Ela se encolheu mais um pouco e desatou a chorar baixinho. Fiquei sem saber o que fazer, paralisado. Um filho! Era tudo que eu não queria ouvir no dia de hoje.

– Não pode ser... Eu, eu... Tomei as pílulas, eu estava tomando anticoncepcional! – ela se levantou de repente.

– Você disse que não ia dar em nada, você disse... – Oh Cristo! Eu só conseguia ficar mais aflito.

– Eu pensei...

Mas um pouco de silêncio, até que eu senti brotar uma ideia e falei sem pensar:

– Você não precisa necessariamente ter – murmurei devagar – Não precisa ser agora... Pode ser mais tarde, quando não estivermos tão preocupados e ocupados... Quando nos casarmos e tivermos tempo...

– É uma possibilidade – ela me fitou se abraçando, como se tentasse conter a própria aflição – Mas não pode ser decidido assim... Maldita Roxy! Eu não queria falar sobre isso ainda, eu ia conversar com você depois de tudo isso... Não é algo fácil de fazer! – ela fungou e voltou a chorar.

– Quanto tempo... – me levantei, a possibilidade era aterradora, mas eu estava mais assustado com a possibilidade de ser pai!

– Dez semanas... Não sei direito! Aí droga, justo agora... Olha só como você está! Parece que vai ter um infarto, maldita Roxanne!

– A culpa não é dela Lana! Porra você disse que estava tudo bem! – passei a mão no cabelo. Eu estava mesmo prestes a ter um infarto.

– Porra Lana?! Dominic seu merda! Você também devia se preocupar tanto quanto eu! É muito fácil você colocar a culpa em mim agora! – ela me atirou isso na cara e foi se trancar no banheiro, batendo a porta.

Lana no banheiro furiosa... Um deja-vu...

– Garota, abre essa porta! – gritei, esmurrando a porta – ABRA!

Quando eu estava pronto para esmurrar outra vez, ela abriu.

– Não vou quebrar nada se quer saber. – ela me olhou, o rosto vermelho de tanto chorar – Só não vou ficar olhando seu desespero. É horrível demais! – a abracei e ela se aconchegou nos meus braços.

Dormimos exaustos da tensão. Quando acordei, Lana não estava no quarto e já era bem tarde. Helen me ligou quando eu terminava de me vestir,

– Onde você está? Matt está querendo a sua pele!

– Você viu Lana? Ela está aí?

– Ela me ligou, disse que precisava resolver umas coisas e que ia nos encontrar no Pirâmide Stage mais tarde... – sua voz assumiu um tom reprovador – Seu monstro estúpido! Ela vai acabar tomando uma decisão abominável por que você é um covarde!

Ela desligou sem esperar que eu respondesse. Eu esperava que Lana fosse correndo para Matt, se aconselhar com ele. Se bem que, nesse caso, ela preferisse conversar com Chris. No entanto ao que parece, ela não recorrera a nenhum dos dois e decidiu resolver tudo sozinha.

Cheguei ao local do ensaio sozinho e todo mundo achou estranho. Como eu estava com cara de poucos amigos, não houve perguntas, Mas no final do ensaio e Matt viu que Lana não apareceu, ele veio me indagar:

– Está acontecendo alguma coisa? – ele me perguntou enquanto eu guardava as coisas.

– Preciso conversar com você, – guardei os pratos, as baquetas – mas não aqui.

– Vamos para outro lugar então. – ele me puxou pelo braço – Tomar alguma coisa!

A gente acabou indo parar no Pirâmide Stage com uma cerveja cada um. A gente resolveu andar por lá e ver a movimentação que era pouca essa hora da manhã. Andamos em silêncio por um tempo, olhando as barracas ao fundo, a movimentação da organização, mas Matt não conseguiu ficar em silêncio por muito tempo.

– Vai passar... Você vai ver. Lana não será a Amanda e não vai trocar você pelo trabalho... Pense que daqui a um ano ou dois vocês estarão casados e talvez esperando seu primeiro filho! Já imaginou? – ele riu e tomou a cerveja – Cara, às vezes eu fico imaginando sabe, sério! – ele continuou a rir – Um garotinho com cachos ruivos e olhos castanhos. Muito ativo para que você arranque os cabelos! Ou filha! Já pensou se a filha de Lana for igual aquela sobrinha dela? Viu como aquela garotinha é adorável? – ele parecia tão entusiasmado, que não consegui encará-lo.

