It isn't easy escrita por Captain Alle


Capítulo 2
Mixed feelings


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal! Demorei?
Estou pensando em postar um capítulo por semana, que tal?

Enfim, Mixed feelings = Sentimentos misturados.

Boa leitura!



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Eu continuava naquele laboratório ao amanhecer, sentada com minha cabeça afundada em meus braços em cima da mesa. Em algum momento eu fui vencida pelo cansaço. Acordei com alguém cutucando meu ombro.

– Oi, Bruce. - falei sonolenta - Desculpe por dormir assim, devo estar atrapalhando você.

– Não está atrapalhando. - ele me disse amigavelmente - Mas acho que a mesa não é o melhor lugar pra você dormir.

– Tem razão. - sorri - Vou pra casa, até mais. - me levantei para sair.

– Até mais, Johnson.

– Acho mais legal quando me chama de Kelly.

– Ah tudo bem. Até mais, Kelly.

– Tchau, Bruce.

Assim que saí no corredor dei de cara com Steve, ele parecia estar indo embora também.

– Oi! Pensei que você já tivesse ido pra casa. - ele falou.

– Estou indo agora. - respondi um tanto áspera - E você?

– Também. Vamos juntos então.

O segui até o estacionamento do prédio sem dizer uma palavra sequer. Eu me sentia irritada com Steve por uma razão que eu não sabia qual era. Na realidade sabia, mas não queria estar incomodada com aquilo. Talvez eu estivesse irritada comigo mesma.

Voltamos para casa no meu carro, e Steve ia dirigindo. Eu segui calada.

– O que você ficou fazendo durante a madrugada? - tentou puxar assunto.

– Ajudando Banner no laboratório. E você?

– Comentando sobre a missão com Barton, depois fui treinar um pouco com a Nat. - era exatamente o que eu não queria ouvir. Ele precisava chamar ela assim? Apenais bufei irritada como resposta.

O que estava havendo comigo?

– Você está estranha. O que foi?

– Não gosto da “Nat”. - fiz uma careta ao falar o apelido.

– Isso eu sei. Mas ela fez alguma coisa agora? - ela não tinha feito nada, mas eu temia o que ela podia pretender fazer.

– Esquece - suspirei - Esquece.

– Mas...

– Esquece. - falei o interrompendo.

Quando cheguei em casa tomei um banho demorado e deixei aquela chateação descer pelo ralo. Vesti um short e uma camiseta do Homem de Ferro e fui para a sala. Eu queria ver algum filme, clipes musicais, qualquer coisa para me distrair, e acabei deixando num canal de esportes. Steve se sentou ao meu lado no sofá, encostei minha cabeça no seu ombro e ele pôs o braço sobre os meus. Eu adorava ficar assim com ele. Uma sensação diferente me invadiu e aquela proximidade fez meu coração acelerar. Tentei focar minha atenção na TV para esquecer essa sensação.

Algumas horas depois meu celular tocou. Era uma ligação da Inglaterra. Uma senhora chamada Anne Bolton dizia que minha mãe sofrera um grave acidente de carro muito grave e que provavelmente não sobreviveria. Eu precisava ir a Londres o mais rápido possível.

Fiquei tão chocada com a notícia que não tive nenhuma reação. Apenas minha fala ficou lenta, como se eu não soubesse mais me expressar direito. Desliguei o telefone e fui até meu quarto arrumar uma mala. Para não perder tempo, pus o celular no viva-voz e liguei para a S.H.I.E.L.D. para falar com Fury, sem parar de arrumar minhas coisas.

“O que deseja, Johnson?”

– Preciso me ausentar... Por alguns dias.

“Por que motivo?”

– Minha mãe sofreu um acidente... E provavelmente não vai sobreviver...

“Precisa ir à Londres?”

– Sim.

“Entendo suas razões, pode ir. Você tem uma semana.”

– Obrigada. - desligou.

