Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados escrita por HellFromHeaven


Capítulo 10
A primeira tarefa




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Continuei refletindo naquele maravilhoso sofá e meus olhos foram ficando cada vez mais pesados. Sim, eu sei que elogio demais aquele sofá, mas isso não importa (adoro aquele maldito móvel). Acabei deixando o sono me vencer, afinal a última noite fora horrível, e cochilei. Cheguei até a sonhar que estava cavalgando um iguana gigante com uma espada na mão direita indo em direção a um grande exército de anões que usavam escovas-de-dentes enormes como armas... Aquele sonho foi bizarro, mas que se foda. Um deles sacou uma metralhadora de ervilhas e me atingiu no rosto repetidas vezes. Ao acordar, percebi que era apenas a Bunny cutucando minha bochecha:

– Quanto tempo mais você pretende ficar dormindo?

– Ah... O... O quê?

Eu não sou ninguém quando acordo.

– Levante! O almoço está pronto.

– Tudo... Tudo bem...

Usei todas as forças de meu corpo adormecido para me levantar. Foi uma tarefa difícil, pois o sono havia me consumido ferozmente. No final a segui até a cozinha, onde todos estavam reunidos. Aquele era um dos maiores cômodos da casa, já que o número de Valentines era consideravelmente grande. A comida era muito boa e fazia com que as habilidades culinárias do meu pai parecessem feitas por um total incompetente no assunto (eu). Essa comparação surgiu em minha mente enquanto degustava um pedaço de carne assada macio a ponto de dissolver na boca e a tristeza voltou a bater na porta da minha mente. Por sorte olhei para o lado e vi os sorrisos cativantes de Bunny e Jade enquanto davam comida uma para a outra. Aquilo era meio... Diferente, mas nenhum dos membros parecia se importar. Por algum motivo estranho, a felicidade daquelas duas retardadas me fazia sentir melhor. Isso foi bom, pois pude aproveitar melhor o almoço.

Depois daquilo decidi dar uma volta pelo jardim. A mansão era afastada do centro e possuía um enorme terreno com os fundos da mesma de frente para uma floresta. Pelo que ouvi de um dos Valentines, Jade sempre gostou de manter o jardim em um ótimo estado e sempre que podia dava um trato no local. Passei algumas horas sentado num banco voltado para a floresta admirando a beleza daquele lugar. Aquilo daria um belo quadro... Eu já não estava pensando em absolutamente nada quando senti um tapa na parte de trás de minha cabeça. Me virei e encontrei Jade com uma expressão um pouco mais séria do que de costume:

– Gostou do meu jardim?

– Adorei. Se importaria se eu fizesse uma pintura daqui algum dia?

– Sério? Claro que não! Eu adoraria!

– Bem... Queria falar comigo?

– Oh! Droga, quando o assunto é esse jardim eu sempre acabo me esquecendo das responsabilidades! Houve uma mudança de planos e seu “trabalho” foi adiado.

– Para quando?

– Hoje à noite. Venha comigo. Vou te apresentar ao pessoal e dizer qual será seu papel.

– Tudo bem.

A segui até o interior da sala e fomos até o porão, onde estavam reunidos alguns membros da família. Todos vestiam ternos e calças sociais pretos. Pareciam tranquilos e pude ver um deles engatilhando uma pistola. Jade coçou a garganta e apontou para mim:

– Esse aqui é o garoto de quem estava falando. O nome dele era Harry Stavic e está aqui para se juntar a nós.

– Era?

– Claro.

Um deles deu um passo à frente e sorriu. Era um homem na casa dos trinta anos, aproximadamente 1,80 metros de altura, cabelos loiros e ralos e olhos verdes. Possuía uma grande cicatriz na bochecha direita e sua voz era grave.

– Quando você entra para a família, deixa seu sobrenome para trás e se torna um Valentine de verdade.

– Bem falado, Will! A tarefa de hoje será simples: vocês precisam apenas desviar um pequeno carregamento de peixes que passará pela rodovia às nove em ponto.

