Ele estava ferrado.

Antes que pudesse gritar de dor ou explicar a Lady Sif que tinha as duas pernas comprometidas, Ward foi tomado por uma luz que ia de encontro à toda escuridão que havia dentro de seus olhos. A viagem foi rápida, mas o impacto que a chegada de Sif causou ao planeta foi no mínimo violenta. Principalmente para ele.

Tão logo chegou a Asgard, ele simplesmente sentiu algo pesando sobre seus olhos. Já estava tão machucado da luta com a Agente May que aquilo o havia destruído. Ele simplesmente desmaiou. Lady Sif transportou o prisioneiro desacordado para a masmorra, o que ele fizera contra Asgard era praticamente imperdoável. Se fosse julgado culpado, seria lá que ele passaria o resto da sua vida.

– Lance-o na masmorra.

– Mas sem um julgamento? – Sif questionou.

– Ele precisa se acostumar ao novo lar. – Odin respondeu sem levantar-se de seu trono – Se confirmarmos as acusações contra o réu, ele sofrerá até o fim de seus dias.

E assim ela o fez. Colocou o réu desacordado dentro daquele engradado pequeno e sufocante, onde só havia os piores dos piores. Onde Loki já havia estado preso. O sussurro dos outros prisioneiros perturbava o sono pesado de Ward, mas ele não acordaria. Não ainda. As marcas da luta, o impacto do caminhão... Ele estava quebrado, literalmente. E ele não seria bem cuidado.

– O prisioneiro encontra-se na masmorra. – Sif prostrou-se ante o Rei de Asgard.

– Ótimo. – Odin pôs-se de pé. – Chame Thor e os outros. Quando ele acordar, o interrogaremos até que ele entregue o nome de todos os seus aliados. Precisamos saber como ele conseguiu o Diagrama de Yggdrasil.

(...)

– Bom dia, Melinda.

A voz ainda rouca de Coulson acordou a piloto de surpresa. De todas as vozes que ela ouvia dentro da na sua cabeça conflituosa, aquela era a única que a fazia sentir-se segura.

– Coulson? – Ela respondeu meio atordoada, puxando as cobertas como se quisesse se esconder dele totalmente. – Que horas são? – Ela tentava esconder uma ponta de constrangimento ao encará-lo.

– Sete. – Phil deixou escapar um sorriso discreto.

– Sete?! – Ela repetiu incrédula. Não costumava acordar àquela hora. Nunca.

– Você foi dormir tarde, acho que todos nós fomos. Ninguém consegue dormir direito desde que chegamos aqui. – Phil sorriu, tentando justifica-la.

Ela sorriu de volta. Há tempos que ela não acordava com aquela voz a chamando. “Bom dia, Melinda”. Ela poderia passar o dia inteiro ouvindo aquela mesma frase.

– Eu fiz chocolate quente. – A piloto continuava nas cobertas enquanto o diretor permanecia em pé ao lado da porta do quarto – Skye convenceu Simmons a fazer panquecas, então eu diria que é um ótimo incentivo para você se levantar daí.

– Chocolate? – Os olhos dela se encheram de um brilho diferente. Ela simplesmente era louca por chocolate.

– Sabia que você só ouviria essa parte. – Phil sorriu, deixando Melinda um pouco constrangida.

– Saio em dez minutos. – Ela sorriu discretamente, ainda tentando acreditar que não estava sonhando.

– Tudo bem. Estamos te esperando no refeitório. – Ele dirigiu-se à porta para sair.

– Phil... – Ela interrompera o trajeto dele, antes que ele saísse do quarto – Bom dia. – Ela disse sorrindo.

Ela permaneceu sorrindo, como se tivesse dezesseis anos. Depois de uma noite tão conturbada com Fitz ainda em coma naquela máquina, somado aos seus pensamentos revoltosos e os pesadelos com aquela missão em particular, uma manhã como aquela parecia uma brisa suave em meio a um furacão.

– “Chocolate” – Ela ainda não parecia acreditar. – Ele fez chocolate.

Ela repetia sozinha dentro do quarto, já se passavam os dez minutos. Ela não costumava demorar – Afinal ela era uma hate-fu – Mas as palavras de Phil ainda percorriam os seus pensamentos. Desde que chegaram ao novo bunker que ele estava diferente com ela. Um diferente bom, embora ela não soubesse exatamente o que fazer com aquele tratamento. Não sabia o significado e não sabia se queria descobrir.

– “A Cavalaria chegooou!” – Skye imitava uma corneta com as mãos, atraindo o olhar sério de May para si.

– Skye... – May se preparou para repreendê-la

– Desculpa... – Ela disse, enfiando uma panqueca quase toda na boca – É que eu vi isso num filme com a Jemma ontem à noite... Falei pra ela que ia te chamar assim quando te visse pela manhã. – Ela engoliu a panqueca e juntou as mãos pedindo desculpas. – Juro que não foi por mal. – Ela pediu com os olhos fechados, fazendo com que a piloto relevasse. – Toma, aqui está o seu chocolate. – Ela disse, com a cara mais lisa do mundo.

– Dessa vez, passa. – A piloto respondeu, fazendo com que os outros se espantassem.

– Yes! – Gritou a garota, balançando a xícara de chocolate com descuidado. – O poder do chocolate! – Ela gritou, fazendo a asiática sorrir.

– É melhor entregar o chocolate a ela, Skye. Essa daí com chocolate é pior do que você e Jemma com rosquinhas. – Coulson entregou e a asiática deu um gole no seu chocolate, fechando os olhos. Ela não poderia negar aquilo.

– Sério? – Skye arregalou os olhos – Pensei que não gostasse de comida de gente.

– Eu não como só comida chinesa. – Ela revidou, virando os olhos. – Até parece que você não me vê tomar água.

Skye ficou calada por alguns segundos, esperando todos aproximarem seu chocolate quente da boca e se inclinou sobre a mesa, falando baixo como se fosse um segredo.

– Você toma água? – Ela disse, fingindo espanto.

E Jemma se engasgou com o chocolate.

Aquela manhã estava sendo a mais leve e divertida dos últimos dias. Fitz ainda estava em coma, mas eles pareciam estar mais unidos do que sempre. É mais fácil trabalhar quando se sabe pelo que está lutando. Ou por quem se está lutando. E eles estavam lutando um pelo outro.