Nem me preocupei em mudar de roupa, apenas calcei um all star e peguei minha mala para sair. Expliquei para Steve o porquê de eu estar saindo às pressas e ele me abraçou demonstrando apoio. Me despedi e fui até o aeroporto pegar o primeiro voo sem escalas para Londres.

Desembarquei por volta de uma da manhã, no horário local. Peguei um táxi até a casa da Sra. Bolton, que havia me oferecido hospedagem. Era uma casa pequena, com tijolos aparentes na fachada, uma janelinha ao lado da porta, ambas brancas, e uma pequena escada que levava à porta. Anne Bolton era uma senhora de aparentes cinquenta anos, cabelos loiro-acinzentados cortados muito curtos. Ela era amiga da minha mãe. Assim que cheguei em sua casa, me abraçou com os olhos inchados e vermelhos, claramente passara horas chorando, porém eu continuava sem reações.

– Olá, querida. - disse ela ao me abraçar - Não sei se prefere ficar aqui ou na casa da... Na sua casa. Por isso ofereci a minha, para que tivesse companhia. - assenti com a cabeça - Só eu moro aqui, por isso achei que não haveria problema.

– Obrigada, Sra. Bolton. Acho que será melhor eu ficar aqui em sua companhia. Obrigada mesmo.

– Não há de quê, Kelly. E pode me chamar de Anne, sem formalidades. Quero ser uma amiga pra você.

– Obrigada mais uma vez, Anne. Sua amizade é bem-vinda.

Fui até o quarto que ela me ofereceu e me joguei na cama. Eu estava exausta, adormeci quase instantaneamente. Acordei pela manhã e praticamente corri para tomar um banho, me arrumar e comer antes de ir visitar minha mãe no hospital. Era por volta de 11h em Londres, 6h em Nova Iorque, resolvi ligar para Steve, ele com certeza estaria acordado.

“Kelly! Que bom que ligou. Você está bem?”

– Estou bem... Eu...

“Bem mesmo?”

– Estou com medo. Medo de perder minha mãe. Anne me informou o estado dela e sinto que ela vai... - meu coração apertou.

“Você precisa ser forte. Desculpe se não sei o que te dizer no momento, eu queria poder estar aí. Mas seja forte, como sempre foi.”

– Eu serei. E não precisa dizer nada, Steve. Sua presença do outro lado da linha já é suficiente pra mim.

“Sempre estarei aqui quando precisar.”

– Obrigada. Eu preciso ir, vou vê-la agora.

“Ok, até mais, Kelly. Espero que tudo fique bem.”

– Também espero. Tchau, Steve.

Anne desceu a escada já pronta para irmos ao hospital. No caminho ela fez perguntas para puxar assunto comigo, uma delas foi se o rapaz com o qual eu falava era meu namorado.

– Não, - falei meio rindo - Steve é só... Meu amigo.

– Esse “só...” significa que você queria que fosse algo mais? - pela primeira vez ri de verdade desde que soube do acidente.

– Eu? Não. Nós somos só amigos mesmo.

– Então ok. - ela falou com uma expressão divertida.

Desviei o assunto dos meus sentimentos e seguimos conversando sobre coisas à toa. Chegamos ao hospital e Anne me conduziu até a UTI onde minha mãe estava internada.

Tinha sido forte por todo aquele tempo, mas não aguentei no momento em que a vi. Chorei aos soluços. Ao vê-la naquele estado soube que ela estava partindo. Após dez minutos ela não resistiu, e ouvi o apito daquele monitor indicando que seu coração parara de bater. Parecia que ela tinha esperado eu chegar para poder ir. Eu não consegui fazer nada além de chorar. Uma enfermeira correu para chamar o médico que cuidava dela, mas não havia nada a ser feito além de desligar os aparelhos e atestar o óbito.

