Não imaginei que a despedida fosse doer tanto. Eu já estava me acostumando com as loucuras da Julia e com a amizade da Sabrine. As duas se tornaram minhas grandes amigas em poucos dias. Trocamos telefone, redes sociais e endereço. Elas não iriam se livrar de mim tão fácil. Antes de ir embora, contei os últimos acontecimentos pra Sabrine e ela ficou tão feliz que pensei ter ganhado o Oscar. Ela arrumou as minhas coisas e levou até o ônibus, eu ainda não estava preparada para encontrar a Natália.
— Não esqueçam de me convidar para o casamento. - ela gritou do lado de fora
— Você será a madrinha.
Ela riu e acenou.
Eu e o Mateus sentamos no fundo do ônibus.
— Esses dias foram incríveis. - ele disse acariciando os meus cabelos
— Foram maravilhosos.
— Liv, você tem que me prometer uma coisa. - levantei a cabeça e concordei com a cabeça — Você não vai cair nas pilhas da Natália. Ela vai te provocar mas você vai ignorar porque é superior, entendeu?
— E como você sabe de tudo isso?
— Quando eu contei que estávamos juntos ela disse que não deixaria barato. Ela estava bem nervosa.
Passei meus braços em volta do pescoço dele e o abracei com força.
— Ela não vai conseguir nos separar.
— E o Pedro?
Afrouxei o abraço e olhei para o corredor. Pedro estava andando em nossa direção. Droga.
— Então é verdade? - ele perguntou enquanto se aproximava
Eu e o Mateus ficamos em silêncio, mas pude sentir seu corpo ficando tenso.
— Não me diga que vocês estão juntos desde aquele dia do show.
Silêncio.
— O que foi, agora vocês vão se fingir de santos? - Pedro disse gritando.
Mateus levantou e colocou a mão no peito dele, o empurrando para trás.
— Porque você não nos deixa em paz? Não temos nada pra te contar. Estamos juntos sim mas isso é a única coisa que você tem que saber.
— Parece que a última surra não foi suficiente né Mateus?
Levantei rapidamente e entrei no meio dos dois.
— Pedro, você não vai encostar um dedo dele.
Ele deu um risada gostosa.
— Veio defender o namorado, é isso?
— Sim. - falei erguendo a cabeça e olhando ele nos olhos
— Ótimo! Eu sei que esse namoro não vai dar certo. O Mateus é sem sal, você vai cansar dele em poucos dias.
Pedro deu as costas e foi sentar lá na frente. Eu finalmente soltei a respiração e peguei o Mateus pela mão. Ele estava com a cara fechada, os olhos ainda vidrados no Pedro.
— E aquele negócio de não cair na pilha? O Pedro só quer encher o saco. Deixa pra lá.
Ele tirou os olhos do Pedro e me olhou.
— Você vai se cansar de mim?
Me aproximei dele e depositei um beijo no seu pescoço, depois do queixo e finalmente na boca. Ele sorriu e me abraçou.
— Eu nunca vou em cansar de você.
— Promete?
Abri um sorriso e puxei ele pra perto de mim, colando nossos lábios novamente.
— Prometo. - sussurrei somente pra ele ouvir.

*****
Passei metade da viagem dormindo. Minha cabeça estava no peito do Mateus e sua respiração estava calma, relaxada. Era como música pra meus ouvidos. Sorri com a sensação reconfortante e fechei os olhos novamente.
Uma sacudida no ônibus me acordou. Abri os olhos e encontrei o acento ao meu lado vazio. Mateus. Levantei e procurei ao redor, o ônibus estava escuro, o que não ajudava muito. A maioria das pessoas estavam dormindo mas um sussurro na frente me chamou a atenção.
— Eu não consigo acreditar que você preferiu ela.
Natália.
— Meu coração sempre foi da Liv.
Um riso amargo saiu da boca dela.
— Ela é tão... comum.
— E qual é o problema em ser comum? Eu também sou.
— Não Mateus, você não é. Você acha que se você fosse comum teria chamado a minha atenção? Você é confiante, inteligente e pensa no futuro de uma forma linda. E o seus olhos... Meu Deus, eles me enlouquecem.
