se mexendo enquanto ela ria. Porém, tudo que eu consegui sentir com essa imagem foi tristeza. Aquela era minha Natália. E ela não existia mais a muito tempo.

—Eu vou. Eu juro que vou, Kebechet. Não irei te abandonar, esqueceu? Eu prometi isso a você.-Falei. Kebechet encarou-me, comprimindo os lábios.

—Maldito deus da guerra...-Grunhiu com a voz tremula pelo choro. Sua cabeça voltou a deitar em meu peito, enquanto eu a afagava.

—Prometo fazer oque você mandar, Kebechet... Estarei com você.-Jurei.- Oque quer que eu faça?

—Nada.-Grunhiu.- O deixarei fora disso, está bem? Não precisa se envolver... Não suje suas mãos... Eu irei faze-lo sozinha, apenas não se meta.-Instruiu baixo. Soltei um forte suspiro, não contestando-a .

—Tudo bem.-Concordei.-Oque vai fazer?

Cinco dias depois.

PDV NATÁLIA.
Eu sempre achei que a vida de moradores de rua fossem bem difíceis, mas estava começando a achar bem pior depois de estar sentindo isso em minha pele.
A cinco dias, que mais pareciam cinco anos, eu havia sido expulsa do Duat por Rá e agora estava a merce das ruas do Brooklyn. Eu estava totalmente sozinha. Nenhum deus tinha a permissão de me ajudar e, se quer, falar ou se aproximar de mim.  Todos os nomos estavam proibidos de me receber, então todas as minhas tentativas de voltar ao duat pelas casas da vida foram totalmente fracassadas. Eu sabia que meu drama só estava começando, mas tudo piorou uns 100% quando, a duas noites atrás, meu dinheiro reserva começou a acabar, oque me obrigou a sair do hotel em que eu estava hospedada e ficar na rua. É claro que eu não conseguia dormir, ficava a noite toda sentada em praças e parquinhos, esperando o dia amanhecer e voltava a  minha  mais nova  rotina de tentar invadir o lado mágico do mundo.

—Não pode, Nefertum! Você precisa me prometer!-Exigi, praticamente gritando pelo celular com o deus dos perfumes. Algumas pessoas lançaram-me olhares duvidosos, mas seguiram seus caminhos como se eu não fosse grande problema, afinal, eu ainda não estava em minha pior aparência.

Eu estava sentada em um balanço em um parque infantil. A rua estava cheia e pessoas passavam a toda hora por mim, oque me deixava um pouco nervosa.
—Natália, não posso deixa-la ficar na rua!-Protestou Nefertum mais uma vez, soando totalmente incrédulo. Respirei fundo, tentando conter-me. Nefertum tentava pela milésima vez me convencer a ir par a casa de meus pais, afinal, eles ainda moravam aqui no Brooklyn, mas eu me recusava.  E iria continuar recusando enquanto Nefertum continuasse com essa ideia. Tudo oque eu menos queria nesse momento era meter meus pais nessa história. Não queria que Kebechet se quer pensasse em usa-los contra mim. Queria mante-los seguros, ainda mais agora que meu pai não parecia estar tão envolvido com os assuntos divinos, até mesmo com os de Hórus.
—Você não pode fazer nada, Nefertum.-Lembrei.- Essa ligação mesmo é um crime contra as ordens de Rá, se for pego você ira ser punido, então, não faça nenhuma besteira, Okay? Precisa me deixar informada de tudo que acontece ai... é a única pessoa que tenho para me ajudar.
—Mas...-Ouvi um grunhido alto de frustração do mesmo.-Como posso ficar aqui sem fazer nada sabendo que você está assim?
—Você consegue. Por mim, Nefertum, faça isso.-Pedi, bufando logo depois.-Não sabe o quanto eu queria estar com você, também... Meu cabelo está coçando, não tenho uma refeição decente a dois dias e daria um rim para um banho. Mas, deuses, Nefertum, não pode sair dai... Uma hora ou outra Kebechet saberá que fui exilada e atacará. Precisa estar ai para proteger a todos.-Nefertum ficou em silêncio por um momento.
—Certo.-Murmurou de contra gosto, quando resolveu voltar a falar.-Oque quer que eu faça?
—Deixe Max, Mel e os outros informados. Meu exército precisa estar atento também. Eu não estarei ai, então Kebechet não irá atacar com toda sua força... Não difícil para eles à segurarem... eu acho.
—Céus, seu otimismo está me deixando apavorad...-A frase de Nefertum foi cortada por um barulho do celular. O olhei vendo-o marcar bateria fraca. Grunhi frustrada, voltando-o a coloca-lo na orelha.-Oque foi isso?
—Meu celular. Tenho que desligar ou fico sem bateria.-Falei. Nefertum gemeu.
—Céus, não suma. Não morra, eu estou implorando!
—Verei oque posso fazer, Nerf.-Prometi, apertando os lábios.-Tchau. Eu te amo.-Falei, antes de desligar a ligação, guardando o aparelho dentro do bolço do casaco. Enquanto eu estava no hotel era fácil deixar meu celular carregado, mas quando precisei sair era difícil, já que nem todas as pessoas do Broklyng ( e acho que de nenhum outro lugar) confiavam em uma pessoa que pedia para usar seus carregadores portáteis por alguns minutos.
Suspirei, sentindo minha pele se arrepiar pelo vento gelado que tocou meu corpo. Fitei o horizonte estranhando o clima frio, que a tempos eu não via. O céu estava cor de chumbo, apesar de ainda ser cedo, e carregado de nuvens densas e pretas. Tudo era tão quente e seco no Egito que eu estava estranhando o tempo invernal, tanto que sentia minha garganta começar a arranhar. Olhei um tanto invejosa as pessoas que passavam por mim na rua, todas bem agasalhadas, enquanto eu só estava vestida com um tênis, uma calça jeans simples e um casaco fino. Se esfriasse mais eu, realmente, estava ferrada.
—Respire, tudo vai dar certo.-Murmurei para mim mesma, mas era claro que nada daria certo. Retirei os trocados de meu bolso da calça, coltando-os. Eu ainda tinha  incríveis 25 dólares para sobreviver. Tinha que gasta-los bem.
Passei um tempo pensando em como gastar meu maravilhoso dinheiro, antes de separar uma pequena quantia, caminhando a procura do ponto de ônibus mais próximo. Ficar parada muito tempo no mesmo lugar poderia chamar a atenção de alguém, e no caso alguém significava Kebechet. Estava quase chegando no ponto quando senti algo gelado bater contra meu cabelo, escorrendo por minha nuca. Olhei para o céu, incrédula em minha má sorte, olhando com raiva as grossas gotas de chuva começarem a despencar do céu, transformando-se em uma enorme tempestade. Praguejei ao mesmo tempo que um raio estourava no céu, encobrindo meus palavrões.

