Um mundo além do mundo escrita por Lobo Alado


Capítulo 14
A marcha para casa


Notas iniciais do capítulo

Ah... cheguei em casa, finalmente...
E 2015 começa com um capítulo que eu particularmente gostei... é, gostei...
E espero que venham muitos e muitos outros.
Boa leitura para vocês.



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Roran acordou ao som de animais sendo abatidos e rugidos de vanglória. A aldeia de Garzhvog era sempre agitada, e o pior, ou melhor de tudo, ele era uma boa parte da causa disso.

– Martelo forte! – A aba de sua tenda foi puxada, revelando brutalmente a luz do sol. – Todos estão esperando por você! – Rugiu o Kull com os chifres ocupando um bom espaço da tenda.

Eles são realmente grosseiros; Pensou ele ao sair da tenda e observar a vida dos aldeões; As melhores companhias possíveis.

As crianças urgals corriam de um lado para o outro, surgiam e apareciam ente as arvores... eram simplesmente alegres. As fêmeas cuidavam de seus afazeres. Machos carregavam grandes e grossos troncos, esfolavam caças, observavam as crianças treinando.

Era tudo muito alegre. Roran sentia-se bem ali. Era mais real do que a corte de Carvahall e suas muralhas. Era algo do tipo que ele queria para sua vida, uma aldeia pequena, para poder ver as crianças brincarem.

Acabei me tornando um conde... Pensou enquanto fitava mais um sorriso amarelo; É assim que tem de ser?

– Chegou a hora Martelo Forte! Chegou a hora de mostrar por que recebeu esse nome, e voltar para casa. – Garzhvog usava uma capa incrivelmente grossa e marrom, com algumas manchas de sangue, mas ainda assim... uma capa!

Roran deu a mais gutural de suas risadas a Garzhvog.

– Resolveu usar vestidos de Lady, Nar?

Os urgals riram como uma dúzia de trovões simultâneos, assim como o próprio Garzhvog.

– Vejo que não perde o humor, Conde. – Disse Garzhvog, e voltou a gargalhar.

Será que a convivência com os humanos o tornou menos rude? Roran havia reparado uma diferença no comportamento do líder; Sem duvidas... Normalmente ele me devolveria uma piada grosseira; Concluiu.

– Bom, nossa jornada começa aqui... Que tudo ocorra bem e nossos nomes venham a aparecer em canções. – Disse Roran, seguido de gritos e rugidos de aprovação.

Eles só irão me levar até Dras-Leona... Pensou ele divertido.

Roran olhou para o Anel negro que os urgals haviam lhe dado, e depois para o brilhante anel verde dos elfos. Depois cuido de você...

Andou pelas tendas a procura da gaiola de madeira onde Garzhvog havia colocado Lemond. O rapaz estava bem cuidado demais para o gosto de Roran, mas sabia que se chegasse aos portões de Dras-Leona com o filho de Haddes esfomeado, engaiolado e ainda acompanhado de dúzias de Kulls, isso significaria guerra.

– Pronto para voltar para casa? – Roran o encarou.

Carrancudo Lemond cuspiu no chão aos pés de Roran. Os seus cabelos haviam crescido muito, batiam nas costas, desgrenhados. A barba crescera ainda que fina de um jovem, mas era o suficiente para envelhecê-lo, com a ajuda do rosto mais magro.

– Vejo que perdeu a graça por respostas irônicas. – Roran sorriu. – Seu pai vai gostar de ver como consegui educá-lo.

Como se tivesse levado um tapa, Lemond sobressaltou-se para frente segurando as barras de madeira com tanta força quanto seus dedos magros permitiam, mas nada disse.

As crianças urgals rodeavam a Roran e a jaula de Lemond.

– Você é que está mal educado, trocando idéias com a “criança que se faz de intelectual”! – Devolveu ele, com os olhos furiosos e arregalados por baixo das sobrancelhas franzidas e dos longos cabelos lisos que cobriam seu rosto.

Seu pai não irá gostar nada da situação a que o submeti; Isso poderia levar seu plano por água abaixo.

– Lorde Martelo Forte! Lorde Martelo Forte! – Uma das crianças urgals o chamou, cheia de alegria. – Eu soube que perdeu o martelo... – Era um garoto bem novo e pequeno, ainda sem vestígios de pelos cinzentos... Ergueu uma clava de madeira negra e dura com presas de ursos cravadas na parte mais grossa, como uma maça, dando a ela a eficácia de um martelo, pelo tamanho, não podia ser de um Kull, mas de um Urgal normal, caso contrário, Roran não conseguiria ao menos levantá-la. – Isso era do meu pai... Ele lutou ao seu lado na guerra dos Varden... ele ficaria feliz se usasse.

