– Skye, como estamos com os radares? – Coulson perguntava pela sétima vez em duas horas.

– O sinal está firme e operante, senhor – a garota respondia enquanto passeava os dedos pelo mapa virtual. – Nessa área o radar capta uma enorme quantidade de energia.

– Pelas cores do espectro, podemos dizer que a área laranja é a mais próxima do nosso alvo, senhor. – Fitz auxiliava a hacker, usando o palmtop.

– Dessa distância, podemos monitorar melhor o que acontece lá dentro, senhor. – Jemma completava o raciocínio do trio. – Fitz pode guiar os labradores e Skye pode quebrar os códigos através da rede wi-fi que está entorno do prédio.

– Façam isso, então. Preciso repassar o plano com Harpia e Romanoff.

– Senhor! – Skye chamou uma última vez, antes que Coulson voltasse ao escritório. – Peça para a Harpia passar aqui antes de “decolar” – ela fez as aspas com os dedos, mas foi ignorada por Phill. – Enfim, ela vai precisar do último brinquedo do Fitz, que teve um belo toque da Bioquímica, devo confessar.

Skye sorriu ao segurar o dispositivo.

– Este é o que chamamos de Hemoidentificador Molecular de Curto Alcance. – Simmons começou o raciocínio com um belo sorriso nos lábios. – Com ele, vai ser fácil procurar o Ward quando já estiverem no Canadá. Nós utilizamos algumas amostras de sangue colhidas ainda no período...

– Tudo bem, Simmons – Coulson a interrompeu, nitidamente perdido na história. – Chamarei ela aqui em breve.

Coulson saiu preocupado. Ele confiava na equipe, mas ter tantas pessoas dentro do Bus parecia tornar o clima mais tenso. Passou pela cozinha e tomou dois goles de água, encostando-se sobre o balcão.

– Você está muito pensativo.

A voz de Melinda fez com que seu corpo retornasse daquela espécie de transe. Eles já haviam enfrentado a HIDRA uma vez, não era difícil de imaginar por que Phillip Coulson mantinha um semblante preocupado em sua face desde o início daquela operação.

– Tenho medo do que pode acontecer.

– À S.H.I.E.L.D? – ela dava alguns passos na sua direção, ficando na frente dele com os braços soltos ao lado do corpo.

– Sim, May.

Ele não quis encarar a piloto. Desencostou-se do balcão e levou o copo até a pia de inox, fingindo estar sozinho naquele espaço. May conhecia aquela expressão. Sabia o que se passava na mente de Coulson e apenas queria uma oportunidade de ajuda-lo a passar por aquilo.

– Você não é o único, Coulson – ela apoiou a mão sobre o ombro dele e Phil parou de girar a esponja dentro do copo. – Mas não precisa ficar nesse estado.

Coulson quis segurar a mão dela naquele momento. Queria inclinar o rosto sobre aquela mão macia que se despia do próprio ego para ampará-lo. No entanto, permaneceu focado na parede estática, ainda segurando o copo ensaboado nas mãos. Não queria demonstrar sinais de fraqueza, mas seu coração precisava de algum conforto. Deixou a água preencher o copo algumas vezes e lavou as próprias mãos em seguida, enxugando-as com uma pequena toalha de rosto no suporte ao lado da pia. Apenas virou-se e deu um meio sorriso para ela, atravessando a cozinha em direção ao seu escritório onde encontraria Harpia e Romanoff.

Melinda May havia ficado para trás.

(...)

– Já entendi, eu vou me infiltrar no ninho levando a Natasha. Tá no papo.

– Você vai ter que me espancar muito se quiser que isso seja no mínimo convincente. – Natasha respondeu, conferindo as pistolas mais uma vez.

– Nós vamos lutar um pouco antes de entrar, Romanoff. É o único jeito de fazermos isso parecer real.

– Que bom que estão se entendendo – Coulson interveio mais uma vez. – Vocês serão nossa entrada para o esconderijo da HIDRA.

– Ótimo. – as duas responderam meio de mau gosto.

– Por favor, tentem não se matar no meio do caminho.

– Isso eu não garanto.

Bobbi seguiu logo atrás dela já com o novo dispositivo de Fitz nas mãos e ambas se dirigiram até a rampa de carga para esperarem o lançamento. Coulson as assistia se distanciarem do avião, vendo os paraquedas se abrindo e pairando levemente pelos céus. Em breve elas estariam em terra, coordenando a parte tática do plano. Phil levou uma das mãos à cabeça, encucado. May também estava indo em direção à rampa quando foi parada pela pergunta de Phil:

– Acha que foi uma boa ideia?

A asiática digitou no painel fazendo a rampa fechar-se novamente e respondeu de imediato, sem olhar diretamente para Coulson.

– Deveria ter pensado nisso antes de colocar as duas juntas na mesma missão.

May deixou que as palavras afundassem na mente dele e seguiu seu rumo até o laboratório, com um leve suspiro de satisfação. Ela não gostava realmente de vê-lo com aquela expressão preocupada, mas ela já tinha tentado animar Phill uma vez naquele dia, não ia fazê-lo de novo tão cedo.

