– Está chegando o momento, Hela.

Loki andava de um lado para o outro, exibindo um sorriso impecável nos lábios. Jotunheim parecia um deserto congelado e a luz parecia se esconder dos dois corpos que pairavam sobre a névoa esbranquiçada. A filha do gigante estava vestida como sempre, como se aquilo sempre estivesse em alta: O rubro-negro de sua capa contrastava com seus olhos e cabelos, imprimindo uma imagem intimidadora. Em sua face, Hela manifestada os dois lados da existência de qualquer ser vivo: A vida e a morte.

– Sim, pai – sua voz grave poderia modificar-se de acordo com o seu humor. – O Caos está despertando. Eu posso senti-lo.

– Eu também, minha cara Hela – ele parou à frente da filha, olhando fixamente para o seu rosto. – Imagine a quantidade de reinos que poderemos saquear e dominar quando a Ordem dos Nove Reinos for destruída... Eu terei domínio sobre todos os reinos, juntamente com os Chitauri e tu terás teu tão almejado Exército de Mortos.

– Seremos indestrutíveis e reinaremos eternamente, Ó Poderoso Loki.

– Assim será! – Loki deu uma gargalhada e com um movimento, fez uma velha árvore devolver um estranho cubo azulado que reluzia em meio à escuridão. – O Tesseract está em nosso poder, Hela. Ele alimentará o Caos.

– Achas que o humano cumprirá sua parte no acordo? – a voz da Rainha de Niflheim tornou-se nitidamente aguda.

– Ele não tem escolha! Aquele energúmeno não tem a quem recorrer – ele sorriu, triunfante, enquanto segurava a mão da filha. – Não arriscará perder a única coisa boa que restou na sua vida.

– Samantha Hill.

– Isso! – o deus da trapaça soltou a mão da filha e ambos voltaram a caminhar pela névoa. – Ele está tão cego de medo que não ousará falhar comigo. E se ousar... Bem, ele terá o que a sua raça inferior merece.

– Se ele ousar, pai... A Alma de Samantha será arrastada para as profundezas mais escuras de Nifheim.

Loki sorriu da determinação de Hela. Sua filha realmente havia herdado seu dom sobrenatural de pregar peças e irritar os Aesir. Hela brincava com o seu poder como se tirar vidas e trazê-las de volta fosse sua maior diversão em todos os nove reinos. No entanto, até o seu poder era limitado, e no caso dos dois terráqueos, a justiça que presidia o seu código não permitia que ela simplesmente ceifasse a vida deles em Midgard. Contudo, enquanto estivessem em Asgard, os irmãos Ward teriam um enorme trabalho pela frente, se quisessem realmente escapar daquela emboscada. Aquele era um trabalho para uma equipe.

(...)

– Agente Antoine Triplett apresentando-se para a missão, comandante.

Triplett colou os braços ao corpo e ergueu o queixo, permanecendo na posição de sentido até que Hill o mandasse descansar. Maria ainda estava abalada, mas havia colocado a cabeça no lugar para comandar aquela missão. Não se tratava apenas de Samantha. A própria Terra poderia estar sofrendo com uma nova tentativa de invasão.

– Seja bem vindo à unidade E.A.R.T.H, agente Triplett. – Hill gesticulou para que ele a seguisse. – Como pode ver, estamos apenas iniciando essa nova etapa da S.H.I.E.L.D. O Diretor Coulson me deu autonomia para gerir esse novo departamento. Ainda estamos em fase de testes.

– E o que exatamente fazem nesse departamento?

– Esse é basicamente o Exército de Último Caso da S.H.I.E.L.D. Onde você estava durante a batalha de Nova York, agente?

– Estava no Paquistão, comandante.

– Bem, suponho que você não vai querer assistir àquilo.

– Não senhora. Eu ouvi os relatos. Não foi nada amistoso.

– Pode ter certeza de que não foi.

– E.A.R.T.H? – ele levantou uma sobrancelha, questionando-a.

– Exército Articulado de Retaliação Totalmente Helitransportado.

– Claro – Triplett sorriu, impressionado. – Eu só acertei o “Exército”.

– Nós decidimos que essa unidade deve permanecer no helitransporte. Em terra somos alvos muito fáceis e essa é uma unidade primordial de agora em diante. As ameaças tornam-se cada vez maiores e aqui estamos invisíveis.

