– BOM DIAAAA!!!!! – disse mamãe.

Eu não respondi, nem Thomas.

– Nossa! Eu sabia que aquela cantoria no meio da noite ia dar um apagão em vocês.

Continuamos em silêncio.

– Se não responderem, vão ficar sem sobremesa!!!

– BOM DIA, LINDA MÃE – falei levantando depressa – Está um lindo dia, por isso vou até me levantar – fingi um bocejo – Levanta, Thomas!!!!

Thomas me olhou com desdém e mal falou um “Bom dia”. Mamãe falou que o café estaria pronto daqui uns minutos e então saiu do quarto.

Sentei na beirada no colchonete de Thomas e passei a mão nos cabelos dele. Ele estava de costas pra mim, muito quieto, como estivesse preparando para voltar a dormir.

– Ei – falei balançando seu braço.

– Hm?

– Está na hora de acordar, não acha?

– E desde quando você se preocupa com o horário que acordo?

Levantei uma sobrancelha e dei um leve soco na sua cabeça.

– Deixa de ser rude, seu idiota! Não quero que você fique o dia todo ai deitado.

– Por que não? – ele falou com uma voz rouca.

– Porque – pensei em um motivo mas nenhum era convincente – Ora, chega de perguntas! Levante-se ou eu vou ser obrigada a te dar uns tapas!!!

Ele se levantou, esfregou os olhos, olhou pra minha cara e disse:

– Pode me dar uma mão? – ele deu um sorriso e estendeu sua mão.

– Te dou até os pés pra você não ficar ai. – eu comecei a rir e fomos juntos escovar os dentes.

No banheiro, eu dei meu ataque de loucura de sempre. Olhei para o espelho e não acreditava no que eu via, era algo gigantesco, coisa de outro mundo, aquilo era horrível e ...

– É só uma espinha, escandalosa! – Thomas fechou a cara e soltou um suspiro.

Minha vontade era de entupir a boca daquele moleque com creme dental, mas não estava afim de ganhar uma surra da mamãe, então eu disse com minha voz serena:

– SÓ UMA ESPINHA? ESTÁ VENDO ESSAS OUTRAS AQUI? EU VOU ESTOURAR ELAS NA SUA CARA, IGNORANTE!!! – ah, meu doce tom de voz... Tão calmo.

Peguei uma pomada qualquer e taquei na minha cara. Thomas começou a rir.

– Qual a graça?

– Você leu ou viu que pomada era essa? – ele chorou de rir.

Era uma pomada de assadura. Cara, que vacilo! Eu lavei minha cara com sabonete umas quinhentas vezes e ainda sinto aquele cheiro de bumbum de bebê. Merda!

Assim que me certifiquei que eu estava cheirando à lavanda e não à pomada, fui escovar os dentes. Quis fazer uma besteira: joguei a espuminha que estava na minha boca no rosto de Thomas. Era minha vingança.

– Isso não fica assim! – ele colocou mais pasta na escova e começou a escovar os dentes rápido.

Enxaguei minha boca e depois fui recebida com uma espuma de creme dental na cara. Ele sorriu e também foi enxaguar a boca. Lavei meu rosto e fiquei com cara emburrada.

Fiquei com a cara emburrada no café e no almoço. Entretanto, minha mãe fez com que ela ficasse normal, ou ela ia ficar vermelha de vergonha das palmadas que eu ia levar. Até demonstrando meu humor eu apanho, pelo amor...

Eu entrei no meu quarto e fui procurar meus brincos, não que eu goste, é que num passe de mágica, todos eles foram pra outra dimensão e se quiser ter um visual legal quando eu for sair com Thomas novamente... Não, não! Sair com o Iago ou meus pais, ou o escambau que for, não posso ficar por baixo e nem por fora!

– Achei um danadinho! – falei. – Agora me diga, onde estão seus amigos? Heim? Responda ou sofrerá as consequências, seu maldito!!! – dei um sorriso ao perceber que estava falando sozinha com uma bijuteria.