Roran apoiou-se sobre um joelho, para ficar na altura do garoto urgal, e pôs uma mão em seu ombro.

– Eu aceitarei isso... Espero que me ajude a voltar para casa. – Deu um abraço no garoto.

De repente, todas as crianças ao redor deram um grande abraço coletivo em Roran. E logo correram, de volta para suas brincadeiras. Roran observou-as partirem, com um sorriso.

Eu; Pensou ele sorrindo; Eu que ouvia meu pai falar sobre a fúria desses “monstros”.

– Vamos indo! – Garzhvog rugiu a ordem.

Dois Kulls ergueram a gaiola de Lemond e, assim como Roran, juntaram-se a fila marchante de Kulls.

– À Dras-Leona! – Roran Ergueu a pesada clava.

À Dras-Leona! – Responderam os Kulls.

Os aldeões observaram os guerreiros sumirem pelas arvores densas.

Roran, Garzhvog e os outros Kulls seguiram sempre ao lado do Rio Toark, não havia como errar aquela rota. Logo estariam no lago Woadark e então era só continuar acompanhando o rio em direção ao lago Leona.

E, como esperado, um dia de caminhada depois, já estavam acampando à beirada do Woadark, com o calor das Fogueiras Urgals iluminando a negra água, enquanto Roran mergulhava com outros Urgals.

Estou chegando, Katrina... Roran pensou, com esperança de que tudo o que planejava desse certo.

Depois de fora, Roran sentou-se em um tronco caído, perto da fogueira, para ouvir as histórias dos Urgals. Lemond também ouvia de dentro de sua gaiola, com um sorriso de deboche.

O rapaz só não foi morto por causa de Roran e Garzhvog, que controlaram os ferozes Kulls cheios de raiva do filho de Haddes Caçador de Urgals. Roran só não conseguiu parar as ameaças, mas tinha certeza de que nenhum urgal tentaria matá-lo.

– Hei, Martelo forte... – Sussurrou Lemond, depois de a fogueira ter sido apagada e os urgals terem se retirado para suas tendas. – Lembre daquilo que lhe falei sobre Marbrayes... Você está escolhendo o lado errado.

Roran não permitiu-se ao menos olhar para Lemond, apenas foi para sua tenda. Lá, deitou-se sobre seus farrapos e segurou a clava negra com força, observando-a.

É simples... Irei à Dras-Leona, entregarei Lemond à Haddes, resgatarei Katrina, irei até Iliera e direi à Nasuada tudo o que aconteceu... Depois disso tudo voltará ao normal, e Marbrayes não será nenhuma ameaça.

– Não é tão difícil... – Murmurou no silêncio.

O lago chamou Roran, pela manhã quando saiu da tenda, escuro e gelado. Depois de um curto mergulho, a tropa pôs-se em movimento novamente. Roran e Lemond eram as únicas criaturas pequenas naquela fila de guerreiros.

O rapaz engaiolado sorriu ao perceber a clava de Roran.

– Nossa... como você é selvagem. – Sorriu ironicamente.

Roran achou graça, mas não do comentário, e sim de como insistia em soar estúpido.

As montanhas da Espinha davam sensação de segurança a Roran, mas ele sabia que muitos comerciantes passavam por ali, e, se os vissem, histórias se espalhariam.

No quarto dia de viajem já estavam fora da Espinha, seguindo em direção ao Leona. As terras de Haddes estavam bem aproveitadas, A medida que avançavam, mais terras de cultivo eram avistadas, e mal o Leona havia surgido. Quando chegaram as margens do lago, puderam observar a extensão de barcos pesqueiros ancorados.

Só quando as muralhas da cidade surgiram, dois dias depois, é que Roran sofreu com a ansiedade. A cada passo o coração batia mais rápido. Katrina está aí.

Pararam quando chegaram a menos de duzentos metros dos portões.

– É melhor ir só eu e Lemond. – Roran sugeriu.

Garzhvog bufou.

– Eu irei junto... Não se pode confiar em Haddes.

– O resto de vocês espera aqui. – Roran tirou Lemond, que sorria, de dentro da gaiola.

Então os três seguiram, sendo apontados pelos arqueiros em cima dos muros, enquanto a trombeta soava. O sinal de alerta.

Algum tempo depois os portões foram abertos, e de lá saíram pouco mais de uma dúzia de guerreiros sobressaltados, com um deles destacando-se na frente.

– Não se aproximem mais! – Gritou ele de espada em punho assim como os outros que o acompanhavam, olhado com espanto para Garzhvog.

