Na porta da casa de Thomas, eu sentia uma sensação de loucura. Pensei que nunca mais veria ele e, hoje aconteceram tantas coisas...

Toquei o interfone. Ninguém falou nada, apenas escutei a porta se abrindo. Meu corpo tremia e era muito estranho estar ali novamente, depois de cinco anos.

 A casa tinha uma garagem que comportava dois carros, a parede externa pintada de rosa pêssego, as janelas e telhas coloniais, a porta também era. Entrei e tudo estava calmo e muito escuro, com alguns móveis e quando cheguei na cozinha, estava tudo iluminado com velas, rosas brancas em cima da mesa e um cara de sorriso lindo olhando para mim.

— Bom, assim que vi seu e-mail, decidi fazer algo especial. Me recordei de cada desejo seu, o tipo de flor preferida, a iluminação e...

— Um garoto maravilhoso.

Mesmo não dando para enxergar perfeitamente, sua bochecha estava queimando em vermelho.

— Sente-se! Eu preparei o que você mais ama... Bolo de cenoura!

Eu comecei a rir. Ele realmente se lembrara de tudo.

— Vejo que está deixando a barba crescer – comentei sorrindo. Ele não tinha barba, aquilo era uma sujeirinha no queixo, entretanto, não podia perder a piada.

— Sei que está rindo ainda mais por dentro, mas você verá, terei uma barba tipo a de um viking! – Thomas dizia passando a mão no rosto.

— Aguardando esse dia chegar – olhei para os lados e algo estava errado. – Por que Lucas não está conosco? – mudei um pouco de assunto.

— Ele iria ficar conosco, ajudou a fazer o bolo, falou que visitaria um amigo e até agora...

Esse garotinho... sempre tentando nos deixar juntos.

Eu comia o bolo, que estava divino. Não era bem um jantar, mas era uma junção de tudo o que um dia eu sonhei em ter. Assim que acabei de comer, tentei puxar assunto com Thomas.

— Está cursando Matemática? – perguntei dando um largo sorriso.

— Como soube? Você é stalker? – ele deu uma risadinha.

— Fico feliz em saber que ainda é de exatas – dei outra risadinha.

— Está estudando na UFMG?

— Sim, depois de um longo ano estudando para o vestibular...

— Parabéns! É uma das melhores universidades do país, pretendo estudar muito também e entrar lá.

— Você é bem inteligente, até dói falar isso.

Demos algumas risadas e logo pensei em algum assunto.

— Você namorou nesses cinco anos? – perguntei olhando para ele e torcendo para uma resposta positiva.

Thomas coçou um pouco a cabeça antes de falar, parecia buscar por palavras que se encaixassem para que eu tentasse entender o lado dele.

— Parece até loucura, mas namorei uma Fernanda.

Aquele nome ecoou na minha cabeça, logo veio vários momentos dos meus quatorze anos. Era ela. A garota inteligente, bonita, cantora e que toca. Acho que me recordo de ter falado que eu não tocava nem interfone. Enfim, não podia tirar conclusões precipitadas, mas...

— Fernanda... Isso me lembra a ex-namorada do Iago – alfinetei.

— Não queria que soubesse assim, entretanto, é dela mesmo que me refiro.

Arqueei a sobrancelhas no mesmo instante. Tinha uma probabilidade de ser ela, mas poxa, logo ela? Já citei várias vezes que essa menina é um espetáculo, quem sou eu perto dela!

— Você deu sorte... – falei tomando um gole de suco de laranja que estava em cima da mesa.

— No início, não sabia que era a ex-namorada do Iago, admito. Por volta de um mês, ela havia me contado sobre antigos casos de amor.

— E sabe o motivo pelo qual terminaram?

Thomas suspirou com aquela pergunta. Algo que eu estava em dúvida há anos.

— Olívia, o Iago era uma caixinha de surpresas. Bem, ela me contou que ele terminou com ela sem um motivo, mas ouvia pelos outros que a coisa mais fácil seria ficar com você, então, como já sabe, ele fez a aposta. Ela me dizia também, que depois que soube de vocês, acabou encontrando com ele e o xingou, mas entre esses xingos, ele dizia que realmente gostava de você apesar disso tudo...

Então, ele dizia a verdade quando “terminamos”. Eu passei a ignorar Iago com o tempo e, com a ausência de Thomas, ele tentava todos os dias me conquistar. Eram palavras jogadas ao vento. Contudo, assim que entrei para a faculdade e não tive mais contato, me perguntava se aquela paixão que ele dizia sentir por mim era verdadeira. Agora sei, que por mais babaca que ele foi, sentia paixão por mim.

— Enfim – tentei rodear o assunto. – Namorou por quantos meses com ela?

— Apenas três meses. Não cheguei a me apaixonar, sentia que ela não era a garota que eu todos os dias pensava – me encarou dando um sorriso de canto. – Pelo visto, você está namorando...

Thalia havia me dito para deixar claro as coisas entre eu e Miguel. Todavia, naquele momento eu não sabia o que falar. Não estávamos namorando mas tínhamos algo. Eu não sabia o que seria esse “algo”.

— Acho que deve se lembrar do Miguel...

Thomas desfez aquele sorriso e se ajeitou na cadeira.

— O cara da loja de cupcakes. – falou ele. – Bem que naquela época ele se mostrava interessado.

Thomas fez uma expressão de derrota. Me dei conta do que estava acontecendo.

— Thomas... Eu não estou oficialmente com Miguel. Desde que você se foi, ele tentou várias vezes me conquistar e, no final do ano passado, eu estava dando uma chance para eu ser feliz com ele, já que ele é cunhado de uma das minhas melhores amigas, da Rosa, como deve se lembrar. Estou saindo com ele desde então, e agora... – olhei para meus pés. – Ele se declarou... me pediu em namoro.