 PDV ANÚBIS.

A chuva borrava tudo tudo fora da janela do carro recém comprado, transformando a cidade em borrões cinzas. Demorei um minuto para perceber que eu é quem dirigia muito rápido, mas o carro se movia tão suavemente que eu não sentia a velocidade. Só as ruas do Brooklyng passando rápido pela janela foi que deixou evidente.
Eu estava nervoso. Nervoso o suficiente para ter comprado um carro de presente para Rakel e estar dormindo no mesmo a duas noites, nos bancos de trás, em cima do estofado de couro novinho, algumas roupas minhas estavam espalhadas por todos os lados, mas eu não ligava para isso. Tudo oque eu queria era dirigir sem rumo, tentar enfriar a cabeça e quem sabe bater contra um caminhão e esquecer tudo que eu estava vivendo. Mas duvidava que algo pudesse fazer essa situação melhorar. Dos cinco dias que se passaram desde a expulsão de Natália, eu só havia ido ao Duat em três. Nada nesse mundo parecia estar tão morto como aquele lugar. Ninguém parecia, realmente, interessado em estar ali. Nem mesmo Rá aparecia nas reunião, com a desculpa furada de Tot em que o mesmo estava empenhado na  procura da nova iniciada. Eu não sabia quem era essa garota, não sabia nem se ela existia de verdade, mas eu já à odiava desde agora.

Liguei o limpador de para-brisa do carro, voltando a enxergar a rua em minha frente. Uma forte tempestade começará a cair a alguns minutos atrás e a cada segundo parecia ficar mais potente. E o que eu sentia era que essa chuva só espelhava todas as coisas que eu sentia nesse momento.
Virei uma esquina, entrando em em uma rua quase deserta. Eu ainda dirigia rápido, então assim que virei o carro não pude evitar de espirrar água em um grupo de pessoas que corria, tentando fugir da chuva. Ignorei todas as ofensas soltadas por eles continuando a dirigir sem um rumo certo, até que, quase inconscientemente, me obriguei a frear. 

—Merda.-Xinguei. Não isso não é possível, eu não teria tanta má sorte, teria?

Olhei pela janela, não acreditando em que meus olhos viam. Natália estava ali, completamente ensopada. A mesma tentava se esconder da chuva, espremendo-se contra a parede de uma loja que tinha o telhado um pouco maior, mas nem isso a salvava da tempestade. Senti um forte remorso invadir-me, acelerando o carro mais uma vez, dirigindo na direção dela. Quando estacionei em sua frente, Natália assustou-se, oque não me fez julga-la, já que todo mundo se assustaria ao ver um carro preto parando em sua frente em uma rua deserta, então rapidamente, abri a janela do passageiro, inclinando-me para a janela aberta com o cenho franzido.

—Entre.-Ordenei. Natália abaixo-se, e quando seus olhos baterem com os meus senti um arrepio subir por meu corpo. Por uma fração de segundos vi uma sombra de surpresa e duvida surgir em seu rosto, porém, não durou muito. A garota abriu a porta do carro, enfiando-se no mesmo ao mesmo tempo que eu acelerava mais uma vez, voltando a correr pelas ruas do Brooklyn. Meus dedos começaram a tremer, enquanto eu ouvia Natália ofegar. Seu cabelo estava grudado no rosto, enquanto gotas e mais gotas de água caiam de seu corpo no carpete do carro. A olhei de rabo de olho vendo-a tremer, abraçada o próprio corpo.