Joguei-me na grama, sentando meio sem forças, envergonhado pelo que estava fazendo. A atitude de Matt ali e tudo que eu sabia sobre seu desejo de ser pai, dos planos que fizera com Natalie e tudo mais... Se ele soubesse o que eu estava passando naquele momento me odiaria! Chris seria pior! Ele foi pai pela primeira vez aos 20 anos e não se acovardou como eu estava fazendo. Ele encarou tudo de frente e sempre diz que nunca se arrependeu de ter decidido ter seus filhos, fora a melhor coisa que fizera na vida, eu o ouvira dizer inúmeras vezes! Agora aqui estava eu aterrorizado com a ideia de ser pai e pensando covardemente que seria muito bom se Lana não tivesse essa criança.

– Dominic, cara o que aconteceu?! – Matt se abaixou, me segurando pelos ombros – Por que você tá assim? Vocês terminaram?

– Não, mas é o que vai acabar acontecendo... – respirei fundo, eu estava sufocando! – O pior aconteceu e eu sou um tremendo estúpido... Mas ela também está assustada e eu só pioro as coisas! Por que agora? Que droga a gente não teve tempo nem de casar ainda, ela tem uma grande carreira pela frente ficar grávida era tudo que ela não precisava agora! Que merda, Lana disse que ia dar um jeito, ela só veio me dizer que não estava tomando remédio quando já era tarde...

– EI! O QUE VOCÊ DISSE?! CO... COM.. – Matt me sacudiu pelos ombros, cessando minha enxurrada de resmungos. Fiquei até assustado e ele também parecia.

– Lana está grávida. Matt.

– GRÁVIDA! – ele desabou do meu lado com cara de bobo – Caramba Dom você vai ser pai!

– Não, sei se vou ser... Não estamos preparados.

– DOMINIC SEU BOSTA!

E então ele me bateu, com toda a fúria foi tão repentino e forte apesar dele ser tão magro e pequeno. Eu fiquei mais assustado pela fúria dele do que com raiva por causa do golpe, mas foi em cheio e ia me deixar com uma linda marca na cara!

Matt parou trêmulo e eu continuei a olhá-lo assustado. Era quase como se Lana estivesse na minha frente, ela teria a mesma reação e eu não duvido nada que ela quisesse me matar por ser tão covarde. Depois de respirar fundo algumas vezes, ele disse:

– Nunca estamos preparados para isso. O que você quer? Um manual?! É um momento mágico que todo homem devia passar na vida. – ele me olhou de viés – Até você!

– E se eu não quiser? – o desafiei. Não seria ele que precisaria enfrentar tudo, não seria ele que teria que ser o responsável por alguém, que ia precisar conciliar carreira e filhos e não era a mulher dragão que estava grávida e assustada! – Para você é muito fácil falar!

– Vocês não podem dizer não agora! É tarde demais para isso Dominic! – ele semicerrou os olhos e depois os arregalou! Pegou o celular e começou a ligar freneticamente! – ATENDA GAROTA!

– O que foi Matt? QUAL É O SEU PROBLEMA? – deu para ouvir Lana perfeitamente, mas Matt colocou no viva-voz assim mesmo – Dá para me deixar em paz? Preciso ficar sozinha um pouco.

– Você não pode ficar sozinha uma hora dessas! Vai acabar fazendo besteira.

– Pode ser besteira para vocês, mas não para Dominic, ele deixou isso bem claro para mim e estou considerando a possibilidade. – a voz dela embargou e eu mordi o lábio. Lana tomara a responsabilidade para si por que eu era um imenso covarde! Eu queria me matar.

– Mas você não é deus para decidir quem deve viver ou não garota! Nem você nem o estúpido do seu namorado – ele me olhou revoltado.

– E eu também não sou um monstro... – ela choramingou. Oh cristo como doía vê-la sofrer – Mas eu acho tão injusto e com o Dom apavorado eu... Sei que é uma decisão abominável, mas eu não sei o que fazer! Vou acabar como Leo e eu não quero isso...

– Lana onde você está? – eu perguntei e ela arquejou afinal ela não sabia que eu estava lá.

– DOM! Oh meu deus, eu...

– Onde você está querida, me diga, por favor.

– Eu estou... Nem sei direito! – ela fungou – Onde você está?

– Estou no Pirâmide Stage, venha para cá. Estou esperando você.

– Tudo bem...

– Por que tudo com vocês têm que ser tão dramático me diz?! – Matt desligou o celular com irritação.

Fomos para as barracas da produção. Não falamos mais nada, Matt me deixou tranquilo para pensar o quanto quisesse, mas eu sabia que ele ainda estava receoso de que eu e Lana decidíssemos não ter o bebê. A verdade era que essa me parecia ser a solução mais fácil, o que não significava que seria a coisa certa a fazer.