– Jade... Não seria amanhã ao meio dia? – disse uma garota de olhos e lisos cabelos ambos negros e 1,60 metros de altura.

– Tivemos que modificar os horários. Ocorreu um imprevisto e amanhã precisarei de todos vocês.

– Entendo. Então é apenas mais um simples desvio rotineiro?

– Exatamente. Se tudo der certo me certificarei de mandar as cozinheiras prepararem um belo prato de frutos do mar!

Os olhos da garota começaram a brilhar e ela virou para o resto do grupo com determinação:

– Vamos fazer isso dar certo! Matarei aquele que ficar entre mim e os frutos do mar!

Todos riram. Logo após discutimos os últimos detalhes, fui até meu quarto (aparentemente eu era o único ali) e encontrei o mesmo “uniforme” que meus companheiros por um dia estavam usando. Vesti-me e comecei a me preparar psicologicamente. Seria a primeira vez em que roubaria algo e não tinha a mínima ideia do que esperar, mesmo sabendo que eu apenas ficaria de vigia. Aliás, era exatamente por isso que estava nervoso. Qualquer erro meu e a porra toda ia por água abaixo. Fiquei revisando todo o plano em minha cabeça até a hora de começar. Fui até a frente da casa onde todos me esperavam em uma van totalmente preta (carroceria e vidros). Cheguei a me perguntar se aquilo não seria um problema, já que estava de noite, mas permaneci em silêncio. Na verdade o silêncio me possuiu durante todo o trajeto até a rodovia e meu coração ficava cada vez mais acelerado. Paramos fora da rodovia em um trecho isolado da cidade e praticamente sem iluminação. Poucos veículos passavam por ali e a maioria deles era de carga. Sahoc era um ótimo lugar para os negócios da Jade, já que ficava em uma das principais rotas de comércio entre os grandes polos industrias do país. Esperamos cerca de dez minutos até que nosso alvo aparecesse. Dois dos nossos homens estavam escondidos na divisória entre as pistas e rapidamente se posicionaram no meio da estrada com armas em mãos ao avistarem os faróis do caminhão. O motorista parou pouco antes de atingi-los e apenas saiu do veículo sem demonstrar resistência. Pelo que a Jade disse, esse tipo de coisa era bem comum nas redondezas, então não havia motivos para outro tipo de reação da parte do motorista. Apenas fiquei na van observando a rodovia e, caso alguma viatura da polícia ou algo parecido aparecesse, eu teria que avisar o resto do grupo. Mas por sorte ocorreu tudo bem. Deixamos o pobre homem ali mesmo e partimos com a carga de volta para a mansão. No caminho, estava refletindo novamente sobre a morte de meu pai e comecei a ficar para baixo de novo. Mas, como se adivinhasse o que estava pensando, aquela garota dos frutos do mar me abraçou por trás e encostou sei queixo na minha cabeça. Rapidamente fui para frente e acabei caindo de cara no banco da frente. Ela deu algumas gargalhadas e foi acompanhada pelos outros Valentines que estavam na van.

– Que porra foi essa?

– Como assim? A Bunny te avisou que ficar para baixo é proibido, não é?

– Sim, mas...

– Então.

– Por que me abraçou?

– Pra soldar a rachadura no seu coração com o calor do meu corpo.

Apenas fiquei encarando-a e o silêncio tomou conta do lugar. Depois de algum tempo, ela ficou inquieta e disse enquanto sacudia os braços:

– Porra! Era para vocês terem falado alguma coisa!

– O que você esperava que disséssemos? – respondeu um dos membros. – Olha a merda que você falou.

– Vocês são muito chatos.

