61ª Edição dos Jogos Vorazes escrita por Triz


Capítulo 7
Capítulo 7 - A última música


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Fiquei doente e não tive como terminar o capítulo. Mas agora que tem jogo do Brasil me animei um pouco e decidi postar.

Aproveitem e vai pra final, Brasil!



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O tempo de cada entrevista é de três minutos. Assim que uma campainha soa, o próximo tributo sobe ao palco para conversar com Caesar Flickermann.

Caesar Flickermann é o jovem apresentador, e é uma pessoa muito alegre, que consegue transformar qualquer conversa em algo incrível. Como todas as pessoas na Capital, ele se veste de um jeito exótico, e as cores de seu figurino são trocadas a cada ano. Seu cabelo este ano está verde, combinando com o terno e inclusive, com a maquiagem. Ele faz a introdução do programa enquanto me sento ao lado de Astrid para esperarmos a nossa vez.

— O nervosismo é maior do que parece — comenta Astrid, enquanto olha Flora subir ao palco rebolando os quadris. — É difícil se equilibrar nesses saltos.

— Como você me disse antes das Avaliações Individuais, relaxe — digo à ela. — Assim que eu consegui uma nota boa. Espero que se dê bem também.

— Obrigada — responde sorrindo. Deus, como ela fica linda sorrindo. Por que eu nunca tinha reparado em como ela é bonita antes?

Uma vez ouvi dizer que não existe gente feia, e sim gente mal arrumada. Talvez seja verdade, mas aí lembro daquele povo da Capital, que mesmo com vinte mil toneladas de maquiagem, nem fica bonito. Porém a maquiagem de Astrid não é como a deles. E ela nem é tão feia assim sem maquiagem.

Flora sai do palco muito aplaudida. Dominique disse uma vez que as pessoas da Capital a amam, ela é uma das favoritas junto com os outros Carreiristas, Roseline e eu (!).

Depois os outros tributos vão indo e vindo muito rápido, os três minutos passam voando velozes, e nem dá tempo de pensar no que responder pro Caesar. Apenas sei que devo ser eu mesmo, mas ao mesmo tempo me comportar perfeitamente bem. Espero que possa fazer uma boa entrevista e conseguir Patrocinadores, porque eles são como aliados que estão fora da arena. Porém, para isso, é necessário obter o carinho e admiração do público da Capital, e essa é uma tarefa complicada se você não for um Carreirista. Tudo isso porque eles é que dão a graça aos Jogos, já que desde pequenos estão em academias especializadas para aprender a matar. E, com eles sendo preparados desde essa época, as pessoas da Capital sabem que são especialistas em assassinatos, então por isso os contemplam.

Sendo assim, os outros tributos são deixados de lado, já que a Capital é cegada pelos Carreiristas. Sumimos entre eles. E para conquistar o público que direciona seus olhares aos Carreiristas, é necessário demonstrar força e carisma.
Para mim, parece estar funcionando. O problema é que os outros tributos sentem medo, e por isso não se dão bem na Capital. Isso resulta numa morte rápida, e não é o que quero.

Voltando a pensar na entrevista, reparo que Jass acaba de subir ao palco. Ela não é tão aplaudida quanto os Carreiristas, obviamente, mas está sorrindo pela primeira vez em dias. Caesar começa a conversar e ela responde educadamente.

— Você é o próximo — diz Astrid. Reparo que ela morde o lábio inferior, e que seu queixo treme de nervosismo enquanto fala. — Boa sorte e vá com calma. As pessoas gostam de você, então não será tão difícil.

— Já vou desejando boa sorte à você — respondo, parando o queixo inquieto dela com a mão. Seus olhos me encaram, ainda muito agitados. — Quando você for ao palco, faça as pessoas gostarem de você. Então tente relaxar mais um pouco, ok?

— Ok. Obrigada.

Quando a campainha soa anunciando a volta de Jass, minhas pernas, que parecem robotizadas, me guiam até a escadaria curta que é a entrada ao palco. Caesar Flickermann logo anuncia para seu público entusiasmado:

— Senhoras e senhores, vamos receber ao palco Geoffrey Stanley Monroe, do Distrito 5! Venha, Geoffrey!