Minha mãe e eu não tínhamos contato frequente, mas ela era minha base. Eu gostava de sentir que, ao contrário de praticamente todos os agentes, eu tinha alguém da minha família presente. E ela não era qualquer pessoa da família, era minha mãe. Eu a amava mais que tudo. Ela era minha joia, que ficava distante de mim por segurança e necessidade, por ser meu bem mais precioso. Agora não existia mais. Sempre me doeu não ter tempo para estar com ela, e saber que nunca mais poderia compensar isso me fez quase desmanchar por dentro.

Eu só dispunha de mais cinco dias na Inglaterra, então deveria providenciar o velório e enterro o mais rápido possível. Anne já havia adiantado algumas coisas, e no dia seguinte minha mãe foi enterrada por volta das seis da tarde. Enquanto a velávamos, conheci mais alguns amigos de minha mãe. Todos tentavam me dar seu apoio moral, mas naquela hora não havia muito que dizer ou se fazer por mim, e eu não queria que fizessem nada. A presença deles ali demonstrando carinho por ela já era suficiente.

Tive quatro dias para ficar de luto antes de voltar ao trabalho. A companhia de Anne foi muito importante, pude desabafar todo a minha tristeza na tentativa de tirá-la de mim. Ela me ofereceu todo o apoio possível, além de me dar sua amizade sincera.

– Amizade sincera... - falei tentando esboçar um sorriso inutilmente.

– Sim, eu quero ser uma amiga pra você.

– Eu aceitei. É que o termo usado me lembrou...

– Alguém especial? - ela perguntou me olhando como se dissesse que eu poderia confessar o que quisesse, mas pensei um pouco antes de falar algo.

– Sim. - ela também tentou esboçar um sorriso.

– A amizade de vocês parece ser muito forte.

– E é. Por isso estou sentindo falta dele aqui. - admiti.

– Você o verá em breve. Tenho certeza de que ele vai te oferecer mais apoio ainda. - ela estava certa.

No meu sexto dia disponibilizado voltei para Nova Iorque. Achei ótimo o fato de que eu morava longe de Londres, pois assim eu poderia superar essa fase de luto mais rapidamente. Lá eu choraria o tempo todo, aqui não teria tempo para isso. Eu teria que ser - ou me fazer de - forte querendo ou não.

Peguei um táxi e assim que o motorista parou na frente de casa pedi para que ele buzinasse. Assim eu aviaria que havia chegado. Paguei a corrida, peguei minha mala e fui em direção à porta. Steve a abriu e me olhou com compaixão, carinho, doçura, tudo misturado. Eu não sabia por que, mas assim que o vi meu coração disparou. Me aproximei dele e o abracei forte, eu queria me afundar entre seus braços, pois me senti protegida ali. Naquele momento me dei conta de como sentira sua falta.

– Oi. - falei me afastando.

– Bem vinda de volta. Como você está?

– Triste. Apenas triste. - suspirei cansada - Amanhã volto ao trabalho, então só tenho hoje pra me deprimir. - ele pegou minha mala e fechou a porta assim que entramos - Vai a algum lugar hoje? Eu queria que você... - não completei a frase, de repente me senti tímida ao constatar que eu precisava dele perto de mim.

– Quer que eu fique aqui com você?

– Sim, mas se precisar fazer outra coisa, pode ir.

– Vou ficar. - falou olhando nos meus olhos, o que me fez ficar incrivelmente sem jeito.

– Obrigada.

Depois de um banho, lá estava eu tentando me distrair na frente da televisão novamente ao lado de Steve. E novamente encostei minha cabeça no seu ombro e ele pôs o braço sobre os meus. A lembrança de minha mãe me invadiu de repente e não pude conter as lágrimas. Steve me abraçou ao me ver chorando e seguimos abraçados por um longo tempo, mesmo depois de eu parar de chorar. Acabei adormecendo em seus braços, desejando que o tempo parasse ali.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? E lá vou eu pedindo encarecidamente que comente, please! Amo quando vocês comentam, podem elogiar, mandar sugestões, qualquer coisa.

Beijos!