—Eu vou congelar...-Sussurrou ela para ela mesma. A observei, vendo-a fechar os olhos por alguns segundos, e quando voltou a abri-los ela estava me olhando.- Como me encontrou?!

—Não encontrei.-Admiti. Natália estremeceu.-Foi o acaso.-Falei, voltando a olhar a rua em minha frente, decidi ir pela direita quando me vi em uma encruzilhada, nem me importando para onde estava indo.

—Como isso é possível?-Perguntou, mas eu duvidada que a pergunta fosse para mim, então não respondi. Natália continuou soltando grunhidos de frio, encolhendo-se mais no banco do carro. Apertei os lábios, olhando-a mais uma vez. - Achei que fosse morrer.-Admitiu, o queixo tremendo tanto que me questionei como ela conseguia falar.

—E vai se continuar tão molhada.-Afirmei, antes de soltar o volante, virando-me para o banco de trás. Peguei algumas roupas minhas que estavam jogadas ali, lançando-as a Natália, que pegou no mesmo tempo que eu voltava minhas mãos a direção, impedindo que o carro saísse da pista. Natália olhou as roupas confusa.-Vista.-Mandei. Ela olhou-me desconfiada.- Ou vai pegar uma hipotermia. -Acrescentei. Natália assentiu, engolindo em seco, fitando o para-brisa antes de começar a tirar a roupa. Eu podia falar que tentei não olhar, mas eu olhei. Olhei quando a mesma retirou a blusa e a calça ensopadas, ficando apenas com o lingerie rosada cobrindo o corpo arrepiado. Tive um ligeiro vislumbre de sua pele marcada pelas inúmeras cicatrizes e consegui ler rapidamente "Set esteve aqui” em suas costas, sentindo um calafrio me atingir ao lembrar que eu tinha essa mesma marca em minha mão. Natália vestiu minha camisa, abotoando os botões devagar, colocando depois minha calça, que ficou enorme na mesma. Voltei a olhar para frente ao mesmo tempo em que ela voltava-se para mim.

—Obrigada.-Murmurou. Assenti seriamente, apertando o volante em minhas mãos. Um silêncio tenso e constrangedor se instalou entre nós, oque me fez quase sentir falta de ar. Natália não parecia estar diferente, tinha uma expressão frustrada no rosto, congelada como uma estátua. Seu queixo ainda batia um pouco, mas a cor arroxeada de seus lábios começava a sumir. Ela soltou um longo suspiro, batendo os dedos finos no banco de couro, olhando para mim incerta.-Desde quando dirigi um carro? Na verdade... Desde quando tem um carro?

—Eu comprei semana passada.-Contei.-Não é meu... Irei dar a Rakel no aniversário de 21 dela.-Natália abriu a boca em compreensão, olhando o carro com admiração.

—Ela vai pirar.-Comentou. Dei de ombros.

—É oque eu espero... É um pedido de desculpas. Esqueci o último aniversário dela.-Natália arqueou uma sobrancelha.

—É um bom pedido de desculpas...-Falou.-Apesar de eu duvidar que ela esqueça essa mancada pelo resto da vida.-Acrescentou, fazendo-me concordar com a cabeça.  O silêncio voltou  a reinar no carro, mas nem eu nem ela nos esforçamos para quebra-lo. Natália encostou-se no banco de couro, soltando um suspiro devagar. Seu cabelo parou de pingar água e percebi que a mesma estava suficientemente quente para suas pálpebras tremerem, como se ela estivesse se esforçando para não cair no sono. Eu não podia imaginar oque ela estava passando nesses dias em que ficou sumida e estava tentado a perguntas, porém, não tive coragem de puxar mais um assunto. Sua presença me deixava nervoso o suficiente para minhas minhas respiração ficar difícil devido a ansiedade que fazia meu coração palpitar tão rápido como uma locomotiva. Eu evitava olha-la, apenas para não ficar ainda mais tentado a dizer algo a ela. Mas também... oque eu poderia dizer? Todas as frases que eu planejava para consola-la terminavam uma pior que a outra. Eu não tinha moral nenhuma para isso, e tinha certeza disso quando tudo oque eu pensava em falar era "Rá estava louco em te expulsar. Matar Amón foi o certo... junto com a tentativa de matar minha filha".

Continuei dando voltas com o carro nem imaginando para onde eu estava indo, até Natália cortar meus devaneios.

 

—Aonde esta indo? Eu preciso descer...-Ela examinou o céu.-A chuva parece estar parando...-Fiquei paralisado, não sabendo oque dizer.-Anúbis?

—Tem certeza?-Questionei, e foi tudo oque consegui dizer. Natália assentiu.

