Um mundo além do mundo escrita por Lobo Alado


Capítulo 16
Tensão e suor frio


Notas iniciais do capítulo

Não sei se está curto, mas com certeza é o suficiente... a idéia do capítulo está completa. atingi o meu objetivo neste capítulo.
Sei que pretendia postar o capítulo só próxima semana, mas surgiram alguns problemas, e tive que postar logo.
Emfim... boa leitura.



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Ismira tapou o nariz com a manga da pesada capa de frio. O fedor forte do esgoto que cortava a rua de terra ao meio pairava no ar densamente, sem chamar nenhuma atenção dos moradores de Bullridge.

Que imundice... Ela saltou com o cuidado de não tocar na água podre.

Já fazia uma semana que Ismira comia uma refeição por dia. Na falta de alimento ela conseguiu roubar de um açougue uma perna de porco que teve muita dificuldade de preparar... e isso a havia feito passar mal deixando-a totalmente debilitada.

Ismira chegou a Bullridge depois de uma cavalgada desesperada às margens do braço do rio Ramr. Seguindo as instruções de Albriech, ela rodeou braço do rio e continuou até chegar ao vilarejo. Desesperou-se muitas vezes ao perder a margem do rio ao adentrar a floresta, e, ao pensar nos Urgals que atacaram ela e Albriech ela não conseguira dormir, temendo um ataque.

Quando finalmente chegara ao final do rio, Ismira quase desmaiou de alivio...

...Ou de fome... não importava.

Ao chegar a Bullridge, Ismira contemplou tochas quentes e acolhedoras, porém além delas haviam também aldeões curiosos de rostos estranhos demais a ela. Prendera o cabelo e cobriu a cabeça com o capuz, e lá estava ela agora... Há uma semana no vilarejo, hesitante quanto a continuar sozinha até Iliera.

O mais certo é que eu me perca no caminho... Pensou enquanto caminhava, frustrada e assustada com os olhares de estranheza direcionados a ela.

Mas não podia continuar ali, vivendo de roubos de carne e dormindo pelos espaços entre as casas. Tinha de arranjar um mapa... Embora soubesse que poderia chegar à capital do império se atravessasse o rio, ela poderia morrer de fome se tentasse.

Meu pai tinha razão... Pensou enquanto andava entre as pessoas de cabeça abaixada com o capuz cobrindo a claridade. Não sou feita para aventuras e combates... Sou de tecido fraco, feito para acenar para o povo e encantar jovens lordes. Ela cuspiu no chão, com toda sua raiva.

Depois de algum tempo de caminhada Ismira saiu vilarejo, de encontro às arvores nuas do outono na floresta. Logo chegou à clareira onde havia prendido o cavalo... Um resistente cavalo marrom, porém estava chegando aos seus limites, e ela logo teria de arranjar outro.

– Olha o que trouxe para você... – Disse ela acariciando o pescoço áspero de pelos grossos do cavalo e levantando um balde com ração reforçada que havia roubado de um estábulo. – Acho que estou me tornando uma ladra... – Comentou ela com o cavalo.

O animal a derrubou no chão com violência ao empurrar a cabeça para dentro do balde.

– Hora seu... – Ismira levantou-se com dificuldade devido ao cansaço de seu corpo mal dormido e mal alimentado. – Parece que temos que...

Ismira perdeu a voz ao ouvir um barulho alto de passos e folhas sento deslocadas do chão.

Imediatamente cobriu a cabeça com o capuz e tentou montar o cavalo, mas ele estava muito esfomeado e ela não conseguiu aproximar-se dele. Desesperada, correu para trás de uma arvore próxima e ficou escondida até que o que quer que estivesse por perto surgisse.

Os passos cessaram criando um silêncio aterrorizante, deixando a jovem louca de desespero. Depois de dois minutos inteiros ela não aguentou e saiu de trás da arvore, com sua espada desembainhada, cautelosa e lentamente.

Posicionou-se no meio da clareira que era quase perfeitamente circular. Com os joelhos ligeiramente flexionados, e espada erguida a altura do peito, ela começou a girar sobre si mesma, observando todos os cantos da clareira, desejando poder olha para todas as direções ao mesmo tempo. Um suor frio cobria sua testa e todo seu corpo por baixo das vestes, desconfortavelmente.