Ainda com as pernas robotizadas, ando até o palco, que possui duas confortáveis cadeiras: uma para Caesar e uma para mim. Atrás de nós, há um telão com muitas luzes, e à nossa frente, uma plateia empolgadíssima. Enquanto sento na minha cadeira, aceno para o público, que me aplaude muito e grita meu nome várias vezes.

Caesar e eu trocamos um aperto de mãos.

— Geoffrey, é um prazer recebê-lo aqui! — fala Caesar, muito entusiasmado, com um sorriso enorme no rosto.

— O prazer é todo meu — respondo sorrindo. — Pode me chamar de Geoff.

— Certo, Geoff, então vamos começar falando sobre sua nota. Um nove, não? Brilhante. Conte-me sobre isso.

— Hã, é meio difícil de explicar. Não tenho um físico muito bom porque sou magricela, então não podia simplesmente sair socando tudo por aí.

— E mesmo assim conseguiu nota alta. Como?

— Digamos que tive uma ideia um tanto explosiva.

Observo Marcel Fitzpatrick à distância, e ele e seu grupo de Idealizadores dão bastante risada. As pessoas da Capital parecem curiosas para saber o que fiz.

— Explosiva? — pergunta Caesar, indignado, porém mantendo o sorriso.

— É, porque talvez eu tenha explodido algumas coisas. Mas calma, nenhuma comida foi dizimada com isso!

Caesar e o público soltam boas risadas, o que me deixa muito contente. Com isso, o meu nervosismo vai aos poucos acabando, e me sinto mais à vontade quando Caesar volta a conversar.

— Sabemos que, muitas vezes, a vida dos tributos é complicada, e que alguns têm histórias para contar. Você tem uma?

— Acho que sim — o público faz silêncio para me ouvir. Começo a dizer calmamente. — Bem, quando era muito pequeno, meus pais me deixaram num orfanato. Eu vivi naquele lugar imundo durante treze anos, só que eu quebrava tudo, era uma criança terrível! Porém ao invés de me ajudarem, as pessoas do orfanato só me tratavam mal. Um dia, fiquei com raiva e fugi correndo quando abriram os portões para receber uma família. Desde então, vivo na rua, e minha única companhia é meu cachorro Castiel.

Caesar parece comovido com minha história, e me manda um olhar um tanto entristecido.

— Sinto muito por você. — fala, com a voz um pouco baixa. Olho para meus pés por um momento. — Mas então, vamos supor que você se encontrasse novamente com seus pais ou com alguém do orfanato. O que diria?

Penso um pouco antes de responder.

— Haha, seus trouxas, quando eu ganhar uma mansão na Aldeia dos Vitoriosos vou rir muito de vocês.

O público novamente cai em risadas e a cara entristecida de Caesar se transforma em um largo sorriso.

— Oh, Geoff, sempre otimista! Será assim quanto aos Jogos também?

— Mas é claro que sim. Estou confiante.

A campainha soa junto com mais alguns aplausos. Caesar me dá um aperto de mão e então me diz:

— Boa sorte, Geoff!

— Obrigado, nos vemos novamente daqui a alguns dias, quando for entrevistar o vitorioso!

Desço do palco sorrindo muito em meio a aplausos e gritos. Os Carreiristas, por sua vez, não me olham com tanta felicidade como a plateia fez. Leonard e Trina, principalmente, estão com os olhos flamejantes, como se fossem lançar chamas em mim e me queimar vivo. Talvez a minha entrevista tenha sido boa o suficiente para roubar alguns Patrocinadores, não?

Astrid se encontra comigo enquanto está no caminho para o palco.

— Você foi ótimo — diz, enquanto tenta se manter equilibrada em seus saltos, que a deixam quase do meu tamanho. — Acho que o pessoal da Capital te adora.

— Obrigado. Boa sorte pra você.

Ela abre um sorriso enorme e sobe ao palco. Observo-a ir ao encontro de Caesar enquanto volto a me sentar.