Mateus riu e pela primeira vez eu senti vontade de matar alguém. Ele estava feliz em conversar com a Natália. Dei um passo para trás.
— A Liv também não é tão comum. Ela é inteligente, criativa, confiável e bonita.
— A beleza dela é comum. Você encontra em toda esquina.
— Você está enganada. Não existe ninguém igual a Liv, ela é única.
Meu coração se acalmou e eu sorri.
— Droga, Mateus. - Natália disse — Você acha que isso vai dar certo?
— Eu confesso que não sei, mas vou fazer de tudo para dar. Demorou muito tempo para eu ter minha chance com a Liv e eu não vou desperdiçá-la. Agora eu preciso ir, daqui a pouco ela acorda.
Voltei para o meu acento e fingi que estava dormindo. Mateus sentou ao meu lado e me cobriu com a sua blusa de frio.
— Mateus. - sussurrei
Ele me puxou novamente para o seu peito e acariciou meu rosto.
— Eu estou aqui, pode voltar a dormir.
Meu corpo relaxou e eu fechei os olhos.

*****
Quando descemos do ônibus meus pais já estavam nos esperando. Mateus foi o caminho todo contando para o meu pai sobre a cachoeira, as árvores e todas as coisas lindas que havia visto.
— E você, Liv - meu pai perguntou — Gostou?
— Foi perfeito.
Peguei a mão do Mateus e apertei com força, ele sorriu.
— Você vai para sua casa ou vai dormir na nossa? - minha mãe perguntou
— Se vocês não se importarem eu queria dormir na casa de vocês.
Meu pai riu e ele e minha mão se olharam.
— Você já é de casa.
Depois de alguns minutos chegamos em casa. Mateus foi tomar banho e eu comecei a tirar as minhas coisas da mala. Minha mãe entrou no quarto e fechou a porta atrás dela.
— Pode me contar tudo.
— O quê? - soltei uma risada — Não tem nada para contar.
— Depois de dezesseis anos começou a mentir, Lívia? Eu sei que aconteceu alguma coisa. Você e o Mateus estão sorridentes.
— A viagem foi incrível, é só isso.
Minha mão cruzou os braços e me olhou com um olhar do tipo "vou ficar aqui até você me contar"
— Bom... aconteceu algumas coisas. Aliás, aconteceram várias coisas mas o que você quer saber é se eu e o Mateus estamos juntos e sim, nós estamos.
Ela sorriu e me puxou para um abraço apertado.
— Eu sempre soube que vocês ficaram juntos.
— Agora me diga, como você sabia disso?
Ela parou de me abraçar e segurou a minha mão.
— Eu sempre percebi a forma como ele te olhava, Liv. O Mateus sempre foi apaixonado por você. Desde quando era pequeno.
— E porque não me disse?
— Você precisava enxergar com seus próprios olhos, filha. Tudo tem o tempo certo e o de vocês é agora. Que tudo dê certo.
Abracei a minha mãe novamente e só soltei quando ouvi a porta do quarto abrir. Ela sorriu e saiu do quarto.
— O que eu perdi? - Mateus perguntou
— Eu contei pra minha mãe.
Ele arregalou os olhos.
— O que ela disse?
— Ela adorou. Ela sempre quis que nós dois ficássemos juntos.
— Acho que sou um cara mais sortudo do mundo. Tenho a namorada mais linda e os sogros mais incríveis.
Me aproximei dele e passei a mão em seus cabelos molhados.
— Namorada?
— Você não é a minha namorada? - ele perguntou
— Eu não sei, sou?
Mateus riu e fez o inesperado, se ajoelhou na minha frente e pegou uma das minhas mãos.
— Liv, você quer namorar comigo?
— Sim, sim. Mil vezes sim.
Ele levantou e me abraçou.
— Hoje é o dia mais feliz da minha vida.
Beijei levemente o seus lábios.
— Eu te amo.
— Eu te amo mais, muito mais.
— Agora só falta a aliança. - falei sorrindo
Mateus olhou ao redor do quarto e achou um pedaço de barbante, amarrando no meu dedo indicador.
— Em sinal do meu amor e da minha fidelidade. Até o fim da minha vida.