Após ouvir aquilo, Thomas balançou levemente a cabeça e olhou para o chão.

— Você provavelmente pensa em aceitar... – falou e estralou alguns dedos.

— Não tenho certeza... Miguel é um cara incrível, tenta me fazer feliz a todo custo, gosta realmente de mim... mas, sabe quando uma pessoa faz seu coração disparar apenas por estar respirando o mesmo ar que você?

Ele olhava atentamente para mim. Apenas balançou a cabeça.

— Olívia, me ajuda a guardar esses pratos? – ele cortou o assunto.

O ajudei a arrumar a cozinha, lavei as louças e guardei o bolo no forno. Quando a arrumação acabou, encostei na mesa e tirei o celular do bolso. Já era tarde. Ficar com Thomas era tão bom que não queria ir para casa, então marquei mentalmente que deveria ficar por mais alguns minutos, algumas horas talvez.

— Quando entrar na UFMG, pretende morar aqui? - perguntei.

— Acho que sim, isso depende do que acontecer...

— Tipo o quê?

— Eu não sei, talvez algo me prenda nesta cidade e eu não volte para Bom Despacho.

Cruzei os braços já imaginando o que ele queria dizer.

— Uma garota? – falei.

— Que tem um jeito tsundere, perde brincos, tem cabelo cacheado e que está de frente para mim neste exato momento. A garota pela qual meu coração dispara só por respirar o mesmo ar que eu –disse ele passando a mão no cabelo por vergonha.

Suspirei e não escondi o sorriso.

— Seu lugar não era perto de mim – falei lembrando dos dia que ficamos separados.

Ele chegou lentamente perto de mim. Seu cabelo loiro refletia meus olhos.

— Eu posso tentar te convencer que meu lugar é perto de você?

Meus olhos se fecharam e sem que eu percebesse, estava sentindo a respiração de Thomas. Ele encostou seus lábios calmamente nos meus e jogou meus cabelos para trás. Me puxou um pouco para perto de si, eu sentia nossos lábios se moverem devagar. E assim, um longo beijo acontecia. Me afastei um pouco quando estava já sem ar. O olhei fixamente e dei um sorriso.

— Você sempre terá um lugar em mim...— falei em seu ouvido.

Ele sorriu e me abraçou. Neste momento, meu celular vibrou em meu bolso. Era mamãe avisando que já estava na hora.

Era horrível pensar que teria que deixar- lo.

— Pelo visto, terá que ir... – ele disse passando a mão no meu cabelo.

Fiz que sim com a cabeça.

— Amanhã você está livre? Poderíamos sair com o Lucas.

— Eu adoraria.

Thomas me acompanhou até a porta e deu um singelo beijo na testa.

— Obrigada por essa noite linda – eu disse enquanto pegava minhas chaves.

Entrei em casa e atirei na cama. Não acreditava no que havia acontecido. Queria gritar por toda a casa o quanto eu estava feliz, o quanto aquilo não cabia mais em mim. Agora já não havia mais dúvidas, não deveria mais deixar Miguel esperando já sabia quem era o cara que fazia meu coração enlouquecer.

Verifiquei meu e-mail e dou de cara com duas mensagens novas.

De: Miguel - miguel.bittencourt02@gmail.com

Para: Olívia – viaconstance99@ gmail.com

Enviada: 13 de Janeiro – 18:02

Assunto: -

Oi, Olívia. Bom, sei que já estive na sua casa e saímos tem pouco tempo mas queria te chamar para sair amanhã com a Rosa e o Rafael, você topa? Ah, pense com carinho no que te falei hoje.

Beijos.

Miguel não estava disposto a largar tudo e esquecer da minha existência. Antes que eu pensasse em uma resposta, verifiquei o outro e-mail.

De: Rosa - rosinhabonita@gmail.com

Para: Olívia – viaconstance99@ gmail.com

Enviada: 13 de Janeiro – 19:10

Assunto: Bebês

Fala, mulher! Cara, o Rafael quer comprar algumas coisinhas para os bebês. Falei para ele que ainda era cedo, mas me diz se aquele menino me escuta? E ele até chamou o Miguel! Ai eu pensei “Uai... uai...”, não tive como recusar! Ah, fiquei sabendo que o Thomas chegou. Danadinha, já deve ter ido lá desentupir essa pia. Enfim, a questão, é que estou te chamando para ir. Lembre-se: amanhã, às 14 horas você tem um compromisso.

Abraços da sua Rosa.

Ótimo, eu tinha dois compromissos no mesmo dia. Noé, me afoga!

Respondi Rosa falando que ia, por outro lado, deixei Miguel sem resposta, ele vai me ver mesmo, não há motivo para gastar palavras.

Antes de dormir, mandei uma mensagem para Thomas.

De:  Olívia – viaconstance99@gmail.com

Para: Thomas– thferreira@gmail.com

Enviada: 13 de Janeiro – 22:54

Assunto: Lucas, eu e você

Thomas, eu acabei de receber uma mensagem de Rosa me convidando para sair. Podemos marcar para noite nosso compromisso ou deixar para um outro dia? Espero sua resposta. Tenha uma ótima noite!

Com carinho,

Olívia.

Thomas respondeu mais rápido que pôde.

De:  Thomas– thferreira@gmail.com

Para: Olívia– viaconstance99@gmail.com

Enviada: 13 de Janeiro – 23:07

Assunto: Re: Lucas, eu e você

Boa noite, Olívia! Não me importo de ser à noite, qualquer coisa eu te levo de carro ou você me leva no seu carro... Não importa! Durma bem, sonhe comigo também, haha!

Com mais carinho,

Thomas.

Fim do capítulo 35.