61ª Edição dos Jogos Vorazes escrita por Triz


Capítulo 9
Capítulo 9 - Galinhas


Notas iniciais do capítulo

A-le-ma-nha! Yay o/

Agora que a Copa acabou, tô sem absolutamente nada pra fazer. Saudade de ligar a TV e ouvir aquele OEAAAA, saudade dos jogadores, saudade daquele povo feliz pulando e, principalmente, saudade das partidas :c

Mas a vida anda, então aproveitem o capítulo o/



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Droga, o que raios tenho em minha cabeça? Os Carreiristas me odeiam! Certamente um deles tentará me matar agora mesmo. Nesse momento preciso me concentrar em sair vivo dessa carnificina, então continuo correndo, sem desviar de meu caminho.

Minhas pernas velozes me guiam no meio do massacre. Foco o pequeno estojo de facas à minha frente. Os outros tributos ao meu redor, alguns já com as armas nas mãos, começam a lutar, desferindo diversos golpes nos seus adversários, que berram alto e gritam por ajuda, como se alguém pudesse ajudá-los. Com o canto dos olhos, percebo manchas de sangue colorindo a grama de vermelho.

Não há ninguém focado em mim, pelo que percebo. Agarro o estojo de facas e de imediato já pego uma, deixando-a preparada em minha mão enquanto guardo o resto no bolso do casaco. Assim que estou pronto, resolvo fazer um plano para sair dali: contornar a Cornucópia de maneira veloz e discreta, indo em direção à floresta que está à minha frente. Astrid deve estar chegando lá a essa hora. Também posso aproveitar meu tempo aqui para tentar pegar mais algum suprimento que ajude na sobrevivência.

Começo a correr o mais rápido que posso, passando por meio de brigas. O sangue de alguém manchou o meu casaco, porém não tenho que pensar nisso agora. Com a floresta sendo visualizada à minha frente, continuo correndo veloz, mesmo arfando por conta do cansaço.

Assim que começo a contornar a Cornucópia, me dou conta de quantos corpos já estão caídos. Os coitados que morrem... é uma pena vê-los tendo esse fim. Alguns até pedem por piedade, porém não é isso que acontece aqui.

Percebo que esse momento de distração pensando nos mortos foi um grande erro quando alguém joga seu corpo pesado sobre mim. Acabo sendo empurrado para longe, caindo em cima de grandes caixas de suprimentos, que ferem diversas partes do meu corpo ao mesmo tempo. Levanto-me rapidamente, olhando para a expressão doentia de Anya, que mantém empunhada uma espada manchada com o sangue de alguém. Ao seu lado, vejo caído um corpo feminino, de longos cabelos escuros encaracolados e com os olhos dourados praticamente mortos. Seu rosto, pálido, está manchado com o sangue que tossiu. A garganta possui um corte profundo, e ela se contorce um pouco antes de ficar imóvel e vidrar seus olhos em mim. Ela não diz nada, mas seu olhar me implora ajuda. É Jass.

Sem poder fazer nada, apenas encaro Anya, que ainda parece paranoica segurando aquela espada. Não posso avançar nela, sua arma é perigosa demais para me arriscar, então simplesmente dou as costas e corro o máximo que posso.

Anya é monstruosa por conta de seus músculos. Obviamente ficou assim depois de treinar tantos anos em uma academia, ficando pronta justamente para momentos como esse. Um ponto bom nisso é que ela é pesada, portanto sua velocidade é reduzida. Não, isso não me deixa mais tranquilo. Anya ainda corre muito rápido.

De distância, ela consegue se atirar em cima de mim pelas minhas costas, fazendo-me cair com a cara virada para o chão, imobilizando-me e esmagando meus ossos com seu sufocante peso. Meu rosto bate no chão com força, o gosto de sangue corre por minha boca. Sinto uma costela lá de baixo doer tanto ao ter contato com o solo que suprimo um grito. Provavelmente está quebrada, porém mesmo assim consigo me virar de frente para Anya, que ainda está em cima de mim, sentada em minha barriga e pressionando ainda mais minha costela dolorida. Por sorte, ela não percebe que estou com a faca, que ergo rapidamente para tentar furar seu peito.