– Como pode me servir se nem ao menos conhece meus aliados, Dorâne? – Um homem saiu por entre os soldados, afastando-os para os lados com empurrões de seus ombros largos. – Martelo forte... Nar Garzhvog. – Curvou-se com elegância. – Perdoem meu comandante.

Haddes estava em seus quarenta anos, mas os cabelos já eram totalmente brancos assim como a barba.

– Espere... O que Lemond faz acorrentado? – Olhou de cima a baixo para o filho, com olhos duros. – Então... recebi sua carta tratando de suas condições de vassalagem, Lorde Roran... O que tenho a dizer é que as aceito. De agora em diante somos vassalos... – Aquilo pareceu divertir o senhor de Dras-Leona.

Lemond sorriu e começou a rodear Roran.

– Está vendo, Martelo Forte? – Disse ele parando em sua frente. – Está vendo agora por que fiz o que fiz? Meu querido pai nem se preocupa com o filho que estava sumido e raptado...

Haddes olhou-o com desconfiança, franzindo todo seu rosto marcado pelo tempo.

– Vejo que todos nós temos algo a esclarecer... É bom entrarmos. Lorde Roran... Aquele seu cavaleiro de Carvahall, e sua esposa...

– Sim... Estão aqui, eu sei... Seu filho já sabia há muito tempo, sabia disso mesmo antes de ela chegar aqui.

O olhar desconfiado de Haddes se intensificou.

– Muitas... Muitas coisas a serem esclarecidas! – Rugiu Haddes. – Vamos passar logo por estes portões, antes que eu me arrependa de receber tantos Urgals.

A cidade era viva e feliz... Bem diferente da Dras-Leona que Roran conheceu na guerra... Era incrível o que Haddes havia conseguido fazer com a cidade.

Depois de seguirem caminho por entre os habitantes curiosos, chegaram ao castelo. Uma construção pequena... Ou era Roran que estava acostumado com o tamanho do Castelo Beor? Com certeza a segunda opção.

Os servos estavam em toda parte por dentro do castelo, e a cada minuto que avançavam um soldado apontava sua espada para os Kulls, assustados, confundindo-os com prisioneiros. Haddes limitava-se a rir.

Foi quando chegaram ao final de um grande corredor, que finalmente adentraram uma grande porta dupla.

Roran mal pode acreditar.

– Katrina... – Murmurou quase chorando.

Lá estava ela, sentada sob uma grande mesa comprida, com Baldor e Velníra, a mulher de Haddes. Katrina virou-se lentamente, como se não acreditasse na voz que seus ouvidos escutavam. Olhou com um olhar abatido, mas esperançoso, para Roran.

– Oh... Obrigado. – Disse soluçando, antes de levantar-se e ir correndo para os braços de Roran.

Sentir Katrina novamente em seus braços tirou todas as forças de Roran.

– Eu temi por você... Eu... Senti no meu anel... Senti sensações ruins. – Ela olhou com o belo rosto escondido na preocupação.

– Não há mais nada pelo que temer, há? – Roran sorriu. – Estamos juntos de novo. – Beijou-a, entregando toda sua energia a ela, sentindo o prazer de estar com ela de novo.

Logo depois, foi Baldor que levantou-se gargalhando.

– Rá! Eu sabia! Sabia que escaparia, Martelo Forte!

Roran soltou-se apenas por um instante de Katrina, para dar um forte abraço no amigo.

– Lemond... – Velníra foi chorando de encontro ao filho. – Oh filho, que bom que está de volta... Tivemos notícias de que você havia sido raptado... – Ela parou de falar e fitou as correntes que prendiam os braços do filho. – Correntes... Lorde Roran, com certeza pode me explicar isto. – Ela olhou para Roran com um olhar duro.

Velníra era uma bela senhora, também em seus quarenta anos, mas ao contrário do marido, seus cabelos ainda tinham um belo e brilhante castanho.

Roran sabia que a mulher não iria aceitar o que Roran tinha a dizer sobre Lemond, mas Haddes era um homem duro e sensato. Por mais difícil que fosse, ele não fugiria da verdade.

Roran limpou a garganta.

– Lorde Haddes Grorvan... Senhora Grorvan... – Começou sem saber quais palavras usar. – A informação que receberam, de que... Seu filho tinha sido raptado, era falsa... A verdade é que ele me raptou. – Roran olhou seria e profundamente, para Haddes e Velníra.

– Que barbaridade é esta que vem aqui nos dizer? – A senhora Grorvan olhou com repugnância para Roran.