***

Quando Lana finalmente apareceu, bem mais tarde do que eu esperava, a equipe já estava a toda no Pirâmide Stage e logo entraríamos no palco. Estava todo mundo lá, nossas famílias e nossos amigos (por falar em amigos, Chris não sabia de nada ainda por que Helen e Matt queriam esperar Lana chegar para contar ou não a todo mundo, de modo que ele percebeu a tensão, mas ficou por fora).

– Graças a deus! Onde você esteve menina?! – Helen passou feito um tufão por todo mundo e foi abraçar Lana. Quem diria que elas ficariam tão amigas há dois anos?

– Você estava sumida, bem que podia ter ido embora mesmo. – Roxanne se aproximou minha mãe também olhava tudo com cara de poucos amigos. – Você só arruma confusão garota!

– A deixem em paz! – falei entre dentes enquanto me aproximava de Lana, ela correu para os meus braços, estava tremula e com os olhos chorosos. Matt apareceu e afagou a sua mão.

– Você está bem?

– Está bem? Ela piorou de novo? – Chris estava mais atrás e com um ar intrigado.

– Ei calma tá! Se fosse assim tão fácil, vocês acham que eu ia estar assim? Que é como arrancar um dente?!

– Vamos embora daqui. – saímos andando em direção as barracas, ela ameaçava chorar novamente e eu a abracei forte. Eu deveria ser forte, por nós dois Lana precisaria muito de mim agora. Fomos para a barraca de Matt.

– Que horas vocês vão entrar no palco?

– Temos tempo, vamos você precisa sentar – sentamos no colchão inflável e ela abraçou as pernas, parecia envergonhada – Pensou muito no que fazer?

– Pensei no que não tenho coragem de fazer e desse jeito fico sem muitas opções... Vaguei o dia todo sem rumo, pensando na minha vida com ou sem filho, nas concessões que faria se optasse por ter... No quanto um filho poderia atrapalhar minha carreira fora as outras tretas de ter um filho... Imagine eu cuidando de uma criança?

– Mas imagine a culpa nos consumindo, até que no fim não vamos suportar olhar um na cara do outro... – eu peguei suas mãos nas minhas – Quero que saiba que eu estou aqui com você, no que decidir entendeu? Mas tenho que confessar que estou apavorado. Mas não posso ser covarde Lana. Não posso simplesmente dizer, não quero e pronto! Você está esperando um filho meu e não adianta mais lamentar! Não foi planejado, se fosse ele nunca existiria! – ri meio nervoso e ela me acompanhou.

– A verdade é que eu sou muito dramática! – ela remexeu nos cadarços do all star – Estou agindo do mesmo jeito de quando viajei para Sidney, para encontrar vocês. Assim eu saí do avião eu só perguntava “Sua maluca, o que você fez?! Vir atrás deles e você nem os conhece direito! Você vai se ferrar garota!” – comecei a rir – Acabou que deu tudo certo!

Eu a beijei ternamente. Dentre todas as coisas que eu admirava nela, sua coragem era o que mais me impressionava. Sabia que dos dois, era ela que sempre assumia os riscos, que pagava para ver e isso era parte inerente do caráter dela, não era algo que ela se obrigava a fazer.

– Acha que seremos pais muito ruins?

– É isso que você realmente quer? Não vai ser fácil, principalmente para você. – eu a aconcheguei nos meus braços.

– Eu sei disso... Pensei em como vou conciliar uma criança e trabalho, como você vai conciliar um filho e tudo isso... Mas Chris consegue, por que não conseguiríamos?

– Eu vou ajudar, eu juro! Você não ficará sozinha largada em Londres como Ema, nós vamos estar juntos e eu sempre estarei com ele, quando puder, vou trazer ele comigo... A gente dá um jeito!

– Ele? – ela me olhou de esguelha.

– Matt fez uma pintura bem realista de uma criança com seus traços essa tarde. – ela me olhou surpresa – Sério! Ele confessou que às vezes imagina como seria um filho nosso, foi até engraçado se eu não tivesse tão mal eu teria rido muito! Foi meio que do nada... Ele soltou assim... Um menininho de cachos ruivos e olhos castanhos. Muito ativo, ele disse... A menina será igual a sua sobrinha Miranda, ele jura que vai! Nenhum dos dois se parecia comigo!

– Ah Matt! – as lágrimas rolaram, ela sempre se derretia por aquele baixinho. Ele sempre soube como fazê-la feliz, eu devia aprender com ele.

– E aí casalzinho, vocês já se resolveram? Dominic precisa se vestir, o Muscle entra no palco daqui a 15 minutos! – Helen apareceu na entrada da barraca.

