61ª Edição dos Jogos Vorazes escrita por Triz


Capítulo 2
Capítulo 2 - Trem, tributos, mentores e... comida boa!




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Depois da Colheita terminar e a praça esvaziar, Dominique me reúne com Jasmine, que felizmente já está mais calma. Ela nos leva à porta do Edifício da Justiça.

— Bom, acho que já sabem o meu nome, não? — fala Dominique. Eu e Jasmine balançamos a cabeça para indicar que sim. — Então vocês serão meus tributos desse ano... Jasmine e Geoffrey. Oh, adoro o Distrito 5. Bom, parabéns por vocês.

Parabéns.

Como se fosse bom ser sorteado.

— Na Capital somos bondosos — continua ela. —, então vamos deixar que passem um tempo com suas famílias antes de ir. Ok?

— Ok — diz Jasmine, ainda cabisbaixa.

— Hã, eu não tenho família — falo, olhando para os meus pés. — Só tenho um cachorro, mas suponho que ele não venha me visitar.

— Oh — surpreende-se Dominique. — Então, querido, levarei-o diretamente ao trem. Jass meu doce, vá ao edifício.

Calada, ela anda calma até o interior do Edifício da Justiça.

— Vamos, então — digo.

Dominique começa a caminhar em torno do edifício em direção à estação, onde está o trem que nos levará à Capital.

— Sabe, é a primeira vez que vejo isso acontecer. Sempre as pessoas têm alguém... por que, bem... você é sozinho?

— Fui abandonado pela família ainda bebê. Deixaram-me num orfanato, mas ninguém gostava de mim lá, porque era uma criança terrível. Aos treze, fugi e fui morar na rua.

— E como você sobrevivia? — ela pareceu chocada, então dirige-me um olhar de pena. — Não tem comida na rua.

— Catava comida do lixo — dei de ombros. — Mas, sinceramente desabafando, cometia pequenos furtos à lojinhas. Tenho uma faca.

— Pagará pelos seus crimes na arena, então.

— Mais ou menos isso — talvez essa fosse a dura verdade.

A estação de trem está cheia de repórteres da imprensa, e sou banhado por flashes assim que atravesso o curto caminho até o vagão.

E quando entro no trem...

— Uau — digo, surpreso com a quantidade de luxo lá dentro. — Isso é demais para mim.

— Sinta-se à vontade — fala Dominique, andando até o maravilhoso sofá lotado de almofadas felpudas. — Esse trem é todo seu. E veja, ele é tão veloz que estaremos na Capital em menos de um dia.

Quando olho para cima, surpreendo-me com a quantidade de lustres no lugar. São tantos brilhantes que o lustre parece emitir luz como uma estela. As paredes, forradas por um papel de parede luxuoso, estão cheias de armas enquadradas em molduras douradas. Mas quando pouso meus olhos na mesa lotada de comida é que realmente aprecio o lugar.

Dominique nota o meu olhar.

— Pode comer à vontade. Sei o quanto está faminto, seus olhos azuis estão brilhando. Só não se esqueça de utilizar os talheres.

— Obrigado!

Sento-me em uma cadeira delicadamente forrada com um tecido macio e pego um prato. No orfanato, tínhamos pouquíssima comida, então meus pratos ficavam vazios. Agora, alimento-me de uma maravilhosa carne com purê de batatas, acompanhada por um líquido borbulhante (na embalagem li que isso chama-se refrigerante) para beber. Dominique liga a televisão.

— Está começando a passar as Colheitas dos outros Distritos na televisão. Quer assistir? Pode trazer o prato pra cá e comer no sofá.

— Ok.

Então junto-me à ela, amontoando-me com as almofadas.

Nesse instante, Jasmine chega no trem, os olhos ainda vermelhos e marejados. As portas se fecham e ela senta-se no sofá ao meu lado.

— Jass querida, estamos vendo as colheitas — gentilmente, Dominique diz. — Pegue um pouco de comida.

— Obrigada, mas não estou com fome. A que horas o trem parte?

— Daqui a uns quinze minutos.

A Colheita do Distrito 1 aparece primeiro. A garota é pequena e muito, muito bonita (bronzeada, cabelo cor de caramelo e olhos verdíssimos), mas não me deixo levar pela aparência. Certamente ela é mortal, já que vem de um distrito Carreirista e treina desde cedo para matar. O menino é alto e musculoso, tem o cabelo comprido bem escuro. Também é alguém com quem não deve se meter. O Distrito 2 sempre tem os melhores tributos, e esse ano não foi diferente. O garoto parece um monstro, tem os olhos escuros carregados de raiva. A garota tem o cabelo azul e é tão pálida que quase desaparece ao sol.

— Esses são bons — comento. — O menino do Distrito 2 é gigante. Espero que possa fugir dele.

