Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados escrita por HellFromHeaven


Capítulo 3
Começando as investigações




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A semana se passou e eu procurei em todo lugar em que poderia existir alguma informação relacionada ao assunto. Fui a todas as bibliotecas da cidade, na emissora de Tv da cidade vizinha, perguntei para todos os donos de bancas de jornal e para o velho Jenkins( um idoso de minha rua com mais de oitenta anos que sabe de muita coisa e lê muito jornal). E no final de toda essa jornada, meu resultado foi... Nulo! Não consegui encontrar nada útil! Nenhum tipo de informação, nem sequer um maldito boato! Chegaram a dizer que eu estava ficando maluco. Fato que só ignorei por já estar acostumado com esse tipo de reação das pessoas em relação à minha habilidade.

Chegou o dia de me encontrar novamente com Lisa. Ela poderia ter encontrado algo, mas minhas expectativas estavam baixas já que ela não havia me telefonado. Sentei-me à mesma mesa da última vez e apenas fiquei esperando. Estava tão frio quanto à última vez, só que agora eu estava preparado. A semana foi extremamente gelada e pensar que corri pela cidade inteira atrás de uma informação inexistente apenas me deixava mais desanimado. Estava perdido em meus pensamentos olhando pela janela da lanchonete quando ouvi aquela voz familiar, mas com um tom mais desanimado:

– Oi Harry.

Ela estava com o mesmo conjunto de casaco, cachecol, toca da última vez e sua expressão confirmava minhas expectativas.

– Olá Lisa. Sente-se.

Ela se sentou cabisbaixa e, depois de suspirar fundo, voltou seu olhara para meu rosto:

– Eu sinto muito, mas... Eu não consegui encontrar nada...

– Tudo bem. Estamos no mesmo barco. Andei a cidade inteira e cheguei a ir à emissora da cidade vizinha, mas não tive sucesso.

– Nossa... É realmente uma pena... Eu não pude ir a muitos lugares, já que dependo dos outros para me locomover por grandes distâncias.

– Está realmente tudo bem em vir aqui sozinha?

– Sim. Eu não tenho problemas em andar por esse bairro porque cresci aqui, então eu meio que decorei os caminhos.

– Entendo. E pensar que levei todos aqueles sermões do meu pai à toa...

– Oh... Sinto muito por isso.

– Não se preocupe. A ideia de sair numa “caça ao tesouro” foi minha. Droga, eu queria ter achado algo só para esfregar na cara dele.

– Vocês não se dão bem?

– Toda minha família costumava se dar bem, mas tudo isso mudou depois do acidente. Eu fiquei cada vez mais reservado e meu pai cada vez mais paranoico. Sei que ele só quer o meu bem, mas às vezes ele faz pressão demais.

– Entendo... Ele quer que você arranje um emprego, não é?

– Pensei que você só pudesse ver o futuro.

– Hahaha. E só posso mesmo. É que esse tipo de coisa é bastante comum. Pena que vai ser difícil para eu conseguir um trabalho...

– Não seja tão dura consigo mesma. Há algo em especial com que você queira trabalhar?

– Bem... Eu sempre gostei de tocar violino... Tentei entrar para a Universidade de Música e Artes no norte, mas minha condição me atrapalha um bocado...

Eu fiquei apenas encarando-a por alguns segundos. Era uma puta coincidência! Nós dois temos anomalias oculares e queremos frequentar a mesma faculdade. Digo qual a probabilidade disso? Nem tentarei fazer os cálculos porque sou péssimo em exatas.

– Está... Tudo bem? Você ficou tão quieto de repente.

– Sim... Sim... Só estava pensando como esse mundo é pequeno.

– Anh?

– Eu também tentei entrar para essa faculdade, mas falhei miseravelmente.

– Sério? Você toca que instrumento?

A expressão de desanimo no rosto dela rapidamente mudou para a de uma criança vendo um brinquedo novo.

– Eu não sou músico. Na verdade eu até tentei aprender alguma coisa, mas sou uma negação com isso. Eu quero cursar artes lá.

– Oh! Então você deve desenhar bem!

– Eu faço o que posso. Qualquer dia eu mostro...

Droga! Quase falei merda. O clima ficaria realmente desagradável se eu dissesse para uma cega que mostraria um dos meus desenhos a ela.

– Está tudo bem.

– Anh?

– Eu sei o que você ia falar. Estou acostumada com esse tipo de situação. Devo ser a primeira cega que você conhecesse, não é?

– Sim... Ah! Mas isso não te impede de tocar uma música para mim.

– O quê?

– Você tem um violino, certo?

– Sim, mas... Eu não toco muito bem...

– Com certeza toca mais do que eu. Então não se preocupe.

– Tudo bem... Eu posso fazer isso hoje, se não tiver nenhum compromisso.

– Tá brincando? Eu sei que nos conhecemos há apenas uma semana, mas aposto que você já percebeu que sou m vagabundo tentando ser alguém. Eu não tenho mais nada para fazer hoje.

Ambos rimos por algum tempo. Seria o sinal de que uma amizade estaria nascendo? Bem, isso só o tempo revelaria.

– Você é muito bobo.

– Eu sei.

– Então está marcado.

– Pode apostar! Se quiser eu lhe acompanho até sua casa.

– Oh... Eu agradeço. Isso facilitaria as coisas para mim.