– Tudo bem Helen... – Lana me beijou e falou com meu rosto entre suas mãos – Vamos esquecer isso por enquanto. Suba naquele palco e arrase! Mostre para todos que você é o melhor do mundo, eu estarei lá, na frente do palco gritando todas as musicas a plenos pulmões. Vou gritar que eu te amo até ficar rouca e você deve fazer o melhor show da vida do Muscle por mim e por todo mundo por que você é o melhor! – ela me beijou outra vez – Agora vá lá e me deixe orgulhosa como sempre.

Como ela prometeu, Lana estava lá no espaço entre o palco e o público quando subimos no Pirâmide Stage, a nossa família estava lá também mas Lana era a que mais se destacava. Eu fiquei imaginando o quanto ela estava cansada e com a gravidez... Mas aí eu a ouvi berrar tão alto que até Morgan, que estava no teclado, ouviu e todo mundo também por que a risada foi geral. Ela disse que me amava.

No fim do show todo mundo abraçou todo mundo e foi aquela alegria. O show em si foi fantástico, mas ainda houve aquela atmosfera triste para mim. Desci para o backstage e estava todo mundo lá, mas estavam felizes e eu também um pouco, apesar de lembrar o meu pai e de tudo mais que estava acontecendo. Chorei um pouco nos braços da minha mãe, Roxy abraçando a gente. Mas depois Lana surgiu no meu campo de visão, com um sorriso imenso no rosto e as faces rosadas por conta da agitação do show e tudo mais.

– Foi o melhor show da minha vida! Imagina quando ele puder realmente ver. – ela dizia a Matt – Imagina, foi o primeiro show dele! – e apontou para o ventre. Aquilo me emocionou mais do que tudo. Ela estava falando do nosso filho. Sim, eu ia ser pai e só aquele pensamento me deu uma força imensa. Com ela eu podia ir até o fim do mundo sem me importar com nada.

– Vocês já sabem da novidade? – afastei minha mãe e Roxanne para olhá-las. Aí todo mundo se aproximou de nós – Eu vou ser pai. É MÃE EU VOU SER PAI!

Foi um efeito quase mágico. Todo mundo ficou em silêncio por um minuto inteiro, de olhos arregalados me olhando, Lana inclusive, mas ela se recuperou primeiro e sorriu, eu fui até ela e a abracei, nós dois afagando sua barriga.

– Nós vamos ter um bebê! – ela disse e depois começou a rir.

***

Algum tempo depois de todos os parabéns, dos conselhos e das recomendações em volta de Lana, nós nos instalamos confortavelmente na cama do hotel para ficarmos os dois sozinhos. Nós já tínhamos tomado banho, Lana ainda estava de roupão, agora o que a gente queria era sossego e descansar.

–Você tem certeza que não quer casar agora?

– Isso é o que menos importa Dominic. Podemos esperar até o bebê nascer e casar depois, até prefiro. Não interrompam a turnê, por favor.

Houve uma discussão acalorada sobre nós casarmos logo. Lana fincou o pé e disse que não casaria esses meses por que estava cheia de coisas na Poison e ela também não queria interromper a turnê do Muscle por que assim, demoraríamos a ir para a América do Sul (o que ela não sabia era que a América do Sul não estava ainda nos planos da turnê!). Todo mundo foi contra e ela ficou revoltada, aí Chris veio com a ideia de esperarmos até dezembro onde encerraremos a turnê com dois shows no Wimbley. Pronto ficou tudo resolvido e todo mundo ficou feliz.

– Tudo bem. Você precisa se cuidar agora, comer coisas saudáveis e ir ao médico.

– Pode deixar, eu vou me cuidar... – ela olhava o teto, pensativa.

– Acha que já dá para ver alguma coisa?

– Não sei – ela deu de ombros – Rá! Sua mãe jura que vamos ter infinitos filhos! Um para mim já é mais do que o suficiente – eu assenti – Isso ainda soa tão estranho! Talvez por que seja cedo ainda... Mas e quando ele estiver aqui? Com a gente e eu puder vê-lo e tocá-lo...

– Do que tem medo Lana?

– Ah de várias coisas... De não ser uma boa mãe, de não amá-lo como deveria...

– Está falando isso por causa de si própria? – eu a fitei – Acha que só por que as coisas entre você e sua mãe não deram certo você acha que vai ser assim com você?

– É que...

– Eu acredito que nós sempre procuramos ser o melhor possível – levantei e me apoiei no cotovelo – Sei que com você vai ser diferente. Mesmo que você acha que sua mãe não a amava, isso não quer dizer que ela não o fez. Mas eu entendo Lana, eu também tenho medo de não ser o pai compreensível, amigo e incentivador que eu tive. Eu que tenho todas essas loucuras... Foi difícil me acostumar com a ideia de casar, imagina ser pai.

– Acho melhor você ir se acostumando logo por que você só tem mais ou menos sete meses! – aí a gente riu.