—Não posso arriscar ficar perto demais de vocês. Se Rá descobrir...-Natália deixou a frase morrer.-Obrigada Anúbis.-Finalizou, e eu ouvi a porta do passageiro se abrir.

Neguei com a cabeça, comprimindo os lábios. Estiquei a mão na direção de Natália, segurando seu punho fino. Ela parou assim que toquei nela. Senti seu corpo tremer, mas dessa vez duvidava que era de frio.

—Não pode descer.-Cortei. Natália encarou-me.-Não pode ficar na rua sozinha.

—E você não pode me abrigar. É crime.-Contestou Natália.- Será punido se Rá se quer descobrir que me deu uma carona.

—Ele não liga para mim tanto quanto acha, Natália. Vamos para o meu castelo, pode ficar lá até resolver oque vai fazer ou até Rá sentir seu poder espiritual. -Natália estava com o maxilar contraído, as sobrancelhas abaixadas em uma linha sobre os olhos. Ela parecia estar avaliando minha sugestão.-Aliás, você não pode ir lá fora com essas roupas.-Acrescentei. Natália se sobressaltou, parecendo lembrar que estava vestindo minhas roupas. Seus olhos fitaram a rua por um segundo, então a porta dela se fechou e eu dei partida no carro novamente.

PDV NATÁLIA.

Anúbis deixou o carro em um estacionamento público, oque me fez questionar em que estado o mesmo estaria quando fosse hora de presentear Rakel, porém, não tive tantas preocupações com isso já que tinha problemas bem maiores. Anúbis estava de frente para mim, encarando-me sem jeito e isso era constrangedor demais. Quando o vi dentro daquele carro tudo oque eu senti foi alívio, por um momento eu me senti salva, mas eu não estava em sã consciência naquela hora. A chuva trouxe um frio intenso, que pareceu gelar meus ossos e congelar meu cérebro, mas agora eu estava quente e tinha receio de tudo que podia acontecer agora que eu aceitei ir para o castelo de Anúbis.
—Não posso entrar no Duat, já tentei.-Falei.-Não sei como vamos fazer isso, Anúbis...-Sussurrei, começando a me arrepender. O deus chacal franziu a testa, pensativo, olhando-me sem encarar meus olhos. Eu podia sentir a tensão emanando dele, e não o culpava por isso... A quanto tempo não ficávamos tão próximos assim? Bem, que eu me lembre desde que Set me tomou como sua prisioneira... e talvez, bem antes disso. A questão é: tudo piorou quando comecei a caçar sua filha.
—Eu acho que sei um jeito.-Respondeu Anúbis.-Já está com minhas roupas, então seu cheiro provavelmente está misturado com o meu.-Ele deu um passo em minha direção, exitando por alguns segundos.
—Oque foi?-Indaguei.
—Se vier em meu colo, talvez consigamos entrar. -Revelou Anúbis. Senti meus ombros ficarem tensos.
—Ah.-Respondi apenas. Anúbis voltou a andar, chegando a centímetros de mim. Engoli em seco, enquanto o mesmo puxava-me do chão, Segurei em seus ombros, mantendo o corpo rígido.
Anúbis respirou fundo, e um portal abriu-se em nossa frente. Fechei os olhos, sentindo minha pele formigar, abrindo os olhos segundos depois. Olhei incrédula para minha volta.
—Deu certo...-Sussurrei, ainda descrente. Anúbis virou-se para os lados, olhando tudo com atenção. Estávamos em um dos corredores do castelo do Chacal.
—É oque parece...-Falou.-Vamos, antes que Rá apareça aqui.-O mesmo começou a andar e eu apenas o segui. Não demorou muito até estarmos perto da sala de estar. Reconheci a voz de Rakel e de Khonsu, sentindo meus batimentos ficarem mais rápidos. Apertei os punhos, sentindo-me nervosa enquanto minha ficha caia. Eu estava no castelo de Anúbis, caminhando lado a lado ao deus; Rakel e Khonsu também estavam aqui... e isso era nostálgico demais.

Anúbis foi o primeiro a entrar na sala, oque fez Rakel e Khonsu se levantarem rápido. Rakel franziu o cenho, furiosa, abrindo a boca como se quisesse começar a xingar Anúbis ali mesmo, porém, qualquer reação da mesma foi cortada quando eu entrei na sala.

 

Natália?!-Indagou Khonsu incrédulo. Tentei dar um sorriso, mas tudo oque consegui refazer foi repuxar os cantos dos lábios, tentando lançar a eles um olhar que não passasse tanto constrangimento. 

 –Oi.-Murmurei. Rakel deixou o queixo cair, olhando-me de cima abaixo. A mesma rondou minhas roupas, passando os olhos repetidas vezes entre eu e Anúbis. Franzi o cenho, a encarando. 

 

—Pelos deuses, vocês estavam juntos?-Indagou.-Estávamos mortos de preocupação e vocês juntos?! 