– Certamente, comandante.

Triplett era a disciplina em pessoa.

– Então, agente Triplett – Hill dirigia-se para o seu escritório. – Coulson me falou muito bem de você. Comando Selvagem?

– Meu avô – Triplett respondia com seu típico sorriso – Ele lutou contra a HIDRA juntamente com o Capitão América nos velhos tempos.

– E imagino que não será diferente com você – ela abriu a porta da sala e ambos entraram no escritório. – Eu não dou uma semana para o Steve aparecer por aqui.

Os olhos de Triplett quase pularam das caixas.

– Steve... Rogers?! O Capitão?

– Esse aí mesmo. Coulson o designou para treinar os agentes de operações que restaram daquele ataque a Triskelion. Aqueles que descobrimos que realmente são fiéis à S.H.I.E.L.D.

– Nossa – ele ainda estava abismado. – Nunca pensei que conheceria o Capitão América assim.

– Então é melhor ensaiar a sua reação para não fazer igual ao Phil. Aquilo foi... Estranho.

– Imagino. – Triplett sorriu. – O Diretor é um grande admirador de Steve Rogers. Quase um fã.

– Quase? – Hill abriu o armário e pegou uma pasta com os arquivos da missão. – Bem se vê que você passou pouco tempo com ele, agente.

Triplett apenas sorriu e acenou com a cabeça, sentando-se numa cadeira após Hill fazer sinal para que ele tomasse o outro assento. Ele viu a expressão da comandante tornar-se séria de uma hora para outra e entendeu que a missão era no mínimo complicada e tensa.

– Samantha... Hill. – ela quase não pronunciava o sobrenome da garota, mas como estava no arquivo, não adiantava de nada esconder o grau de parentesco entre as duas. – Foi sequestrada na semana passada. Provavelmente há cinco dias, no máximo. Por um asgardiano.

– Uh-oh... Isso não é bom.

– Não. Principalmente porque suspeitamos que seja o mesmo Inseto Verde que ordenou a invasão dos Chitauri.

– Nova York. – Trip lembrou-se.

– Bingo – Hill deu uma pausa e passou algumas páginas do arquivo. – Ela trabalhava na CIA, é bem treinada em espionagem e no combate corpo a corpo, mas ela pode estar em Asgard nesse momento e nós sabemos que não é uma luta justa.

– Pelo que eu ouvi, eles tem uma força sobre-humana. – Maria acenou com a cabeça, concordando. – Simmons me contou que o avião deles já foi tomado por uma mulher asgardiana, uma vez. E ela deixou a agente May no chão.

– É isso que nos preocupa – Hill levantou-se e se aproximou da enorme janela de vidro, observando as nuvens se desfazendo com o movimento das turbinas do helitransporter – Além disso, não sabemos o que ele quer sequestrando ela. Se ela fosse uma agente da S.H.I.E.L.D seria mais suspeito, mas...

– Talvez ele saiba que vocês duas... – Triplett iniciou o raciocínio, mas deixou que as palavras se perdessem na cabeça da morena de olhos claros.

– É – ela concordou em meio a um suspiro. – Eu pensei isso também.

– E como espera que nós a encontremos?

– Estamos trazendo mais pessoas para cá, agente. – ela voltou a olhar para ele, aproximando-se de uma espécie de holomesa, num tamanho reduzido. – Pessoas mais experientes nisso do que nós.

– Como por exemplo?

– Dr. Selvig e Dra. Foster – ela sorriu, mexendo em alguns arquivos num painel sensível ao toque. – Conhece-os?

(...)

Skye passou o resto do dia tentando imaginar o Diretor e a Cavalaria com pouco mais de vinte anos de idade, sentados em um refeitório e totalmente apaixonados um pelo outro. Vez por outra ela sorria, imaginando a cena, imaginado o rosto da May sujo de sorvete, e mais uma vez, rindo da desculpa que Coulson arrumou para beijar a garota. “Aqueles dois se merecem.” Ela pensava, enquanto organizava os infindáveis arquivos, dessa vez sozinha no seu quarto. “Aposto um saco de rosquinhas como eles ainda vão ficar juntos.” Ela sorria do próprio comentário. Skye não se aquietaria enquanto não aprontasse pra cima daqueles dois.

