Ao abrir a porta e escutar o som de água corrente vindo do banheiro aquele ponto de duvida toma o meu ser. Minha mãe obviamente não estava em casa pois trabalhava até tarde e ela era a única que tinha para está lá naquele horário além de mim mesma. Fiquei na dúvida se eu devia ir até o loca, bom, dever eu devia, mas não sabia se era aquilo que eu queria fazer, o que naturalmente era algo muito estúpido. Esperava que se eu ficasse ai parada talvez a pessoa saísse e talvez parecesse que eu tinha acabado de chegar, o que também era muito estúpido. E queria dizer que eu tomei coragem para ir até lá e perguntar quem afinal estava lá, mas não o fiz. Caminhei até meu quarto, atirei a mochila em qualquer canto e fui surpreendida por uma voz que me chamava na porta.

–Cat! - não que não poderia ser tal pessoa, poderia sim, mas não devia. Dale era primo de 2º grau da minha mãe, morava em outro estado e as vezes vinha para a cidade pois sua mãe viajava em função do trabalho o qual não bancava as despesas de Dale. E não que ele não fosse uma boa pessoa, mas era cansativo demais.

–Ah, oi - eu disse meio confusa.

–Parece bem feliz de me ver.

–Só perdida, como entrou?

–Sua mãe estava aqui quando você estava na escola, foi quando eu vim.

–Brilhante. Já se acomodou?

–Já, obrigado. Faz tanto tempo que não venho aqui, é tão... aconchegante.

–É? Como moro aqui faz bastante tempo acho que nem cheguei a perceber.

Dale se aproxima mais o que me faz olhar para seus olhos castanhos esverdeados que em minha opinião não eram bonitos, era como algo você via tanto que já tinha perdido o valor, como o aconchego da sua própria casa.

–É sim, por isso gosto de vir aqui, e por outras coisas mais.

Eu saio do caminho e ao sair do quarto digo:

–Foi bom você ter saído bem pouco depois de eu chegar, pois gosto de tomar banho quando chego.

Ele parece ficar meio que sem entender mas sigo para o banho. Entro no chuveiro e fico pensando em como me aproximar de Ellen, não seria muito difícil já que vínhamos juntas da escola. Espero que Ellen seja ótima como amiga.

Quando saio do banho Dale já está sentado a uma mesa posta para o jantar que era pizza.

–Pizza? - eu pergunto.

–É, sua mãe não chegou então resolvi pedir - ele responde.

–Pizza? - eu pergunto de novo sem acreditar - podia ter esperado eu sair, teria cozinhado algo descente.

–Bom, eu não sabia então resolvi pedir essa pizza. Espero que goste.

–Com que dinheiro pagou? - pergunto ainda de pé longe da mesa.

–Eu usei o meu dinheiro.

–Eu lhe dou depois, ok, mas me lembre!

–Não precisa...

–Vai se ferrar! - eu digo na brincadeira e vejo que ele percebe - eu vou pagar só me lembre! Só isso que tem que fazer.

–Ta bom, mas você vai comer ou não?

Lembro-me que estou morrendo de fome e que o morrendo está a ponto de não se tornar mais só uma hipérbole.

–Claro que vou. É pizza!

Comemos, olhamos um pouco de TV que transmitia um programa bobo de humor e depois lhe aviso que vou deitar.

–Ah, eu vou dormir no seu quarto - ele fala tomando goles do Coca-Cola.

–Vai o que? - digo, incapacitada de acreditar - Já está aí e vai ficar nesse lugar!

–Sua mãe disse para eu ficar no seu quarto, no chão mesmo. Ora, qual o problema?

Eu não respondo, apenas desligo a TV e mando irmos logo, arrumo tudo muito estressada e deito. Dale da um boa noite sem retribuição. Eu fico pensando no amanhã e em Ellen. Quem é você por trás de seus olhos, Ellen?