Novo Mundo escrita por Mi Freire


Capítulo 12
Palavras preciosas.


Notas iniciais do capítulo

Consegui terminar esse capítulo. Minha criatividade sempre retorna quando eu menos espero. Como não tenho muito o que dizer aqui, quero aproveitar essa oportunidade para agradecer de todo o meu coração as minhas maravilhosas leitores que estão sempre comentando, me apoiando, me inspirando e me fazendo sorrir atoa. Obrigada meninas!



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— Fica calma. – Alison estendeu um copo de água para ela, tirando seu cabelo loiro do rosto molhado. — Agora me conta o que aconteceu.

— O que todos me alertavam há muito tempo. – Margo conseguiu dizer, pausando parar beber um pouco de água.

Estavam sentadas no sofá.

— Eu descobri toda a verdade, Ali. Ele mentiu pra mim todo esse tempo! A verdade estava diante dos meus olhos todo o tempo e eu de tão burra não vi. Porque não queria enxergar. – Margo não conseguiu controlar a vontade de chorar de novo. Alison a puxou para um abraço e ficaram assim por um momento até que ela se sentisse pronta para falar.

— Se sente melhor agora?

Margo assentiu, mas não tinha tanta certeza.

— Eu vi no meu computador as conversas dele com outras mulheres e não eram poucas. Havia também mensagens eróticas no celular dele e bilhetinhos guardado de baixo da cama. Da minha cama! Ele não se relacionava diretamente com todas, mas era infiel a mim de muitas formas bem de baixo do meu nariz. E eu, tola, briguei com todos por ele, porque eu acreditava nele. Virei as costas para as pessoas mais importantes da minha vida para defende-lo. Eu fazia tudo por ele e sabe porquê? Porque eu a amava com todo meu coração, como nunca amei outro antes. Pra mim ele era tudo o que eu tinha de melhor! – ela respirou fundo, tentando controlar-se. — Enquanto isso ele ria de mim pelas costas, se aproveitava da minha bondade e ingenuidade, me fazendo de idiota, tirando aos poucos tudo que eu tinha de melhor.

— Shiu! – Alison continuou abraçando-a, passando a mão nos seus cabelos lisos. — tudo bem. Ele não era digno do seu amor e não é digno do seu sofrimento. Pelo menos agora você sabe que ele não presta e sabe quais são as pessoas que realmente se importam com você independentemente do que aconteça. Eu estou aqui não estou? Margo, você tem a mim. Não chore mais. Eu estou aqui... Por você amiga.

— Alison, você é sempre tão boa com tudo e todos. E eu fui tão cruel e injusta com você. Você não merecia, porque desde do começo foi minha amiga. O tipo de amiga que eu nunca fui pra você. Mas agora está tudo acabado. – ela chorava ainda mais, odiando-se. — Me desculpe por tudo. Mas eu não consigo não pensar nele. Eu o amava! E não sei como livrar isso de mim. Por favor Ali, me ajuda. Por favor!

— Se eu pudesse tirava sua dor e colocava em mim. Margo, você sempre foi muito boa comigo. E só cometeu alguns erros, mas isso já passou. O importante agora é que você melhore. E recomece. Sabe que poderá sempre contar comigo, não sabe? Tive uma ideia! Que tal começarmos a arrumar essa bagunça? E depois vamos ter uma noite só de meninas. Vamos fazer pipoca, ficar de pijamas, assistir os filmes mais melodramáticos que existem e choraremos juntas, vamos comer muito chocolate e pedir pizza. Vamos ficar juntas!

Margo finalmente havia conseguido sorrir de verdade.

≈≈≈

As coisas na vida de Alison estavam indo bem até demais.

Ela se sentia com sorte.

Ela e Margo voltaram a ser amigas inseparáveis. Ou nunca deixaram de ser. Apenas se reaproximaram outra vez.

Seu relacionamento com Brad tinha mais altos que baixos. Não havia motivos para brigar com ele. Ele era simplesmente perfeito em tudo: mandava mensagens de textos fofas durante todo o dia, vinha vê-la sempre que podia, e quando não podia ao menos telefonava, eles saiam juntos fugindo da rotina e faziam coisas simples em casa também. Estavam definitivamente se conhecendo melhor.

Na faculdade ela estava se saindo muito bem também em todos os trabalhos e ficava satisfeita com as notas altas.

Depois do natal e todas as queixas de sua mãe, Alison passou a ligar pra casa para falar com os pais com mais frequência.

No escritório não havia tanto trabalho para fazer, assim ela não precisava ficar deparando-se com Caleb todo o tempo e ficava em casa mesmo, dando mais atenção a Gael.