 

—Não!-Respondi, antes que Anúbis pudesse. O mesmo me encarou.-Céus, não é isso. Anúbis me achou na rua, eu estava encharcada pela tempestade e ele me emprestou umas roupas. Apenas isso!-Falei. Rakel avaliou-me. 

 

—Deuses, Natália, Rá sabe que está aqui?-Indagou Khonsu. 

 

—Não. E nem pode.-Respondeu Anúbis. Rakel o encarou de soslaio fazendo-me suspirar pesadamente.- Estamos infringindo a lei. 

 

—Quem liga para a lei?-Retrucou Rakel, vindo até mim. Ela passou reto por Anúbis, que fez uma careta quando ela me abraçou. Khonsu a seguiu, colocando uma mão sobre meu ombro.–Você está bem?

 

—Sim. Estou.-Garanti. Khonsu respirou fundo, olhando-me seriamente.

 –Sabe que a partir de agora é uma fugitiva, não sabe? Não pode sair daqui, Natália... Se Rá se quer sonhar que está aqui ele vai...

 –Khonsu, eu sei.-Cortei.-Fique tranquilo... Juro que irei me comportar.-Prometi. Ele bufou, desacreditado, afagando minha cabeça.

 –Deuses, você está fria.-Comentou Rakel, ainda sem me soltar de seu abraço. Coloquei uma mecha de meu cabelo úmido atrás da orelha, dando de ombros.

 –Eu estou bem.-Falei.

 –Não está.-Discordou Anúbis. Rakel enfim me soltou, olhando para ele.- Você tomou muita chuva, muito vento. Trocar de roupas não adianta de nada. Precisa se aquecer melhor.-O chacal virou-se para Rakel.-Cuide dela, faça-a tomar um banho e se alimentar. -Ele começou a recuar.-Estarei em meu quarto, Khonsu, cuide delas.-Falou, dando as costas para nós, e sumindo dentro do corredor. Senti um vazio invadir meu peito.

 

—Khonsu, cuide delas.-Repetiu Rakel, tentando imitar o tom de voz de Anúbis. Arqueei uma sobrancelha para ela, enquanto Khonsu a encarava censurador.

 

—Rakel...

 

—Que se dane, venha.-Rakel puxou-me para sentar com ela no sofá e eu só me deixei levar. Khonsu nos seguiu. - Quero saber de tudo... Mas antes irei te emprestar algumas roupas. Seu quarto está meio bagunçado, então pode dormir comigo essa noite.

 –Obrigada, Kel.-Agradeci.-Ah, Khonsu, por favor, avise Nefertum que estou aqui. Ele deve estar surtando...-Falei. Khonsu sorriu.

 –Tudo bem, querida.-Não pude deixar de sorrir para o mesmo. Tantos anos se passaram e esse mesmo instinto paternal sobre mim...

 –Enquanto isso irei cuidar de você.-Rakel me examinou.-Tenho um pijama que vai ficar incrível em você. Vamos!-Rakel me puxou com ela, e eu nem pude reclamar. Apenas a segui, olhando para todas as paredes conhecidas do castelo de Anúbis, começando a reconhecer cada canto daquele lugar.

 (...)

 Eu não acreditava que o quarto de Rakel não havia mudado nem se quer um milimetro em todos os anos que se passaram. A mesma ainda tinha uma enorme coleção sobre artefatos lunares que se completará com fotos e mais fotos dela e de Khonsu penduradas nas paredes e em portas retratos. Era bem assustador, se quer saber...

 Eu já havia tomado banho, e vestia uma pijama de Rakel. Era um tanto que infantil; calças compridas rosa com bolinhas brancas e uma camiseta com um gato, também rosa, sorridente. Mesmo assim eu estava bem. Havia tomado um banho quente e tido uma refeição digna. Khonsu havia ido embora depois do jantar e Anúbis se trancara no quarto.
No momento eu estava sentada em cima de meu saco de de dormir, enrolada em vários cobertores. Rakel estava arrumando sua cama e não parava de tagarelar um segundo sequer. A mesma reclamava veemente de Anúbis, chegando a acusar o chacal de, até mesmo, abandono. Sinceramente eu estava distraída demais para ouvi-la falar, mas tentava manter minha atenção nela.
—É sério, ele está impossível…-Finalizou Rakel soltando um suspiro. Ergui uma sobrancelha.-Oh, deuses, desculpe, eu falei demais, não foi? Céus, está cheia de problemas e eu aqui te enchendo o saco…
—Rakel!-Cortei.- Não esquenta.-Dei um sorriso.-Sabe, é até bom ouvir problemas normais de vez em quando. Problemas de verdade, como por exemplo, uma guerra, são muito cansativos.-Rakel sorriu com doçura, fitando-me intensamente. Arqueei as sobrancelhas. - está me olhando como se quisesse me devorar... pare.
—Eu estava morrendo de saudades disso… eu, você, juntas. Conversando como garotas normais.-Eu sorri.
—Eu também estava com saudades, Kel… sempre sinto saudades.-Franzi o cenho.-Apesar de todos os problemas o passado era mais reconfortante…
—Era.-Concordou Rakel.- Eu tinha você. Nós tínhamos o Anúbis e… Hórus estava sempre aqui para ajudar.-  Abaixei os olhos, enquanto Rakel dava um soco no colchão.-Por quê? Por que tivemos que nos separar? Por que Hórus e Anúbis se tornaram tão idiotas?
—Porque tudo mudou, Rakel. Rá transformou-me em seu robô de guerra. Eu não os culpo… - Respondi. Rakel olhou-me.
—Você ainda os ama?-Indagou. Eu tossi.
—Eu amo todos vocês.-Declarei. E quando pensei em Hórus e Anúbis meu peito doeu de maneiras desiguais.-Mas é… diferente.
—Se passaram 5 anos, Natália, é claro que é diferente. Pessoas normais casam depois de cinco anos de relacionamento e você, se quer, escolheu um…-Encarei Rakel com um sorriso sem humor.
—Cruel e nem um pouco sutil.-Murmurei. 

