PDV HÓRUS.

–Oque são minhas ordens para vocês?! Qual parte do "estão proibidos de tocar em Natália" não entenderam?!- Questionou Rá, fulminando-me com o olhar. Trinquei o maxilar, não me importando em encarar o deus do sol da mesma forma.

–Foi só um beijo, oque há de mal nisso?!-Indaguei. Rá arrumou-se em seu trono e pude sentir a raiva do mesmo aumentar.

–Eu ordenei que não a tocasse, ordenei que não a atrapalhasse em sua missão!

–E oque é você?! Dono dela?!-Perguntei.

–Exatamente, Hórus. Eu sou o dono de Natália. Ela é uma parte de mim, e você não vai desvia-la de seu caminho!-Respondeu o deus do sol.

–O caminho que o senhor escolheu, não ela!-Rebati. -Nunca pensou que ela quisesse fazer algo diferente, ir por outro caminho?!

–Isso não importa. Enquanto for minha iniciada Natália fara oque eu quiser, para o bem do duat.

–Ah, por favor! Acha que é para o bem do duat mas é para o seu bem! Está tentando colocar o seu destino nos ombros de uma menina!

–Menina?! Agora eu que falo por favor, Hórus... Natália é uma menina, agora? Teremos que trata-la como uma criança? Um ser puro que não pode ser tocado?-Encarei Rá enquanto o mesmo ria sem humor.- Engraçado que não pensava isso quando se deitava com ela, não é mesmo?- Senti uma onda de raiva me invadir, levantando-me irado de meu trono.

–Hórus!-Censurou-me Ísis.

–Já chega, Hórus. -Ordenou Osíris.- Anúbis, leve seu irmão para esfriar a cabeça.- Virei-me para Anúbis, esperando vê-lo se levantar,mas ele não o fez. Franzi o cenho vendo o chacal ainda sentado, avaliando-me com o olhar. Uma risada alta soou no salão e foi Kepri que se levantou.

–Hórus, não seja ingênuo! Anúbis quase te matou uma vez por estar beijando nossa desejada menina sol e ainda espera que o mesmo fique do seu lado? -Indagou Kepri. Respirei fundo, lembrando-me de cinco anos atrás, sentindo a cicatriz ainda existente em meu pescoço coçar. Voltei-me novamente para Anúbis, vendo o deus de olhos fechados.

–Cale a boca, Kepri.-Ordenou o deus dos funerais.

–Ah... Eu , realmente, queria saber porque são tão apaixonados por aquela aquela garota. Me contem, quais são os encantos que ela esconde?

–Mandei calar a boca, Kepri! - Gritou Anúbis. O deus escaravelho sorriu, pronto para provocar ainda mais Anúbis, quando as portas da sala do trono se abriram. Néftis a adentrou com o queixo erguido, sendo escoltada pelo exército de Rá.

–Sr. Rá informamos que Geb está a caminho e, HM... Néftis está aqui.-Murmurou Max, olhando para a deusa da água de soslaio. Néftis sorriu com desdém, dando alguns passos em direção ao meio do salão e ,do nada, começou a berrar.

PDV NATÁLIA.

Nut caminhava maravilhada, encarando cada centímetro do duat com atenção. Seus olhos estavam marejados enquanto a mesma ria baixo, admirando as pinturas antigas esculpidas na parede

–Está tudo tão mudado...- Murmurou. Me entreolhei com Nefertum enquanto o mesmo se aproximava da deusa do céu, colocando uma mão sobre seu ombro.

–Nut, escute... Antes de continuarmos acho melhor te colocar a par da situação em que nos encontramos.- Murmurou Nefertum. Concordei com a cabeça.

–Oque?-Indagou Nut.

– Precisamos conversar, Nut... Precisa saber oque aconteceu nos milênios que esteve fora.- A deusa franziu o cenho, enquanto eu olhava para Nefertum. O deus assentiu, incentivando-me a continuar. Suspirei pesadamente contando tudo oque houve comigo desde que pisei no duat pela primeira vez. Contei sobre Apofis, sobre Set ,e sobre minha profecia, contei sobre Keb e sobre o enlouquecimento de Néftis, não exitando em um ofender a deusa o tanto quanto eu podia; Nefertum acrescentava algo as vezes mas deixou que eu contasse tudo a Nut do meu jeito, sem me interromper. Quando terminei, Nut havia parado de chorar; seu rosto estava sério e frio e não havia nem um terço da alegria que a mesma exibia a minutos atrás. A deusa suspirou, passando as mãos pelos cabelos negros com pesar.

–Então é isso... Meu filho Set se transformou em um monstro... E Néftis em uma vadia traidora.- Abri as boca para concordar com a deusa, porém, Nefertum avisou-me com o olhar para ficar quieta. Nut suspirou, olhando para mim com os olhos azuis cheios de dor. -É por isso que Rá me chamou aqui, garota? Para conter minha filha?! Para jogar em minha cara novamente o erro que foi dar a luz a eles?!

–Não, claro que não. Sr. Rá a chamou porque precisa de sua ajuda, Nut. Como de todos os outros deuses que se afastaram do duat.- Respondi. A deusa me encarou desconfiada, não exitando em mostrar seu desespero.