Agora que David estava namorando sério com Lucy, ela mal via os dois. Por um lado ela entendia que David estava tentando se manter afastado, após ter a beijado para evitar o pior. Já Lucy era o tipo de pessoa que simplesmente não conseguia separar o namoro da amizade. Ela sempre estaria focada em apenas uma das coisas. Alison finalmente havia se convencido de que era melhor assim.

Assim ela poderia dedicar-se ao que realmente importava.

— Alison, você precisa me ajudar. – Margo olhava pra ela com aqueles olhos claros cheios de tristeza. — Olha só pra você: já tinha o David e agora tem o meu irmão. Dois homens lindos e maravilhosos que fariam tudo por você. Você tem tudo, mesmo sem pedir, mesmo sem querer. E eu não tenho nada, além do amor próprio desde que enxotei o Tony da minha vida. O que há de errado comigo? Não é justo...

— Você tem a mim. Eu pensei que a nossa amizade fosse o suficiente pra você. – Alison abraça a amiga rapidamente.

— Sim, e basta. Mas não em todos os sentidos e você sabe bem o que eu quero dizer. – Margo sorriu. — Faz mais de um mês que eu estou completamente sozinha e isso não está me fazendo bem. Eu preciso de alguém que aqueça o meu pé de noite, que me elogie e me faça sentir bonita mesmo quando eu acho o contraio, alguém que me surpreenda, alguém que me leve para sair, alguém que ame de verdade.

— Eu já entendi. Você se sente sozinha e quer um homem. Você precisa de um recomeço. É isso! – Alison abriu um largo sorriso. — Tive uma ideia: que tal uma repaginada no visual? Começar do zero? Surpreender? Ser ainda melhor do que você já é? É isso. Vamos fazer compras, comprar roupas novas, sapatos novos, passar o dia no salão de beleza e....

— Eu adorei a ideia! Vamos agora mesmo!

≈≈≈

Naquela noite as duas voltaram para casa sentindo-se diferentes.

Margo havia cortado os longos cabelos loiros-esbranquiçados na altura dos ombros, repicando-os, dando movimento. Após uma tarde inteira fazendo compras pela cidade, ela estava vestida diferente do habitual. Agora com um jeans de lavagem escura justo ao corpo, uma blusa de lã com mangas compridas azul-claro, um sobretudo cinza-escuro, botas, cachecol preto e luvas. A maquiagem forte ressaltando os lindos olhos verde-claro e as sobrancelhas levemente arqueadas.

Alison pouco havia mudado aparentemente, sempre gostara de seu jeito de se vestir e do corte do cabelo acobreado. Mas havia comprado roupas novas, também estava precisando. Sapatos e bolsas. Um mês do salário completamente gasto. Havia feito as unhas, limpeza de pele, se depilado e feito as sobrancelhas.

Uma tarde inteiramente de mulheres.

— Quer saber? Essa noite não pode acabar assim. – comentou Alison após terem guardado as sacolas de compras. — Vamos sair. Quero apresentar a nova Margo ao mundo. Ou melhor, aos homens de plantão.

Já se passava das onze da noite, mesmo assim Margo ficou empolgada com a ideia. E as duas novamente saíram juntas no carro de Alison. Foram para Manhattan, para nenhum lugar especifico. Diferentemente dos velhos tempos, iriam descobrir novos lugares juntas. Lugares onde nunca estiveram antes.

Passaram um tempinho em pub com uma aparência antiga, a fachada de tijolos aparentes e bastante conhecido pelos nova-iorquinos. Um lugar discreto e mais reservado. Frequentado por artistas de todos os tipos. Um ótimo lugar para Margo encontrar alguém que realmente valesse a pena conhecer.

As duas tentaram se misturar com alguns grupinhos já formados que bebiam em um canto. E logo começaram a ficar à vontade, sentindo-se parte daquilo. Aceitaram bebidas, até mesmo Alison que estava fazendo tudo aquilo por Margo. Ela precisava daquilo, precisava da sua companhia e do seu incentivo. Por isso não recitou ao se entregar inteiramente a proposta que tinha em mente: fazê-la feliz.

De repente, enquanto via Margo chamando a atenção de alguns rapazes mais intelectuais, ela lembrou-se vagamente de David. Ele certamente ficaria feliz por ela estar se.... Arriscando. Como nunca antes e acima de tudo se divertindo, fazendo coisas que ela não costumava fazer e que ele ensinou a ela.

Ah David, sinto tanta a sua falta.

