Qual a única opção para uma garota sozinha?

Tentar sobreviver com o que tem.

Por isso não me arrependo de nada do que fiz.

- Para onde irão nos levar?- fala o garoto que está sentado do meu lado. Aparentemente um idiota.

- Na certa para alguma prisão. - falei sem emoção alguma

- você está com medo?

- Não. – a coragem sempre foi minha única virtude

- Ansiosa?

- Louca para ser torturada. - ironizei.

- Sério?

- Não. – até que ele era bonito, não era o meu tipo, mas que era, eu não podia negar. Seu rosto continha traços delicados, dando a impressão de ingenuidade.

- Você acha mesmo que eles vão nos torturar?

- Talvez até a morte...

- O.O

- Ou podem nos manter presos até ficarmos loucos.

- O.o

- Sinceramente, eu prefiro a morte, não nasci para viver presa. Mas relaxa que também têm a possibilidade de trabalho forçado. É a mais provável.

O garoto ficou calado por um tempo, me dando um pouco de paz.

Olhei para meu braço, onde se encontrava o relógio que eu havia roubado de um dos guardas que estavam no ônibus.

- Estou ferrada se me pegarem com isso. Terei sorte se não me revistarem novamente – falei baixo de mais para o... percebi que nem o nome dele eu sabia. Bem... mas não me importava saber. Resolvi não confiar na sorte, ela não apareceria para mim, justo agora.  Iria devolver o relógio, obviamente de uma forma que ele não percebesse, colocando no bolso talvez. Mas eu não ia desperdiçar uma chance como essa. Se formou um leve sorriso no canto da minha boca enquanto eu atrasava uma hora do relógio. Direcionei o meu olhar para a janela, a paisagem passava rápida, eu não fazia idéia da minha localização. Isso me deixava angustiada. Na certa, um lugar esquecido, assim como nós. Comecei a analisar minha vida, já que talvez, essa fosse a ultima vez que eu tivesse essa chance.

Roubos, seqüestro, tráfico de arma, prostituição e falsificação de documentos. Uma vida sem limites e sem propósitos, minha única missão era sobreviver, nunca pensei em nada, além disso. Sonhos? Paixões? Nunca tive isso.

- Como se chama?- fala o garoto, interronpendo a minha reflexão.

- Você não deveria se apresentar primeiro?- mas que cara chato e inconveniente!

- Não tenho nome. Mas eu inventei uma espécie apelido pra mim. Saiki, pode me chamar assim. Só não me pergunta da onde veio que é uma história longa de mais, acho que não vai querer...

-Yumi. Me chamo Yumi.

Ele ficou me olhando com aquela cara de menino amarelo imitando um cachorro sem dono. Aquele olhar carente de criança sem refrigerante.

- Eu não quero morrer!Posso te dar um abraço?- antes mesmo da minha resposta, ele me agarrou em um abraço apertado.

- Você não acha que estamos indo rápido demais?

-Como?Foi só um abraço. Não leve isso na... 

- Idiota! Eu estou falando do ônibus! Não acha que esta rápido demais?– falei um pouco nervosa.

Ele olhava para mim como se não estivesse entendendo nada, era realmente um idiota.

- Não reparo nessas coisas. Por que? Você tem medo de velocidade?

- Não é isso. Só acho que... há alguma coisa estranha. - falei meio preocupada.

- Como o que?

- Além de você, o ar e essa sensação...

O ônibus começou a fazer um barulho estranho e eu via que aquilo não era normal.

- Olhe pela janela. Escureceu tão rápido assim?

- O que está acontecendo?- gritou alguém

- As pessoas finalmente perceberam.

- As pessoas estão com medo desse barulhinho?Que idiotice!

- Você não está sentindo?

- O quê?

- Eu ainda não sei ao certo.

Houve escuridão total e alguns gritos. Entre eles pude ouvir um adeus.