A atmosfera Gélida e cinzenta imperava naquele dia. As solas de suas botas encaixaram maciamente na relva morta e deitada. O ar frio entrou em seus pulmões. Ela sentiu o coração bater como um tambor em sua mente, rápido e desesperado, e em alguns momentos batia fora do ritmo, mais devagar.

Ismira permitiu-se, durante aquele momento de tensão, pensar em sua atual situação. As coisas haviam mudado tão rápido... Em um momento estava em dentro de muralhas acolhedoras, na companhia de amigos e pessoas com rostos conhecidos, que não carregavam nenhuma estranheza. Num momento depois, um novo mundo, cheio de aleatoriedades, com uma atmosfera nova que seus olhos jamais pensariam em algum dia ver, e que a mente jamais imaginara, foi apresentado a ela.

Estranhamente, Ismira estava começando a tornar-se intima com o desconhecido e com o novo... Era como passar por uma etapa a cada nova dimensão que ela conhecia, e como se ela tornasse-se mais capaz de avançar a cada lugar novo que conhecia. Ela sentia que aonde quer que fosse não teria mais problemas.

Segurou o cabo da espada com mais força e cerrou os olhos tentando afastar o medo, mas quando o som dos passos encheu novamente o ambiente qualquer coragem a abandonou e ela correu para o cavalo. Com uma força repentina retirada do seu mais profundo ser ela saltou para as costas do cavalo e enterrou os calcanhares na barriga do pobre animal.

Com um guincho o cavalo explodiu para frente, voando entre as arvores. Os galhos podres explodiam no rosto da jovem. Ela olhava para trás certificando-se de que não haviam conseguido segui-a.

Quando voltou a olhar para frente desconcertou-se ao observar uma luz violeta surgir sem uma fonte causadora. O cavalo parou abruptamente imobilizado. A luz resplandecia fazendo sumir todo o Ambiente ao redor, e tudo o que Ismira via era a cor violeta espectral e translúcida.

É o fim... Ismira não lutaria mais. Não depois daquilo.

Assim que a luz violeta sumiu, deixando de ofuscar o ambiente, Uma pessoa encapuzada, que ela julgou ter surgido do mesmo ponto que a luz, andou até ela com uma mão estendida para frente.

– Espere, garota! – Disse com uma voz grave, porém feminina. – Não pretendo lhe fazer nenhum mal, muito pelo contrário... tenho a necessidade de ajudá-la. – Disse ela rapidamente, porém, com um tom solene assustador.

Dizendo isto, a mulher tirou capuz, revelando o rosto... Mas antes que Ismira pudesse contemplá-la uma luz surgiu na palma da mulher, ela rapidamente tocou o pescoço do cavalo...

... Então tempo, ambiente e matéria deixaram de existir para Ismira.

Ela vagou por sensações mentais, afastada de qualquer sentido de seu corpo... Visão, olfato, paladar, tato, audição, não existiam mais. Ela nem poderia dizer se tinha braços ou pernas, não os sentia mais... só sentia seus pensamentos, de tudo o que foi e tudo o que julgava vir a ser.

Um estranho silêncio fez com que sentisse que não existia mais. E a perturbava não saber em qual posição estava ou não poder mudar de posição, ou se seu corpo ainda existia.

Lentamente ela voltou a sentir os batimentos cardíacos, inicialmente baixos, mas ficando mais fortes com o passar dos segundos, como se o coração estivesse longe e, devagar, aproximando-se dela.

A segunda coisa que sentiu foi o formigamento dos braços e das pernas, aliviada por ter novamente membros, e saber em que posição eles se encontravam.

Mas ela não sentia o chão em seus pés...

Só então, lentamente ela começou a sentir a cela do cavalo entre suas pernas, seguida pelo vento na pele e depois o ambiente foi clareando até ela voltar a...

... Mas ela não estava mais na floresta, estava em uma extensão vasta de campos ondulantes, nas planícies do Império.

– O que... – A voz falhou e ela tossiu. – O que aconteceu? Quem é você? – Perguntou ela para a mulher à sua frente, sem ligar mais para o que podia acontecer... de qualquer forma ela estava a mercê dela.

– Nos transportei para longe daquele lugar... – Disse ela indiferente. – Vamos, não temos tempo.