Já havia anoitecido e, como de costume, Skye seguiu para o quarto de Jemma após deixar a última pilha de arquivos no escritório do chefe. Sua cabeça latejava e ela podia ver letras dançando na sua frente. “Por que a S.H.I.E.L.D. tem tantos arquivos impressos em papel quando temos tanta tecnologia pra fazer essa leitura chata e entediante por nós digitalmente?” Ela pensava um pouco revoltada, antes de lembrar-se que esse era o meio mais seguro para manter as informações enquanto os novos sistemas de segurança da S.H.I.E.L.D ficavam prontos. “Ah, eu preciso de leite.” Ela dirigiu-se até a cozinha e serviu-se de um copo, como se aquilo fosse o remédio pra qualquer coisa. Não demorou muito, ela seguiu para o quarto da amiga.

– Simmons? – Skye abriu a porta e viu a amiga trocando de roupa e seu rosto estava muito vermelho.

– Skye – a garota quase não conseguiu falar o nome da amiga.

– Jemma...

Skye conhecia aquela cara. Claro que conhecia. Os olhos da britânica estavam molhados, seu rostinho delicado estava enrubescido e suas mãos estavam geladas. Ela havia acabado de sair da sala em que Fitz estava e não havia sinal de mudança. Vê-lo naquela situação dia após dia era como ter algo pressionando uma ferida aberta.

– Ele não muda, Skye. – ela disse, segurando o choro que ameaçava voltar – Eu acho que parei de contar os dias... Não quero que isso se estenda mais...

– Eu nem imagino como deve estar sendo pra você.

– Eu estou bem melhor do que nos primeiros dias, Skye – ela disse, limpando as lágrimas que escorriam caladas. – Mas eu não consigo esquecer o que ele me disse.

– O que ele te disse? – Skye perguntou com cuidado, sentando-se na cama enquanto a amiga prendia os cabelos em um coque de frente pro espelho, do outro lado do quarto.

– “E você é mais do que isso, Jemma. Eu nunca tive coragem o suficiente pra dizer então... Deixe-me mostrar a você” – ela pronunciou, falhando a voz nessa última parte.

Skye havia entendido na essência o que aquilo queria dizer, mesmo que ela não tivesse citado a primeira parte da frase. Estava totalmente claro. A morena arregalou os olhos e afundou o corpo na cama completamente, como se tivesse sido empurrada pelas palavras de Simmons.

– Uau, Simmons. – a garota estava sem palavras. – Como você pensa sobre isso hoje? Porque imagino que tipo... Na hora você estava preocupada demais com ele para raciocinar algo...

– Eu apenas beijei todo o rosto dele. – ela enfatizou a palavra “rosto” conhecendo a amiga que tinha. – E não queria deixa-lo fazer aquilo.

– Imagino...

– Eu acho que o amo, Skye. – ela disse sem cerimônias, aproveitando o lapso de coragem. – Acho que sempre amei e precisei quase perdê-lo para reconhecer isso.

– Você acha que o ama? – Skye falou, meio séria. – Eu sei disso desde a quinta-série, Simmons... Vocês são tipo, feitos um pro outro.

– Só quero que ele fique bem, Skye. – ela suspirou e juntou-se a amiga na cama. – Só quero que ele acorde e seja o mesmo Fitz de sempre.

– Ele vai acordar, Jemmie – ela disse, puxando a amiga para si. – Vamos apenas esperar, okay? Precisamos ficar bem, era isso que o Fitz ia querer se ele tivesse acordado e andando por aí.

– É... Nisso você tem razão – ela deitou a cabeça nas pernas na amiga e depois virou-se subitamente, lembrando-se do apelido. – E eu não gostei desse novo nome.

– O quê? Jemmie? – Skye deu uma risada.

– É, parece nome de Cacatua.

– Cacatua, Jemma?! – a garota não acreditava no que ouvia. – Eu devia te chamar de cacatua de hoje em diante... Eu hein, depois sou eu que falo asneira...

– Ah, Skye...

As duas permaneceram brincando e falando bobagens até que o sono as vencesse. Era inegável o fato de que Skye faria qualquer coisa para vê-la bem. Jemma provavelmente nunca imaginou que sua melhor amiga sairia de dentro de uma van como membro de uma facção rebelde que visava destruir a sua organização. A vida estava repleta de surpresas agradáveis e para aquela equipe, Skye havia sido a maior delas.