Novo Mundo escrita por Mi Freire


Capítulo 1
Caminhos cruzados.


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente. Sejam todos bem-vindos! Bom, essa não é a minha primeira história e nem será a ultima (assim espero). Espero também que vocês gostem, possam acompanhar e comentar bastante. Gosto muito de saber a opinião de vocês pra tudo. Ficarei aguardando bons resultados.



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Alison Harvey caminha a passos largos pelas calçadas vazias do Brooklyn, em um sábado à noite, após ter saído no meio da festa de casamento de uma de suas únicas amigas da época do colégio, Corine. Sentia-se exausta.

Já se passa da meia-noite e ela se sente completamente sozinha, como se todas as pessoas a sua volta conseguissem realizar todos os seus sonhos, menos ela. Enquanto isso a chuva caí sobre ela, molhando seu longo vestido azul-celeste tomara que caia com abertura na perna direita e seu salto preto agulha. Seus cabelos ruivos naturais medianos caem emoldurados sobre os ombros em cachos bem feitos agora molhados pela chuva, seus olhos verdes se ressaltam como duas bolas de gude sobre a pele com sardas por causa da maquiagem escura.

Não é nada fácil andar de baixo daquela chuva, sem contar que está fazendo um friozinho de arrepiar os cabelos. Mesmo assim, ela é relutante. Pois quer chegar em seu apartamento o quanto antes. Justamente no dia do casamento de sua amiga seu carro resolveu dar problema e acabou ficando no mecânico mais próximo para um concerto que lhe custaria um mês de trabalho dobrado. Havia desistindo de esperar por um taxi, até porque parecia que todos eles haviam evaporado da cidade naquele momento.

Alison nunca se considerou uma pessoa de sorte.

Estava cada vez mais próxima de casa quando já não sentia nenhuma parte do corpo, como se todas elas tivessem sido congeladas. Mas já dava para ver de longe a fachada decadente de seu pequeno prédio de quatro andares, com a pintura creme degastada e pequenas rachaduras. Ela mora no terceiro andar e tem um pequeno e simples apartamento só pra ela desde que saiu da casa dos pais.

Alison gostaria de poder correr até lá, mas parece impossível com seus saltos altos e o corpo congelado de frio. Ela mantém a paciência e continua sua caminhada que parece longa e interminável. Por dentro, ela quase não consegue conter a euforia de poder entrar no aconchego de seu apartamento, tomar um bom banho quente de banheira, vestir roupas quentinhas, se cobrir com seu cobertor e comer alguma coisa, qualquer coisa, para ocupar o buraco no estomago.

Em um pub naquela mesma calçada um grupo de amigos que não se viam há muito tempo estavam reunidos em duas mesas do lado de fora do bar tomando cerveja, conversando alto e dando risada das bobagens que um deles dizia um tanto alterado pelo álcool.

Entre eles está David Marshall com seus vinte e seis anos, estatura mediana, corpo atlético, com sua barba expeça castanho-escuro assim como seus cabelos no mesmo tom escuro ralos nas laterais e mais cheio em cima em um topete militar, olhos castanho-claro, pele branca tatuada, lábios rosados e finos, um piercing no nariz e sobrancelhas levemente arqueadas.

David levanta-se para ir ao banheiro nos fundos do pub, quando uma jovem mulher de cabelos ruivos passa pela calçada, tremendo de frio, de baixo da chuva. Ela é linda! E ele não foi o único que pensou o mesmo. Todos os seus amigos pararam para olha-la passar, agora calados. Ela parecia tão frágil, tão sensível, perdida e com medo que todos, de uma vez só, queriam ampara-la, cuidar dela, chamar sua atenção de alguma forma e foi aí que começaram os assovios, as brincadeirinhas sem-graça, os trocadilhos. Tudo para que ela percebesse que eles estavam ali.

David era o único que não dizia nada, ainda paralisado. O único de pé, olhando-a ruiva passar. Seu vestido de festa colado no corpo magro, de uma estatura não muito mais baixa que ele e os cabelos de uma cor incomum. Os olhos verdes era outro espetáculo fora a parte, que mesmo a noite pareciam vibrar.

— Vamos lá! – disse um dos amigos. — Vamos chamar aquela gatinha para tomar uma cervejinha com a gente.