 

—Obrigada.-Agradeceu.- Mas ainda estou esperando minha resposta.- Tomei fôlego. 

 

—Acho que não posso mais escolher… eu não tenho mais esse direito. -Concretizei. Rakel suspirou.-Além do mais não foram cinco anos juntos... Contando todo o tempo que fiquei longe do duat, entre as guerras ou fugida com Rá, acho que não ficamos juntos nem mesmo um ano. 

 

—Não importa. Você sempre estava aqui, independente de onde estivesse.-Rakel esticou-se em direção a sua cabeceira, pegando um porta retratos ali, me entregando. Encarei as fotos um tanto que surpresa por não serem de Khonsu e sim minhas, e de meus amigos. Haviam três. Uma minha com Anúbis, Erick, Max e Rakel, um pouco depois de eu ter chegado ao castelo de Anúbis. A segunda era uma minha com Rakel e Khonsu, no mesmo ano da primeira e a última era como a primeira, mas estávamos mais velhos e vestidos com roupas de gala; estávamos na festa de iniciados, três anos depois de minha chegada ao Duat.

 

Levantei a cabeça, surpresa.

 

—Onde conseguiu isso?-Questionei.

 

—Se eu contasse você não acreditaria.-Comentou Rakel com uma risadinha. Olhei para as fotos. Céus... aquela era mesmo eu?

 

Senti minha garganta se apertar, sentindo cada sentimento reprimido voltando devagar a minha mente. Algo como remorso surgiu em meu peito, fazendo-me sentir enjoos.

 

—Eu... vou dormir Agora, okay? Estou exausta.-Murmurei, colocando o porta-retratos de lado. Rakel olhou-me indignada.

—Mas já? Estava esperando mais informações sobre você e seus sentimentos confusos.

—Rakel!-Censurei.-Sabe desde quando eu não tenho uma noite de sono decente? Não vou perder tempo de desperdiçar minha noite com você.-Falei. A mesma semicerrou os olhos, mostrando a linguá para mim, mas mesmo assim, levantou-se, apagando a luz do quarto. Enrolei-me nos cobertores, aconchegando-me no saco de dormir. Eu esperava que todo o cansaço e a tensão caísse sobre mim, fazendo-me dormir instantaneamente, mas isso não aconteceu. E, depois de alguns minutos, eu comecei a ficar um tanto que desesperada.

Era como se todas as minhas preocupações menores caíssem sobre mim. Eu não estava preocupada com um ataque de Kebechet, já que ela não sabia onde eu estava. Não estava preocupada com Rá e nem com os outros deuses, já que eu havia sido banida do duat, mas então, meu cérebro pareceu não deixar isso assim, e me fez lembrar de tudo oque eu havia tentado deixar de lado todo esse tempo. 

Anúbis... Hórus... qual dos dois me odiava mais? Anúbis havia me atacado, estava tão distante de mim que eu me sentia uma estranha perto dele. Me lembrei do dia em que ele me atacou, e de todos os outros dias em que se tornou doloroso ficar perto dele. Essas lembranças fizeram-me apertar os cobertores fortemente, virando-me no saco de dormir. E junto com minha mexição Hórus invadiu minha mente. O deus da guerra, certamente, me detestava. Eu não sabia como, e nem o porquê de ter sido tão rápido, porém, eu tinha essa certeza. Eu tinha vivido em minha memória todos seus olhares de reprovação e se isso não fosse o suficiente tinha uma mágoa que eu tentava esconder dentro de mim pelo deus não ter vindo me procurar após eu ser expulsa. Em outras épocas tenho certeza que ele seria o primeiro a desobedecer a ordem de Rá e vir até mim, mas eu o havia machucado tanto que isso, se quer, se tornou uma opção para mim e eu sabia disso.

Então, se eu sabia dos desafetos de Hórus e Anúbis por mim, por que machucava tanto? Era meu ego ou meu orgulho que me impedia de seguir em frente e aceitar? Ou talvez, eu apenas os amava ainda...