Paguei a conta da lanchonete e a acompanhei no caminho de casa. Tudo indicava que aquele dia terminaria normalmente como de costume, mas, depois de chegarmos à metade do caminho (que já era curto), nos deparamos com uma pequena multidão reunida. Como eles estavam no meio da rua, segurei na mão de Lisa e comecei a abri caminho entre eles. E quando cheguei ao centro entendi o motivo de todo aquele alvoroço. Lucas Harrison e alguns de seus capangas estavam batendo em um comerciante local. O chefe vestia calças e sapatos sociais, um terno e um chapéu todos brancos e caríssimos. Seus cabelos loiros, curtos e lisos (que mal apareciam sobre o chapéu) e seus brilhantes olhos azuis contrastavam com seu grande sorriso sádico. Com 23 anos e 1,75 metros de altura, era uma figura desagradável aos meus olhos. Sempre vi reportagens sobre esse babaca e suas babaquices, mas era a primeira vez que o via pessoalmente. Dentre os capangas, nenhum de seus contadores passava de um ano. Isso que dá ficar se metendo com assuntos ilegais. Era de se esperar, mas, quando encarei o líder deles, tomei um susto daqueles. O contador dele estava nulo.

– Lisa... Eu sei que não consegue ver detalhes, mas... Deve estar vendo três homens surrando outro, certo?

Ela estava olhando para baixo desde que entramos na multidão. Provavelmente para não ficar vendo futuros alheios, mas rapidamente olhou para frente quando eu terminei de falar.

– Sim... Consigo ver três vultos.

– Preste atenção no do meio. O que está um pouco afastado dos outros.

Fiquei observando seu rosto e, como eu esperava, seus olhos se arregalaram. Ela voltou seu rosto para mim assustada:

– Eu... Não consigo ver o futuro dele...

– Como eu pensava... O contador dele está zerado e ele não tem futuro... Será... Lisa fique aqui. Eu já volto.

Caminhei diretamente até o causador do alvoroço sem nem ao menos pensar nas consequências que aquele ato poderia ter e o chamei como se fossemos conhecidos:

– Olá Lucas.

Ele me encarou sem entender o que se passava. Chegou a coçar a cabeça como se tentasse lembrar-se de mim, mas logo esboçou um sorriso no rosto:

– Quem é você e o que quer? Vai bancar o herói?

– Nem. Tenho algo para perguntar a você.

– Antes que diga mais alguma coisa, eu não vou te emprestar dinheiro.

– Não quero te pedir nada. Apenas confirme algo para mim.

– Tudo bem. Seja rápido.

– Por acaso você não teria alguma anormalidade nos olhos, teria?

Seus olhos se arregalaram e pude ouvi-lo engolindo seco. Seu sorriso desapareceu e transformou-se em uma expressão séria, porém espantada:

– O... O que você quer dizer com “anormalidade”?

– Ver algo que você não deveria. Algo que ninguém mais vê.

Gotas de suor escorriam por seu rosto. Notei que ele colocou sua mão perto da cintura (provavelmente onde estava alguma arma), mas logo desistiu e, depois de olhar ao seu redor, fez um sinal aos capangas que pararam de surrar o pobre comerciante:

– Chega por hoje! Você teve sorte, velho. E é bom que todos os curiosos saiam daqui antes que eu me irrite.

– Acho melhor você sair enquanto pode.

Uma voz feminina surgiu por detrás da multidão e todos os olhares se voltaram para ela. Uma mulher de aproximadamente 1,70 metros de altura com cabelos longos, lisos e ruivos abriu caminho entre todos e caminhou em nossa direção. Ela vestia calças, sapatos e um sobretudo (todos sociais, mas de uma marca bem mais barata do que as roupas de Lucas). Seus grandes e arredondados olhos azuis eram tão chamativos quanto seu belo rosto e sua pele pálida (ela era a pessoa mais branca que já havia visto). Ela se aproximou do babaca e, mesmo estando sozinha, o encarou como se estivesse em vantagem.

– Que história é essa de ficar se metendo na minha área?

– Pergunte para aquele lixo. Está me devendo dinheiro e eu vim cobrar.

– Foda-se. Não quero você atrapalhando a vida de ninguém por aqui. Não me interessa se ele está te devendo dinheiro ou qualquer outra coisa. Enquanto ele morar aqui terá minha proteção.

Lucas parecia incrivelmente intimidado por aquela mulher. Mas eu o compreendia, afinal, ela transpirava confiança. Os colegas dele se aproximaram de forma hostil, mas foram impedidos de continuar por um gesto do mesmo:

– Por hora vou me esquecer da dívida. Mas não vá contando demais com a sorte Jade. Um dia a casa vai cair sobre você.

– Nada dura para sempre. Apenas suma.

– Qualquer dia a gente continua a conversa, moleque.

Os três foram embora e a multidão se dispersou. Naquele momento já havia percebido que aquela mulher era Jade Valentine. Ela ajudou o homem a se levantar e trocou algumas palavras com o mesmo. Lisa se aproximou de mim e puxou meu casaco:

– Harry...

– Eu sei. É uma pena que não pude terminar a conversa com o babacão, mas pela reação dele estamos no mesmo barco.

– Não é isso.

– Não? O que houve então?

– Bem... Olhe para a mulher que está conversando com o comerciante.

A princípio fiquei confuso, mas logo entendi o que Lisa queria dizer ao olhar com atenção a heroína do dia. Sua chegada havia sido tão repentina que apenas reparei na sua aparência (era uma mulher linda, oras), mas quando me concentrei fiquei perplexo: ela também estava com o contador no zero! Tudo estava ficando cada vez mais confuso.


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Notas finais do capítulo

Bem... Eu avisei que esse demoraria a sair, mas as provas acabam essa semana e depois poderei pegar firme na escrita!
Espero que tenham gostado e agradeço a quem leu até aqui.
Até o próximo capítulo =D



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