Anya desvia, porém fica com raiva e tenta enfiar sua espada em minha cabeça, que viro para o lado a tempo de esquivar seu golpe. Ela tenta parar minhas mãos, porém sou mais ágil e consigo abrir um grande corte em seu pulso esquerdo com a faca, fazendo o sangue jorrar em meu corpo. Por sorte ela é canhota, e quando tenta segurar a espada com sua outra mão, me dá tempo suficiente para acertar a faca nela mais uma vez: agora no estômago. Ela coloca as mãos no ferimento assim que eu retiro a faca.

— S-seu... — gagueja ela.

Em seguida, todo o peso de Anya desaba sobre mim. O sangue quente dela troca a cor de minha camiseta de azul para vermelho. Com rapidez, afasto seu corpo para o lado e escapo por baixo dela, recolhendo minha faca e continuando a corrida para a floresta.

Meu primeiro assassinato. Isso definitivamente não é algo para me orgulhar, porém estou vivo.

No caminho, ainda consigo pegar uma mochila preta de tamanho médio. Por sorte, ninguém mais veio tentar me atacar. Quando estou à frente da entrada da floresta, me escondo num arbusto e vejo a Cornucópia de longe. Consigo ver pelo menos uns seis corpos, contando com os de Jass e Anya. Vejo o corpo musculoso de Roy e também os lampejos azuis do cabelo de Trina. Então dois Carreiristas estão vivos, só me resta saber sobre Flora, Leonard e o garoto do Distrito 4. Como matei Anya, é um a menos. Provavelmente irão se instalar nos celeiros, onde há proteção.

Com o ritmo mais lento, vou observando a floresta. Não é tão densa, o que facilita a entrada da luz solar por entre as folhas.

O primeiro tiro de canhão soa. Atrás dele, seguem-se mais onze, ou seja, metade dos tributos morreram hoje. As únicas mortes de que tenho certeza são as de Anya e Jass, porém só poderei confirmar as outras dez quando a noite cair e os rostos dos mortos aparecerem no céu escuro. Será que Astrid está morta? Provavelmente não. Ela não seria burra para morrer no primeiro dia.

Ok, agora é necessário organizar uma lista do que fazer. Mentalmente, começo a raciocinar, colocando na frente as necessidades básicas. Primeiro, preciso encontrar uma fonte limpa de água, onde posso montar acampamento e até mesmo caçar. Depois, preciso saber o que há dentro de minha mochila e, por fim, encontrarei Astrid. Oh, também preciso limpar a minha faca, que ainda está melada com sangue. Se pudesse lavar minhas roupas empapadas desse líquido avermelhado também seria ótimo.

Passeio pela floresta em busca de água. Sigo alguns animais, que também podem estar afim de encontrar bebida, e acabo chegando em um rio bem raso e pequeno com água limpa, que me sustentaria por uma semana, aproximadamente. Sento na margem e abro minha mochila, encontrando um cinto de couro (ótimo para segurar facas), que logo ajusto em meu corpo. Há um pequeno buraco nele, que utilizo para prender a faca, e assim será mais útil se precisar dela com rapidez. Também encontro na mochila uma garrafa de metal vazia, uma caixa com oito unidades de barrinhas de cereal sabor aveia, uma camiseta extra igual à do traje dos tributos e um cobertor fino, da cor marrom como o solo, que pode me ajudar numa camuflagem.

Há uma árvore de pelo menos dez metros de altura ao meu lado. Entre suas raízes largas e volumosas, abro um buraco com as mãos e em seguida, cubro-o com o cobertor. O buraco é suficientemente grande para me esconder, posso entrar nele e me cobrir com o cobertor — durante a noite será uma utilidade e tanto. A camiseta, o estojo de facas e a caixa de barrinhas de cereal são colocados novamente na mochila, que deixo escondida debaixo de meu cobertor.

Pego a garrafa de água e vou até o pequeno rio. Como não posso beber a água diretamente, já que corro o risco até mesmo de passar mal, resolvo filtrá-la. Corto com a faca um pequeno pedaço do cobertor, coloco acima da boca da garrafa e coleto a água do rio. O líquido passa pelo pano, e nele ficam presas pequenas impurezas, como pedrinhas e grãos de terra, que removo facilmente. Quando bebo é um alívio, como se chovesse no deserto que é minha boca. Sinto um machucado na parte interna da bochecha, resultado da briga com Anya.