Grunhi, abrindo os olhos com pesar, fitando os adesivos de estrelas que brilhavam no escuro, colados no teto do quarto. Puxei o ar fortemente para meus pulmões, sentindo-me sufocada. Me descobri, sentando no saco de dormir. Todo o sono se esvaiu de mim como se eu tivesse tomado uma garrafa de café, coisa que eu não fazia desde que Set assombrava minha vida. Levantei-me, frustrada, saindo do quarto, batendo a porta devagar atrás de mim.

—Merda...-Sussurrei, colocando-me na parede por alguns instantes. Respirei fundo, começando a andar pelo castelo. Pouco a pouco fui relembrando onde tinha que ir e, sem errar nenhuma vez, cheguei a cozinha. A mesma cozinha de sempre, com uma diferença que me fez travar logo na entrada. 

Anúbis estava sentado em frente ao balcão. Tinha a cabeça entre as mãos e ao seu lado jazia um copo com um liquido vermelho dentro. 

Segurei minha respiração, fazendo de tudo para não chamar a atenção do deus, porém, o mesmo me notou antes que eu pudesse fugir dali.

—Natália?-Anúbis levantou a cabeça, virando-se em minha direção. Fechei os olhos por alguns segundos, odiando-me.

—Ah... oi.-Falei.-Desculpe atrapalhar.- O chacal franziu o cenho.

—Está tudo bem? Algo aconteceu?-Indagou. Neguei com a cabeça. O poder de Rá continuava fluindo calmamente dentro de mim, estava tudo normal.

 

—Não... Rá, provavelmente, ainda não sabe que estou aqui.-Assegurei.-Está tudo okay.- Anúbis assentiu, virando-se de novo para frente, continuando a fitar o nada novamente. Engoli em seco, continuando parada ali. Meus olhos passearam por cada parte do lugar, e foi como se eu tivesse com 14 anos novamente, naquele mesmo lugar, sendo surpreendida por Anúbis quando assaltava a geladeira de madrugada. 

 

Encostei-me na parede fria da cozinha, recordando mais uma memória. Dessa vez eu estava gritando com Hórus na mesa de jantar, que estava bem na minha frente. Quase pude me ouvir gritar com o mesmo e depois sair correndo dali, como uma criança birrenta.

 

—Ainda esta aqui?-Perguntou Anúbis, tirando-me de meus devaneios. O deus não me olhava, apenas fitava o nada em sua frente, mas como só tinha nós dois no cômodo supus que a pergunta era pra mim.

 

—Hã... Sim.-Respondi.-Eu só vim pegar um copo de água, desculpe, me distrai.-Falei, pronta para me virar e sair daquele lugar, que começava a ficar sufocante, porém, Anúbis me impediu.

—Pare.-Ordenou. Senti um vento gelado arrepiar meu corpo do alto da minha cabeça até os calcanhares, ficando tensa automaticamente. Me virei devagar, temendo ver Anúbis com garras de fora, pronto para me atacar novamente, porém, ele estava normal. O rosto pálido me fitava com atenção.

—Oque foi?-Perguntei, conseguindo ouvir o tremor em minha voz.

—Por que aceitou que eu a trouxesse para cá?-Indagou. Franzi o cenho, confusa.- Por que está aqui?

—Quer que eu vá embora?-Questionei. Anúbis soltou uma risada sem humor, olhando-me como se eu fosse louca.

—Não. Definitivamente não...-Falou.

—Então...?-O incentivei.

—Rá a proibiu de estar aqui, Rá a proibiu de ficar perto de mim, Rá a proibiu de voltar ao duat. Então por quê? Se for descoberta é provável que seja condenada...

—Eu sei.-Cortei, e o olhei cética.- Mas você, mais do que ninguém, deveria saber que eu não sou lá de aceitar ordens... não por muito tempo, pelo menos. -Anúbis riu novamente.

—Confesso que fiquei surpreso. Fez tudo que ele mandou por três anos sem questionar nada. Quando era minha seguidora isso não durou nem mesmo um mês. -Eu sorri, encostando-me na parede da cozinha.

—Com você era mais fácil. Você não vivia dentro de mim, eu não tinha seu poder correndo por minhas veias.-Minha voz ficou mais tensa.- Com Rá era quase impossível... Toda a vez que ele mandava eu tinha que arriscar, tinha que lutar e ai de mim se eu não fazia. Era sufocante, queimava... Eu não tinha como escapar dele, como cala-lo, pois sempre que eu tentava sua voz ardia em meu peito.

—E quando isso mudou?-Indagou Anúbis.

—Quando vocês chegaram lá.-Falei. O deus chacal me encarou.-Quando vocês chegaram lá os problemas começaram...

—É por isso que não queria nos buscar?

—Exatamente.-Desgrudei-me da parede.-Ir buscar vocês e leva-los para o Egito foi a última ordem de Rá que eu fiz sem questionar. Depois disso eu meio que... voltei a ser eu.

—A mesma menina teimosa que vivia nesse castelo...?-Murmurou Anúbis. Neguei.