— O jeito é fugir. Tentem ser amáveis para conseguir mais patrocinadores que eles — alerta-nos Dominique.

— Mas de qualquer jeito os Carreiristas conseguem mais patrocinadores — fala Jass. — Eles são venerados pela Capital.

— E é por isso que precisamos ser melhores — afirmo.

Os tributos a seguir não são muito interessantes. Ao todo, os que mais me chamaram a atenção foram a menina do Distrito 6, que assim como eu não esboçou reação ao ser selecionada; os irmãos com aparência oriental do Distrito 7; o menino grandão do Distrito 9 e a garota do Distrito 10, que teve um ataque de asma no meio do palco.

— Coitada — diz Jass.

— Veja pelo lado bom, ela não deve ter muita resistência na hora de correr — falo.
— Bom, o trem vai começar a andar agora — avisa-nos Dominique, indo para um corredor perto da mesa. — Chamarei seus mentores.

Levanto do sofá o colo minha face na janela. Os respingos de chuva escorrem pelo vidro, e reparo que a estação ainda está cheia de repórteres e flashes. Um pequeno ser branco corre pela multidão... Castiel?

Agarro-me ao vidro. É ele mesmo, todo sorridente, com uma laranja entre os dentes. Seu longo rabo abana ao ver-me, e tento ver o máximo possível dele, porém o trem começa a andar e rapidamente, Castiel torna-se um pontinho, assim como a estação. E mais brevemente, o Distrito 5.

Meu coração fica cheio de saudade. Meu único companheiro... como será que ele vai se alimentar enquanto eu estiver fora?

Dominique volta com dois ex-vencedores que nos guiarão durante a breve estadia na Capital. Eles são conhecidos, venceram de Carreiristas usando o pouco que tinham. A mulher, Bree, tem cachos loiros e um olhar de pânico. Ela é bem magra, é possível ver diversas cicatrizes em sua face. Venceu os Jogos há alguns anos, usando apenas uma garra de um bestante como arma. O homem, Taylor, tem o cabelo ruivo e usa um tapa-olho. Ele parece ser bem durão. Se não me engano, ele e Bree casaram-se após se conhecerem na Aldeia dos Vitoriosos.

Futuramente, eu serei seu vizinho. Nunca pensei em fazer planos como trabalhar, me casar, ter filhos. Talvez eu possa conhecer uma mulher legal algum dia, quem sabe.

— Olá — diz Taylor. Ele e Bree sentam-se à mesa para sua refeição. — Vamos fazer o máximo para ajudá-los, mas também devem fazer sua parte. Obedecerão nossos conselhos. O importante é saber que devemos cooperar.

Eu e Jass concordamos. Como eu já havia comido, fiquei no sofá. Jass foi tomar sopa com Bree e Taylor.

— Se está cansado, vá ao quarto, Geoff — diz Dominique. — Chegaremos na Capital amanhã de manhã.

— Ok.

Já via o anoitecer da janela do trem. Passávamos por uma floresta, e o Distrito 5 nem é mais visível, o que me deixa um pouco triste. A lembrança de Castiel na estação me deixa cabisbaixo.

Passando por um corredor, vou direto ao meu quarto. Quando chego lá, deparo-me com uma visão reconfortante: uma cama enorme em frente à uma grande televisão. Um armário no canto me fornece roupas de meu tamanho exato, então decido separar um pijama preto.

No meu quarto, há um banheiro. Lá, o chuveiro é incrível: a espuma da banheira pode até mesmo mudar de cor. Como meus banhos no Distrito 5 eram tomados em goteiras, pude aproveitar ao máximo o conforto de uma banheira. Termino de lavar meu cabelo loiro encardido (que ficou bem macio com o shampoo com aroma de limão), e então seco-me em segundos com o meu secador gigantesco.

Coloco meu pijama e, rapidamente, jogo-me na cama. Ligo até uma musiquinha instrumental para relaxar os ânimos. Música é uma coisa que me deixa muito feliz.

Geralmente, antes de dormir, costumo pensar muito sobre a vida. E não é que estou gostando dessa vida de mordomias na Capital? Sempre passei muita fome, e agora tenho o que quiser quando quiser. E se eu ganhar, será assim também.

Ouço um grito do corredor. É Jass. Provavelmente está tendo um pesadelo.

E então penso no quanto a Capital é horrível. Como pude achar que isso foi bom por um instante? Sinto-me furioso comigo mesmo por isso. Vou é vencer para acabar com esse terrível acontecimento de uma vez.

Aos poucos, vou caindo no sono. Durmo desejando profundamente que, diferente de Jass, não tivesse um pesadelo.


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Notas finais do capítulo

Comentem se gostarem! Até o próximo o/