A entrevista de Astrid foi muito boa, no geral. Estava respondendo educadamente, e explicou a Caesar como conseguiu uma nota boa. Ele ficou admirado com sua inteligência. Astrid também falou sobre sua enorme família, e que gostaria de voltar para que pudesse cuidar de seus irmãos. O público também a aplaudiu muito por ter uma intensa mudança de visual.

Ela desce do palco bem feliz, e logo me dirijo à ela.

— E aí, fui bem? — pergunta.

— Foi sim, muito bem.

Eu e ela sentamos e observamos as outras entrevistas. Descobrimos que os irmãos do Distrito 7, na verdade são primos, mas se tratam como irmãos por conviverem juntos desde sempre. Graham respondeu a Caesar com pouquíssimas palavras, deixando sua personalidade duvidosa aparecer. Já Roseline, sombria e direta, deixou claro que não veio para perder, mesmo com tantos problemas de saúde.

As outras entrevistas foram normais, e o final chegou muito rápido. Assim que o garoto do Distrito 12 desceu do palco, eu e Astrid decidimos retornar aos nossos andares para o jantar.

[...]

Depois de muitos elogios de Dominique e de muito ensopado (como era minha última refeição aqui, comi como se não houvesse amanhã — o que é bem possível), ando até o quarto e me troco. Escolho uma calça jeans e uma blusa branca, um visual bem tranquilo, talvez para simbolizar a paz de meu último dia com a mente sã. Assim que termino de lavar a fina camada de maquiagem que me passaram, vou até o terraço.

Astrid está lá, sem o violão de novo. O cabelo ainda está bonito, porém a maquiagem se foi, junto com o maravilhoso vestido e os malignos saltos. Astrid apenas usa uma calça preta e uma blusa branca sob um casaco de malha azul. Ela me deixa sentar ao seu lado.

— Amanhã estaremos na arena — diz, enquanto brinca com um botão do casaco.— Está psicologicamente preparado?

— Ninguém está psicologicamente preparado — respondo. — Nem mesmo os Carreiristas. Mesmo eles estando ansiosos para enfiarem suas armas em nossas cabeças, a possibilidade de morte não escapa. Só que eles encaram isso com mais positividade.

— Qual é a sua situação, então?

— Eu não quero ir para lá, é óbvio. Se eu pudesse, fugiria para o Distrito 5, pegaria o Castiel e o levaria para um lugar seguro e confortável, porém não acho que isso seja possível. E a possibilidade da morte me assusta — ela concorda balançando com a cabeça. — E qual a sua situação?

— Poderia existir uma máquina do tempo, não é? Aí era só voltar ao dia da Colheita e fugir, não é?

— Acho que não. Além de causar várias rupturas no tecido do espaço-tempo, você alteraria os Jogos e eu não teria te conhecido. Bom, pelo menos você não estaria prestes a morrer.

— Só que estaria prestes a arruinar minha existência, já que viagens no tempo são perigosas.

— Exato.

— E eu não queria desaparecer sem ter te conhecido.

— Muito menos eu. Você me ajudou pra caramba, e sou muito grato por isso.

E, de surpresa, Astrid me agarra para um abraço muito apertado. Ela murmura um obrigada enquanto passo meus dedos pelo seu cabelo macio. Quando me solta, ela suspira, como se estivesse realmente precisando de um abraço. Seus olhos parecem mais serenos quando os observo.

— Por que não trouxe o violão? — pergunto, ainda brincando com o seu cabelo. — Hoje é o último dia.

— É que eu queria, hã... conversar um pouco. Ouvir os outros me faz bem, e hoje não é um dia em que estou pra lá de feliz, então achei que fosse ajudar.

— Mas podemos cantar ainda, não?

— Sim. A última vez que cantaremos juntos sem estar loucos.

Sinto uma dor lá no fundo, como se alguém tivesse martelado a parte frágil da minha alma. Eu não quero que isso acabe, de jeito nenhum. Queria aquela máquina do tempo para congelar esse momento, e assim nenhum de nós precisaria ir pra arena. Só que estamos na vida real, e não em um filme de ficção científica.

Com tristeza na voz, digo:

— A última música.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Comentem!