Naquele momento cheguei à conclusão de que praticamente todos os meus novos companheiros era pelo menos um pouco retardados. Passei o resto do trajeto observando a discussão que se iniciou com o nosso silêncio perante a garota frutos do mar. Sim, ela tinha um nome. E era Kimi alguma coisa. Sua família morava no extremo oriente e por algum motivo (que eu não perguntei) acabou se mudando para Sahoc. Aquele lugar que eu chamava de lar era uma das cidades com o maior número de estrangeiros do país. Uma das características que mais me agradavam. Bem, assuntos mundanos como esse não importavam no momento. Foram apenas pensamentos que tive enquanto observava aquela cena.

O resto da noite foi normal e, no final do dia, apenas fiquei deitado em minha nova cama observando o teto. Era estranho. Na última noite não tive tempo de prestar atenção em detalhes, mas algo naquele teto me incomodava. Talvez fosse porque esse costume era algo que minha irmã costumava fazer todos os dias antes de dormir e passou para mim depois do acidente. Aquilo me trazia boas lembranças, mas agora também trazia algumas ruins e recentes. Tive mais uma noite mal dormida e acordei cedo. Fui até a cozinha para procurar uma bela xícara de café e acordar de vez. Lá, encontrei Jade e Bunny... Bem... Se beijando. Aquilo foi deveras... Interessante... Espere... Diferente! Era isso que eu queria dizer. Ao perceberem que não estavam sozinhas, as duas coraram um pouco e apenas pararam de se beijar. Jade coçou a cabeça e veio até mim:

– Bem... Você descobriria isso mais cedo ou mais trade.

– Tudo bem...

– Como vê, eu e Bunny temos uma relação... Especial.

– Tudo bem. Eu realmente não vejo problema nenhum nisso.

– Um mente aberta? Bem, você é um artista no final das contas.

– E isso tem algo a ver com o assunto?

– Artistas geralmente têm uma visão mais liberal do mundo.

Pensei em argumentar, mas no fundo eu sabia que ela estava certa. Bem, não era como se aquilo tivesse a ver comigo, então não havia motivos para me preocupar. Sempre achei que se preocupar com a vida pessoal dos outros era algo idiota e sem sentido. Bunny de repente pareceu se lembrar de algo e cutucou Jade com seu cotovelo. Logo depois, sussurrou algo em seu ouvido e sua companheira fez a mesma expressão de “como me esqueci disso?”. Ela olhou para mim e coçou a garganta:

– Tenho algo para lhe dizer.

– Então diga.

– Você sabe que os Valentines e os Harrisons não se dão, certo?

Algo estava errado e eu podia sentir pelo tom de voz dela.

– Vá direto ao ponto.

– Tudo bem... Parece que eles não se contentaram em apenas atacar você.

– O que você quer dizer com isso?

– Dois deles foram até a casa da Lisa, mas parece que foram nocauteados por uma garota. Logo após, um dos vizinhos nos chamou e demos um jeito neles.

– Oh... Então... Está tudo bem com a Lisa, certo?

– Na verdade não sabemos.

– Mas você acabou de dizer que...

– Disse que os capangas do infeliz foram nocauteados, mas pelo que o vizinho dela disse Lisa foi levada pela mesma garota que a salvou.

– Droga...

– Fique tranquilo. Tudo indica que ela está segura. Mas não podemos deixar isso passar despercebido.

– Concordo.

– Ainda bem que você acordou cedo, pois queria te avisar antes de todos. Vamos declarar guerra aos Harrisons.

A notícia não foi um choque tão grande, mas mesmo assim me surpreendeu. Na verdade o que mais me assustou foi a expressão séria no rosto da Jade. Pelo jeito ela não era brincalhona o tempo todo.

– Mas... Por que queria contar para mim antes dos outros?

– Porque você e sua habilidade terão um papel crucial nos nossos próximos movimentos.

– Minhas habilidades?

– Sim. Pensei em um jeito de usá-las a nosso favor. Por hora, prepare seu psicológico porque as coisas vão ficar feias daqui para frente!


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Notas finais do capítulo

Heh, mais um capítulo saindo~
Estou no limite de tempo que disse que tentaria manter /o/
Não há muito o que se dizer aqui, pois não deu nada errado.
Então... Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até o próximo capítulo =D



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