Ao final da noite Margo havia bebido mais do que deveria, empolgada pela companhia de outros homens, e Alison teve bastante trabalho de arrasta-la dali para leva-la para casa. Lembrou-se da noite em que a amiga e David fizeram o mesmo por ela após seu rompimento com Caleb, para anima-la e acabou que deu certo. Sempre dava certo se ambas as partes estivessem dispostas a dar tudo de si para fazer o outro feliz. Por isso, não queixou-se e continuou sorrindo, tentando arrastar Margo até o carro.

Em casa, ela tirou a roupa de Margo. Ela não estava tão mal assim, nem precisou de um banho frio. Só precisava descansar. Apenas. Alison a colocou em sua cama mesmo. E a cobriu com seu coberto, dando um beijinho em sua testa enquanto ela adormecia tranquilamente.

Sentada no sofá ela resolveu mandar uma mensagem de texto para Bradley, que havia passado o dia fora ainda procurando por um emprego. Estava difícil para o lado dele. Ela descobriu que ele já estava em casa, ou melhor, no apartamento de Margo preocupado com o sumiço delas. Alison foi até lá, para vê-lo e tranquiliza-lo.

Sentados no sofá de Margo ela contou tudo a ele, Brad sorria todo o tempo, prestando atenção em cada palavra.

— Espero que todo esse sacrifico tenha funcionado. Eu não aguentava mais ouvi-la se queixar do quão sozinha ela se sentia todo o tempo desde que o tal Tony se fora. – Brad riu, divertido. — Aliás, eu tenho uma novidade. Uma super novidade.

— Então conta, vai. Você me deixou curiosa agora. – ela olhava pra ele, sorrindo. Admirada por ele estar mais bonito a cada dia.

— Só se você me der um beijo primeiro. – ele brincou, mas acabou recendo o que queria. Alison inclinou-se para frente, para beija-lo. — Eu consegui um emprego. Finalmente! Vou ser colunista de uma revista. Já é um bom começo pelo menos. – ele contou os detalhes a ela. — Mas tenho também uma má notícia.

— Ah não. Estava bom demais pra ser verdade. O que foi?

— Eu vou ter que voltar pra Nova York por um tempo, para buscar o resto das minhas coisas. Eu vou morar aqui agora. É definitivo. Estarei de mudança em breve e pretendo ter o meu próprio apartamento logo aqui, bem pertinho de você, para ficarmos juntos.

— Brad, isso é maravilhoso! – ela o abraçou forte. — Não acredito que você conseguiu tudo o que queria. Estou tão feliz por você!

≈≈≈

Margo se recuperou bem e rápido da grande decepção que teve com Tony há algumas semanas atrás. Mesmo que pra isso ela tenha quebrado praticamente todos os objetos de seu apartamento e repaginado o visual, tornando-se mais notável e atraente para os outros homens. Queria encontrar um novo namorado. Assim como Alison, odiava a ideia de ter que ficar sozinha, sem ninguém para compartilhar os pequenos e grandes prazeres da vida.

Pouca coisa se lembra da noite em que esteve com Alison quando conheceu tanta gente nova. Mas lembra-se muito bem do exato momento em que um rapaz escreveu seu telefone em um guardanapo e colocou dentro do bolso do sobretudo dela. Não lembrava-se como ele se chamava. E há dias se pergunta se deve ou não ligar pra ele.

Alison acha que sim e a incentiva a se arriscar. Ela tem sido uma grande amiga. Mas Margo teme que o rapaz pense mal a seu respeito. Não quer se pra ele só mais uma que cai em seu charmezinho. Quer que dessa vez seja diferente, que dessa vez funcione. Mas pra isso, precisa ter paciência e precisa ser esperta. Diferentemente da última vez não pode se deixar enganar por qualquer coisinha ou por qualquer um.

Era sexta-feira à noite e ela estava completamente sozinha. Só ela e seus dois gatinhos persas sobre a cama lendo um bom livro. Brad havia saído com Alison antes que ele tivesse que viajar por algumas semanas. Eles são um casal perfeito e lindos juntos. Se dão muito bem e é notável que têm uma química que não saberiam explicar.

Margo inveja Alison. Mas é uma inveja boa, que lhe deseja o bem, pois sabe que ela melhor que ninguém merece ser feliz. E seu irmão, Brad, se algum dia chegar a magoa-la, ela mesma fará questão de acabar com raça dele.

Ela pega o bilhetinho do tal rapaz sobre o criado-mudo e finalmente decidida resolve ligar pra ele. Só para conversar e conhece-lo melhor. Matar o tédio e a solidão. Nada de mais.

— Oi, boa noite. – ela suspirou, nervosa e inquieta. — Duvido que se lembre de mim. A loirinha esquisita que bebeu com você...