—Não. Totalmente diferente disso.-Respondi. O mesmo suspirou, dando um gole na bebida escura que jazia em seu copo. Supus ser vinho.

—Eu sei.-Respondeu, depois de alguns segundos. Respirei fundo, caminhando até o balcão, pegando um copo e enchendo-o de água na pia. Anúbis seguiu-me com os olhos para onde é que eu fui, oque me deixou incomodada novamente. Me virei para ele, questionando-o com o olhar.- É nostálgico te ver aqui.

—É. Também é nostálgico estar aqui...

—Me faz lembrar o dia em que você fugiu...-Falou. Quase me engasguei com a água.-Esperamos você acordar até as duas da tarde no dia seguinte à guerra... Achamos estranho você estar dormindo tanto e quando fui ver você não estava lá. Apenas um bilhete e seu colar...

—Anúbis...

—Eu não acredito nisso. Você foi embora e eu deveria ter ficado bem com isso mas não. Eu fiquei em pedaços...- o mesmo esfregou o rosto com força.- Eu sou doente? Eu estou predestinado a ser um traidor não sou?! Então porque ficar perto de você agora parece tão bom?!-Senti meu estomago dar uma volta, olhando perplexa para o deus.

—Traidor? Anúbis você não é o deus traidor.-Retruquei, andando até estar de frente para ele, sendo separados apenas pelo balcão. -A profecia não cita seu nome...- O mesmo levantou-se, encarando-me incrédulo.

—E você realmente acredita nisso, Natália? Se não eu quem é que vai te trair? Quem?!-Questionou, batendo as mãos no balcão.- Me fale um nome, apenas um nome.-Implorou. Eu não consegui responde-lo. O único com reais motivos para me trair era Anúbis, querendo ou não. Ele era o pai de Kebechet...

Abaixei os olhos, decepcionada comigo mesma quando senti os dedos frios de Anúbis em meu queixo, erguendo minha cabeça. Vi refletido em seus olhos a dor que o mesmo sentia, toda frustração acumulada ali. Suas bochechas estavam mais avermelhadas por causa do vinho e tive quase certeza que ele estava fazendo aquilo por causa disso também. Senti meu corpo sendo puxado como se eu fosse um pedaço de ferro e Anúbis um imã aproximando-me lentamente dele, pressionando meus lábios nos dele.

Oque eu senti depois disso quase não tinha uma explicação. Os lábios de Anúbis eram tão nostálgicos que eu cheguei a sentir saudades. Anúbis puxou-me mas para ele, mas não adiantou muito já que havia um balcão entre nós. Me coloquei nas pontas dos pés, apenas para conseguir aproximar-me mais, engrenhando meus dedos em seus cabelos enquanto o deus chacal apertava meus ombros, impulsionando-me para cima do balcão, porém, eu não permiti.

Lembrei de quando Rá descobrirá que eu beijei Hórus, afastando-me de Anúbis rapidamente, indo parar a uns 10 passos de onde eu estava. Olhei para minha tatuagem em busca de alguma alteração mas ela estava normal, oque me fez sentir um alivio momentâneo. Ergui a cabeça, olhando para Anúbis que me encarava com os punhos cerrados. A boca avermelhada estava entre aberta e lutei contra todos meus desejos para não ir até ele e abraça-lo o mais forte que eu podia.

—Eu acho melhor voltar para o quarto.-Falei. Anúbis assentiu e eu me virei, caminhando rapidamente para fora da cozinha.

Meu coração martelava no peito e eu estava tão elétrica que tive que parar no corredor, grunhindo, abraçando-me, tentando conter as borboletas que voavam em meu estomago. Metade de mim queria voltar lá e agarra-lo novamente, e a outra metade repreendia a primeira metade dizendo-me que era burrice botar tudo a perder.

Ouvi passos atrás de mim, virando-me tão rápido e com tanta esperança, que pareceu patético até para mim. Mas, para meu total fracasso, não era Anúbis.

—Keb...-Comecei, arregalando os olhos, e não tive tempo nem para me defender. A deusa enfiou uma seringa em meu pescoço, injetando um liquido grosso dentro de mim. Senti cada músculo de meu corpo paralisar, e por um momento tudo que eu pude fazer era encara-la, sem conseguir falar ou me mover.

Kebechet encostou-me contra a parede.

—Você é tão patética que sinto vontade de esfola-la aqui mesmo!-A mesma encarou-me, agarrando minha nuca com força.-Preparada para minha vingança?-Indagou e minha visão começou a se apagar, devagar e gradativamente, até eu estar em completa escuridão. 


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Notas finais do capítulo

Eai, gente? Oque acharam? Mandem reviews, a fic esta quase no fim, vamos fechar com chave de ouro? *u*
Proximo capitulo vai ser um tanto que... diferente. Será narrado por mim, na maior parte do tempo, porque nossa heroina vai estar um tanto que... inalcançável 'Huahsuahsuahsuahs
É isso ai chuchuzinhos, até o próximo!
Bye bye ♥