Depois de bebericar mais um pouco, jogo água em cima de minha costela ferida, porque o frio do líquido alivia um pouco a dor. Quando levanto a camiseta, percebo que há um hematoma formado na região do impacto, aquela cor roxa me deixa um pouco enjoado. Aproveito para trocar minha camiseta suja por aquela que veio na mochila, enquanto jogo um pouco de água acima dela para limpá-la. Depois, encho novamente a garrafa e a coloco na mochila.

Entardece muito rápido, então decido passar a noite aqui. Não há necessidade de caçar, ainda mais a essa hora. Simplesmente ficarei aqui, tentando me esconder ao máximo até amanhã, quando começar a caminhar para encontrar Astrid.

Espero o tempo passar simplesmente sentado, olhando para o céu, observando atentamente cada farfalhar de folhas. Na maioria das vezes, é só um animal. Chegou até mesmo ao ponto de eu estar tão entediado que acabei caçando uma ave, atirando minha faca nela enquanto parava na margem do rio. Até a noite cair, fico arrancando as penas uma por uma, porém não a comerei hoje, então guardo na mochila. Se acendesse uma fogueira essa hora, estaria ferrado. Os Carreiristas devem estar caçando.

Quando já posso ver as estrelas aparecendo no céu escuro, o hino soa em meus ouvidos, anunciando as baixas do dia. Foram doze canhões, então finalmente posso ver quem morreu. No céu, as fotos dos tributos mortos aparecem ao lado de seu Distrito, para mostrar aos vivos quem já partiu. Os dois do Distrito 3 já eram. Isso me deixa alerta, já que os Carreiristas do 1 e 2 estão vivos — e soltos por aí. Anya e Jass são as próximas a aparecer, seguidas pelo garoto do 6 (suspiro de alívio ao reparar que Astrid ainda está viva), os dois do 8, a garota do 9 e os dois do 11 e 12. Em seguida, toda a festança vai embora e o céu volta à escuridão total.

Aproveito o momento para entrar em meu buraco em meio às raízes e me cobrir com o cobertor. Tomo o máximo de cuidado para me cobrir por completo e me camuflar no chão. Como está tudo tão silencioso e meu corpo implora por descanso, caio no sono rapidamente.

[...]

— Argh, morram!

Uma voz misteriosa grita tão alto que levanto-me do chão em um pulo. Já está cedo, o sol já está subindo ao céu, com sua majestosa luz passando por entre as folhas. Saio do cobertor, coloco todos os meus suprimentos na mochila, boto-a nas costas e prendo a faca ao cinto. Encolho-me por entre os arbustos para verificar o que é.

Tudo o que consigo ver são borrões brancos, passando tão rápido de um lado para outro que nem consigo notar o que é. Um som irritante ao extremo quase perfura meus tímpanos, e faço uma careta ao ouvir. Isso me lembra um cacarejar de galinhas.

Então cai a ficha.

Arena de fazenda, então os animais estão à solta. . Que burrice a minha.

Porém aquelas coisas não se assemelham à galinhas normais. Quando uma finalmente para de se mexer e cacarejar, posso enxergá-la perfeitamente bem. O animal possui aproximadamente o dobro do tamanho de uma galinha normal, o que é arrepiante. Suas penas não são exatamente brancas, e sim prateadas, e seu bico possui fileiras de dentes afiados, perfeitos para rasgar carne. Mas que diabo de animal é esse?

No meio deles, há uma garota com uma lança. Consigo identificá-la, é Roseline.

Ela afasta os animais com sua arma, lançando as estranhas galinhas para bem longe, porém seu esforço não é suficiente: elas acabam retornando. Roseline possui várias mordidas em seus braços e várias penas presas em sua roupa, resultado das investidas das galinhas. Ela luta para sair de perto delas, só que sua respiração está prestes a falhar. Sem sua bombinha de asma, é pelo menos duzentas vezes mais complicado.

Uma de suas mãos pousa no peito, que sobe e desce rapidamente, clamando por oxigênio. Aquela cortina longa e escura que é seu cabelo está grudada na face suada e desesperada.

As galinhas parecem dar saltos ainda maiores, e começam a bicar com força seu pescoço e rosto. Roseline ainda consegue afastar algumas, mas seus dedos estão frágeis como porcelana, e sua lança acaba caindo no chão, junto com todo o peso de seu corpo. Seus olhos se fecham, aceitando a situação. Uma lágrima escorre pela sua bochecha, misturando-se com sangue, enquanto as galinhas rasgam sua carne.