Ismira reparou, sem nenhum esforço para esconder o olhar curioso, na mulher. Ela tinha feições salientes e um queixo pequenino. Seus olhos eram, para o espanto da garota, da mesma cor da luz que a fizera surgir. Os cabelos negros caiam pelas costas perfeitamente lisos e eram foscos. E na testa tinha uma marca prateada qualquer.

– Espere aí um momento... – Ismira recusou-se a sair do lugar. – Não seguirei você sem saber que é, e quais são suas intenções. – Disse ela depois de recuperar a razão...

... Não poderia simplesmente aceitar tão facilmente um destino que lhe proporiam só por que era o caminho mais fácil, livrando-a de todo o caminho árduo que sua suas decisões lhe proporcionariam.

No entanto, a mulher aproximou-se cheia de segurança e lhe lançou um olhar vazio de qualquer sentimento e insegurança que fez Ismira arrepiar-se e sentir-se exangue.

– Você sabe que precisa de mim... – Sua voz penetrou em Ismira. Ela aproximou-se mais. – Não é momento para preservar seu orgulho, enquanto sua cidade está em ruínas e precisa voltar para casa. Isso é egoísmo... Tanto pelos que perdeu quanto pelos que ainda irá perder.

Ismira sentiu-se flagelada, como se cada palavra fosse a ponta de ferro de um chicote que arrancava todo o orgulho de suas costas.

Só quando a mulher estava com o rosto mais próximo, Ismira percebeu com espanto. A marca prateada que ela tinha na testa era a marca dos cavaleiros de dragão.

– Oh... – Ismira exclamou ao observar a marca. – Você é uma cavaleira? – Perguntou estupidamente.

– Não. – Respondeu ela abruptamente e voltou o olhar para o horizonte olhando intensamente com os olhos violetas cerrados.

Logo depois, batidas ribombaram no ambiente como batidas em um tambor. E de trás das colinas ondulantes surgiu uma criatura monstruosamente grande. Com pelos negros foscos e olhos violetas inconfundíveis. Suas garras negras eram como adagas e os dentes como espadas curtas.

Ismira estava a ponto de virar o cavalo e galopar o mais rápido que conseguisse quando a mulher levantou a mão, detendo-a.

– Já era tempo... – A mulher andou até a fera.

O Urso – Pois era um urso gigante, Ismira sabia. – levantou sobre duas patas e emitiu um ruído como um resmungo rabugento.

– Você realmente não sabe quem sou eu, não é? – Disse ela virando-se para Ismira com um sorriso quente.

Ismira procurou aquele rosto obsceno em suas memórias, aqueles olhos violetas... Ela lembrava-se de algo sobre uma menina-bruxa que ajudara seu tio Eragon na derrota de Galbatórix, e ainda lembrava-se dos olhos violetas...

... Mas não fez qualquer assimilação no primeiro momento. Aquilo não avia passado pela sua cabeça. Mas agora...

– Você não pode ser... – Ela olhou bem nos seus olhos. – Você é a menina-bruxa que ajudou Eragon a derrotar Galbatórix? – Disse insegura de que estivesse errada.

Quando o sorriso da mulher se alargou um arrepio percorreu a espinha de Ismira.

– Sim, está certa, sou Elva, a Visionária. – Ela fez uma mensura exagerada e engraçada. – Respondo suas perguntas no caminho. – Disse com a cabeça inclinada para frente com um olhar por baixo que fez Ismira estremecer novamente. – Agora... é melhor irmos. – Dizendo isto Elva montou no dorso do Urso que se abaixara com um único movimento hábil. Encima do Urso Elva assemelhava-se a uma criança brincando nas costas do pai... Pequena e frágil para os enormes padrões da criatura.

Sem nenhuma escolha melhor, Ismira pôs-se a seguir a visionária. Muitas perguntas explodiam em sua cabeça, muitos pensamentos esperançosos surgiam, muitos eram descartados e outros vivamente considerados, mas tudo o que fez foi segurar as rédeas do cavalo com mais força.

A visionária virou o rosto e contemplou Ismira das costas do Urso, e lentamente um terrível sorriso surgiu em seu rosto.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?
Por favor, peço a vocês que comentem... Qual a impressão que estão tendo da fic? E os capítulos? Algo a dizer sobre a história? Alguma critica? Observação?
Me ajudem, por favor...
O próximo capítulo não tem previsão para sair... mas provavelmente estará disponível no final da próxima semana.
Até!



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