Dias se passaram e a depressão de Lyssa era tão forte, que tia Mary deu uma telefonada para seus pais e eles voltaram correndo. Demorou uns dias, mas quando eles finalmente voltaram, comprovaram que ela estava sofrendo de um mal que não havia nada que eles podiam fazer: mal de amor.

Gostava quando sua mãe ou sua tia entravam no quarto e tentavam convencê-la a ir para a escola ou quando diziam que Alice estava lá em baixo, porque gostava de ouvir as vozes delas, mas nem levantar da cama para receber sua amiga ela fazia. A saudade de Igor era tão forte que enfraquecia seus ossos da cabeça ao pés, a impedindo de conseguir se mover.

Como ele podia não se lembrar dela? Como?

Certo dia, Alice apareceu em sua casa, com um olhar triste, braços cruzados sobre o peito e jogou a mochila contra a parede de forma violenta.

– É o seguinte. Se você não se arrumar e vier a escola comigo, agora, pode esquecer que sou sua amiga - disse, firme.

Lyssa pensou em magoá-la, deixá-la ir e fazê-la pensar que sua amizade não era tão forte quanto Alice pensava, mas a verdade era que Lyssa não suportaria perder mais ninguém, principalmente sua melhor amiga de todo o mundo. Alice esteve ao seu lado nos melhores e nos piores momentos. Não poderia deixá-la partir.

– Pegue a minha roupa ali dentro, por favor. Eu vou tomar um banho - sua voz estava rouca, já que não falava a dias, mas o sorriso no rosto de Alice e sua euforia escolhendo uma roupa para ela fez seu dia valer mais a pena.

Banhou-se, escovou os dentes, vestiu-se, calçou um par de tênis e pendurou a mochila nas costas. Não conseguiria pensar em mais nada, mas se fazia sua família e sua amiga mais felizes, então ela iria.

Como, de fato sabia, não prestou atenção nenhuma nas aulas, mas observou Igor conversar com seus amigos e a ignorar como sempre fizera. Por um lado, se sentiu aliviada de vê-lo tão sorridente, mas pelo outro, seu coração ficava em cacos dentro dela, o que só dava mais vontade de chorar. Alice segurou sua mão por cima da cadeira e Lyssa sorriu. Alice a entendia como ninguém.

Quando Alice foi ao banheiro, no intervalo, Lyssa viu que Igor estava parado perto das escadas, pensativo. Não conseguiu controlar suas pernas e acabou caminhando até ele.

– E ai? Como é estar de volta? - Lyssa controlou sua voz que ansiava por tremer em presença dele.

– É meio estranho, mas bom - sorriu, mas Lyssa ainda sentia a falta daquele sentimento, de quando ele ria para ela e parecia realmente gostar de rir para ela.

– Igor, você se lembra de mim? - seu coração queria que ele dissesse que nunca a esqueceu, que não poderia, porque ela era o amor de sua vida.

– Você estava no hospital quando eu acordei, não é? Não sabia que estudávamos na mesma escola. E você já é enfermeira. Parabéns! - ele confirmou o que ela temia e sua garganta começou a se fechar. Talvez morrer não fosse uma opção tão ruim afinal.

– Posso te dizer uma coisa? - quando ele fez que sim com a cabeça, ela continuou - E-Eu amo alguém... E esse alguém também me amou muito, mas aconteceu uma coisa e ele não se lembra disso, não se lembra de mim. Acha isso possivel?

– Talvez ele não tenha te esquecido. Talvez ele só esteja confuso - esse comentário a fez ter um pouco de esperança, só um pouco.

– Acredita que sua alma possa vagar para fora do corpo? - ela perguntou. Se a verdade estava dentro dele, mesmo que embaralhada, talvez isso o ajudasse a se lembrar de tudo.

– Eu espero que o idiota se lembre de você - Igor se afastou e ela sentiu que o assustou com aquele assunto - Eu tenho que ir.

– Tudo bem. Acho que te assustei... - quando ela disse isso, Igor a olhou com confusão, depois entendimento - Está tudo bem. Me avisaram que você voltaria a ser o cara que não sabia que eu existia.

Lyssa se afastou e o deixou paralisado naquele mesmo lugar por horas.

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Mais tarde, tia Mary fez um pote de pipoca e a ofereceu.

– Minha mãe não consegue ficar parada em casa, não é? - perguntei, mas tia Mary apenas riu.

A campainha toca e Lyssa se oferece para abrir a porta. Lucas estava do outro lado, deixando-a sem graça por estar de pijama.

– Lucas, aconteceu alguma coisa com o Igor? - perguntou ela, preocupada. Foi quando viu Igor atrás dele, acenando tímido com a mão - Igor? O que fazem aqui?

– Podemos conversar? - disse ele, em tom misterioso.

Lucas foi embora depois disso e tia Mary, apesar de ter resmungado, subiu e os deixou sozinhos na sala.

– E então...

– E se ele se lembrasse, o que você faria? - sua saliva começou a descer pela garganta como ácido e ela sentiu que estava suando frio.

– Esquece isso, Igor. E só tentei puxar papo. Ele nunca vai se lembrar - tentou disfarçar - Foi um assuntou esquisito. Eu sempre fico esquisita...

– Quando está perto de mim, não é? - disse Igor e o coração dela disparou - E se ele estivesse com medo da verdade? Apavorado, na verdade.

– Eu diria para ele não ter medo. Na verdade, eu também estou apavorada. Nunca senti por alguém o que eu sinto por ele, mas vale a pena - ela respondeu, sentindo todos os centímetros de seu corpo queimarem por ele.

– Você o ama tanto assim? - Igor caminhou até ela e segurou suas mãos.

– Igor, eu... - ela queria parar com aquilo e beijá-lo - Eu o amo.

– Ama? - repetiu ele.

– Eu amo você - Lyssa finalmente disse.

– Eu também amo você - disse ele e a beijou apaixonado.

...