Os Viajantes escrita por MFR


Capítulo 4
Taro




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Começar a ajudar na colheita da família e depois fugir de meu avó para tomar banho num rio próximo sempre foi algo comum para mim, naquele dia eu esperava voltar para casa normalmente, talvez receber algum castigo de meu avô e da minha mãe, porém isso não aconteceu.

Graças a ultima chuva a água transbordava e a correnteza estava feroz, o barranco que se estendia junto ao rio estava molhado e desmoronava com qualquer movimentação mais brusca.

Já estava dando meia volta, desistindo do mergulho, quando minha mão escorregou do galho em que me apoiava. E eu cai.

É difícil entender o que acontece quando se está dentro de um rio furioso. As correntes te levam para um lado quando você pensa que ia para outro, seu corpo se debate para cima em busca de ar, mas então você percebe estar indo em direção ao fundo, quando você acha que está sem fôlego você é jogado contra uma enorme pedra e perde grande parte de seu escasso e precioso ar necessário. Tudo acontece muito rápido, você não enxerga, não sente nada além da dor nos pulmões ou onde, graças a algo sólido que estava tão perdido quanto você, bate em ti arrancando sangue ou esmagando seus músculos.

Até que então o sofrimento passa, as poucas e disformes cores do mundo subaquático desaparecem junto do sentimento de pânico.

Você morre.

Eu morro.

Eu morri.

Mas isso tudo foi a quase um mês, não precisam ficar preocupados.

Depois do acidente, depois da minha morte, eu acordei em um lugar intensamente branco, nem a coitada da minha sombra se fazia presente para tirar um pouco do clarão. Dois rapazes apareceram e se apresentaram, Salazar e Caius. Os dois tinham cortes de cabelo parecidos, mas enquanto um era de um loiro muito claro e solto o outro mantinha o comprido cabelo negro preso na nuca. Suas roupas e feições demonstravam que eram diferentes de mim, eles não tinham meus olhos puxados e suas peles eram claras demais para se comparar com a minha.

Quando começaram a explicar sobre as Amazonas, sobre as dimensões, sobre os Viajantes, sobre o sobrenatural, eu não acreditei de início. Claro, quem acreditaria? Mas então eles sorriem (na verdade só Salazar) e me dão a chance de me tornar como eles, de fazer parte da família deles. Tive medo de desrespeitar minha família ao aceitar fazer parte de outra, porém nada poderia fazer. Eu morrera. Não havia mesmo como voltar para o meu avô e minha mãe.

Aceitei ser um Viajante. E estava gostando!

... Menos por umas coisas.

– Vamos, Taro, mantenha a guarda mais alta. Tudo não se resume a atacar com força. - Salazar ensina.

Esgrima era algo interessante, Salazar era um ótimo professor. Não exigia muitas horas de treino, mas se certificava que eu fizesse o melhor que ele achava que eu podia fazer, quase sempre ele acertava meus limites. Infelizmente eu não tinha metade do talento de Sal para espadas, nem mesmo quando ele me deu uma de presente. Era uma katana feita de bronze com o punho trançado de couro vermelho escuro. Eu melhorei com Hime ("princesa", o nome da espada), mas ainda não conseguia acertar e desviar de nenhum ataque de Sal. O Viajante da Prata não se importava com isso, apenas pedia para eu me esforçar e me apoiava quando eu errava. Diferente de Caius e sua incrível mira, ele me obrigava a treinar até que eu atendesse suas expectativas, se não fosse o meu novo corpo, eu estaria morto por exaustão na primeira maratona de arco-e-flecha.

– Esta tudo bem, Taro, pode descançar. - Salazar diz dando um passo para trás escapando de uma investida que eu tentara.

Suspiro aliviado, realmente, tudo bem que ele tinha décadas de treino, mas como ele conseguia ser tão bom? Eu mal conseguia ver quando ele atacava e nunca cheguei a menos de dez centímetros de sua pele. Mesmo ele aparentando ter vinte anos (quatro a mais que eu) sou maior que ele, meu novo corpo é muito mais veloz que o de um humano, mesmo sendo um Viajante a só trinta e poucos dias, e meus reflexos eram extremamente apurados. O problema era que ele é tudo isso e tem mais técnica, tinha impressão que para ele, lutar contra mim e um bebê não tinha diferença.