Eu ainda estava procurando os brincos. O pior que não era só um par, era uns 15 pares ou mais. Já estou ouvindo minha mãe dizer: “Eu não vou comprar nada pra você! Ou você acha ou você fica sem... Fui clara?! “, estou na beira do abismo.

– Ainda está procurando aqueles velhos brincos? – perguntou Thomas me assustando e afastando meus pensamentos.

– Não, estou procurando quem pediu sua opinião sobre eles!

Ai, eu nem ia dormir depois dessa. Um belo tapa na cara.

– Opa! Sempre esqueço que você não é mansa.

– Chega desse papinho idiota e vem me ajudar a procurar!!!

– O que eu ganho com isso?

– Ah, esquece! – voltei a ficar emburrada.

Thomas deu um sorriso e balançou a cabeça. Acho que minha carinha de raiva está funcionando.

– Faço isso pelos brincos, não por você – ele disse se abaixando e apertando minha bochecha. Logo ele tirou porque eu die um tapa naquela mão.

Ficamos procurando igual malucos aquelas malditas pedrinhas falsas. O que era 15 pares diminuiu para 4 pares. Estava a ponto de desmaiar, então deitei naquele chão frio (e limpo, para deixar claro) e fechei os olhos.

– Olívia...

– Que foi?

– Tenho que te contar algo...

– Fala logo e não enche!

– É que... Iago te ligou.

O QUE? COMO ASSIM EU NÃO ESTOU SABENDO DE NADA? POR QUE ESSA MARMOTA NÃO ME CONTOU NADA? POR QUE ELE ESTÁ CONTANDO AGORA? POR QUE ESTOU ME ENCHENDO DE PERGUNTAS?

Levantei rápido e peguei Thomas pela gola de sua blusa, o mesmo caiu no chão. Eu não estava entendendo mais nada.

– POR QUE VOCÊ NÃO ME CONTOU? – gritei

– Calma, eu posso explicar, fique calma e saia de cima de mim.

– EXPLICAR? EXPLICAR QUE VOCÊ NUNCA GOSTOU DE MIM E NÃO QUER ME VER FELIZ?

– EU NÃO TE CONTEI PORQUE ESTOU TENTANDO TE PROTEGER, SUA IDIOTA!

Soltei sua gola e fiquei o encarando imóvel.

– Por que... Por que quer me proteger? – falei baixinho e lágrimas involuntárias tomaram conta do meu rosto.

– Eu...

– Me diga o que ele falou! – eu disse cortando a fala dele.

Ele parecia mal de verdade por não ter me contado logo. Passou as mãos em seus cabelos, olhou em meus olhos e começou a falar (isso me lembra uma música) :

– Ele disse que tinha algo importante para falar pra você hoje, e queria que você o encontrasse na praça. Eu atendi o telefone ontem enquanto você estava tomando banho, seus pais e nem Lucas perceberam. Assim que entrei em seu quarto para ver se você já tinha terminando eu ia dar a notícia mas – ele pegou olhou para baixo e corou um pouco – Quando eu vi você... Quando eu vi você linda, decidi que ia falar no jantar. Quando você tinha terminado de comer a sobremesa e seus pais tinham saído, eu pensei em falar, porém vi que não queria desperdiçar aquela noite com você... E aquela música e seus olhos nos meus me desencorajou mais e mais.

– Thomas...

– Mas eu quero ver você feliz, então ainda dá tempo, ele deve estar lá te esperando. Ele marcou com você às 16:00, agora deve ser 16:05...

Eu não sabia o que dizer. Meus olhos estavam vermelhos... Eu não sabia se eu deveria ficar ou ir. Não sabia se era Thomas ou Iago. Mas quando vi Thomas se levantando, abrindo a porta e dizendo:

– É melhor você ir logo.

Eu agi por impulso. Peguei as chaves e alguns trocados na gaveta e disse para minha mãe que ia sair para comprar alguma coisa. O céu estava nublado e dando sinais que ia cair um toró. Eu fui sem olhar para trás.

Quando virei a esquina, lá estava ele.

Fim do capítulo 16.