O mesmo levantou-se empolgado, fazendo a cadeira tombar para trás. Mas ninguém se importou. Basicamente estavam todos muito bêbados e animados demais para dar atenção a outra coisa que não fosse aquela mulher, sozinha mesmo sendo tão tarde.

— Não! Deixem ela pra lá. – interveio David, risonho. Tentando não quebrar o clima de descontração. — Vamos curtir a noite, rapazes.

A ideia pareceu não agradar a todos e mesmo assim alguns deles insistiam em chamar pela garota, que por sinal, já estava ficando muito sem-graça. Alison nunca gostou de caras assim: ousados. Eles pensam que estão arrasando, quase conseguindo o que querem, mas no fundo, não passam de um bando de babacas.

Assim, ela passou a andar mais depressa.

— Não deixem ela fugir! – gritou outro, caindo na risada depois.

O mais atirado resolveu levantar-se, deu seu último gole no copo de cerveja, deixando-o vazio como se aquilo o tornasse mais homem e saiu pela chuva, correndo, para alcança-la. Ao perceber a movimentação fora do comum, Alison também quis correr, para chegar logo em casa.

Maldito lugar, pensou ela irritada. Quando se precisa de policias, não tem nenhum!

— Amigão. – David contra sua própria vontade também saiu correndo pela chuva, molhando sua jaqueta preta de couro. Tocou o ombro do amigo, fazendo-o parar. — Deixa que eu resolvo isso. – ele deu seu melhor sorriso. — Ou você se esqueceu que tem mulher em casa e dois filhos para criar? – os dois riram, descontraídos.

David só resolveu agir, porque não poderia deixar um de seus amigos cometer uma burrada. O cara é casado, pai de família, está bêbado e sente-se desafiado pelos outros do grupo. Depois, não poderia deixar que eles, por pura curtição, tratassem aquela garota daquela forma, como se ela fosse apenas um objeto. A coitada já parecia bem assustada com eles e não era essa a impressão que ele gostaria de passar. Pois não acha justa que nos dias atuais, as mulheres se sintam tão menos vontade para sair nas ruas, independentemente do horário, por receio da perversão de muitos homens.

Seu amigo voltou para o pub, saindo de baixo da chuva e caindo na risada enquanto comenta alguma coisa com os outros em voz baixa. David acredita ser o único não tão bêbado ali. Dá uma última olhada para os amigos, pisca pra ele,s acena e vai embora, correndo atrás da garota que a àquela altura, já está bem mais longe.

— Ei, você. – ele grita. Ela ouve. Mas não dá importância. — Não precisa correr. Não tenha medo! Não vou te fazer mal.

Alison solta uma risadinha sem humor.

Ah tá bom, acredito, pensa ela internamente. Já está na porta de casa, só precisa encontrar sua chave dentro da bolsinha que estava em suas mãos e logo estará salva. Com a chuva está tudo muito escorregadio e com a falta de sorte que tem o miolo de chaves cai no chão molhado.

Antes de ter tempo de abaixar, David que a alcançou foi bem mais rápido. Pegando o miolo de chaves para ela, entregando-a.

— Gostei do chaveiro. – diz ele, enquanto ela pega suas chaves da mão dele. Agradecida pela sutileza. Mas sem um pingo de vontade de ser simpática naquele momento com um desconhecido.

A chuva ainda cai sobre os dois.

— Presente da minha mãe. – acrescenta ela, sorrindo enquanto olha para o chaveiro sobre a palma da mão. Já os viu tantas vezes, mas ainda lembra-se do dia em que sua mãe lhe deu de presente de aniversário quando ela fez dezesseis anos.

É uma corujinha linda, feita de feltro que têm vários significados: inteligência, reflexão, mistério, sabedoria.

— Quer ajuda aí? – ele perguntou, sorrindo. Foi então que ela olhou bem pra ele, pela primeira vez. Admirada por sua beleza. Há muito tempo não se via caras tão bonitos quanto ele, dono de uma beleza incomum. Alison nega a ajuda com a cabeça, apesar de toda a dificuldade de enfiar a chave na fechadura.

— Eu não te conheço. Você não me conhece. – diz ela, ouvindo um click da porta se abrindo finalmente. — Você nem tem porque está aqui, sendo educado comigo. Obrigada mesmo assim, mas dispenso sua ajuda. Você deveria voltar para o bar e ficar com seus amigos.

