– Conspiração contra os nove reinos? – Samantha finalmente estava cega diante de uma situação. – Como raios se conspira contra os nove reinos? Que tipo de coisa teria poder para atrair isso sobre si?

– Foi o que eu perguntei, diante do conselho de Asgard, Sammy. Garrett estava metido em alguma negociação... Não sei ao certo de onde ele parou com isso.

– Grantie... Ele tá morto. Estamos cegos quanto a isso.

– Não totalmente – Ward inclinou-se para frente e atirou mais uma pedra num ribeiro próximo de onde estava. – Ainda temos a Raina. E algo me diz que ela sabe muito mais do que aparenta. Ela sabia sobre Skye.

– A hacker?

– Ela mesma. A Skye é tecnicamente um “objeto de origem desconhecida” para a S.H.I.E.L.D.

– Ou um 0-8-4, como chamamos. – Samantha acrescentou, apenas para ver a cara do irmão.

– Pela última vez, Samantha... Você era agente da S.H.I.E.L.D?

– Pela última vez, Grant, minha irmã me contava tudo! – Samantha pareceu ficar um pouco impaciente com a insistência do irmão. – Ela me contava desde os protocolos da S.H.I.E.L.D. até os caras que ela odiava no trabalho, ou os caras que ela considerava atraente... Óbvio que ela me contava, né? Nós vivíamos uma para a outra, caramba!

– Ei, pera... Se acalma! – Ward passou o braço pelo ombro da irmã, tentando deixa-la menos tensa. – Eu acredito em você.

– Ótimo – ela desfez o bico e retornou ao raciocínio inicial. – Mas aí... O que você sabe sobre essa Raina?

– Só que ela acreditava fielmente nessa coisa de evolucionismo, e no poder desse “Universo” em que o Garrett entrou pouco antes de morrer. Foi como se ele realmente tivesse se tornado um Clarividente. Mas, para acreditar nisso, eu teria que ser um pouco mais crédulo e eu confesso que não levo jeito para esse tipo de superstição.

– Pode não ser superstição – Samantha ponderava sabiamente, tentando encontrar alguma lógica para aquilo. – Garrett poderia simplesmente estar se referindo ao poder de qualquer ser existente nos outros oito reinos, Grantie. Qual é! Nós dois estamos em Asgard por uma obra de bruxaria do Loki... Você quer uma prova mais concreta do que essa?

– É, você tá certa...

– Eu sempre estou.

– Nem sempre.

– Em 99,9% das vezes, com certeza.

– Um pouquinho menos do que isso, Miss Perfeição.

– Nem um por cento a menos, agente falso.

– Hey! Olha a ofensa!

– Vamos, Grant... De volta ao foco!

– O que mais você quer saber?

– Não sei... O que mais você tem aí?

– Raina é muito curiosa, tem uma ambição por ver as coisas se tornando grandiosas... Ela e Ian Quinn estão com o Gravitonium...

– O que é...

– O Gravitonium!

Foi como se seu cérebro tivesse sido congelado com a onda de informações instantâneas.

– Loki planeja alterar a ordem do Universo com o uso do Gravitonium. No entanto, Quinn é burro demais para saber algo sobre isso, ele só pensa no dinheiro imundo e no seu nome. Raina não. Ela sabe exatamente o que está fazendo e para quem está trabalhando. Quinn é apenas um peão, enquanto...

– Raina é a rainha. – Sammy completou a frase do irmão. – Só ela pode nos levar até o Rei.

– Exato. Loki não perderia nada ao perder Garrett. Por isso Raina injetou o soro nele. Apenas para que ele pudesse transportar a Clarividência no seu corpo por tempo suficiente até que ela pudesse ser esclarecida sobre sua missão.

– E aparentemente, Quinn está meio que nas mãos dela.

– Completamente nas mãos dela.

– E ainda falta aquilo que você falou antes, Grantie...

– Aquilo o quê?

– Sobre um diagrama... Algo assim...

– O Diagrama de Yggdrasil.

– Isso mesmo... Você não tem ideia do que seja?

– Não consigo pensar em nada que me lembre isso... Sei lá, eu só cumpria ordens dele. Algumas vezes nem sabia o motivo, simplesmente executava.

– Eu devia te degolar com minha espada de Lady Sif.

– Eu não devia ter me metido com ele.

– É, não mesmo!

– Mas agora é tarde pra isso. Precisamos montar esse quebra-cabeças.

Já caía a noite quando eles observavam o tilintar das águas límpidas do ribeiro, encantados com o barulho suave do mover silencioso das correntes. O dispositivo que supostamente estabeleceria uma conexão direta com a Terra ainda permanecia quieto, sem sinal de que funcionaria naquele local.

– Acho que hoje não tivemos sorte com o comunicador. Vamos continuar procurando o lugar certo pela manhã, okay? Vamos dormir por turnos. Precisamos vigiar esse comunicador constantemente.

– E torcer para que o Loki não descubra tão cedo que nós fugimos... – Samantha recordava-se do risco que estavam correndo.

– É, ainda tem isso também – Ward levantou-se e caminhou até o dispositivo. – É bom que isso funcione mesmo, Samantha. Caso contrário, estamos apenas adiando nossa morte.

– Confie em mim, Tartaruga Ninja. No momento em que o sinal estiver disponível, nós ouviremos o bip que nos levará de volta a Terra e...