— Há quatro noites atrás. Sim, eu me lembro exatamente de você, Margo. Como eu poderia esquecer? – ela sentiu que ele sorria do outro lado da linha. — Como você está? Já encontrou seu príncipe encantado?

— Não. Ainda não encontrei. – ela riu envergonhada, surpresa por ele lembrar até mesmo o seu nome. — Pensando melhor... Eu só preciso lembrar como ele se chama.... Qual é mesmo o seu nome?

— Alexander Hemmings. Mas pode me chamar de Alex.

≈≈≈

— Eu não estou preparada para te deixar partir. – Alison admite, deitada de frente a Bradley em sua cama. — Não ainda.

— Eu volto logo. – ele acaricia suavemente as bochechas macias dela levemente rosadas. — Eu prometo.

— Estarei esperando por você – ela aproxima o rosto dele, selando seus lábios quentes. — morrendo de saudade.

Brad sorriu, olhando fixo pra ela e tocando seus cabelos espalhados sobre o travesseiro. Sentia-se o cara mais sortudo do planeta por tê-la ao seu lado. Não poderia perde-la por nada.

≈≈≈

Alison saiu do escritório tarde aquele dia. O céu já estava escuro sem nenhum sinal da lua ou das estrelas. Ainda era inverno e fazia muito frio. Ela caminhava pelo estacionamento em direção ao seu carro, quando viu um outro carro bastante familiar vindo em sua direção e parando ao seu lado. Era Caleb ao volante.

— Entra aí.

— Nem pensar.

Ele olhou feio pra ela.

Bem que Alison poderia facilitar de vez em quando.

— Entra logo!

— Não! Eu vim de carro. Obrigada.

Caleb desceu do carro nervoso, puxando a pelo braço.

Os dois estavam sozinhos no estacionamento.

— Eu mandei você entrar agora no carro, cacete.

Ele estava gritando, segurando-a com força. Caleb abriu a porta traseira do carro e jogou Alison lá dentro no banco de trás.

— Qual seu o problema? Para já esse carro!

— Cala essa boca, Alison. Pelo amor de Deus!

Ele continuou dirigindo rápido, algumas vezes olhando pra ela pelo retrovisor interno. Ela não sabia para onde estavam indo. Só sabia que estava com medo. Não fazia ideia do que ele queria com ela. Caleb nunca antes havia agido de tal maneira, tão grosseiro e assustador.

— Para onde está me levando?

— Eu já mandei você calar a droga da boca!

Ele ligou o som do carro em um rock pesado.

O que deixou tudo ainda mais assustador.

Alison preferiu ficar calado e quieta.

≈≈≈

Estavam no apartamento simples dela em Manhattan. Lucy tirou a noite para preparar um jantar especial para ele. Queria agrada-lo de todas as formas possíveis. Estava se apaixonando cada vez mais por David.

David por sua vez também gostava de Lucy, mas não tanto quanto ela gostava dele. Queria poder sentir o mesmo, mas não sentia. Mesmo assim não perdera as esperanças. Afinal, uma hora ou outra as coisas poderiam mudar. E ela era ótimo com ele e isso facilitava em muito.

Ainda tentava entender porque exatamente a pediu em namoro. Mas quando saiu do apartamento de Alison naquela noite em que se beijaram, ele sabia que precisava agir. Fazer alguma coisa para evitar que aquilo– aquele sentimento forte e inexplicável que ele sentiu enquanto a beijava - não se agravasse. Eles não podiam ser um casal, disso ele tinha certeza. Alison era a última pessoa que ele queria magoar no mundo e sabia que se as coisas avançassem entre eles uma hora ou outra ela acabaria decepcionada com ele, já que é uma garota excessivamente sonhadora com tudo a sua volta.

O que as vezes é encantador.

Digamos que ele não seja o modelo ideal de homem perfeito dos sonhos dela. Certamente os dois funcionam bem melhor apenas como amigos. Nada mais que isso. Nunca. Apenas amigos.

— O que foi? – Lucy perguntou a David, percebendo que ele mudara repentinamente de humor. Até pouco tempo estava sorridente, parecia feliz e agora estava esquisito, talvez até preocupado.

— Não sei. Estou com um mau pressentimento.

— Ah, não deve ser nada querido. – ela sorriu, sentando-se no colo dele. David tentou sorrir também. — Ai meu Deus! Deve ser a panela que eu esqueci no fogo. – Lucy correu até a cozinha.

David, apesar de tudo, riu da situação.

Mas no fundo sabia que não era só uma panela no fogo. Era mais que isso. Algo de muito ruim estava para acontecer. Mas o que?