– Essa barbárie é a verdade, Senhora... – Suspirou. – Lemond preparou uma armadilha para mim e minha esposa. Levou-me para um esconderijo na espinha onde me apresentou o Auto-proclamado “Rei” Marbrayes. O qual se aliou para ajudar a tomar o Império. – Por um momento Roran pensou em como havia soado indiferente.

– Que é isso que me diz, Lorde Roran? – Haddes franzia o cenho, confuso, olhando hora para Roran, ora para Lemond. – Tudo isso que me contou não faz sentido algum... – Franziu ainda mais o cenho. – É bom sentarmos para contar-me essa história corretamente...

Então Roran contou, desde quando Lemond chegou à Carvahall, até o então momento. Contou-lhe de como o haviam apagado, e de quando acordou na cela do recanto de Marbrayes com Lemond. Falou das frases que o rapaz repetia a todo o momento enquanto estava na cela... de quando Marbrayes libertou Lemond. Falou de como Marbrayes estava grato pela ajuda que Lemond tinha dado a ele. Falou até sobre as intenções de Marbrayes de tomar o Império, e de como ele pretendia fazer isso.

– Katrina e Baldor não foram resgatados por soldados de Dras-Leona. – Concluiu. – Foram mandados por Marbrayes, para fortalecer a aliança de Dras-Leona e Carvahall enquanto eu estivesse desaparecido. Assim mais um membro importante de Nasuada estaria desaparecido, e duas cidades estariam aliadas. E então ele poderia dar seus golpes às escondidas.

Por um longo momento Haddes ficou apenas sentado, penteando a barba com os dedos, olhando para o nada com o rosto desprovido de emoção. Mas de repente saltou da cadeira e atirou uma caneca de madeira na parede.

– Não é possível! – Ele respirava rapidamente, fungando de raiva. – Isso não pode ser verdade... Você é capaz de imaginar o que seu filho fez, mulher? – Ele rugia. – Ele insultou um vassalo! Aprisionou-o!

– Meu filho? Agora ele é só meu filho? – Velníra estava indignada.

Lemond apenas escutava, olhando para o nada.

Eles falam dele como se fosse um fardo desde que nasceu... Percebeu Roran.

Haddes andava de um lado para o outro, com as mãos nos cabelos brancos.

– Isso foi a gota d’água. – Ele bateu com o punho na mesa. – Guardas! – Chamou. – Guardas! Levem Lemond daqui... Levem meu filho para uma cela! Agora! – Rugiu estrondeante.

– Não! Não encostem no meu filho! – Velníra postou-se na frente de Lemond, impedindo a passagem dos guardas...

– Saia da frente, Velníra! Ele tem de aprender a lição! – Haddes puxou a mulher pelo braço.

Então os guardas agarraram Lemond enquanto o rapaz esperneava.

– Não! Soltem-me! Vai me pagar por isso, Martelo Forte! – Lemond disse furioso antes de sair da sala, com os cabelos grandes e desgrenhados por cima do rosto sujo e dos olhos arregalados de raiva.

Depois Haddes sentou-se e começou a suspirar.

– Lorde Haddes, eu... – Roran começou, mas pensou bem e continuou calado, podendo apenas abraçar Katrina mais forte.

Velníra chorava, jogada no chão... E Roran não sabia como reagir.

Depois de alguns minutos ao som do choro de Velníra, a porta abriu com emergência.

– Senhor... Lorde Haddes, encontramos um homem do Norte ferido... ele lutava com quatro urgals. – Um informante avisou histérico.

Haddes passou as mãos com violência pelo cabelo, penteando-os para trás, e bateu fortemente com o punho na mesa.

– Infernos! Não terei paz hoje? – Levantou-se, para sentar-se no mesmo instante, inquieto. – Leve os Urgals para a sala do julgamento e traga o homem nortenho aqui.

– Imediatamente, Senhor. – Disse o informante.

– “Imediatamente... Imediatamente”. – Debochou Haddes. – Suma logo da minha frente!

Pouco tempo depois dois soldados voltaram com um homem ferido.

– Aqui está ele, Senhor.

O homem tinha cabelos castanhos que iam até as costas, sobrancelhas grossas e uma espessa barba vermelha de sangue. Suas mãos estavam fechadas fortemente em punho, mas estava desacordado.

Era Albriech... E estava gravemente ferido.


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Notas finais do capítulo

Então? eu não deveria, mas estou gostando realmente de Lemond. Acho que ele é o personagem original que tem mais de mim... então é isso.
Esperem o próximo capítulo que será postado próxima semana se tudo der certo.
Obrigado por acompanharem.
04/01/15 (Vou deixar a data agora em cada cap para quando eu ler lembrar de quando postei)



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