– Skye, como estamos com as comunicações? – May perguntava quase sem interesse, ainda observando Coulson de longe. – Alguma novidade?

– Acabei de atualizar o Coulson. Delimitamos um perímetro, já sabemos a rota de um dos comboios e graças aos marcadores do Fitz, poderemos segui-los até a base da HIDRA.

– Ótimo. – May já havia ouvido aquela informação há alguns minutos atrás. – Siga-me até a sala de reuniões agora.

Fitz olhou para Jemma e a garota lançou um olhar questionador para ele. Skye parou de digitar e apenas virou-se para olhar para a piloto, que permanecia séria, com as mãos cruzadas e soltas na frente do corpo. A garota tinha a boca aberta, não conseguia lembrar de ter descumprido alguma regra até então, mas a lembrança dos lábios de Steve a fez entender o motivo daquela intervenção. May com certeza iria destruí-la por aquilo.

– Com licença.

Skye levantou-se calada e seguiu Melinda, deixando os cientistas intrigados. Kate, que observava tudo um pouco mais afastada deles, juntou-se a Fitz-Simmons, com um ar de preocupação.

– Essa garota está mega ferrada.

– Por que está dizendo isso, Kate? – Fitz coçou a cabeça e voltou a girar mais uma pecinha do novo comunicador com a chave de fenda.

– O que vocês duas andaram aprontando? – Simmons percebeu o ar de cumplicidade nos olhos de Kate.

– Euzinha? Não fiz nada que comprometesse meu traseiro... Mas essa daí... – Kate balançou a cabeça negativamente.

– Nós já sabemos que ela e o Steve... Bem...

– Se pegaram na sala dos computadores – Kate terminou a frase. – Céus! Qual a dificuldade em falar isso?! Imagina se fosse alguma coisa mais séria! – Kate zombava do constrangimento de Simmons. – O problema não foi esse... Aliás, tecnicamente foi... Mas o pior de tudo foi que a Doida do Óculos aí pegou os dois.

– Quem? A May? – Fitz quase riu daquela expressão. – May pegou os dois?

– A agente May e a Natasha chegaram na hora exata em que eles estavam ficando pelos corredores da vida.

– Oh não! – Fitz-Simmons exclaram em uníssono, ambos tapando a boca com a mão.

– Oh sim... Agora, Skye deve estar recebendo o maior esporro da vida dela. Espero que a Mal Encarada não faça picadinho dela.

– A May é gente boa... Mas a Skye tá ferrada. – Fitz fez uma careta, apoiando as duas mãos sobre o quadril.

– Muito encrencada mesmo. – Simmons concordou.

(...)

– Quem deixou as comunicações vazarem? – Ward perguntava mais uma vez para o Comandante do pelotão Alfa. – Seus inúteis! Isso não pode acontecer de novo, está me entendendo?

– Sim, senhor! – o homem respondia nervoso do outro lado da linha. – Sinto muito pelo...

– Não quero ouvir suas desculpas! Só quero que façam o trabalho bem feito e isso basta! Agora, de volta ao trabalho! Não estrague tudo, seu inseto!

– Sim, senhor!

Ward estava perdendo a calma. Se aqueles idiotas continuassem dando bandeira pelo meio do caminho, eles precisariam abortar a missão e aquela não era uma opção válida para ele. Aquela missão era tudo o que lhe restava. Era uma chance de se vingar da HIDRA. Era uma chance de ter sua equipe de volta. Ele nem mesmo sabia se ainda amava Skye ou se ela apenas havia sido sua porta de entrada para a luz. Mas ele seria grato a ela, faria isso por ela também.

De volta ao quarto, ele colocou seu maior sorriso. Seus “capangas” haviam saído para beber em plena luz do dia, deixando-lhe apenas um bilhete informando: “Aproveite a tarde sozinho, sortudo. Os solteiros foram se divertir.”

Ele achou melhor assim. Teria uma tarde para pensar sozinho, afinal ele não estava com tanto pique assim para comemorar com aqueles malucos, e além do mais, uma tarde sem precisar fingir nada era um ótimo programa naquele momento.

Tomou um banho quente, sua cabeça estava a mil. Gastou todo o xampu do hotel em apenas uma lavagem, precisava sentir-se menos sujo, mesmo que no sentido literal. Enrolou-se numa toalha branca e vestiu uma cueca box preta, num ato puramente reflexivo. Jogou-se na cama com os cabelos ainda molhados. Gostava da sensação que o vento frio causava no seu corpo, mas não aguentaria ficar sem casaco por muito tempo. Era melhor fechar a janela e agasalhar-se antes que pegasse um resfriado. Ou talvez não houvesse mais tempo.

– Nunca te disseram para fechar a janela quando estivesse no banho? – uma voz aparecia exatamente da janela que ele estava tentando fechar.

– Quem é você? – Ward coçava os olhos, passando os braços pelo corpo numa tentativa frustrada de se aquecer um pouco.

– Oh, meu querido... Você não vai gostar nada quando descobrir.