Samantha e Ward pararam de falar (e de respirar) simultaneamente ao ouvirem os passos fortes de alguém na direção deles. Antes que pudessem se esconder ou se camuflar, a voz chegou por trás, forte e estrondosa.

– O que vocês estão fazendo aqui?!

(...)

– Fitz! – A cientista bradou, tocando o rosto do rapaz, ainda sem acreditar. – Fitz... Você acordou!

– Sim, Jemma – o garoto respondeu, os olhos semi abertos e uma respiração ligeiramente acelerada. – O que houve aqui? Parece que eu dormi por séculos...

– Vá com calma, Fitz. - ela passou a mão na testa dele, suas mãos suavam mesmo estando numa sala refrigerada. – Você passou por muita coisa. Concentre-se em respirar fundo, okay? – ela sentiu o rosto úmido e tratou de enxuga-lo rapidamente com o dorso da mão. – Eu vou precisar fazer alguns exames pra saber exatamente como você está.

– Eu estou respirando. – ele tentou acalmá-la, sorrindo.

– Sim, Fitz. Agora está.

A britânica agora tinha as bochechas rosadas. Provavelmente havia se lembrado das últimas palavras que disse antes que Fitz acordasse; talvez lembrasse das últimas palavras que ele havia dito a ela naquele engradado da morte no fundo do oceano. Não sabia ao certo se havia se precipitado ao falar tudo aquilo para ele, nem sabia se tinha sido motivada apenas pelo fato de que Fitz estava impossibilitado de lhe ouvir ou responder. Somente uma coisa ela podia sentir com clareza: ela nunca mais o queria perder daquele jeito. Nunca mais.

– Eu fiquei assustada, Fitz. – ela continuou. – Achei que te perderia pra sempre.

– Eu também fiquei, Jemma – ele sorriu sem graça e segurou a mão dela sobre o seu peito. – Mas a ideia de que você não morreria com água invadindo seus pulmões me fez perder o medo de fazer aquilo. Fico feliz porque de alguma maneira nós dois estamos aqui de novo. A propósito... Onde é exatamente aqui? Cadê o Ward, Garrett... A HIDRA?

– Teremos tempo para isso, Fitz. – ela sorriu, percebendo que sua memória não havia sido afetada pela enorme quantidade de água que o havia preenchido naquele dia. – Estamos numa nova base, Garrett está morto e a própria May se encarregou de Ward.

– Ward está morto também? – ele fez uma cara de espanto e Jemma sorriu inevitavelmente com a expressão dele.

– Não, seu bobo... Se bem que poderia estar, já que a May não estava nenhum pouco feliz em vê-lo. – Simmons divagou. – Mas ela se segurou e apenas pregou o pé dele com alguns pregos no chão.

Fitz estalou a língua nos dentes, simulando uma expressão de dor e fazendo Simmons sorrir mais uma vez.

– A May não brinca mesmo em serviço.

– E nem podia. Devo dizer que Ward mereceu aquela.

– Com certeza mereceu, Simmons. Onde ele está preso mesmo? Eu queria dizer umas boas verdades na cara dele.

– Ele está em uma das unidades-teste da Nova Geladeira, mas não divulgaram ainda a localização. Só sabemos que ele e muitos soldados da HIDRA estrearam as celas novas.

– Ótimo. Pretendo visita-lo eu mesmo algum dia.

– Okay, mas vamos esquecer isso um pouco... Você acordou! Todos vão ficar radiantes com a novidade.

– E eu também estou com saudades de todos. Cadê a Skye?

– Deve estar no quarto... Eu vou lá chamar todos eles, sim?

– Por favor.

Ele sorriu e ela não pôde deixar de fazer o mesmo. Seus olhos sorriam juntamente, era impossível não sorrir. “Ele está bem.” Ela pensou enquanto andava a passos largos pelo corredor. “O Meu Fitz acordou.”

(...)

* Algumas Semanas Atrás. A bordo do Bus roubado da S.H.I.E.L.D.

– Raina, ele está enlouquecendo... Por favor, fale com ele. Eu conheço John. Ele sempre foi meio paranoico, mas esse lance de evolução já está passando dos limites!

– Ele está vendo claramente agora, Ward. O soro permitiu isso a ele. Ele não é mais como um de nós. Ele consegue ver mais além do que qualquer um nesse avião.

– Ele está ficando louco, isso sim! – Ward passou a mão pelos cabelos, impacientemente. – Ontem ele começou a desenhar uns símbolos estranhos em uma das portas de vidro. Pontos, linhas, cordas... Aleatoriamente! Isso tem que parar!

– Vai ver ele descobriu um caminho até o fim do arco-íris, Ward. – ela ironizou, mas algo em seus olhos permanecia focado no real significado daquilo. – O pote de ouro. Você nunca quis saber o que existe no fim do arco-íris?

– Me poupe dos seus discursos filosóficos com esse ar enigmático. Estamos no meio de uma guerra aqui, não é hora nem momento para isso!

– Ward, Ward – Raina deu dois passos na direção dele, colocando uma das mãos no seu ombro. – Seu amigo adquiriu um poder sobrenatural. Nunca subestime alguém que foi tocado pelo Universo.

– Do que você tá falando? – ele a encarou, confuso. – Fala como se esse “Universo” fosse alguém poderoso.

– Existem mais coisas entre nós e os outros reinos do que você imagina, meu caro Ward. No momento certo, nós veremos a raça humana seguir o curso natural da vida: A Evolução.

Continua...