Me sento no chão da clareira e observo o mar.

Adoro esse lugar, aqui onde eu treinava, aqui eu morava(minha casa ficava na orla do campo) e tinha uma bela vista do mar da ALFA.

Na verdade, eu não conhecia muito além daqui na dimensão que eu chamava de lar.

– Oniisan? - Chamo e Sal que girava sua espada olhando o mar se vira para mim para mim.

– O que foi?

– Quando vou conhecer outros lugares? - Pergunto - Quero dizer, só conheço esse lugar e casa de hóspedes, a ALFA não é só isso, certo?

– Por que não disse antes? - Ele pergunta sorrindo - Vem, vou te mostrar a praia noroeste, é cheia de pedras para se esca... - Salazar começa, mas se interrompe por causa de um... Panda?

Devia ser um panda, só podia ser um panda, com a diferença que ele era quatro vezes maior do que qualquer um que eu já vi.

– Q-q-que? Ma-ma-m-m-ma... N-não. - Começo a balbuciar ao ver o bicho.

Tudo bem, já vi Salazar fazer magias e Caius acertar alvos impossíveis, mas um panda - um animal que eu sempre vi, desde pequeno - tão enorme passar por entre as casas de Caius e Salazar era no mínimo arrepiante.

– Ah, oi, Kiba, o que posso fazer por você? - Salazar pergunta.

Ele está falando com o panda?!– penso olhando a cena boquiaberto.

– Sim, mestre.

E ele respondeu?!

– E o que é? - Sal pergunta calmamente.

– Mestra Espaci quer saber como anda o treino de mestre Taro. - O monstro responde.

– Bom... - Salazar parece pensar. - Diga a ela que ele está indo bem, mas que não tem muito talento para arqueiro ou esgrimista. Para compensar ele é fisicamente mais forte que eu e Caius e tem instinto defensivos.

– Entendido, mestre. - O panda diz fazendo uma leve reverência á ele é depois para mim (???). Ele começa a se virar, mas então se volta - Posso dar uma ideia, mestre? - Ele pergunta olhando diretamente para mim que mantinha a boca aberta.

– Ca-c-claro. - Confirmo.

– Talvez devesse treinar mais em lutas corpo a corpo, talvez essa seja sua habilidade. - E dizendo isso repete as reverências e parte.

– Corpo a corpo. - Salazar balbucia. - Bom, vamos tentar.

Salazar ria loucamente. E eu estava estático.

– Eu e Salazar tentando ensina-lo a usar armas, quando tudo o que você precisa para vencer guerras são seus punhos. - Caius diz pausadamente.

Por algumas horas ele e Salazar me ensinaram vários estilos e modos de luta, no final, agora a pouco, quando trocamos investidas eu consegui acertar um soco em Salazar. EU CONSEGUI ACERTAR UM SOCO! Mesmo perdendo a luta sentir meu punho se chocar contra ele e jogá-lo alguns centímetros para trás foi uma das melhores sensações que já vivi.

– Não exagere, eu ainda perdi. - Respondo.

– Taro, lutar contra a gente é diferente de participar de guerras em outras dimensões. Você é jovem, mas é mais poderoso que a maioria, talvez noventa e oito por cento, das pessoas do Mapa Dimensional.

– Certo... - Murmuro meio descrente de meu poder.

– Que tal comemorar-mos? - Sal propõe.

– Tenho certeza que Vid tem algumas bebidas. - Caius concorda.

Encaro eles. Mas o que estava acontecendo?

– Quer dizer que eu soco um de vocês e ganho bebidas? - Pergunto gesticulando com as mãos.

Sal ergue uma sobrancelha, pensando.

– Da forma que diz parece que somos péssimos irmãos...

– Vamos logo. - Caius, com sua perfeita paciência, corta Sal e teleporta nós três de uma vez.


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