–Então... Me prometa que eu não voltarei mais aquele inferno... Que não voltarei mais aquela solidão! Prometa!

–Eu prometo.-Falei com convicção. Ficamos em silêncio por alguns minutos, enquanto Nut me avaliava com o olhar. A deusa inspirou fortemente.

–Você me deu sua palavra, garota. Não se esqueça disso. -Falou, antes de sair marchando em nossa frente. Olhei mais uma vez para Nefertum que deu de ombros, seguindo Nut logo depois.

Chegamos rápido a salão dos deuses. Parando na frente das portas da sala do trono. Tomei a frente, colocando a mão na maçaneta pronta para abri-la quando Nut me parou.

–Me deixe fazer isso...-Pediu a deusa.

–Como?-Indagou Nefertum.

–Quero sentir mais uma vez como é entrar nessa sala. Sentir-me uma deusa novamente...Deixar meu odioso passado para trás.-Dei espaço e Nut tomou meu lugar. A deusa fechou seus olhos, tocando a porta com as pontas do dedo, antes de abri-la com força. Abri um pequeno sorriso que se apagou assim que me deparei que vi o caos que estava a sala do trono.

–Deuses, a segurem!-Gritou Rá enfurecido, enquanto meu exército tentava conter Néftis que parecia ter piorado. A deusa já estava devidamente vestida e não parecia mais tão doente, porém, já causava. A mesma berrava e esperneava, tentando se soltar de Piatã que a segurava com dificuldade. Anúbis estava em seu trono, massageando as têmporas, enquanto Osíris tentava segurar Ísis que também não estava muito calma.

–MALDITOS,VOCÊS MATARAM MEU SET E AGORA PEDEM A MINHA AJUDA PARA VENCER ESSA DROGA DE GUERRA, PARA SALVAR AQUELA VADIA RAMSÉS?!-Perguntou Néftis indignada. -EU PREFIRO A MORTE!

–Não se preocupe, sua vaca. Podemos dar um jeito nisso!- Rosnou Ísis tentando se desvincilhar de Osíris. Trinquei o maxilar, pronta para gritar alguma ofensa, quando Nut me cortou.

–Oque é isso?!- Cuspiu a deusa do céu, incrédula. Todos se viraram assustados para nós enquanto Nut adentrava o salão devagar. A segui, olhando fixamente para Néftis, como se pudesse faze-la derreter com o olhar.

–Mãe...?!-Sufocou-se Néftis. Nut virou-se em cheio para a deusa da água e pude sentir sua raiva.

–Oque deu em vocês?! Minhas filhas...brigando como duas vadias!

–Mãe nós...

–Cale-se, Osíris! Não estou falando com você!- Vociferou Nut ainda fulminando Ísis e Néftis. - As duas... Me respondam!

–Mãe...-Choramingou Néftis.- Eles mataram o Set... Ela matou nosso Set!-Gritou apontando pra mim. Arqueei uma sobrancelha.

–E mataria de novo.-Falei. -Quantas vezes fosse preciso.-Néftis rosnou e Piatã a segurou mais forte.

–Eu sei, Néftis.-Falou Nut.- E...?-Néftis olhou incrédula para a mãe.

–Como pode soar tão calma?! Ele era seu filho!

–Disse bem, era! Set se transformou em um monstro e só essa menina pode dizer o mal que ele causou e a recompensa disso tudo foi a morte, muito bem merecida!-Nut apontou para mim, colocando o dedo no rosto de Néftis logo depois. - E você é a única que não viu isso, Néftis... Você foi meu erro!- Néftis estava de olhos arregalados, e abriu a boca para responder a mãe. Bufei, prevendo mais um de seus acessos, porém, não ouve nem tempo. Todos se viraram novamente para a porta quando uma voz grossa veio dela.

–E acho bom você obedecer sua mãe, ou esqueço que é uma deusa criada e não exito em te dar umas palmadas.- Com certeza isso era pra ser uma bronca, mas Geb não conseguiu conter sua felicidade. Os olhos do deus brilharam ao ver Nut e o mesmo sorriu. Senti um arrepio forte só de estar no meio daqueles dois. Geb era moreno e tão bonito como Nut. Tinha olhos e cabelos da com de barro e um sorriso branco.

–Geb...?- Sussurrou Nut. As lágrimas já rolavam pelo rosto da deusa e quando a mesma se virou foi como se todo o mundo fizesse sentindo. Entendi na hora o amor daqueles dois... Um verdadeiro amor.

Nut riu correndo em direção a Geb, abraçando-o como se os dois pudessem se fundir. Senti sendo-me observada mas não ousei olhar quem era.

–Natália...-Chamou-me Rá. Virei-me para o deus surpreendendo-me ao vê-lo sorrindo pra mim. Havia algo estranho nele, algum tipo de provocação que brilhava em seu olhar.-Bom trabalho...- Sorri para o deus, sentindo um peso saindo de meus ombros. Voltei minha atenção novamente para Nut e Geb , satisfeita aproveitando o pouco de alegria que me restava...por enquanto.