— É, você tem razão. Não nos conhecemos e, sim, eu deveria voltar pra lá. Mas acontece que eles não iriam te deixar em paz e agora, nem a mim, por ter os enganado de tal forma.

— Não entendi. – mesmo com a porta já aberta, ela estava dando atenção ao desconhecido. Achava que ele ficava ainda mais bonito molhado, mas que deveria ser ainda mais bonito a luz do dia.

— Acontece que, eu não gosto, nem mesmo que meus amigos, fiquem de gracinha com as moças. Então eu tive que mentir. Nesse momento provavelmente eles devem estar imaginando que eu só dei a desculpa esfarrapada de sair de lá para ficar com você. – ele revisa os olhos de forma engraçada. — Coisas de homem. Você sabe.

— Não, eu não sei. – ela ri, descontraída. — Mas entendi. E como nada disso é verdade, tirando a parte que você adora defender garotinhas indefesas, você não pode mais voltar pra lá, porque de fato nós não vamos ficar e eles te zuariam, tipo, pra sempre.

— Exatamente. – ele riu. Gostava da esperteza dela. Tem uma atração a mais por mulheres assim, inteligente e ágeis. — Não que eu me importe. Mas também nem estava mais afim de ficar lá, bebendo, conversando, passando o tempo. Então, de qualquer forma, foi bom você aparecer. Você meio que salvou a minha vida. Mas agora eu tenho que ir, estou bastante cansado e amanhã tenho que acordar cedinho para trabalhar. Se é você me entende.

Na certa, ela pensou, ele deve estar tão bêbedo quanto os amigos que ficaram no pub. Até porque, trabalhar em pleno domingo é loucura. Pensando melhor, nunca se sabe. Talvez ele esteja mesmo falando a verdade. Ela não o conhece e não deve tirar conclusões precipitadas.

— Tchau. Foi muito bom te conhecer. – ele beijou o rosto dela em despedida. Disso ela não esperava e ficou surpresa, quase chocada. — Você é muito bonita! Mas já deve saber disso. – ele riu. Ela não. — A propósito, eu me chamo David. Mas pode me chamar de Dave.

Ele se virou, de costas pra ela, para ir embora.

Ela entrou na portaria vazia do seu prédio, já não mais de baixo da chuva. Sorriu sozinha enquanto ainda segurava a chave na porta para tranca-la. De alguma forma sentia que aquele rapaz, o David, não era como os outros. Havia alguma coisa de diferente nele. Mas quantas vezes ela já pensou o mesmo e se enganou? Talvez ele só estivesse fazendo charme para conquistá-la e pelo visto funcionou. Prova disso é que ela estava sorrindo, parada e com frio, quando na verdade em minutos atrás, tudo que queria era sua casa. Agora já não tinha tanta certeza.

— Ei. – ela gritou, colocando a cabeça pra fora. Ele parou já bem distante na direção oposta do pub. E olhou para ela, virando a cabeça. — Eu sou Alison. Nada de apelidos. Só me chame por Alison.

Ele assentiu, em concordância. Com um sorriso fechado.

Ela sorriu de volta, antes de trancar a porta e subir as escadas.

Algo dentro dela, desesperadamente gritava para que ela voltasse a sair na chuva, mesmo com frio, mesmo quando não podia mais sentir o corpo e era tão difícil andar com aqueles saltos. Para que não perdesse a chance conhecer o tal David melhor. Ou, nunca mais voltaria a vê-lo e essa chance estaria perdida pra sempre e nunca mais a teria novamente como nessa noite. Mas ela não o fez e continuou subindo as escadas até o seu apartamento. Afinal, não podia dar tanta importância assim ao um completo desconhecido, cujo tudo que ela sabia é que ele era lindo e chamava-se David.


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Notas finais do capítulo

Perceberam que eu coloquei fotos para os dois personagens principais? Eu nunca fiz isso antes, mas não resisti. Achei os dois tão lindos! Geralmente eu prefiro que vocês imaginem da forma como quiserem. Por isso, gostaria de saber se para os outros personagens vocês também gostaria de ver as fotos ou não, melhor assim mesmo, sem fotos, apenas a imaginação?