— Dave? Vem cá, me ajuda aqui, por favor. – Lucy gritou da cozinha. E ele foi até lá ajuda-la, só que antes seu celular tocou no bolso.

Atendeu no mesmo instante. Era Alison.

— Alô? Alison? Aconteceu alguma coisa?

Há quase uma semana eles não se falavam.

— .... por favor, só me diga onde estamos indo – a ligação estava péssima. Mal dava para entender o que ela dizia. — ... que lugar é esse?

Alison passou a descrever o que conseguia ver em volta através do vidro escuro do carro. David não conseguiu identificar a outra voz que gritava com ela. Mas soube no mesmo momento que Alison estava em perigo e precisava dele. Se não, nem teria ligado.

— Ei, David. A onde vai? Volta aqui! E o nosso jantar?

David não respondeu e saiu em disparada pela porta, descendo as escadas com pressa, indo em direção a sua moto estacionada na calçada.

≈≈≈

Caleb a levou até um galpão vazio a abandonada na parte mais modesta do Brooklyn. Não a amarrou, não apontou uma arma na cabeça dela e nem nada do tipo. Mas ele estava bastante nervoso e fora de si, segurando o braço dela com força e a empurrando para frente de maneira grotesca. Essa era a única forma de fazê-la ouvi-lo.

O galpão era imenso, provavelmente uma antiga empresa, cheio de pó, lixo, as telhas quebradas, morcegos e teias de aranha. A única iluminação vinha de um poste qualquer da rua. O lugar era um tanto assustador, fazendo com que Alison acreditasse que poderia desabar a qualquer momento sobre a cabeça deles.

Ela foi esperta, sempre fora muito esperta, não poderia deixar transparecer que estava morrendo de medo. E também, não poderia simplesmente pegar o celular no bolso e ligar para alguém pedindo ajuda. Por isso, enquanto tentava distrair Caleb e arrancar alguma pista dele, ela colocou a mão no bolso e apertou uma tecla qualquer de seu celular, rezando para que fosse uma tecla de emergência. A primeira tecla estava configurada para ligar para David automaticamente.

— Eu tentei falar com você, Alison. Diversas vezes, mas você não quis me escutar. – ele se aproximou dela, o rosto vermelho de raiva. Os cabelos pretos desalinhados e os olhos esverdeados escuros. — Tudo que eu te peço é uma chance. Só uma. Podemos recomeçar e eu posso provar pra você que posso ser diferente.

— Caleb, olha, escuta bem: acabou. Por favor, entenda. – ela olhava pra ele impiedosa. As pernas bambas. — Eu conheci outra pessoa e nós estamos saindo. Não há mais possibilidades. Digo: eu e você.

— Quem é ele? – ele gritou, novamente alterado. As veias saltando pelo pescoço. — É o David não é? Você sempre foi louca por ele!

— Não! – ela gritou também. Mas aí percebeu o erro que cometera e voltou a compostura, suspirando baixinho. — Não é ele. Mas isso aqui não é sobre ele. É sobre eu e você. E “nós” já não existe mais. Você errou feio e perdeu qualquer chance que tinha comigo. Não fui quem quis assim. Entenda de uma vez por todas! Foi você.

Ela tentou diminuir a distância entre eles, enchendo o peito de coragem. Precisava acalma-lo antes que cometesse mais alguma louca ainda maior, precisava convence-lo de que o melhor seria se afastarem, que estava tudo acabado.

— Caleb... Não tem que ser assim.

Ela estava conseguindo. Viu isso dentro dos olhos deles, que aos poucos ganhavam cor outra vez. Mas aí ouviram um barulho de motor vindo do lado de fora. Alison perdera todas as chances. Caleb virou-se com tudo para trás, surpreso. E quando o motor parou, ele simplesmente saiu correndo pelos fundos, assustado, deixando Alison sozinha para trás. David apareceu pela porta e correu até ela.

Ele a abraçou forte, desesperado. Feliz por poder senti-la. Aliviado por ela estar bem e salva. Alison fechou os olhos, querendo sentir os braços dele em volta do seu corpo magro. Gostava tanto daquele abraço e daquele perfume impregnado no colarinho de sua camisa.

Não havia lugar melhor para estar.

Seus medos já não existiam mais.

— Eu amo você. – ele disse baixinho, beijando a testa dela. — Eu amo tanto você.

Alison sabia que era no sentido de amizade, mas não se importava. Acreditava nele. Ao menos ele disse. Pela primeira vez ele disse e só ela poderia saber o quão satisfeito seu coração batia.

Aquele dia e aquele momento ficaria para sempre marcado em sua memória.


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Notas finais do capítulo

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