Não é justo ela morrer assim, sendo uma das mais fortes. A doença dela com certeza a impede de ir mais longe, e ela com certeza não merece isso. Na verdade, nenhum dos tributos merece a arena, porém ela é diferente. Não é uma coitada. Pelo menos o canhão não soa, então Roseline ainda vive.

Um cacarejar muito alto soando perto de mim me alerta. Puxo minha faca e começo a atacar as galinhas, que abandonam o corpo de Roseline para correr atrás de mim, pulando quase na altura de minha cabeça. Elas estão em número muito grande, então quando tento atacar alguma, vem outra e me acerta com seu bico assassino. Uma delas morde a minha carne perto da altura do cotovelo esquerdo, arrancando um belo pedaço de pele e fazendo o sangue deslizar pelo meu braço e depois pelos meus dedos. Apesar disso, consigo esfaquear mais algumas galinhas.

Sinto outra bicada, agora na perna direita. Uma maldita galinha conseguiu arrancar um pedaço da minha calça e alcançar minha pele, abrindo outro rasgo horrendo. Por sorte, consigo enterrar minha faca em sua pequena cabeça.

Finalmente, quando a última galinha cai morta no chão, suspiro. Pego duas delas, limpo e enfio dentro da minha mochila. Quem sabe elas não tem um gosto bom? Agora tenho três grandes e gordas aves para me alimentar.

Roseline continua caída no chão, porém não lhe resta muito tempo de vida. Penduro novamente a faca no cinto, certifico-me de que tudo está na mochila e abandono o lugar.

Passeio calmamente pela floresta durante horas, ouvindo o canto dos pássaros, o movimento do vento por entre as folhas e o barulho de água fluindo. Certamente água não será um problema, porque aqui há um grande número de rios e lagos, porém preciso achar um outro lugar para acampar antes que escureça. Escolho procurar por um lugar longe dos celeiros, que é onde os Carreiristas devem estar acampando. Não demora muito para encontrar um lago raso rodeado por árvores.

Sento-me na margem e abro minha mochila, bebendo a água com rapidez. Depois, pego um pouco do líquido para lavar as feridas causadas pelas galinhas, que ardem como se estivessem espremendo limões acima delas. A primeira sensação é péssima, mas depois torna-se um alívio. Infelizmente não tenho curativos, então sou obrigado a sacrificar alguns pedaços de roupa para não deixar os ferimentos expostos. Aproveito também para passar mais um pouco de água acima de minha costela, que ainda está coberta pelo hematoma roxo. Assim que termino de me lavar, pego galhos e começo a criar atrito entre eles, para criar uma fogueira e assar um pedaço das minhas aves. Como está de dia e o fogo está baixo, sem muita fumaça, não há riscos altos de encontrar os Carreiristas.

Apago a fogueira assim que termino de assar uma das aves, e é bem a hora certa, pois o sol começa a se mover rapidamente, tornando o céu uma mistura de azul marinho, roxo e laranja. Mordo alguns pedaços da galinha e quando estou satisfeito, deito ali mesmo na margem, deixando a água molhar meu cabelo sujo de leve.

Ouço um tiro de canhão. Roseline deve ter partido dessa para melhor.

O céu torna-se escuro em pouco tempo, e as estrelas brilham juntas em constelações, dando uma iluminação mínima à essa floresta sombria. Esse céu é realmente muito bonito, uma pena estar à beira da morte quando se tem coisas tão legais para observar. As estrelas me lembram até mesmo daqueles brilhos do vestido de Astrid na noite da entrevista. Eu adoraria saber onde ela está a uma hora dessas.

Quando o hino começa a tocar, presto atenção no céu para ver quem foi morto. A única imagem que aparece é a foto do garoto do Distrito 10, que logo começa a tremeluzir e desaparecer. Então o céu fica escuro, e me vejo obrigado a deitar, porque não tenho como me movimentar durante a noite. Enrolo-me no cobertor, porém o som de algumas vozes e a iluminação de uma tocha me incomodam.

No momento em que estico minha cabeça para ver quem está ali, congelo. São os Carreiristas.


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Notas finais do capítulo

Tan tan taaan, acabo de novo o capítulo com suspense no final. Adoro fazer isso q

Obrigada por lerem e não se esqueçam de deixar um comentário, é rápido e não custa nada. Até o próximo o/



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